domingo, 17 de junho de 2007

Os códigos do consumidor



Clotaire Rapaille, autor de "O Código Cultural": "O que existe no Brasil é otimismo, algo que esse país tem em comum com os EUA, dono de uma cultura otimista e positiva

Foto de divulgação

Por Jacílio Saraiva, para o Valor
Publicado pelo Valor Online em 15/06/07

Quando o antropólogo francês Clotaire Rapaille mostrou a um grupo de índios brasileiros a foto de um astronauta na Lua, nenhum deles se importou como aquele homem conseguiu chegar lá - todos só queriam saber de que tribo ele era. O fato, que coroou a primeira visita de Rapaille ao Brasil, no fim da década de 1960, durante uma viagem de estudos com o sertanista Orlando Villas-Bôas, pode ter mudado a sua vida. Anos depois, esse parisiense, também psicanalista, ex-professor da Universidade de Sorbonne e especialista em marketing, decidiu estudar os códigos culturais de diferentes povos. Segundo a sua teoria, os códigos representam o significado inconsciente que aplicamos a qualquer coisa - um carro, um país, uma bebida, uma roupa - de acordo com a cultura em que vivemos.

O que fez Rapaille famoso no mundo inteiro foi como ele usou o estudo dos códigos de alguns produtos para ajudar grandes empresas a ganhar dinheiro. Hoje, mais da metade das corporações Fortune 100 mantêm um contrato com a sua consultoria, a Archetype Discoveries Worldwide, sediada em Nova York. A linha de pensamento de Rapaillge empurrou, por exemplo, a venda de carros da Chrysler nos EUA e permitiu à Nestlé levar o café para os lares japoneses - onde só se tomava chá.

Para garimpar os códigos, o especialista faz uma série de entrevistas com consumidores, chamadas de "sessões de descoberta", um método já patenteado por ele. A idéia é conduzir os participantes a relatar as impressões mais marcantes sobre um determinado produto ou sentimento, principalmente quando ocorridas na infância. Com essas informações na mão, ele sustenta que é capaz de avaliar, por exemplo, se o lançamento de um produto fará ou não sucesso em um determinado nicho de mercado.

Autor de mais de dez livros e do recente "O Código Cultural - Por Que Somos tão Diferentes na Forma de Viver, Comprar e Amar" (Ed.Campus/Elsevier, 240 págs., R$ 53), já traduzido em dez línguas e com três continuações confirmadas, Rapaille esteve no Brasil para o 23º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados, realizado em São Paulo. Na ocasião, deu dicas de como se relacionar com clientes e fornecedores de outros países. Em seguida, encontrou seus sócios brasileiros - ele acaba de abrir um braço local da sua consultoria e já fechou um contrato - e falou ao Valor sobre as diferenças de fazer negócios no Brasil, nos EUA e na China, a partir dos códigos.

Valor: O que são os códigos culturais e como eles podem ajudar as empresas a ter mais lucro?
Clotaire Rapaille : Todos adquirimos um sistema de referências à medida que crescemos em determinada cultura. São esses códigos que nos fazem franceses, americanos ou brasileiros. Entender esses códigos pode ser a chave para descobrir como o inconsciente afeta a vida pessoal, nossas decisões e a forma de agir como cidadãos. Para as empresas, há um ganho muito maior de liberdade quando se entende a motivação do comportamento dos consumidores.

Valor: Como o código influencia o consumo?
Rapaille: A maneira que um americano compra uma garrafa de vinho é diferente da usada por um francês - eles têm uma relação completamente diversa com a bebida e são motivados por desejos diferentes. O americano tem mente mais simples. O francês lê o rótulo inteiro, quer saber qual a uva usada, a maneira como o vinho foi engarrafado. O americano não se importa com isso. O código francês para o vinho é "arte". O código americano para a mesma bebida é "simplicidade". Quando um francês compra um queijo, também leva vinho e pães para combinar diferentes gostos à mesa. O americano prefere comprar um bom e grande pedaço de queijo, para comer com Coca-Cola ou café. Não tem intimidade com o paladar, prefere ser eficiente e rápido ao montar um prato.

