sexta-feira, 27 de junho de 2008

Branding x Marketing

Ricardo Guimarães, presidente da Thymus Branding, diz que na definição da Fundação Nacional Pela Qualidade (FNQ), de seu Modelo de Excelência e Gestão, “Empresa é um sistema vivo integrante de um ecossistema complexo, com o qual interage e do qual depende”.

Esse é um importante ponto de partida para entender as diferenças e complementaridades do marketing e do branding. A visão corporativa e a visão de marca têm de fazer sentido para todos os stakeholders envolvidos com um setor, segundo Ricardo.

A Apple se construiu sob a filosofia de que “o homem não deve se render às máquinas”, criando a missão de fazê-las cada vez mais fáceis de serem utilizadas. É um verdadeiro caso de diferenciação, palavra muito usada em planejamentos estratégicos, mas que, em geral, ficam vazias em sentido.

O branding bem sucedido não necessariamente envolve o nome de uma marca. “Se mudássemos o nome da Google para qualquer outro nome, mas avisássemos as pessoas com um tempo de antecedência e mantivéssemos os produtos do mesmo jeito, os serviços com a mesma eficiência, não haveria grandes danos para a corporação.”

Isso se deve ao branding. Trata-se de uma abordagem de gestão que busca aumentar a percepção de valor da marca junto a todos os seus públicos de interesse.

Enquanto o marketing fala de imagem e comunicação, o branding trabalha com a cultura, o jeito de fazer e a identidade de uma empresa.


HSM On-Line, 25/06/08

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Salem e Doutores da Alegria fecham parceria

Com o objetivo de estimular a população a contribuir com seu trabalho, a ONG Doutores da Alegria fechou parceria com a Salem para lançar campanha nas quatro capitais em que atua: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Recife (PE). A ação conta com mala direta, desenvolvida pela agência, que traz vários círculos coloridos e remetem ao universo dos palhaços.

O texto explica: "Quando o seu filho está doente, você faz de tudo para que ele melhore e dê um sorriso. Nós também". No meio da mensagem aparece a imagem de uma criança hospitalizada, sorrindo na companhia de um dos Doutores. Para finalizar, a frase: "A gente faz isso com milhares de crianças". A campanha foi viabilizada por meio da Lei Rouanet e com o apoio das empresas parceiras ZipCode e Mapa Brasil.


Fonte: Propmark
HSM On-line, 25/06/08

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quinta-feira, 26 de junho de 2008

FREE – Por que geralmente pagamos caro quando o que levamos foi de graça?

Frederico Zornig, na capa da HSM Management de maio-junho de 2008

O provocante artigo: “Por que o futuro dos negócios é grátis”, da última edição da HSM Management, maio-junho de 2008, onde Chris Anderson foi capa, instigou-me a escrever este artigo, já que minha área de atuação é o pricing. De fato, quando recebemos alguma coisa grátis sentimo-nos muito bem. Grátis não é apenas um preço. Grátis é um valor emocional. Uma fonte de reações irracionais por parte dos consumidores em geral.

Mas, afinal, o que existe por trás da palavra grátis que transforma qualquer produto ou serviço irresistível? Por que grátis nos deixa tão seduzidos? Para responder a estas questões, vou primeiramente ilustrar com um experimento que foi conduzido por uma estudante de PhD do MIT, Kristina Shampanier. Ela colocou ao lado do caixa de um restaurante um cartaz bem grande com os dizeres: “Um chocolate por pessoa”. Quando o cliente se aproximava, era possível enxergar as opções e seus respectivos preços. Existiam duas opções de chocolate: uma trufa Lindt, com preço de mercado na faixa de 50 centavos de dólar e o mini-chocolate Kiss da Hersheys com preço de cinco centavos. Entretanto, os valores praticados pela estudante eram promocionais, e a trufa estava sendo vendida por apenas dez centavos e o Kiss por um centavo de dólar. Ao fazer a comparação dos preços e do tamanho dos chocolates ofertados, 73% dos clientes optavam pela trufa Lindt e somente 27% pelo Kiss. Alguns dias depois, Kristina mudou a promoção e passou a oferecer por 9 centavos de dólar a trufa e o Kiss, gratuitamente. Nestas condições, 69% dos clientes preferiram o Kiss.

Conclusão: o mesmo público decidiu abrir mão da oportunidade de comprar uma trufa Lindt por uma pechincha, e ganhar um mini-chocolate Kiss, somente porque estava sendo apresentado como grátis, comprovando a força psicológica do termo, já que um centavo de dólar era um valor irrisório.

Um dos grandes problemas ao escolher algo grátis está relacionado às decisões que temos que fazer. Ou seja, muitas vezes aceitamos algum serviço ou produto que não era exatamente o que queríamos, mas, por ter sido oferecido gratuitamente, acabamos aceitando. Em todo tipo de transação comercial, fazemos uma troca. Abrimos mão de dinheiro (percebido como um sacrifício) para satisfazer uma necessidade que será sanada pelo benefício que estamos comprando. Porém, quando não temos que fazer sacrifício algum, como no caso do que recebemos de graça, temos a percepção de que o que estamos recebendo é desproporcionalmente muito maior do que realmente é. Assim, em teoria, não temos como perder nada se estamos recebendo alguma coisa grátis.

Esta situação é mais comum do que imaginamos e já está sendo amplamente utilizada por diversos negócios, como demonstrou Chris Anderson elogiando esta prática. Entretanto, embora bastante difundida, ainda defendo que pagamos caro quando compramos algo grátis. Recentemente, recebi uma oferta de uma empresa de impressoras para o nosso escritório de consultoria que nos oferecia uma nova máquina rápida e sofisticada totalmente grátis se aceitássemos o plano de manutenção completo por dois anos. Achei atraente a oferta, pois poderia imprimir relatórios com mais qualidade e velocidade. Apesar de não ser nem de perto um dos maiores custos da empresa, o que já justificava aceitar a oferta, resolvi investigar o valor que estávamos gastando com impressões. Ao comparar o valor atual, com a condição proposta, percebi que o plano de manutenção não apenas me permitiria comprar outra máquina como aquela, mas também pagar por todos os meus custos de impressão por uns quatro anos. Ser racional, quando estamos diante da possibilidade de receber uma máquina moderna e veloz de última geração é difícil. Certamente ficaria linda no escritório, mas é assim que temos que agir quando estamos diante do grátis. Como diz um ditado em inglês, there is no free lunch (não há almoço grátis).

Portanto, embora grátis seja realmente tentador para clientes e consumidores, na ponta do lápis alguém estará pagando por aquilo. Não existe milagre. Empresas só poderão se sustentar no longo prazo encontrando uma maneira de receber retorno por suas inovações, sejam eles produtos, serviços ou uma combinação entre os dois. Se analisarmos a fundo o que está por trás de qualquer produto ou serviço grátis, veremos que, na verdade, nós geralmente estamos pagando muito.


Frederico Zornig

Sócio e fundador da Quantiz Pricing Solutions® (www.quantiz.com.br) e presidente do capítulo latino-americano da Professional Pricing Society (PPS).
HSM on-line, 24/06/08

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O Valor da sua empresa = o valor dos seus clientes

Alessandra Assad, diretora de redação da revista VendaMais

A tecnologia acirra a competição, aumenta a velocidade das coisas e leva ao relacionamento com aprendizado. A grande questão estratégica é saber o que você pode fazer agora para tornar seus clientes mais fiéis e valiosos, ainda que os concorrentes venham a fazer a mesma coisa, do mesmo modo. Levará vantagem aquele que atender as necessidades do cliente antes do concorrente – e a melhor maneira de fazer isso é ouvindo esse cliente.

Martha Rogers, reconhecida internacionalmente como uma das principais experts em estratégias de negócios, enfatiza a importância de saber ouvir o cliente, e destaca o quanto é importante que façamos com que os clientes conversem conosco em vez de só nós falarmos com eles, de forma que se tenha um diálogo de mão dupla. Construir relacionamento com o cliente é hoje fundamental, porque ele é um recurso cada vez mais escasso das empresas. Martha afirma que para começar um relacionamento com o cliente, é preciso quatro tarefas de implementação:

1. Identificar clientes individualmente e de modo que possam ser contatados.
2. Diferenciar os clientes conforme seu valor para a empresa, assim como suas necessidades.
3. Interagir com eles de maneira mais eficiente e eficaz em termos de custos.
4. Customizar algum aspecto do comportamento da empresa.

Ativo mais valioso

Mas agora é preciso se perguntar qual é o aspecto mais singular que a sua empresa oferece: é o produto, o valor da marca ou é o pessoal de vendas? É a mercadoria? Os call centers? Ou os programas de marketing? Bom, tudo isso pode ser muito valioso, mas também pode ser copiado. O ativo mais singular e não copiável é o seu recurso mais escasso, o cliente. Agora vem a pergunta que define seu futuro e sucesso: “Se o cliente é o meu ativo mais singular e não copiável, quem é que vai gerenciar esse ativo tão valioso?”.

Martha afirma que há muitas empresas com gerentes de produtos, gerentes de linha de montagem, gerentes de websites, todos eles extremamente importantes, mas cadê o gerente de cliente? Quem é responsável pelo relacionamento com cada cliente, garantindo que as necessidades dele sejam atendidas? Quem é responsável por fazer crescer o retorno junto a esse cliente? Como você está medindo isso e de que forma vai fazer crescer dentro da nossa própria base de funcionários? Como é que dia a dia você vai fazer crescer o valor da base de clientes?

Primeiro, é preciso pensar em construir um relacionamento para em seguida saber quais são as melhores maneiras de definir o retorno sobre o cliente. Para que um relacionamento possa nascer é preciso observar algumas características essenciais:

Interação – Os relacionamentos são interativos, tornam-se cada vez mais inteligentes de forma que temos o desenvolvimento de um contexto. Nós conversarmos para conhecer um pouco melhor um ao outro. Isso nos dá um motivo para continuar esse relacionamento, mesmo que um ou outro cometa um erro.

Confiança – Os relacionamentos de sucesso têm de gerar confiança. Você pode fazer um negócio, mas se não houver confiança não vai ser um negócio que fará por muito tempo. Quando nós confiamos na empresa com a qual comercializamos, sabemos que vamos querer compartilhar informações e elas serão bem cuidadas. Isso é muito importante e valioso para um cliente, essa idéia de que “eu estou cuidando de você e você também está cuidando de mim”.

Assumir o ponto de vista do cliente – Trate o cliente como você gostaria de ser tratado se fosse um cliente. Conquistar e manter a confiança de um cliente nos permite sempre manter o ponto de vista dele. Caso seja necessário, faça com que os seus funcionários virem clientes da sua empresa por um dia.

Entender as necessidades – O verdadeiro sucesso vem de enxergar a empresa do modo como o cliente a vê e atender as necessidades dele muito melhor que outras pessoas. A única maneira de aumentar o valor do cliente, é tornar-se mais valioso para ele, e a única maneira de tornar-se mais valioso para um cliente é sabendo quais são as suas necessidades e atendendo-as de uma forma muito melhor do que qualquer outra pessoa.

É preciso entender que, a médio e longo prazo, o relacionamento com o cliente poupa dinheiro. O cliente quer ser leal, mão quer se preocupar em trocar de fornecedor toda hora. Cabe a você saber o que ele precisa. É o caso do cliente que só queria um chocolatinho, uma balinha no seu travesseiro todo dia quando chegasse ao hotel. Para dar ao cliente o que ele queria, foi preciso perguntar isso para ele. Lembre-se: existe empresa de sucesso sem produto, mas não existe empresa de sucesso sem clientes.


Alessandra Assad
Diretora de redação da revista VendaMais, palestrante, professora universitária, colunista de marketing e propaganda, e autora do livro Atreva-se a Mudar! – Como praticar a melhor gestão de pessoas e processos. www.alessandraassad.com.br
HSM On-line, 24/06/08

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Países emergentes têm o que ensinar, diz especialista

Senge, que nesta semana participou de congresso no Rio: empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu dos tempos da Revolução Industrial
"Presença: Propósito Humano e o Campo do Futuro", Peter Senge, Joseph Jaworski e Otto Scharmer, Cultrix, 256 págs., R$ 37
Foto de divulgação


A sobrevivência no mundo corporativo no século XXI exige modelos administrativos diferentes daquele consagrado pelos americanos, que privilegia a centralização das decisões e sistemas hierárquicos sem estimular a abordagem integral dos negócios, ignorando a vida fora do ambiente profissional. Há mais de 30 anos analisando o comportamento das principais empresas do mundo, Peter Senge, um dos mais respeitados especialistas em administração, acredita que os novos modelos de gestão virão de países emergentes, como Brasil ou Índia.

"A padronização é uma característica ultrapassada, que remonta à Revolução Industrial. Muitas empresas já encontraram maneiras de equilibrar a produção com projetos socioambientais que lhes conferem um patrimônio muito mais significativo do que o lucro financeiro. É bom que surjam diversos modelos ao mesmo tempo", afirmou Senge ao Valor, no Rio, onde participou do 34º Congresso RH-Rio, realizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos.

Em "A Quinta Disciplina" (Best-Seller, 1990), Senge já advertia as empresas para a necessidade de se adaptar aos novos tempos, criando bom ambiente de trabalho e incentivando a confiança e a ampliação dos conhecimentos entre os funcionários. O livro, que esmiuçava o conceito de "learning organization" (empresa que aprende), vendeu mais de um milhão de cópias no mundo e enfatiza a importância do pensamento sistêmico, em que qualquer assunto deve ser visto sob vários ângulos. O conceito não é de Senge - nasceu de debates no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Foi no instituto que ele, já formado em engenharia e filosofia, se especializou em sistemas sociais e gestão e fundou o Centro de Aprendizagem Organizacional da Escola de Administração Sloan. Ao longo de 18 anos, Senge comprovou que as empresas sem preocupação com o que as cercam tendem a encerrar as atividades antes que as comprometidas com o desenvolvimento sustentável.

"Muitos já estão familiarizados com o conceito, mas poucos o aplicam. A empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu da era industrial. É importante definir em qual organização se vai trabalhar, se uma que leve ao crescimento pessoal ou outra em que apenas se ganhe dinheiro", afirma. Ele condena os workaholics: "Em razão da cultura de algumas empresas, muita gente pensa que deve trabalhar incessantemente. Isso tolhe a a criatividade dessas pessoas, que não conseguem lidar com imprevistos ou abrir-se para novos conhecimentos."

Senge acredita que essas limitações também estão ligadas à crise na educação, agravada pelo fato de que a maioria dos países mantém um sistema educacional arcaico. Para ele, as deficiências de concentração e abstração hoje observadas entre crianças, adolescentes e jovens se deve não só ao "bombardeio" tecnológico, mas à falta de convivência entre as gerações.

"Os escritores de ficção científica estavam certos: as máquinas vão nos dominar. O ritmo de nossa vida é ditado pela tecnologia. As crianças agora vivem sem a supervisão dos adultos, passando mais tempo diante de telas do que interagindo com pais e parentes. Elas recebem uma extraordinária carga de informações que não conseguem processar. Os adultos também. Um estudo na Grã-Bretanha constatou que, ao fim de um dia usando blackberries, um adulto sofre queda superior a 20% no QI. O organismo humano não foi programado para isso", alerta Senge.

Depois de várias visitas ao Brasil, ele aponta a vitalidade como uma das peculiaridades da população. "Essa energia que os brasileiros demonstram é que leva à liderança em um setor importante, o musical. A diversidade da música brasileira conquistou respeito internacional. Esse é um exemplo de que há riquezas culturais que podem contribuir para a criação de um modelo diferente e único em negócios. Cada país deve seguir o seu modelo, com um sistema educacional que ensine o jovem a pensar de acordo com sua cultura."


Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
Valor Online, 26/06/08

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Na área de inovação, sobram recursos e faltam projetos

Dilson Moura de Sá, sócio da Fiveware Solutions: disputa por um quinhão do programa de subvenção da Finep
Foto Sergio Zacchi / Valor


Depois de bater na porta de uma dúzia de empresas de capital de risco, sem sucesso, Dilson Moura de Sá percebeu que, na realidade, ainda não tinha uma idéia muito clara do que teria para propor caso um daqueles investidores resolvesse convidá-lo para entrar. A sua Fiveware Solutions, apesar do nome pomposo, ainda não passava de uma associação entre cinco colegas que resolveram deixar seus empregos de consultor de tecnologia no início de 2006 para oferecer serviços de segurança para sites de bancos. Mas o negócio vingou, e no mês passado, Dilson viu uma nova chance de dar o empurrão financeiro que falta para o negócio deslanchar de vez.

A Fiveware é uma das empresas que hoje disputam um quinhão do programa de subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Neste ano, a entidade conta com R$ 450 milhões em caixa para apoiar projetos considerados inovadores. O principal apelo desse programa é que ele oferece financiamentos não-reembolsáveis, isto é, as empresas contempladas não têm que devolver o dinheiro recebido.

O curioso, porém, é que até agora pouco mais de 200 empresas com projetos de inovação tecnológica candidataram-se ao investimento. "O problema é que as pessoas deixam a inscrição para a última hora", comenta Eduardo Costa, diretor de inovação da Finep. "Nos próximos dias, nossos computadores chegam quase a travar de tantos projetos que chegam."

O aumento de interesse, no entanto, não significa que os recursos, de fato, serão usados. Este é o terceiro edital de subvenção lançado pela Finep, desde que a modalidade entrou em vigor, com a Lei de Inovação. No ano passado, o pacote também atingiu a casa dos R$ 450 milhões, mas no fim do processo apenas R$ 300 milhões foram aplicados. "Não tivemos a quantidade de bons projetos que esperávamos", diz Costa. "Mas o cenário está mais maduro e deverá ser melhor neste ano."

O programa atual de financiamento não-reembolsável da Finep estabelece que o valor mínimo de investimento é de R$ 1 milhão, com prazo de execução de 36 meses. Uma nova iniciativa, porém, está pronta para atender negócios em fase realmente inicial de operação. Hoje, em Brasília, a entidade vai apresentar o Prime, programa que prevê o investimento de R$ 1,3 bilhão nos próximos quatro anos em empresas nascentes de base tecnológica.

O Prime prevê que o valor total do financiamento será de R$ 240 mil por empresa, liberados em duas parcelas, no prazo de 24 meses. A primeira parcela, de R$ 120 mil, é não-reembolsável. Na segunda parcela, o empresário tem 100 meses para devolver o empréstimo, a juro zero.

Os projetos serão selecionados por 18 incubadoras espalhadas pelo país, incluindo entidades como o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar-PE), o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec-SP) e o Centro Incubador de Aracaju (Cise-SE). "As incubadoras funcionarão como um filtro de projetos", comenta Ary Plonski, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). Com o Prime, a meta é que 5 mil empresas sejam beneficiadas até 2011.

A Finep, que é um braço de apoio à pesquisa ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), não é a única fonte de recursos não-reembolsáveis. O BNDES, que no ano passado ofertou R$ 100 milhões por meio do Fundo Tecnológico (Funtec), também renovou seu programa para este ano e agora tem R$ 400 milhões em caixa para investimento a fundo perdido. Isso significa que, somadas apenas as iniciativas da Finep e do BNDES - sem incluir programas de agências de fomento à pesquisa como Fapesp e CNPq - existe mais de R$ 1 bilhão em recursos disponíveis para apoiar projetos de inovação tecnológica, sem a necessidade de devolução do dinheiro.

"Vemos que os recursos estão à disposição", diz Sergio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia, ao Valor. "O que falta é mais qualidade nos projetos das empresas." Segundo Rezende, cerca 2,5 mil empresas candidataram-se ao pacote de subvenção no ano passado, gerando uma demanda que necessitaria de R$ 4 bilhões para ser atendida. "Quando apertou-se o crivo da seleção, só R$ 300 milhões foram liberados."

No BNDES, a expectativa é de que o programa de subvenção do banco alcance o mesmo resultado de 2007, quando os R$ 100 milhões do pacote foram aplicados. Em paralelo, diz Eduardo Rath Fingerl, diretor das áreas de mercado de capitais, o BNDES tem buscado formas de estreitar o relacionamento de projetos de pequeno porte com fundos de capital de risco. No fim do ano passado, o banco lançou o Criatec, um fundo com valor máximo de investimento por empresa de R$ 1,5 milhão. No alvo do BNDES estão companhias com faturamento de até R$ 6 milhões.

Segundo Fingerl, quatro empresas já receberam aporte do Criatec (Rizoflora, Seler, Kiman, Vitrovita), 20 companhias estão em processo acelerado de análise e outras centenas aguardam avaliação. A expectativa da instituição é de que até 60 empresas sejam atendidas em três anos. Hoje, o BNDES tem uma lista de 180 empresas das quais é sócio direto, por meio de sua divisão BNDESPar. Somados os negócios em que participa por meio de fundos - que envolvem investidores privados -, o volume atinge cerca de 300 operações.

O acesso a financiamento, segundo Eduardo Costa, da Finep, finalmente começa a chegar ao pequeno empreendedor. "Hoje, quando alguém sai da faculdade, tem a cultura de encontrar um bom emprego, e não investir em algo próprio", diz. "O que criamos é um 'kit empurrão', para mexer com essa atitude."