Valor: O sr. diz que é a emoção que cria as impressões mais profundas no ser humano. Essas impressões mudam de um país para outro?
Rapaille: Os americanos tiveram dias difíceis no Japão. Poucas companhias americanas deram certo lá porque queriam operar no Oriente como se estivessem nos EUA. Os americanos não entendiam o código japonês. Mas os japoneses fizeram o caminho inverso e obtiveram melhores resultados. Foram morar na América para compreender os americanos. Foi o que aconteceu com a Toyota. Ela começou a construir fábricas na América e a produzir os carros conforme o gosto ianque. É essencial compreender a cultura de um país para tentar conquistá-lo comercialmente.

Valor: Muita gente quer dominar mercados como a China. Já descobriu o código chinês?
Rapaille : Muitas empresas vão perder dinheiro se estabelecerem operações na China sem entender o código chinês. Uma das impressões mais fortes entre os chineses é que eles acreditam que o país foi roubado durante as guerras. Agora, querem copiar tudo o que vem de fora, como uma forma de recuperar o que lhes foi tomado. Eles copiaram um modelo da BMW e fizeram um carro muito parecido e bem mais barato. Por isso, não sei se é um bom negócio abrir uma fábrica na China. Um dia, eles poderão dizer: "Vá embora, não precisamos mais de você, já fazemos tudo muito melhor." Eu não investiria lá. Ou melhor, diria para investir a curtíssimo prazo, algo em torno de três meses.

Valor: O sr. já encontrou o código do Brasil?
Rapaille : Ainda não o terminamos e não queremos ir muito rápido. Mas os elementos do código brasileiro são interessantes. Um deles é a integração, a união de pessoas de várias raças que cria uma identidade comum. Em São Paulo, vi pessoas de diferentes cores e origens com orgulho de ser brasileiras. Não estou certo se há esse mesmo sentimento com os argentinos, por exemplo. Acho que eles não sabem o que é ser argentino. Cultivam um passado de riqueza, gastam dinheiro para parecer elegantes e torram muitos pesos com psicanálise - têm uma das melhores escolas de psicanálise do mundo. Acho que há mais psicanalistas na Argentina do que grupos de samba no Brasil! Ao mesmo tempo, apesar do avanço da psicanálise local, eles têm dificuldade de saber quem são: falam como espanhóis e se vestem como europeus.

Valor: Não acha que isso é só um estereótipo?
Rapaille: Pode ser, assim como há um clichê que reduz o brasileiro a alegre. Para mim, o que existe no Brasil é otimismo, algo que esse país tem em comum com os EUA, dono de uma cultura otimista e positiva. Lá, eles cometem um erro e falam: "Ok, erramos, mas vamos consertar." O show sempre deve continuar.

Valor: O sr. é francês e vive em Nova York...
Rapaille: Os franceses são muito pessimistas, estão sempre criticando eles mesmos e o resto do mundo. E não vêem luz no fim do túnel.

Valor: O sr. já tem o código nova-iorquino?
Rapaille: Ainda não. Em setembro, vou quebrar o código da Índia e no próximo ano, o de Dubai. Mas é importante que se diga que Nova York não é os EUA. O americano tem até medo da cidade. Conheço americanos que moram em outras capitais e não têm vontade de pisar na Times Square. Amo Nova York, é a capital do mundo. Você pode passar dias falando português, espanhol ou chinês. Há pessoas de todo o planeta que vão morar lá e dão o melhor de si. Até os franceses mudam quando chegam à cidade: ficam incrivelmente amistosos e educados. Os franceses que moram na França são rudes e arrogantes na maior parte do tempo. Sei disso porque nasci e vivi lá. Já Nova York transforma as pessoas. Há uma fantástica solidariedade, evidenciada no 11 de Setembro, quando todos se uniram para ajudar todo mundo. Eu não moraria em outro local.