André Borges
Valor Online, 26/06/08

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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Lucas do Rio Verde, o único município 100% mapeado

As pastas brancas etiquetadas por ordem alfabética já estavam postas sobre as mesas quando os mais de 300 agricultores chegaram ao principal salão de eventos de Lucas do Rio Verde, município cravado no corredor agrícola que rasga o Mato Grosso de norte a sul. Um a um, eles recebem a pasta com uma foto de satélite colorida e uma folha explicativa. Ali está o raio-x de suas propriedades: área, divisas, rios, nascentes, plantações e um borrão vermelho onde deveriam estar as matas protegidas por lei.

A entrega das imagens georreferenciadas de 100% das propriedades rurais de Lucas do Rio Verde é um marco histórico para o município, que como centenas de outros ignorou a legislação ambiental mas agora quer se transformar numa referência para o resto do país - com uma mensagem clara para o mundo.

"Se não fizermos isso, não vendemos soja lá fora", diz Luiz Roberto da Costa Alves, dono de dois lotes de terra de pouco mais de 400 hectares, enquanto olha a foto que mapeia por completo sua propriedade. Alves está em déficit de verde, mas parece disposto a resolver o problema.

Esse tipo de atitude é um passo gigantesco e só foi possível graças a um acordo amarrado há um ano entre prefeitura, conselho municipal, Ministério Público, sindicato rural, representantes ambientais e da agroindústria. A aliança inédita visa tornar Lucas o primeiro município do país a ter todas as propriedades regularizadas sob o Código Florestal.

Foram quase R$ 500 milhões investidos nos últimos 12 meses para a estruturação e a implementação do projeto "Lucas do Rio Verde Legal", que culminou com a cerimônia de entrega, na última sexta-feira, das fotos do satélite francês Spot 5, de média a alta definição. Os financiadores dão credibilidade à iniciativa: Fiabril (biocombustíveis), Syngenta e a Sadia, todos diretamente associados à soja e ao milho. Na coordenação do projeto está a The Nature Conservancy (TNC), uma respeitada organização não-governamental que atua para a preservação do ambiente.

O resultado é que Lucas tem hoje em mãos seu diagnóstico ambiental, condição básica para arrumar a casa. Os trabalhos nesta primeira fase do programa rastrearam os 365 mil hectares do município e contabilizaram a existência de 690 nascentes, dois mil quilômetros de rios, 262 açudes ou reservatórios e 360 mil hectares de área agrícola, entre outros dados. "Essa lição de casa ninguém mais fez", diz a secretária municipal de Meio Ambiente e Agricultura, Luciane Copetti.

Responsável por 1% da produção nacional de soja e 10% do milho, Lucas tem um passivo total de reserva legal - o percentual mínimo de florestas em uma propriedade exigido por lei - de quase 30 mil hectares. O déficit das áreas de proteção permanente, como a mata da beira de rios, é de cerca de 2,7 mil hectares.

Esse "buraco" verde era sabido. O que não se conhecia era o seu tamanho de fato e a responsabilidade de cada um nesse processo.

Lucas surgiu na esteira do programa de assentamentos criado pelo governo federal para povoar o "sertão" brasileiro. Seus habitantes são de origem gaúcha, paranaense e catarinense, encorajados à época a esticar a fronteira agrícola. A terra era de graça. Cada um que fincou o pé ali recebeu um lote de 200 hectares. A ordem era clara: plantem.

Natural, portanto, que exista hoje déficit de verde. Mas Lucas não é um caso isolado. O município está no principal corredor de escoamento do Mato Grosso, a BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, no Pará. Subindo da capital em direção norte, a paisagem é monotonamente marcada nesta época do ano pelo milho safrinha (que faz o revezamento com a soja). Não há uma sombra para onde correr. Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop estão nesse eixo e respondem pela maior produção de soja do país.

"Há problemas, mas temos de parar de culpar os outros e agir. Se alguém pode preservar é o produtor. Precisamos convencê-lo e não agir com truculência", afirma Marino Franz, prefeito da cidade. "Fiz uma viagem à Europa e vi a preocupação com a compra de produtos da Amazônia".

Para as empresas patrocinadoras, é um exemplo. "É uma boa semente e esperamos que isso se multiplique. Nem a Sadia nem a Prefeitura conseguiriam fazer isso sozinhas", diz Nadir Cervelin, gerente de projeto em Lucas, onde a Sadia investe R$ 800 milhões na construção de seu maior complexo agroindustrial no país.

Convencê-los ao georreferenciamento foi a primeira tarefa. Houve adesão de 100% dos 350 produtores. Agora, equipes técnicas da Prefeitura percorrerão as fazendas para checar, in loco, os ajustes a serem feitos. A aliança contratou a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) para estudar a melhor maneira de recuperar as áreas de proteção permanente.

Ninguém terá de arrancar soja para recompor a reserva legal, que no cerrado significa 35% de vegetação nativa protegida. Segundo Henrique Santos, coordenador de conservação em terras privadas da TNC, a idéia é que os passivos ambientais de todas as propriedades sejam compensados de forma coletiva, formando corredores de biodiversidade. A ONG já tem em vista algumas áreas grandes de florestas preservadas - ainda não abre para evitar especulação imobiliária.

Outra estratégia é eximir o produtor de pagar a multa pelo descumprimento ambiental. A Prefeitura trabalha com o Ministério Público para que o sojicultor parta diretamente para um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), pelo qual se compromete a resolver a situação prontamente. "Tenho que puxar o produtor pro meu lado. Se tiver que pagar multa, ele não vem", diz a secretária Luciane Copetti.

Por ora, tudo parece caminhar bem. "Todo dia eu recebo uns 10 produtores que me procuram para pedir explicações sobre regularização", diz Giovanni Mallmann, da equipe local da TNC. Se tudo der certo, daqui a 20 ou 30 anos o município estará devidamente quitado com o ambiente.


Bettina Barros
Valor Online, 20/06/08
A jornalista viajou a convite da TNC

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sustentabilidade cai nas graças dos investidores

Ao adotar critérios para análise de riscos socioambientais, mercado financeiro estimula adoção de práticas sustentáveis pelas empresas

A sustentabilidade tem sido um parâmetro cada dia mais utilizado por investidores na hora de escolher empresas, principalmente em segmentos conservadores que buscam segurança e constância no retorno. Socialmente responsável, ético, verde ou sustentável são algumas denominações atribuídas ao processo de investimento que considera as conseqüências socioambientais, tanto positivas quanto negativas, em um contexto de rigorosa análise financeira.

Para Jean Philippe Leroy, diretor de relações com o mercado do Bradesco, a sustentabilidade é uma tendência irreversível no mercado financeiro. “Os investidores, influenciados até pela recessão nos Estados Unidos, estão analisando as empresas com mais critério. No lugar de fazerem investimento exacerbado no curto prazo passaram a considerar também os benefícios de uma gestão baseada na sustentabilidade, porque entendem que isso gera valor e assegura a perenidade do negócio”, ressalta.

Segundo a pesquisa “Investors Opinion Survey” da McKinsey & Co. (2000), em parceria com o Banco Mundial, os investidores estariam dispostos a pagar entre 18% e 28% a mais por ações de empresas que adotam melhores práticas de administração e transparência.

Outros números mais recentes confirmam o interesse dos investidores em fundos socialmente responsáveis. De acordo com a associação Social Invest, o montante destinado a esses fundos atingiu US$ 2,290 bilhões.
Ao contrário do que possa parecer, o interesse do mercado financeiro por empresas responsáveis não é recente. Começou na década de 60 a partir da criação dos primeiros fundos dessa categoria, como o Trillium e o Pax, nos Estados Unidos. Eles excluíam empresas de armas, fumo, bebidas, assim como de petróleo e mineração, setores considerados de alto de impacto para o meio ambiente.

Nas décadas de 1980 e 1990, esses fundos passaram a incluir, entre outros, setores promissores como os de energia eólica e solar, reciclagem e biotecnologia e informática.

A partir de 2000, os fundos de investimento socialmente voltaram-se às melhores práticas sociais e ambientais nos diferentes setores empresariais. São exemplos dessa categoria o Storebrand (Noruega) e o Ethical (ABN-Real, no Brasil).


Índices de sustentabilidade
Composto por ações de companhias com reconhecido compromisso com a responsabilidade socioambiental, os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as que são vistas como mais prósperas por causa dessa característica e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial.

Nesse campo, a Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em 1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios índices, como são os casos da de Londres, que criou o FTSE4Good (Footsiefor good), em 2001, a de Johanesburgo, com o JSE (2003), e a Bovespa, com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em 2005.

A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias líderes na prática desse conceito em cada um dos 58 segmentos, a partir de uma avaliação sistemática dos fatores econômicos, ambientais e sociais de longo prazo.

Estratégias de combate às mudanças climáticas, eficiência energética, desenvolvimento do capital humano, gestão do conhecimento, relacionamento com stakeholders e governança corporativa são alguns dos quesitos avaliados. Há ainda outros específicos conforme o segmento de atuação da empresa.

O Índice Dow Jones de Sustentabilidade tem registrado um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital Index (MSCI) oferece um 15,6% por ano. Uma evidência numérica de que ser sustentável faz bem para o negócio no Novo Mercado.


A experiência brasileira
Segundo Rogério Marques, supervisor de assistência ao mercado da Bovespa, a criação do ISE surgiu de uma demanda natural do mercado brasileiro. “Em 2003, a Bolsa de Valores de São Paulo foi procurada por representantes do mercado e administradores de recursos que sugeriram a criação do índice para medir o desempenho de uma carteira de empresas que tinham uma postura responsável. Eles acreditavam que o mercado nacional, a exemplo do internacional, já estava maduro o suficiente para ter um indicador capaz de avaliar o desempenho das ações de empresas com essas características e compará-lo com as demais companhias participantes do Ibovespa”, afirma Marques.

Esse índice nasceu, portanto, para atender a um grupo de investidores em ascensão, preocupado com o retorno do seu investimento no longo prazo. “Existem dois tipos de investidores. O pragmático, que compra ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acredita que elas têm mais chances de permanecer produtivas pelas próximas décadas, sofrendo menos passivos judiciais com ações ambientais, trabalhistas e sociais. E o investidor engajado, que está disposto a pagar um valor maior pela ação de empresas que privilegiam os três pilares de sustentabilidade. Em ambos os casos, o ISE serve de parâmetro para a uma escolha criteriosa de empresas”, ressalta Marques.

Com 32 empresas de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$ 927 bilhões, o ISE representa 39,6% da capitalização da Bovespa. A sua média de crescimento nos últimos dois anos é equivalente à do Ibovespa. No período de novembro de 2005 a janeiro de 2008, o Ibovespa demonstrou uma evolução de 96,77% enquanto o ISE fechou com alta de 90,04%. Questionado se essa evolução sugeriria uma futura vantagem comparativa das companhias listadas no ISE para as demais, Marques considerou prematuro fazer afirmações absolutas. “Devido ao pouco tempo de existência do ISE, essas análises ainda não podem ser conclusivas”, afirma.


O impacto nas empresas
Os índices de sustentabilidade funcionam como uma espécie de “selo de qualidade”. Ao integrá-los, as empresas são reconhecidas pelo mercado pela responsabilidade social corporativa e sustentabilidade com que atuam no longo prazo.

Segundo Djalma Bastos, presidente da Cemig, empresa listada no Dow Jones, esse reconhecimento mundial facilita a prospecção de novos negócios e parcerias. “Outro ponto importante é a possibilidade de ampliação do acesso a um crescente mercado dirigido aos investidores de longo prazo, que prezam pela responsabilidade ambiental e social na gestão dos negócios. Adicionalmente, a Cemig pode se beneficiar da menor volatilidade no preço de suas ações, sendo bem classificada pelo mercado investidor, o que permite a captação de financiamentos com custos de capital mais baixos e, conseqüentemente, a agregação de valor aos investimentos dos acionistas”, afirma Bastos.

Primeira companhia latino-americana do setor de energia a integrar o Dow Jones de Sustentabilidade desde que ele foi criado em 1999, a Cemig está, portanto, entre as empresas mais sustentáveis do mundo. Nos últimos cinco anos, o seu valor de mercado aumentou quatro vezes, passando de R$ 4 bilhões (2002) para R$ 16 bilhões (2007).

Para o superintendente de relações com investidores do Itaú, Geraldo Soares, integrar índices de sustentabilidade gera um impacto positivo na estrutura interna da empresa na medida em que, para atender às exigências estipuladas pela nova condição, ela passa a agir e pensar de forma integrada. “Os questionários são tão complexos e amplos que acabam envolvendo vários departamentos. Assim cria-se um espaço para discussão do conceito e desenvolve-se uma cultura de sustentabilidade na companhia”, ressalta.

O Itaú também faz parte Índice Dow Jones de sustentabilidade desde a sua criação em 1999. “A empresa pode ser muito boa social e ambientalmente, mas precisa gerar valor para o acionista”, afirma Soares. E a sustentabilidade –segundo ele – ao integrar a gestão dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, contribui para isso, na medida em que diminui os riscos do negócio. “Uma empresa não tem capacidade de sozinha escolher os melhores caminhos. Isso só é possível a partir do diálogo com diferentes stakeholders”, ressalta.


Resultados falam por si
De acordo com os entrevistados de Idéia Socioambiental, a adaptação das empresas às exigências de ingresso e permanência nos índices de sustentabilidade contribuiu para criar as condições para gestão dos ativos intangíveis. Na Petrobras, por exemplo, eles são classificados em quatro tipos de capital: humano, organizacional, de relacionamento e de domínio tecnológico.

Para a empresa, a gestão dos ativos intangíveis teve papel fundamental na criação de valor, no diferencial competitivo e na conquista de resultados no longo prazo. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado da Petrobras cresceu 148%. A incorporação da sustentabilidade na estratégia do negócio também teve impacto significativo na reputação da empresa. Em 2007, a companhia energética saltou da 83ª para a 8ª posição no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da Petrobras nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE amplia o acesso a um mercado potencial de investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis, avaliado pela ONU em mais de US$ 4 trilhões.

O Bradesco também integra, desde 2005, o Dow Jones de Sustentabilidade e o ISE da Bovespa. Apesar de o banco não dispor de nenhum instrumento específico para aferição do valor que a sustentabilidade adiciona ao negócio, Leroy atribui parte da boa performance dos últimos anos à incorporação desse conceito às práticas da organização. Em 2007, o Bradesco superou pela primeira vez os R$ 100 bilhões em valor de mercado. Para se ter uma idéia, em 2003, o banco era negociado a 1,7 vezes do seu valor patrimonial. Quatro anos depois, passou a 13,5 vezes.


Investimento socialmente responsável no Brasil
2000 - Primeiro serviço de pesquisa ISR em mercado emergente - Unibanco
2001 - Primeiro fundo ISR em mercados emergentes – Banco Real – Fundo Ethical
2004 - Itaú lança Fundo ItaúExcelência Social
2005 - Bovespa lança Índice de Sustentabilidade Empresarial
2005 - Banco do Brasil, HSBC, Bradesco, Safra e Unibanco lançam fundos espelhados no ISE.
2007 - Elaboração do Principle for Responsible Investing por investidores com apoio da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Pacto Global das Nações Unidas



Por Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 18/06/08

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Brasil na roda da fortuna

A onda de novos milionários criada pelo ritmo alucinante de aberturas de capital de empresas no ano passado não será a única a aquecer o setor de private bank no país. Uma nova geração de empreendedores está a caminho de conquistar seu primeiro milhão. Esse é um processo que atiça os private banks mundiais e aumenta o interesse pelo Brasil. Essa nova leva de endinheirados, de executivos bem-sucedidos, na faixa dos seus 50 anos, disputa um lugar ao sol com jovens empreendedores de sucesso, e deve fazer com que o Brasil supere o México no campeonato latino-americano de fortunas.

A perspectiva para lá de positiva para o setor de private bank faz parte de um relatório elaborado pelo banco inglês Barclays, que avalia que o Brasil caminha no sentido de ter o maior número de milionários da América Latina, superando, inclusive, o México. De acordo com o levantamento do Barclays, o número de milionários no Brasil com mais de US$ 1 milhão deve chegar a 675 mil em 2017 - maior quantidade entre emergentes como China, Índia e Rússia, os chamados Brics. Segundo o relatório, o número de milionários brasileiros hoje é "desprezível" pelo banco inglês, mas números da consultoria Boston Consulting Group estimavam um total de 190 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão em 2007. Sendo assim, o número de milionários no país pode triplicar num prazo de dez anos.

Vale lembrar que esses valores levam em conta recursos livres para aplicação, ativos mantidos direta ou indiretamente como investimento, depósitos em dinheiro, fundos de curto prazo, recursos internos (onshore) e externos (offshore). "Até 2017, o Brasil será domicílio do maior número de milionários na América Latina superando o México, que hoje tem mais milionários", diz o estudo.

A riqueza no Brasil historicamente esteve concentrada nas mãos de um número reduzido de ricas famílias industriais, mas a atividade empresarial está se tornando mais importante, ressalta o estudo. "Os brasileiros são naturalmente empreendedores e é possível ver um aumento no setor empresarial", diz o relatório.

O que fará o país se consolidar como um dos principais mercados para o setor de private banking e "family office" (escritórios de gestão de grandes fortunas) é o processo de reconstrução da indústria de base brasileira, avalia René Werner, especialista em governança familiar e desenvolvimento societário. "O Brasil está num momento em que uma nova geração de empreendedores, na faixa dos 50 anos, se destaca e cujas empresas se inserem num contexto de companhias globais competindo de igual para igual."

O aumento no número de milionários tem feito o setor de private banking no Brasil crescer de 25% a 30% nos últimos anos. No ano passado, o segmento foi extremamente beneficiado pela avalanche de dinheiro decorrente do forte movimento de aberturas de capital. Agora, a maior leva deve vir dos executivos que exercem cargos de chefia.

Com a economia crescendo, os bônus dos executivos também devem ficar maiores e mesmo os salário podem melhorar, trazendo mais dinheiro para este setor, diz Lywal Salles, diretor executivo do Banco Itaú e responsável pelo private bank da instituição. "Entre os emergentes, o Brasil é onde há expectativa de crescimento maior", diz ele, lembrando que, nos Estados Unidos, maior mercado de milionários, o crescimento desse segmento deve ser menos por conta do desaquecimento econômico. "Na Europa e na Ásia, os mercados também já foram mapeados", afirma Salles. "Sobram os emergentes e o Brasil se destaca."

Na próxima década, os Brics deverão ter o mais significante ganho em termos de riqueza entre 50 países. "O mais importante desenvolvimento na próxima década, de acordo com nossa pesquisa, é a rápida escalada da riqueza doméstica nos principais mercados emergentes de China, Índia, Rússia e Brasil." Pelas projeções do Barclays, o Brasil, que é o 15º colocado entre os mais ricos, deverá pular para 12º em 2017. Não por acaso, alguns bancos estrangeiros de peso, como o Goldman Sachs, estão se voltando para o Brasil.

Entre os Brics, o ambiente econômico e estrutural favorece mais o Brasil, pois o país já conta com uma democracia consolidada, ao contrário de Rússia e Índia que ainda têm problemas nesse sentido, diz Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking. Além disso, pontua o executivo, a estrutura social permite a elevação por classe social conforme a acumulação de riqueza, o que não acontece na Índia, onde o sistema de castas não permite mobilidade. "Sem falar que o Brasil é conhecido por contar com bons profissionais, o que nos dá também uma vantagem competitiva."

Apesar do menor número de empresas vindo à bolsa, a atividade de fusões e aquisições continua aquecida, trazendo mais recursos para o país e, indiretamente, para o setor de private bank, lembra Helena McDonnel, diretora do private bank do HSBC no Brasil. Vários private equities - fundos que compram participação em empresas - estão vindo para o país e isso traz muita riqueza para cá, diz a executiva. "O potencial de crescimento na China é alto, mas não é um movimento que acontecerá agora", acrescenta Helena. "Já a Índia, já teve uma fase de grande criação de riqueza e o Brasil, portanto, se mostra o caminho mais rápido de crescimento do setor."


Por Luciana Monteiro, de São Paulo
18/06/08

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Milionários trazem de volta investimentos do exterior

O passado de incertezas políticas e econômicas, assim como a longa história de hiperinflação, fizeram com que muitos brasileiros mantivessem seus recursos no exterior. Mais recentemente, a melhora econômica e estabilidade política têm encorajado muitos desses endinheirados a voltar suas atenções para o mercado doméstico, ressalta o relatório do Barclays sobre milionários.

O advogado Léo Rosenbaum, do escritório Rosenbaum Advocacia, confirma essa tendência. Ele conta a história de um investidor de alta renda que, diante de melhores oportunidades de investimento no país, resolveu trazer de volta US$ 15 milhões que estavam no exterior, não-declarados. "Ele disse que nunca imaginou que traria de volta o dinheiro e que preferia pagar o imposto para aproveitar as oportunidades daqui", diz o advogado.