Valor: Qual é a diferença entre fazer negócios no Brasil e nos Estados Unidos?
Rapaille: A cultura de negócios americana é baseada no "deal" [trato]. Eles costumam falar: "Let's make a deal" [vamos fazer um trato]. E você constrói um tipo de relacionamento enquanto ele é bom para as duas partes. Quando o negócio acaba, a relação também termina, até uma próxima aliança. Nos Estados Unidos, as pessoas também estão sempre trocando de emprego e isso dificulta manter uma relação mais longa com alguém, mesmo que seja só profissional. Às vezes você consegue: trabalhei vários anos e quebrei 45 códigos para a Procter & Gamble. No Brasil é diferente. A primeira vez que estive aqui, nos anos 1960, fiz algumas amizades e, agora, quando voltei, telefonei para um amigo no Rio e nos falamos como se mais de 40 anos não tivessem nos separado. A relação que temos com nosso primeiro cliente aqui, a Casa &Vídeo [rede varejista com lojas no Rio e Espírito Santo], é como se fôssemos consultores familiares. O dono da empresa vai à minha casa, gostamos um do outro e, por isso, vamos trabalhar juntos. É o jeito brasileiro de fazer negócios.

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Agência bancária será dentro do celular


Rodrigues, diretor do Itaú: no trimestre, 1,6 milhão de transações pelo celular

Foto de Fabiano Cerchiari / Valor

Altamiro Silva Júnior
Publicado pelo
Valor Online em 15/06/07

A agência bancária agora é dentro do celular. O aparelho também paga contas em lojas e restaurantes e quem quiser comprar e vender ações na bolsa vai poder fazer a operação na tela do celular. Ontem, Banco do Brasil, Banco Real e Itaú anunciaram investimentos para transformar o celular em um banco que o cliente pode carregar no bolso.

O BB, que já havia lançado em 2005 operações bancárias como consulta de saldo e transferências pelo celular, transformou agora o aparelho em meio de pagamento. Em parceria com a Visanet, a empresa que cadastra estabelecimentos comerciais para os cartões Visa, o banco lança em setembro o produto. Por enquanto, faz testes em São Paulo e Brasília. Segundo Maria Glória Guimarães dos Santos, diretora de tecnologia do BB, a idéia é que qualquer tipo de aparelho, de qualquer operadora, possa ser usado para pagar contas.

O BB resolveu apostar forte no segmento desde 2005. Tem 450 mil clientes cadastrados, que fazem 2,4 milhões de transações por mês. Só 8% das operações do BB são feitas em agências. O resto todo é feito por meio de auto-atendimento, como internet e caixas eletrônicos. No celular, o principal serviço utilizado é consulta de saldo e extrato, que respondem por 70% das operações por celular do banco. Outros 23,5% são transações para recarga de celular pré-pago. As transferências respondem por 3%.

O Banco Itaú também resolveu investir na área e apresentou ontem o seu produto para pagamento por celular, ainda sem nome. Ele foi desenvolvido junto com a Redecard, a empresa que cadastra estabelecimentos para os cartões MasterCard e Diners e está em fase de testes. O banco já oferece as transações bancárias tradicionais por celular, incluindo dados de fundos de investimento e saldo de aplicações em ações. No primeiro trimestre registrou 1,6 milhão de transações pelo aparelho, diz Luis Antonio Rodrigues, diretor de canais eletrônicos do Itaú. A projeção é que este ano, mais de 6 milhões de operações sejam feitas por celular. Entre as operações, 17% são pagamentos de títulos e 24% são transferências. A grande maioria (74%) dos usuários são homens. Jovens na faixa de 26 a 35 anos respondem por 44%.

Já o Banco Real resolveu buscar nichos específicos para o uso do celular como meio de pagamento. O banco está com dois testes, um com taxistas em São Paulo, onde é possível pagar as corridas pelo aparelho. O outro é focado no público universitário. O banco resolveu habilitar os estabelecimentos comerciais dentro da PUC de São Paulo e os estudantes usam o celular para pagar os lanches e livros, conta Cláudio Almeida Prado, diretor do Real.

Apesar dos investimentos dos bancos, o consenso no Ciab, o evento de automação bancária da Febraban, é que este processo está apenas no início e falta muito para difundir na população o uso do celular como banco e meio de pagamento. Medo de fraudes e medo de não saber usar o aparelho estão entre as preocupações dos clientes. Há ainda o custo das transações. A mensagem de texto (chamada de SMS) no Brasil, que custa cerca de R$ 0,36, é uma das mais caras do mundo. Em comparação com a Argentina, o preço é nove vezes maior. Praticamente toda transação vai exigir um SMS.

"O principal desafio é fazer a pessoa acreditar que pode usar o celular para fazer qualquer tipo de transação", diz Len Pienaar, diretor do Fist National Bank (FNB), da África do Sul. O banco já tem 1 milhão de clientes, com mais de 900 milhões de transações por mês.