Há um movimento no sentido de os investidores aproveitarem as oportunidades presentes no mercado brasileiro, principalmente na renda fixa, diz Helena McDonnel, diretora do private bank do HSBC no Brasil. Ela lembra que a proporção de investimentos de brasileiros no exterior é menor do que a de argentinos fora do país. Números da consultoria Boston Consulting Group mostram que, no Brasil, 54% dos ativos dos milionários estão offshore e os outros 46% onshore. Já na Argentina, a proporção é de 68% de investimentos no exterior e, no México, é de 68%, mesmo percentual da Venezuela.

O relatório do Barclays destaca ainda que nos últimos anos, os brasileiros ricos têm investido pesadamente em imóveis. "O 'boom' do mercado imobiliário é liderado por uma classe média emergente com aspirações de comprar a casa própria", diz o relatório. O estudo afirma ainda que o crescimento da economia de mercado, juntamente com a globalização, mudanças tecnológicas e demográficas e o crescimento da demanda por commodities, tem contribuído para uma criação em massa de riqueza em muitos países.

Para Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking, a acumulação de riqueza a partir de agora deverá vir principalmente de executivos e com a valorização dos ativos. "Tem muita gente da classe média que tem se tornado milionário com o retorno de seus investimentos ou por ter participação nos lucros das companhias em que atuam", diz. No ano passado, a área private do Safdié registrou crescimento na faixa de 70% e, para este, a expectativa é de 35%.

Segundo o relatório do Barclays, quando a riqueza é dividida entre a parte financeiras e a não-financeira (como obras de arte, por exemplo), os Estados Unidos lideram nos dois quesitos hoje e isso deve se manter nos próximos 10 anos. Atualmente, diz o relatório, há 16,6 milhões de ricos locais cuja riqueza supera U$ 1 milhão. A previsão é de que esse número suba para 29,7 milhões em 2017. "Nenhum outro país no mundo irá chegar perto desse crescimento em termos absolutos", diz o estudo. Na próxima década, os EUA também verão o número de milionários locais com mais de US$ 5 milhões crescer de 1,4 milhão para 3,5 milhões.


Por Luciana Monteiro, de São Paulo
Valor Online, 18/06/08

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terça-feira, 17 de junho de 2008

Universidade abre as portas às marcas e cria até shopping center

Quinta-feira, 22 horas. Nas proximidades do metrô Barra Funda, zona oeste de São Paulo, concentra-se um verdadeiro mercado livre às portas da Uninove, uma das maiores universidades particulares do país em número de alunos. Do lado de fora do campus, DVD, chocolate, batata frita, lingerie, cachecol e relógio Chanel falso, entre outras ofertas, disputam a atenção dos estudantes a caminho da estação. Vários bares estão no trajeto, mas o principal ponto de parada é o Castelinho Beer, bem em frente à entrada da Uninove, onde a promoção de quatro garrafas de cerveja a R$ 15 vem funcionando. "Chego a vender 70 caixas por noite às quintas e às sextas", diz a gerente do Castelinho, Janete Yoko, que também oferece música eletrônica vários decibéis acima do permitido para o horário.

Com exceção da bebida alcoólica e do relógio pirata, as universidades brasileiras estão dispostas a levar esse ambiente de consumo e confraternização para dentro do campus. A Estácio de Sá, a segunda maior do país, acaba de contratar a administradora de shopping centers In Mont para criar e coordenar minicentros comerciais em todas as suas 63 unidades no país.

Segundo a Estácio, os alunos pediram "serviços de qualidade" próximos à sala de aula. Outras grandes universidades, como a gaúcha Ulbra e o renomado Mackenzie, de São Paulo, permitem ações de marketing nos seus domínios desde que acompanhadas de vantagens explícitas para os alunos: notebooks com 40% de desconto e dez meses para pagar; financiamento de 50% das mensalidades para depois da formatura; patrocínio ao time da faculdade e até para produções de cinema estudantis.

Algumas das iniciativas são pagas, outras fruto de permuta. "Mais do que obter uma fonte alternativa de receita, o que as universidades particulares querem é levar benefícios ao estudante para que ele se encarregue da propaganda boca a boca, capaz de garantir à instituição um reconhecimento público que apenas anos de tradição poderiam conferir", afirma o consultor Ryon Braga, presidente da Hoper, uma das poucas consultorias especializadas no negócio de educação no país. Esse ganho de popularidade é importante mesmo entre aquelas que já são reconhecidas, uma vez que a disputa pelos alunos se acirra a cada semestre letivo.

Entre 2004 e 2007, o número de instituições de ensino superior privado cresceu 27%, para 2.237 empresas. Estas faturaram juntas R$ 20 bilhões no ano passado - 38% a mais do que em 2004. Mas o total de estudantes atendidos nesse mesmo período subiu em menor proporção: 23%, para 3,7 milhões.

"É importante 'fidelizar' os alunos não só para que eles indiquem a instituição, como para fazê-los voltar a estudar lá depois de formados, em busca de uma pós", diz Braga, ressaltando que essa postura reflete a gestão profissional que passou a vigorar nas universidades nos últimos anos. Algumas delas, inclusive, abriram capital na bolsa, como a Estácio e a Anhanguera, e vêm usando os recursos para acelerar o crescimento via aquisições.

Mauro Lissoni, sócio da Mundo Universitário, agência especializada no público em busca do diploma, lembra que número de alunos matriculados é moeda forte nesse novo cenário. "Os investidores, estrangeiros ou não, avaliam a rentabilidade por aluno, a quantidade de matrículas, a estrutura do local e a tradição, nessa ordem", diz Lissoni, cuja agência também atua na intermediação entre universidades e potenciais investidores.

Ainda que o principal objetivo das promoções e vendas nos campi não seja financeiro, a receita com essas parcerias deve aumentar. "Hoje menos de 1% do faturamento total das universidades vem dessas ações, mas a tendência é que as receitas alternativas cresçam como nos Estados Unidos, onde significam entre 5% e 7% do faturamento das universidades", diz Braga. O consultor aponta como novidade a venda de espaço publicitário em alguns campi, com inserções em banheiros, mobiliário urbano e até em TVs de plasma.

O preço de uma ação promocional por três dias na universidade pode chegar a R$ 15 mil - uma pechincha para o anunciante, sabendo-se que uma cifra como essa significa apenas 5% do que se costuma pagar por uma única inserção de 30 segundos em horário nobre da TV (cuja audiência, apesar de maior, é dispersa). Mas algumas ações nem precisam ser pagas: basta oferecer um benefício tangível aos alunos - como os 200 mil CDs de instalação do sistema Windows Vista, da Microsoft, com programa de navegação, distribuídos neste ano pela Oi na Estácio.

"O que vai manter o aluno é a qualidade do ensino, mas se você pode agregar valor a isso, inclusive com ganhos para a área acadêmica, melhor ainda", diz Marcelo Campos, diretor de relações institucionais da Estácio. Um exemplo de parceria na área acadêmica está no patrocínio do Unibanco às produções dos alunos do curso de cinema. "Este ano lançamos o DVD 'A alma de uma orquestra', um documentário sobre a Rio Jazz Orchestra produzido por alunos e professores da Estácio e bancado pela Unibanco AIG", diz Campos.

Na maioria das universidades, as instituições financeiras são as grandes parceiras. Elas respondem por contratos de alguns milhões de reais ao ano, uma vez que costumam responder pela emissão de boletos aos alunos e pela folha de pagamento. Em troca, têm o direito de fazer ações promocionais nos campi, com exclusividade. No caso do Unibanco com a Estácio, o banco se oferece para financiar metade da mensalidade do aluno durante o curso. "O estudante só paga a metade e, quando se formar, começa a pagar a outra metade para o banco", explica Campos.

Na Ulbra, o aluno também tem a opção de pagar a mensalidade com o cartão de crédito Credicard Citi. "Nós cobramos caro para que as ações não se vulgarizem", diz o assessor de marketing da Ulbra, Sérgio Freitas, sem revelar quanto. Os recursos, segundo ele, são destinados ao Esporte Clube Ulbra, que tem a AmBev entre os patrocinadores. A marca da fabricante de bebidas não aparece na camisa dos atletas. Em compensação, a AmBev é a fornecedora exclusiva dos oito campi da Ulbra no Rio Grande do Sul, atingindo 45 mil estudantes.

Não é qualquer ação - nem anunciante - que tem portas abertas. "Bebida alcoólica e cigarro são proibidos", diz Vladimir Cruz, analista de marketing do MacKenzie, que conseguiu com a Semp Toshiba desconto de 40% nos notebooks. Mas alguns serviços não passam. "Já tive proposta de salão de beleza, mas isso desviaria demais a atenção dos alunos", diz Cruz, que recebe pelo menos duas propostas ao dia de anunciantes.


Daniele Madureira
Valor Online, 17/06/08

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segunda-feira, 16 de junho de 2008

Celular é o novo aliado na organização de protestos

"Praça de Mayo 20h. Caçarolaço. A favor do campo, contra a corrupção kirchnerista. Passe adiante - Argentina precisa de você". Milhares de pessoas em Buenos Aires receberam essa mensagem em seus celulares em 25 de março, por volta de 19 horas. Foi logo depois de um discurso da presidente Cristina Kirchner em que ela criticou duramente uma greve dos agricultores que havia começado uma semana antes - e até hoje não terminou.

Apenas três horas após o discurso, a emblemática Praça de Mayo, que fica em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino, estava lotada de gente batendo panelas, carregando bandeiras, cantando palavras de ordem em manifestação de apoio ao campo, contra o governo. Eles dividiam o espaço com centenas de opositores, a favor do governo e contra o campo, que também se mobilizaram com a rapidez de um relâmpago.

Rafael Escalante, 22 anos, formado em ciência política pela Universidade de Buenos Aires, foi um dos que receberam a mensagem de convocação ao caçarolaço, quando saía do trabalho. "Recebi mensagens no celular e fui à manifestação na Praça de Maio, mas não por causa das mensagens, fui porque estava na rua e vi todo mundo indo para lá", conta Rafael.

O historiador Ignacio Bracht, de 52 anos, disse que recebeu cerca de cinco mensagens para o protesto daquela noite e continuou recebendo para manifestações posteriores, em outros locais e datas, a maioria a favor dos agricultores. Bracht admite ter pouca afinidade com a tecnologia e que decididamente não está no grupo de aficcionados que passam horas na frente de um computador. Mas desde que descobriu a mensagem de texto no celular tem sido seu meio favorito de comunicação. "É um meio eficiente para difundir uma idéia ou mobilização."

Não precisa muito para os argentinos armarem uma manifestação pública. Passeatas interrompendo as ruas fazem parte da paisagem de Buenos Aires e todos os dias há pelo menos um protesto. Há dias em que são vários, simultâneos, em diversos pontos da cidade, tornando o trânsito um caos.