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De cara nova, Serpro reforçará Linux

André Borges e Arnaldo Galvão
Publicado pelo Valor Online em 15/06/07


As iniciativas do governo federal em torno dos sistemas de código aberto, o chamado software livre, devem ganhar um novo ritmo daqui para frente. É o que promete o gaúcho Marcos Vinícius Ferreira Mazoni, que no dia 4 tomou posse da presidência do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).

Mazoni, de 46 anos de idade, chega à liderança do Serpro depois de comandar por três anos a empresa estadual de informática do Paraná (Celepar). Traz no currículo passagens pela Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (Procergs), pela Companhia Riograndense de Telecomunicações e pela Procempa, de Porto Alegre.

Especialista em software livre, Mazoni não chega sozinho ao Serpro. Ontem foram publicadas no Diário Oficial da União as nomeações de três diretores: Gilberto Paganotto assumirá como diretor-superintendente; Nivaldo Venâncio da Cunha e Antonio Sérgio Borba Cangiano ocuparão duas das quatro diretorias. Cangiano foi reconduzido ao cargo.

Paganotto e Cunha são indicações do novo presidente do Serpro. Os três trabalharam na Celepar e são ligados à ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na Celepar, Paganotto foi diretor de desenvolvimento e Cunha era diretor de operações.

Com as mudanças, sai da liderança do Serpro Wagner Quirici, que era indicação do ex-ministro Antonio Palocci. Também deixa uma das diretorias da entidade Sérgio Rosa, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e um dos mais atuantes na esfera do software livre. "Foram quatro anos sem férias. Agora vou descansar um pouco", diz Rosa. "Sou contra renovação de contrato e acho que já fiz meu trabalho no Serpro."

Por onde passou, Marcos Mazoni é conhecido pelos projetos de sistemas abertos. Em 2000, ele foi coordenador do I Fórum Internacional de Software Livre, realizado em Porto Alegre. Na gestão da Celepar, promoveu eventos como o Circuito Paranaense de Software Livre e a Conferência Latino-Americana de Software Livre.

Recém-chegado ao Serpro, Mazoni opta pelo discurso discreto. "Seremos uma administração de continuidade; as coisas vão bem no Serpro", diz. "Mas vamos incrementar o uso de software livre."

Uma das primeiras ações da empresa pública, diz ele, será a de tentar convencer os órgãos do governo federal a migrar todos os sistemas de correio eletrônico para os programas de código aberto. O Serpro também quer levar o sistema operacional Linux, o mais popular software aberto, para os computadores de mesa usados pelo governo. Hoje, esses sistemas são usados principalmente em máquinas de grande porte, os servidores. "Daremos a liberdade de escolha ao usuário, algo que ainda não acontece em muitos casos."

A aproximação do Serpro com empresas estaduais de tecnologia - como Prodesp, Procergs e Celepar - é outra prioridade. "Não competiremos com os Estados. Vamos buscar formas de cooperação", diz Mazoni. Ele cita o caso do Controle Integrado Administrativo e Financeiro (Ciaf), desenvolvido pelo Serpro e usado por vários Estados para controle de despesas.

Controlado pelo Ministério da Fazenda, o Serpro tem um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão. Dois terços desse montante vêm de serviços prestados à Receita Federal, como os sistemas do Imposto de Renda e o CPF eletrônico. Outros clientes de porte são o Tesouro Nacional e o Ministério do Planejamento. Em todo o país, são 9,8 mil funcionários, dos quais 2 mil estão ligados exclusivamente à Receita.

Pelo porte dos contratos que gerencia, não são raras as ocasiões em que o Serpro provoca incômodo nas empresas privadas, que o acusam de assumir projetos que o governo poderia colocar no mercado. "Não entramos em projetos que inibem o conhecimento e as empresas", rebate Mazoni. "O que apoiamos é o desenvolvimento de sistemas, e não simples revendas de softwares."

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Operadora móvel precisa ter acesso a banda larga, diz TIM

Juliano Basile e Ivana Moreira
Publicado pelo Valor Online em 15/06/07


O presidente da TIM, Mario Cesar Pereira de Araújo, defendeu ontem no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) o fim de barreiras para que as companhias de telefonia celular possam atuar nos mercados de banda larga e de WiMax (padrão de internet sem fio).

O executivo disse que a concentração do mercado de banda larga entre as principais empresas do setor é de 85%. "Há pouca competição", afirmou. "Nós da telefonia móvel continuamos sem acesso."

Na banda larga, os serviços Velox (da Oi), Speedy (Telefônica), Ajato (da TVA, está em processo de compra pela Telefônica), BrTurbo (da Brasil Telecom) e Virtua (da Net) teriam 85%.

O ideal, na opinião do presidente da TIM, seria que todas as companhias, independentemente de sua origem, tivessem acesso aos mercados convergentes (internet, voz e TV por assinatura).
Araujo defendeu condições equânimes para as empresas atuarem nas freqüências de banda larga sem fio, que serão leiloadas pela Anatel. Araujo ressaltou que, para as companhias de telefonia fixa, o WiMax representa a continuidade no mercado. Já para as operadoras de celular, a tecnologia significa a oportunidade de entrar num novo segmento. "A atuação nos mercados convergentes é um imperativo estratégico para todas as empresas que atuam no setor", afirmou.

O conselheiro do Cade Luís Fernando Rigato Vasconcellos perguntou a Araujo qual o interesse da TIM em ter licença para operar na telefonia fixa local, recentemente adquirida pela operadora. "O número fixo é interessante para fazer planos para clientes corporativos."

O Cade está realizando audiências públicas sobre a convergência entre os meios de comunicação. O órgão antitruste terá de julgar uma série de parcerias nos setores de internet, voz e TV paga nos próximos meses e , por isso, está ouvindo representantes de todos os mercados.
O conselho também ouviu ontem o presidente da Claro, João Cox. Ele disse aos conselheiros que o celular é a plataforma mais importante "para a qual vão convergir todas as tecnologias do mundo". O celular não irá substituir a TV, o rádio ou o jornal, enfatizou. Mas irá aumentar substantivamente as opções de distribuição de conteúdo. Para Cox, a produção de conteúdo é o ponto crítico para o sucesso da convergência. "O celular vai trazer mais benefícios para quem produz conteúdo", disse.

Numa entrevista à imprensa em Belo Horizonte, a Claro anunciou ontem que superou a marca de 1 milhão de clientes em Minas Gerais, aonde chegou há pouco mais de um ano como quarta operadora da região. O número representa quase 10% de participação no Estado. A Claro chegou a Minas em novembro de 2005, mas a Telemig Celular conseguiu liminares na Justiça que adiaram o início das operações até abril de 2006.

A Telemig lidera o mercado mineiro, com participação de 31%, seguida de perto pela Oi. A empresa, controlada por fundos de pensão e pelo Citigroup, está em processo de venda. A Claro é uma das candidatas à compra. Entretanto, o diretor regional da empresa em Minas, Sérgio Pelegrino, afirmou que o interesse pela Telemig diminui à medida que a Claro ganha escala no Estado.

Num evento em São Paulo, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, disse que a empresa já acessou a sala de informações para avaliar uma eventual oferta pelo controle da Telemig. De acordo com ele, o processo de venda poderá ser concluído em um mês. Há expectativa de que a Vivo, que não tem licença para atuar em Minas, também apresente proposta.

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Linha para inovação emperra e BNDES baixa juro para 4,5% ao ano


Roberto Nicolsky, diretor da Protec: BNDES comete erro técnico ao oferecer financiamento a projetos de inovação

Foto de Leo Pinheiro/Valor


Raquel Salgado
Publicado pelo Valor Online em 15/06/07

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduzirá de 6% para 4,5% a taxa de juros cobrada das empresas que buscam recursos na linha voltada para projetos de inovação. Segundo Helena Veiga, assessora da diretoria do banco, a mudança foi motivada pela redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que após sucessivas quedas, chegou a 6,5% no fim do ano passado.

Além dos juros de 4,5%, o BNDES continuará cobrando também a taxa de risco de crédito, que chega, no máximo, a 1,8% ao ano. Helena diz que o banco ainda não definiu uma data para a redução, mas enfatiza que ela será feita em breve, uma vez que o assunto já está em discussão há algum tempo na entidade.