A novidade é que de um ano e meio para cá eles estão se mobilizando cada vez mais rápido graças à ajuda da tecnologia com mensagens de texto, correios eletrônicos, blogs e o próprio celular. A Argentina é o país com o maior índice de acesso à telefonia celular da América do Sul. Estatísticas da Comissão Nacional de Comunicações e da União Internacional de Telecomunicações indicam que há quase um celular por pessoa na Argentina contra 0,83 nos EUA e no Brasil.

Javier Jayo, secretário especial da Confederação Agrária Argentina (CRA), confirma que o celular é um dos instrumentos que os agricultores em greve têm usado para chamar seus colegas nas fazendas vizinhas. De pontos remotos em meio às extensas lavouras de soja, milho e girassol, eles se comunicam e saem juntos às estradas que margeiam as fazendas. "Nós (da CRA) não os convocamos, a maioria são auto-convocados que se mobilizam e vão para as estradas protestar", disse Jayo ao Valor.

Os meios eletrônicos também têm ajudado a mobilizar os funcionários do Indec, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, diz a socióloga Carolina Ocar, pesquisadora da área de estudos populacionais. Delegada do ATE, um dos dois principais sindicatos de funcionários públicos do país, Carolina faz parte de uma comissão que se encarrega de organizar os movimentos coletivos do sindicato.

Há quase um ano e meio, o Indec sofreu uma intervenção do governo Kirchner, com a demissão de toda a diretoria e deslocamento de parte dos funcionários para outros ministérios. O sindicato denuncia que os índices (principalmente o de inflação) estão sendo manipulados pela nova diretoria para parecerem melhores do que são.

Em protesto contra a intervenção, os funcionários organizados pelo ATE fazem semanalmente um "abraço" ao prédio do órgão no centro de Buenos Aires. Além disso, promovem reuniões em universidades e nas portas dos ministérios, do Congresso Nacional e até de supermercados. A divulgação dos eventos usa instrumentos tradicionais como panfletos e adesivos em papel. Mas cada vez mais se usa a técnica de "subir" panfletos a diferentes blogs e sites na internet. As mensagens de texto e correios eletrônicos chegam não só a todos os cerca de 1.400 funcionários (a maioria filiada a outro sindicato) mas também para uma lista de 1.600 contatos que incluem organizações sociais e políticas, jornalistas, centros estudantis e outros sindicatos, diz Carolina.

Existem razões históricas para que os argentinos sejam tão mobilizados e protestadores, diz a socióloga do Indec. "Tivemos forte influência dos imigrantes italianos e espanhóis que vieram para cá nos séculos XIX e XX - a maioria deles anarquistas, socialistas e comunistas em seus países de origem", explica Carolina, frisando que esta é uma característica da capital, que não se repete no interior.

Mas a propensão ao protesto se acentuou muito depois da crise de 2002, diz a cientista política Gabriela Da Mata, professora na Universidade de San Martín. "Em geral, as mobilizações desde 2003 são respostas a políticas do governo e do Estado. Nos anos 90, os protestos denunciavam e/ou expressavam a ausência do Estado em dimensões básicas da vida social." Gabriela minimiza o poder de mobilização dos meios eletrônicos. "Os meios eletrônicos têm contribuído para a organização de protestos. Mas não são indispensáveis na gestação de uma mobilização", afirma.


Janes Rocha
Valor Online, 16/06/08

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Inscrições abertas para o Prêmio Eco 2008

Lançado pela Amcham (Câmara Americana de Comércio) em 1982, o Prêmio ECO foi pioneiro no reconhecimento de empresas que adotam práticas socialmente responsáveis, gerando uma rica reflexão sobre o desenvolvimento empresarial sustentável no Brasil. A partir deste ano, o Prêmio Eco passa a ser uma realização conjunta do Valor Econômico e da Amcham.

O Prêmio ECO - ora em sua 26ª edição - é uma iniciativa sem fins lucrativos, que visa a distinguir e reconhecer anualmente as melhores práticas de cidadania empresarial que contribuam exemplarmente para o bem-estar e a sustentabilidade da sociedade, desenvolvidas por empresas atuantes no Brasil, diretamente ou por fundações e institutos às mesmas vinculados.

Neste ano, houve modificações nos critérios de determinação do porte das empresas, que passaram a ser definidos pela receita operacional bruta da candidata, no exercício anterior.

Permaneceram vigentes as duas modalidades GES (Gestão Empresarial para Sustentabilidade) e PRSE (Práticas de Responsabilidade Social Empresarial) sendo que as categorias desta passaram a cinco: Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores e Clientes, e Comunidade.
Quanto ao processo de julgamento, definiu-se que os trabalhos das duas modalidades serão avaliados em duas etapas: a primeira, por um corpo de jurados, como nos anos anteriores, e a segunda via internet de forma aberta a um público definido. Para a segunda etapa, passarão os três trabalhos melhores avaliados na primeira etapa, por categoria e porte.

Para mais informações ou para fazer a inscrição no prêmio (até dia 21 de julho), acesse o site do Prêmio Eco: http://www.premioeco.com.br/


Fonte: Valor Online e site do Prêmio Eco

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Evento aponta para os desafios do investimento privado em Cultura

Nos últimos meses, a discussão sobre os mecanismos de fomento à Cultura tem ganhado espaço nas diversas instâncias de governo, na classe artísticas, na imprensa e no setor privado. Mesmo sem detalhar o projeto, o Ministério de Cultura (Minc) chegou a anunciar algumas propostas, como as modificações nos formatos de financiamento do setor - hoje baseados fundamentalmente em renúncia fiscal (leis Rouanet e do Audiovisual).

Nesse ambiente de incertezas e insegurança jurídica, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a J.Leiva, consultoria especializada no desenvolvimento de políticas culturais para empresas, realizam nesta semana - entre hoje e sexta-feira, dia 13 -, o seminário Perspectivas do Investimento em Cultura. O evento reúne profissionais e especialistas de diferentes setores para mostrar as oportunidades e desafios da área.

Já nas discussões do primeiro dia de apresentações e debate, os participantes chegaram a alguns consensos. Sabem que a Lei Rouanet foi imprescindível para o progresso da Cultura no país, mas também sua reforma. “Ela deve refletir o contexto político atual. Promulgada em 1991, como funciona hoje, ela cria discrepâncias”, afirmou a Gerente de Patrocínios da Petrobras, Eliane Costa.

Como a principal financiadora pela Lei Rouanet, a Petrobrás investiu, em 2007, cerca de R$ 152 milhões por meio do incentivo – somado ao financiamento direto, o valor sobe para R$ 205 milhões. Como se trata de uma empresa mista, com capital estatal e privado, a Petrobrás segue também as políticas pensadas pelo Minc, o que, por sua vez, confere a Eliane algumas opiniões mais precisas sobre as novas ações do ministério.

Segundo ela, o Minc quer fazer uma série de Fóruns regionais para legitimar um suposto plano nacional para a Cultura. “É uma vergonha o Brasil ainda não ter esse documento”, argumentou, dizendo que a lei atual de renúncia é positiva, mas incapaz de sustentar a política pública de Cultura.

Mudanças propostas pelo governo
Na semana passada, dia 3, o secretário-executivo do ministério, Juca Ferreira, mostrou idéias preliminares do documento - que está sendo chamado de - Programa Nacional de Financiamento e Fomento à Cultura. Entre elas, revisar diversos pontos da Lei Rouanet e criar outras formas de estímulo e financiamento do setor.

À renúncia seriam acrescentados outros mecanismos, como a criação do vale-cultura, da loteria da Cultura, de linhas de financiamento a juros baixos para o setor e a ampliação do orçamento da pasta. O documento será encaminhado ao Congresso Nacional por meio de projeto de lei.

O governo quer ainda reestruturar o Fundo Nacional de Cultura, criando uma gestão dividida em setores, como "memória e patrimônio". Isso poderia incentivar a área privada e o contribuinte individual a aplicarem no setor.

Separação de corpos
Um dos pontos mais curiosos durante o debate foram as fortes críticas elaboradas pelo secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil. Para ele, na falta de uma política séria para o setor, houve um desvirtuamento no uso da Lei Rouanet, que colocou no mesmo balaio das três formas de financiamento, distintas e complementares.

Por exemplo, o Estado, que tem a responsabilidade de fomentar a criação artística e intelectual, começou a abocanhar percentuais elevados de recursos via Rouanet para a manutenção de ambientes culturais (museus, cinematecas etc). “Isso é da alçada governamental. Não compete às empresas financiar o que é obrigação do Estado. O setor privado pode investir em outras áreas do setor”, lembrou Calil.

As mesmo tempo, as práticas das empresas não são diferenciadas. Explica-se: o investimento social privado, evolução histórica do mecenato, no pelo qual cidadãos e instituições privadas se tornam agentes do desenvolvimento da sociedade, confunde-se com o patrocínio empresarial, estratégia de construção de marcas e de relacionamento com seus públicos de interesse.

No Brasil, a Lei do Audiovisual permite dedução integral no imposto a pagar e, ainda, o abatimento como despesa, reduzindo o imposto acima do valor aplicado. O resultado é um ganho real de mais de 130% ao investidor, sem risco. Em vez de exigirem a correção das evidentes distorções do incentivo fiscal aos filmes, agentes culturais passam a reivindicar equiparação de benefícios. A Lei do Audiovisual contaminou outras leis de incentivo fiscal, a começar pela Lei Rouanet, que, desde 1997, permite 100% de dedução.

“Essa confusão cria os disparates. Por que um show, cujo ingresso custa R$ 300 reais, deve ser beneficiado da mesma forma que um projeto de apoio à formação de público, com pouca visibilidade?”, questionou. Embora as duas práticas sejam válidas, a idéia mais cabível para os especialistas é que as alíquotas sejam variáveis por tipo de projeto.

O consultor João Leiva, que organiza o seminário Perspectivas do Investimento em Cultura, acredita que não faltarão polêmicas nos cinco dias de evento. “Vamos chegar a consensos sobre o que precisa de mudanças mais radicais, ouvindo quem participa do debate nacionalmente”. Segundo ele, estarão representados "projetos pequenos, médios e grandes, gente que investe com recurso próprio e via lei de incentivo, gente a favor e contra a Lei Rouanet".


Rodrigo Zavala
refeGIFE Online, 09/06/08

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domingo, 15 de junho de 2008

Artemisia recebe inscrições de jovens empreendedores

Líderes de negócios sociais têm até dia 11 de julho para se inscrever

Estão abertas as inscrições para a Expedição Artemisia – Programa Jovens Empreendedores, principal programa da Artemisia Brasil. Para se inscrever, é preciso ter idade entre 18 e 35 anos, fácil acesso à cidade de São Paulo e um projeto de empreendimento voltado para a solução de problemas sociais e ambientais, que tenha viabilidade econômica. As inscrições devem ser feitas no endereço www.artemisia.org.br.