Essa linha, lançada em fevereiro do ano passado, ainda não deslanchou. O banco tem um orçamento de R$ 1 bilhão para projetos divididos em duas vertentes: a "Inovação P, D & I", voltada para propostas de inovação radical, ou seja, que propõe novos projetos e processos. E também a "Inovação: produção" para inovações incrementais, que sejam melhoras para processos já em andamento. Até agora, porém, apenas R$ 356 mil foram liberados - 0,35% do total. As aprovações, que indicam que mais dinheiro será liberado, são maiores e chegam a R$ 16,3 milhões, valor ainda muito aquém do potencial da linha anunciada há 15 meses.

O problema não está na oferta, mas sim na demanda pelo dinheiro, já que poucos pedidos de financiamento foram recebidos pelo banco. "As empresas inovadoras têm muita dificuldade para apresentar projeto. Uma coisa é ela é ter uma idéia inovadora. Outra é ver isso como um valor, escrever um projeto e nos mandar para pleitear financiamento", explica a assessora do BNDES. Segundo ela, as empresas maiores buscam esses empréstimos, mas são poucas as propostas de pequenas e médias.

Essa situação é a oposta vivenciada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No edital que foi lançado no ano passado a demanda por recursos para subvenção, ou seja, não reembolsáveis, chegou a R$ 1,9 bilhão, bem acima dos R$ 300 milhões que a financiadora tinha disponíveis para oferecer às empresas que apresentaram projetos na área de inovação.

A procura pela subvenção é grande, enquanto o dinheiro disponibilizado pelo BNDES para financiamento continua sem demanda. Orlando Clapp, gerente executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), acredita que uma taxa juros de 4,5% para o financiamento à inovação possa ser mais atrativa para as empresas, mas lembra que as pequenas e médias continuarão com as mesmas dificuldades de acesso a esse instrumento.

Clapp, que é membro da Unidade de Tecnologia Industrial do Senai, conta que as empresas atendidas pelo Senai têm recursos humanos e financeiros escassos e estão totalmente voltadas para sua sobrevivência, com foco na gestão do dia-a-dia. "A maioria não tem pessoal capacitado ou tempo disponível para redigir uma proposta de projeto que tenha condições de ser aprovada por um banco como o BNDES."

Para Roberto Nicolsky, diretor da Sociedade Pró-Inovação Tecnológica, a Protec, nem mesmo a redução da taxa de juros aumentará os desembolsos do banco federal. "No mundo todo, não se financia projetos de pesquisa e desenvolvimento, se subvenciona, porque esse tipo de investimento é de alto risco", diz Nicolsky, que organiza o IV Enitec (Encontro Nacional da Inovação Tecnológica) evento no qual o BNDES anunciou essa redução de juros, realizado nos últimos dois dias no Rio de Janeiro.

Assim como Nicolsky, Clapp também toca na questão do alto risco dos investimentos em inovação. Segundo ele, o próprio Senai, nas parcerias que realiza com as empresas, não as financia apenas, mas entra no negócio com o dinheiro e dividindo riscos com elas. Para dirimir possíveis prejuízos, a entidade realiza uma seleção criteriosa dos projetos, mas ainda assim, há sempre a possibilidade de o projeto não render. "Priorizamos aquelas propostas que têm grande potencial de incrementar as vendas e o lucro das empresas, com reflexos positivos no emprego e na renda", diz.

Nicolsky explica que as empresas só fazem empréstimos para projetos em que terão a certeza de retorno. Para ele, o BNDES está cometendo um erro técnico ao oferecer esse financiamento.

A proposta feita pela Protec, antes do lançamento dessa linha era a de que o banco dividisse o risco dos projetos com as empresas. A idéia, como conta o diretor, era que o banco adiantasse o valor necessário para a companhia tocar seu projeto. E cada projeto teria um tempo de carência. Depois, no caso em que ele resultasse em um novo produto ou processo, parte dos royalties recebidos pela empresa seria usado para financiar os outros projetos apresentados ao banco.

Por mais que parte dos projetos de inovação não dêem certo, já que nem toda pesquisa e desenvolvimento gera frutos para o mercado, cálculos e simulações da Protec mostraram que aqueles que vão para frente renderiam capital suficiente para bancar os demais.

A repórter viajou a convite da Protec.

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