A Expedição Artemisia é o principal programa da Artemisia Brasil e reúne etapas de seleção e formação. Inicialmente, os jovens empreendedores são convidados a participarem de uma série de atividades desafiadoras e inspiradoras, direcionadas para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras e de conceitos de negócios sociais. Na etapa seguinte, são selecionados dez jovens empreendedores que terão a oportunidade de trabalhar na construção de um Plano de Negócio Social, em cooperação com um estudante universitário.

A Artemisia é uma organização internacional que tem como missão inspirar e apoiar uma nova geração de empreendedores no desenvolvimento de modelos inovadores de negócios voltados para solução de problemas sociais e ambientais. Presente no Brasil desde 2004, atua ainda na França e no Senegal.

O Negócio Social é um projeto que pode estar estruturado como empresa, organização sem fins lucrativos ou cooperativa. A essência de um Negócio Social sempre combina duas características: - tem um produto, serviço e/ou processo de produção que contribui direitamente para a solução de problemas sociais e/ou ambientais; - é um modelo de negócio com potencial para gerar receitas suficientes tanto para pagar os custos de suas operações quanto para possibilitar seu crescimento.

A Expedição Artemisia procura idéias de Negócios Sociais que já tenham sido testadas, mesmo que de maneira inicial, ou ainda empreendimentos em fase de reestruturação.


Pauta Social, 10/06/08

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Inscrições para o Prêmio Empreendedor Social 2008

Parceria da Folha de S.Paulo com a Fundação Schwab

As inscrições para o prêmio “Empreendedor Social 2008”, parceria da Folha de S.Paulo com a Fundação Schwab, já estão abertas e se encerram no dia 10 de agosto. Em sua quarta edição no Brasil, o concurso identifica e premia líderes de organizações ou empresas que alcançaram soluções para problemas sociais com uma abordagem inovadora e de maneira replicável.

O vencedor de 2008 fará parte da rede mundial de “Empreendedores Sociais de Destaque” da Fundação Schwab. Isso significa acesso a benefícios especiais, como serviço de consultoria internacional gratuito e bolsas de estudo em instituições de primeira linha como Harvard Business School, nos EUA, e Insead, na França. Também será convidado a participar da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, caso atenda a critérios como falar inglês fluentemente, entre outros.

Neste ano, alguns dos benefícios serão estendidos para o segundo e o terceiro colocados: eles participarão, com despesas pagas de transporte e hospedagem, da reunião regional do Fórum Econômico Mundial, prevista para ocorrer em abril de 2009, no Rio de Janeiro. Além disso, poderão integrar o Fórum dos Jovens Líderes Globais, caso tenham menos de 40 anos de idade. Todos os finalistas terão seus perfis publicados pela Folha em um caderno de circulação nacional.

Para estar entre os selecionados, é essencial atender aos critérios mais relevantes do prêmio: inovação, sustentabilidade e impacto social direto. Serão levados em consideração também a abrangência e o efeito multiplicador do projeto.

“O bom candidato traz uma idéia efetiva para lutar contra a pobreza ou resolver um problema social ou ambiental. Já o candidato de excelência com grandes chances de ser finalista se mostra capaz de levar essa idéia a uma escala nacional, além de encontrar meios sustentáveis de gerar receita”, descreve Mirjam Schoening, diretora da Fundação Schwab.

Não há restrições a empresas com fins lucrativos, desde que predomine o esforço para a criação de avanços sociais. Já organizações governamentais não serão consideradas, assim como entidades intermediárias, instituições de pesquisa e fundações que busquem criar valor social por meio da oferta de suporte financeiro ou técnico a grupos comunitários.

Após análise dos formulários inscritos na primeira fase, os candidatos classificados para a segunda etapa serão convidados a enviar documentos que comprovem a veracidade dos dados. O material será analisado pela Folha e pela empresa de verificação, testes e certificações SGS, apoiadora do prêmio.

Os selecionados nessa fase poderão ser visitados pela organização. Em seguida, passarão pelo crivo de um júri composto de membros dos setores acadêmico, público e empresarial, que escolherá o Empreendedor Social 2008. O vencedor será conhecido em evento previsto para dezembro.

O concurso tem ainda apoio do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getulio Vargas, do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, da Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) e do portal de conteúdo UOL.

As inscrições devem ser feitas apenas pela internet, no site: www.uol.com.br/empreendedorsocial

Reconhecida mundialmente, a Fundação Schwab (www.schwabfound.org) é uma organização sem fins lucrativos com sede em Genebra, na Suíça. Criada em 1998 por Klaus Schwab, mentor do Fórum Econômico Mundial, e por sua mulher, Hilde, a entidade identifica e promove a troca de know-how entre empreendedores de destaque, viabilizando o contato deles com patrocinadores internacionais.

A Fundação Schwab promove o prêmio em mais de 20 países. Em todos eles, escolhe uma empresa de mídia como parceira-chave. No Brasil, a Folha é responsável pela organização do prêmio desde sua criação, em 2005.

Como jornal mais influente e de maior circulação no país, com média de 325 mil exemplares diários* e 2,5 milhões de leitores** em todo o Brasil, a Folha de S.Paulo tem como objetivo principal dar visibilidade ao empreendedorismo social que visa à construção de uma sociedade sustentável e mais justa.

Fontes: * IVC – Abril 2008 e ** Ibope TGI - julho de 2006 a julho de 2007 (12 a 64 anos) - Nacional

Pauta Social, 10/06/08

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sábado, 14 de junho de 2008

Abertas as inscrições para a Bolsa Iberê Camargo

A Bolsa Iberê Camargo é um programa de residência internacional, destinado a artistas brasileiros. A Bolsa proporciona aos selecionados uma imersão em sua produção e o aperfeiçoamento de suas habilidades, a partir da realização de um projeto em um grande centro de ensino internacional. O projeto constitui-se, atualmente, como um dos prêmios mais significativos da área.

A oitava edição da Bolsa vai levar um artista para uma residência no Blanton Museum of Art / The University of Texas at Austin, nos Estados Unidos, e outro para o Maus Hábitos / Espaço de Intervenção Artística, em Portugal. No ato de inscrição, os projetos já deverão ser voltados para a instituição escolhida.

Além disso, como nas últimas edições, serão selecionados dez artistas que receberão destaque na Revista Digital do site da Fundação Iberê Camargo e um artista que será escolhido para participar do Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura, em Porto Alegre.

As inscrições estão abertas até o dia 18 de julho de 2008.

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Banco Mundial falha ao exagerar benefícios da desregulamentação

A principal iniciativa do Banco Mundial para incentivar países pobres a diminuir a regulamentação sobre empresas tem falhas profundas, disse o órgão interno de fiscalização do banco, refletindo a divisão crescente dentro da entidade sobre qual é a melhor maneira de impulsionar o desenvolvimento.

Desde 2003, o braço de financiamento ao setor privado do banco, a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês), prepara uma série anual de indicadores que classificam os países segundo o grau de facilidade de se fazer negócio, como abrir uma empresa, obter financiamento, demitir empregados e registrar propriedades. Os países competem para se tornar um dos "maiores reformistas" do relatório "Doing Business" diminuindo a regulamentação e reescrevendo as leis de um jeito que melhore a sua classificação.

Ano passado, o Egito aproveitou seu status como campeão em reformas como argumento para atrair mais investimentos do exterior e para fortalecer os políticos do país que querem acabar com décadas de regulamentação criadas no período socialista. Os países em desenvolvimento concorrem uns com os outros para ascender na lista de 178 países, de olho numa boa colocação que significará mais investimento e, por conseqüência, crescimento econômico.

Mas a crítica feita pelo Grupo de Avaliação Interna do banco, que não é subordinado à diretoria, diz que a pesquisa é distorcida para incentivar a desregulamentação e os resultados são exagerados. O relatório do grupo diz ainda que não há "nenhuma relação estatisticamente relevante" entre os indicadores e as taxas de crescimento.

"Já que a maioria dos indicadores presume que ter menos regulamentação é melhor", afirmou o relatório, "é difícil saber se os países no topo da lista têm regras boas e eficientes ou simplesmente inadequadas." Victoria Elliott, a principal autora do relatório, afirma que os países recebem notas mais altas se seus impostos forem baixos - o que infla a colocação de paraísos fiscais, como as Ilhas Maldivas.

Internamente, o relatório do grupo aprofundou a desconfiança em relação aos indicadores da pesquisa, acompanhados pela mídia e por políticos importantes de todo o mundo. O conselho do banco, que geralmente não repercute os relatórios do grupo, desta vez se reuniu durante quatro horas para discuti-lo.

Autoridades do banco dizem que a França se opõe há muitos anos a esses indicadores, por considerá-los deturpados em favor do modelo americano ou britânico de liberalização. Os países africanos de colonização francesa geralmente ficam mais embaixo na lista do que os de colonização britânica. O representante francês no conselho não retornou ligações e emails que pediam entrevista. Vários países em desenvolvimento, como a Índia, também questionam os indicadores em geral porque tendem a ter notas baixas em algumas listas.

O representante de um país que não foi revelado no relatório sugeriu na reunião do conselho que as conclusões do grupo sejam publicadas como parte da próxima pesquisa "Doing Business" - para sugerir que esta não deve ser levada tão a sério.

Michael Klein, economista-chefe da IFC, diz que a pesquisa geralmente adota a postura de que a regulamentação excessiva das empresas atrasa o desenvolvimento em vários países pobres - e os políticos deveriam ser incentivados a liberalizar a economia. Esse tem sido o mantra das autoridades de desenvolvimento do banco desde o início dos anos 90. O país recebe boas notas, por exemplo, se facilitar a demissão de empregados, porque a IFC considera que as empresas contratarão mais se tiverem a certeza de que não terão de manter os funcionários durante a época de vacas magras.

"Flexibilidade no mercado de trabalho tende a ser bom para quem não tem emprego", disse Klein. "Mercados mais rígidos são favoráveis às pessoas que já têm empregos. Nos mercados emergentes, a rigidez do mercado de trabalho é muito alta."

Mas muitos países pobres começaram a desconfiar das soluções de mercado, diante da impressão de que beneficiam principalmente as elites das nações ricas e das menos desenvolvidas. O relatório do grupo mostra mais esse ponto de vista. Ele argumenta, por exemplo, que os indicadores não estão de acordo com o "espírito" dos tratados da Organização Internacional do Trabalho porque "dão notas baixas a países que optaram por políticas de maior proteção ao emprego".

Vinod Thomas, diretor-geral do grupo, diz que o relatório não tem um ponto de vista ideológico e, em vez disso, tenta avaliar o rigor dos índices da pesquisa. Apesar de os índices analisarem a regulamentação para as empresas, eles são usados para chegar a conclusões mais amplas sobre se o país é um "reformista" ou não. "Isso pode levar a uma imagem equivocada", disse ele.

Sob a presidência de Robert Zoellick, o banco continua a defender apaixonadamente a abordagem da pesquisa. O banco agora está analisando indicadores semelhantes para criar uma lista de países com base em como têm reformado o seu setor agrícola.


Bob Davis, The Wall Street Journal, de Washington
Valor Online, 13/06/08

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sustentabilidade desafia modelos contábeis e financeiros

Empresas iniciam corrida em busca de instrumentos para mensurar o valor do capital sustentável

Há um consenso cada vez maior de que a perenidade do negócio depende de uma gestão baseada no equilíbrio dos aspectos econômicos, ambientais e sociais. No entanto, pouco se sabe quanto ao valor gerado pela sustentabilidade. E na falta de instrumentos capazes de mensurar ativos intangíveis como esse, os investimentos e esforços dedicados à prática do conceito correm o risco de ser comprometidos diante de oscilações do mercado.

“Hoje, os modelos tradicionais de contabilidade consideram os intangíveis como custo. Esse tipo de valor fica no âmbito da percepção e o fato de não ser quantificado faz com que sua volatilidade seja muito alta. Em momentos de crise, por exemplo, a empresa vai cortar tudo aquilo que não apresenta valor quantificável e os intangíveis podem ser comprometidos. Essa atitude representa um tiro no pé porque são esses ativos que vão trazer valor para a empresa no médio e longo prazos”, afirma Daniel Domeneguetti, presidente da DOM Strategy Partners.

Na definição do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, os valores intangíveis compreendem os direitos, sem representação física, que dão à empresa uma posição exclusiva ou preferencial no mercado e, portanto, contribuem para o seu valor econômico.

Segundo estudo de Arthur D. Little, há 27 anos, os intangíveis representavam 17% do valor de mercado das empresas, enquanto os tangíveis equivaliam a 86%. Em 1998, essa relação passou a ser de 71% para os intangíveis, contra 29% dos tangíveis. O que era visto como imaterial passou, portanto, a ter um impacto maior na valorização de uma companhia.

Para descobrir o impacto dos intangíveis na geração de valor para empresa, habitualmente costuma-se tirar a diferença do seu valor de mercado pelo valor patrimonial. Apesar de ser um ponto de partida, esse raciocínio não oferece resposta para o quanto os intangíveis isolados adicionam ao negócio, prejudicando a gestão desses ativos.

O próprio Willard tem se dedicado a tarefa de mensurar o valor de uma gestão baseada no triple bottom line (equilíbrio do aspectos econômicos, ambientais e sociais). Munido de Excel e algumas regras de matemática financeira, o especialista descobriu que, ao incorporar a sustentabilidade na estratégia do negócio, uma grande empresa pode alcançar até 38% a mais de lucro e uma pequena empresa, até 66%, no curto e médio prazos. Em tempos de forte competitividade, retornos dessa magnitude costumam melhorar o humor de qualquer gestor.

“Um equívoco comum é achar que o período de retorno para investimentos em sustentabilidade é maior do que a média usual de dois ou três anos. Com a aplicação de ferramentas de ecoeficiência, por exemplo, a recuperação do investimento ocorre em um ano ou até menos. Os benefícios de produtividade, por sua vez, podem gerar recursos por uma série de anos se os trabalhadores acreditarem que a companhia é mesmo séria em relação à sustentabilidade”, afirma Willard.


Matemática da sustentabilidade
O autor chegou a essas conclusões depois de analisar centenas de estudos de caso de companhias, utilizando, como ponto de partida, o cruzamento de informações de seus balanços comerciais.

Para o economista, são sete (veja box nessa página) os benefícios decorrentes de um comportamento mais sustentável. Com base nos recursos destinados a diferentes áreas-chave da empresa, ele calculou as economias proporcionadas a partir da incorporação da sustentabilidade na estratégia do negócio. Para estimar os ganhos, utilizou uma hipotética empresa de tecnologia da informação, a SD Inc., uma composição das cinco maiores companhias da área (IBM, Hewlett-Packard, Compaq, Dell e Xerox) em 2005, ano em que Willard escreveu o livro. Juntas elas possuem receitas de US$ 44 bilhões e 120 mil funcionários.

Segundo Domeneguetti, outro desafio importante na gestão de intangíveis é a necessidade de estabelecer estratégias específicas para cada grupo de ativos. Por isso, é essencial conhecer o impacto de cada um deles no negócio. Essa foi a principal motivação para o desenvolvimento do IAM, (Intangible Assets Management).

A metodologia, que já está em fase de implementação em 17 companhias, consiste na avaliação do desempenho da empresa nas três dimensões da sustentabilidade (econômica, ambiental e social).

A partir desses resultados, chega-se a um coeficiente que é aplicado ao valor dos intangíveis. O cruzamento dessas informações permite a aferição do valor do capital sustentável ou qualquer outro intangível definido como estratégico para a empresa.

Para descobrir o valor do capital sustentável, deve-se, fazer uma análise envolvendo todos os departamentos da empresa. O primeiro passo consiste em verificar e qualificar as metas de sustentabilidade - presentes no BSC (Balance Score Card) ou outra metodologia de administração estratégica adotada pela empresa, tanto em termos de geração de valor (imagem, reputação, melhoria no relacionamento com stakeholders, por exemplo), quanto em proteção de valor (gestão de riscos, passivos potenciais e perda de credibilidade, entre outras).

Feito isso, passa-se à avaliação do peso e/ou relevância específicos que a sustentabilidade tem no setor de atuação da empresa a partir do estudo de iniciativas já implementadas por companhias concorrentes. De acordo com Domeneguetti, em seguida, mapeia-se as ações, programas, projetos e iniciativas de sustentabilidade já existentes na empresa, verificando o alinhamento desses com a estratégia global do negócio.

O mesmo processo deve ser realizado também com os stakeholders, devidamente organizados em categorias, visando apurar, de forma qualitativa e quantitativa, o valor, o peso e a relevância que eles conferem para cada ação de sustentabilidade da organização. “O valor percebido pelos stakeholders precisa ser contraposto com a avaliação interna. Isso indicará um dado numérico quantitativo, o coeficiente de ajuste e alinhamento”, explica Domeguetti.

Mensurar para gerenciar
Todas essas informações colhidas devem ser expressas em indicadores de sustentabilidade em cada uma das três dimensões do conceito (econômica, ambiental e social), procedimento que permitirá registrar a evolução ou involução do conjunto de fatores na forma de gráficos e funções percentuais de agregação ou desagregação de valor. Dados como estes --enfatiza Domeneghetti -- orientarão os gestores quanto à necessidade de readequar orçamentos e programas, realizar ações de comunicação segmentada ou mesmo melhorar relacionamentos, entre outras medidas para equilibrar as expectativas internas e externas.

A evolução ou retrocesso dos indicadores dessa prática aplicada ao valor dos intangíveis (resultado da diferença entre o valor de mercado e o patrimonial) indica o capital sustentável da companhia.

“Em paralelo, a empresa deve desenvolver e implementar um novo modelo de gestão dos programas, projetos e ações, baseado em ferramentas como o BSC (Balance Score Card), o Cockpit ou o modelo PDCA para atribuir responsáveis, metas e métricas de monitoramento da sustentabilidade”, explica Domeguetti.

Com a aprovação da Lei 11.638/07, a mensuração de intangíveis passará a ser uma exigência, a partir de 2010, para empresas brasileiras baseadas em sociedades por ações e de capital fechado com ativos acima de R$ 240 milhões ou receita bruta superior a R$ 300 milhões. Por conta dela, as companhias terão que apresentar suas demonstrações contábeis conforme o padrão internacional baseado nas regras do IFRS (International Financial Reporting Standards).

O presidente da DOM Strategy Partners acredita que a assimilação dessas novas práticas causará mudanças profundas na estrutura interna das companhias. “São muitos os departamentos da empresa que geram valor, mas no modelo tradicional de contabilidade o único que produz receita é o de vendas. Os demais recebem inclusive a denominação de centros de custo, embora não gerem custo pura e simplesmente. A mensuração dos ativos intangíveis possibilitará conhecer o valor gerado por eles, o que pode mudar as suas formas de remuneração e orçamento”, ressalta Domeneguetti.

Benefícios da sustentabilidade para o negócio
Benefício ______________________________________ Economia em US$
Facilidade em contratar os melhores talentos_____________840.000
Retenção de talentos_________________________________38.000.000
Aumento da produtividade dos empregados______________ 756.000.000
Redução dos custos de produção e
aumento das receitas e do valor de mercado_____________330.000.000
Redução das despesas nos sites comerciais______________132.000.000
Aumento das receitas e do valor de mercado_____________150.000.000
Redução de risco e maior facilidade de financiamento______16.500.000
Fonte: WILLARD, Bob, The Sustainability advantage, New Society Publishers, 2002


Banco Real obtém reconhecimento internacional
Seis anos depois da criação de sua Política de Riscos Socioambientais, o ABN Anro Real foi considerado o “Banco sustentável do ano” pelo Financial Times Sustainable Banking Awards no último dia três de junho. O reconhecimento reforça a tese de Willard de que os resultados de uma gestão baseada na sustentabilidade surgem em menos tempo do que se imagina.

A premiação seleciona as instituições financeiras que demonstram liderança e inovação integrando aspectos econômicos, ambientais e sociais nas suas operações.

Ao reconhecer os impactos diretos e indiretos da atividade financeira, o ABN Anro Real antecipou tendências e estimulou as práticas sustentáveis no mercado. Isso porque além de adotar critérios de sustentabilidade nas suas operações, o banco compartilhou sua experiência na aplicação do conceito com clientes e fornecedores por meio de programas como “Práticas” e “Oficinas de Sustentabilidade”.

O diálogo com clientes, acionistas, parceiros e funcionários contribuiu para que o banco consolidasse suas práticas socioambientais a ponto de ser reconhecido como o banco mais sustentável pelo Financial Times. “Reunimos uma grande experiência em sustentabilidade e, com essa união de forças, criamos novas e bem-sucedidas referências para quem acredita na possibilidade e na necessidade de utilizar seus negócios também para produzir uma sociedade melhor", afirma Fernando Byington Egydio Martins, diretor executivo de Estratégia da Marca e Comunicação Corporativa do ABN Anro Real.


Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 12/06/08
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