quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sustentabilidade, não há alternativa

Entre as empresas líderes mundiais, a pergunta por que se deve incorporar a sustentabilidade nas estratégias de negócio parece já ter ficado na página anterior. Os desafios agora giram em torno de como, quando e com que intensidade se deve aproveitar as oportunidades geradas pela crescente valorização das preocupações socioambientais nos mercados.

No entanto, mesmo ante as evidências de que as mudanças climáticas, as desigualdades sociais e a opinião volúvel de stakeholders cada dia mais verdes afetam diretamente os negócios, há ainda empresas que resistem a pensar no assunto. As pequenas alegam quase sempre baixo impacto e, portanto, menor responsabilidade frente ao meio ambiente e à sociedade. As médias insistem na tese de que se trata de um “problema” das grandes e que o investimento em mudanças para o futuro compromete, no presente, sua capacidade de competir. Algumas grandes, confortáveis em seus modelos de negócio consagrados, fazem o suficiente para cumprir as leis sob a justificativa de que seus clientes ainda não valorizam o tema o suficiente a ponto de pagarem os custos das mudanças de processos, práticas e produtos.

Àquelas que ainda não se convenceram da relevância da sustentabilidade para os negócios – não como imperativo moral, mas vantagem competitiva – vale mencionar o acrônimo Tina, cunhado por executivos da Shell para explicar por que se vêem impelidos a fazer determinadas transformações. Tina são as iniciais de There Is No Alternative, ou seja, não há alternativa. Simples assim.

Sustentabilidade é, portanto, a coisa certa a se fazer, hoje e daqui por diante, em um mundo com recursos limitados e sérios riscos ambientais. Se quiserem se perenizar, as boas empresas terão que considerar em sua gestão –tanto mais quanto maior for a dependência de seus insumos dos serviços dos ecossistemas – fatores como as mudanças climáticas, a saturação dos combustíveis fósseis, a escassez de água, a poluição atmosférica, a gestão de resíduos, a depleção da camada de ozônio e o desmatamento. Não há outra alternativa.

Algumas empresas -- é verdade -- precisarão se preocupar mais do que outras com as grandes ameaças ambientais. Em livro recentemente lançado no Brasil, O Verde que Vale Ouro (Editora Campus Elsevier), Daniel Esty e Andrew Winston, professores da Universidade de Yale (EUA) listaram as oito categorias mais suscetíveis ao risco da chamada “onda verde”. A primeira refere-se ás corporações globalizadas, com alta exposição de marca e grande número de consumidores em todo o mundo, casos de algumas importantes varejistas, cadeias de alimentação rápida ou fabricantes de refrigerantes e cervejas. Com teto de cristal, elas costumam ser alvo preferido dos grupos de pressão, dos governos vigilantes e dos ativistas de ONGs. A segunda diz respeito ás empresas que operam nos setores extrativistas ou de indústria pesada, pois serão cada vez mais cobradas pelas sociedades graças ao alto impacto gerado ao meio ambiente. As companhias que dependem de recursos naturais, como, por exemplo, as de alimentos e papel, também sofrerão crescente pressão social. O mesmo se dará com as que atuam em segmentos altamente regulados, como os de distribuição de energia, obras de infra-estrutura e indústria química e farmacêutica.

A quinta categoria, proposta por Esty e Winston, relaciona empresas que atuam em mercados com crescente potencial de regulação. São os casos, por exemplo, das fabricantes de automóveis (emissão de carbono) e produtos eletrônicos (descarte). A sexta inclui companhias de serviços e da Nova Economia, nas quais impera forte competição por talentos. A existência de políticas ambientais tem sido – e será – uma forma de manter satisfeitos os funcionários e colaboradores cada dia mais exigentes da “sociedade do conhecimento”.

A sétima classificação reúne as empresas de pequeno e médio portes, com pouco poder de mercado, que fornecem para as grandes. Na Europa e nos EUA, como também aqui no Brasil, muitos fornecedores têm sido persuadidos a rezar na cartilha socioambiental dos compradores de seus serviços e produtos. A última categoria concentra um grupo de empresas com alto passivo reputacional. As que carregam no currículo fantasmas ambientais do passado serão certamente mais cobradas a mostrar atitude. As que evitaram máculas, terão por sua vez maior liberdade de movimento e poderão se beneficiar da boa vontade dos mercados.

Uma das boas teses do livro e Esty e Winston – tantas vezes reforçada nesta coluna - é que as empresas inteligentes saem na frente da “onda verde”, reduzem risco financeiro e operacional, e adotam estratégias ambientais capazes de proporcionar maior liberdade de operação, lucros e crescimento. Seus líderes enxergam os negócios a partir de um prisma ambiental, identificam oportunidades de cortar custos, aumentar a receita e o valor intangível. Mais do que isso, criam uma ligação estreita com clientes, funcionários e demais stakeholders, construindo um no tipo de vantagem competitiva sustentável, que os autores definem como ecovantagem. Não há alternativa.


Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental
Publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor da consultoria Idéia Sustentável. ricardo@ideiasustentavel.com.br
Envolverde, 08/10/08
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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Sustentabilidade requer novos modelos de aprendizagem

Empresas buscam formas de criar ambientes favoráveis à cooperação e diversidade de idéias para gerar soluções inovadoras.

Apesar de bem aceita, a idéia de que a construção de negócios sustentáveis requer que os indivíduos sejam educados para se reconhecerem como parte do todo e orientem suas ações com base nos impactos para as gerações atuais e futuras ainda desafia os modelos institucionais.

Departamentalizadas por natureza, as empresas têm dificuldades em proporcionar uma experiência de construção coletiva do saber, essencial para a inovação e sustentabilidade. “Tudo está mudando muito rápido. Precisamos de novos tipos de aprendizado, redes sociais e modelos de liderança, pois não será mais possível achar que as pessoas no topo das companhias ou governos terão todas as respostas de que precisamos”, analisa Jane Nelson, diretora do Centro de Iniciativa para Responsabilidade Social Empresarial da Universidade de Harvard.

As companhias que conseguem, aos poucos, superar modelos de gestão excessivamente verticalizados e pouco participativos têm sabido identificar novas oportunidades de negócios.

Com o intuito de estimular a integração e possíveis sinergias, a DuPont, por exemplo, reúne funcionários das mais variadas áreas, níveis hierárquicos e países em encontros anuais para discussão de projetos. Segundo John Jansen, diretor de fluoroprodutos, de pesquisa e desenvolvimento para América Latina, além dos funcionários, o evento conta com a participação de convidados externos que, juntos, selecionam cerca de 100 idéias. As propostas são avaliadas com base nos benefícios gerados para a sociedade em termos ambientais e sociais, assim como nas necessidades do mercado. De cinco finalistas, um projeto é escolhido para ser adotado pela empresa.

Foi justamente da experiência de geração coletiva de idéias que surgiu uma das mais interessantes e recentes soluções de negócio da empresa. Trata-se da SoleCina, elaborada a partir da combinação da proteína vegetal da soja com diferentes tipos de carne. Segundo Jansen, o produto foi criado após a identificação de uma necessidade da população mexicana da base da pirâmide, para a qual os altos preços da proteína animal inviabilizavam o consumo desse item essencial na alimentação Além de ser até 40% mais barata do que a proteína animal, a SoleCina, fabricada em parceria com a Solae Company, possibilita o desenvolvimento de produtos com menos gordura, calorias e sem colesterol.

A Braskem, detentora da tecnologia para fabricação do polietileno verde, apostou na criação de um banco de idéias para receber sugestões de projetos. Criado em 2004, o Programa de Inovação Braskem (PIB) conta com um software para auxiliar na avaliação das propostas. Com base em informações técnicas e comerciais, o sistema calcula a possibilidade de a sugestão ser transformada em produtos e serviços para o mercado. Segundo Luiz Fernando Cassinelli, diretor de inovação da companhia, atualmente, há 75 projetos em andamento nascidos no PIB. Outras 250 idéias aguardam seu lugar nesse portifólio verde.

Novo perfil profissional
Ao contrário do passado, quando o universo das conexões corporativas era, a rigor, o seu próprio umbigo, as empresas de hoje orbitam em torno de uma rede de relacionamentos muito mais diversa. Até menos de duas décadas, os públicos de interesse de uma corporação podiam ser contados nos dedos de uma mão. Hoje, além de funcionários, fornecedores, e clientes, entraram no jogo comunidades, investidores, lideranças comunitárias, governos, organizações não-governamentais, formadores de opinião, grupos de pressão locais e nacionais e até mesmo indivíduos mais atentos e dispostos a disseminar suas eventuais insatisfações pela Internet.

Uma complexa rede de relacionamentos como esta pode ser regida de modo a estabelecer benefícios comuns. Mas não se trata de uma tarefa simples. Requer, além de uma nova forma de gestão, mais transparente e atenta, um time de profissionais preparados para escutar, filtrar e incorporar os pontos de vista das partes interessadas na maneira de pensar e fazer negócios.

Nos últimos dois anos, a Aracruz, recentemente adquirida pela Votorantim, tem centrado esforços no treinamento de funcionários para o relacionamento com a sociedade. “Como a Aracruz é uma empresa florestal com unidades distribuídas em mais de 120 municípios, os profissionais da empresa se relacionam com diferentes tipos de comunidade. Por isso, é importante que desenvolvam a habilidade de construir pontes entre a empresa e a sociedade em diferentes situações”, afirma Carlos Alberto Roxo, diretor de sustentabilidade.

A empresa também tem buscado profissionais com essa competência no mercado. Segundo Roxo, a formação não é o fator mais importante no processo de seleção, mas sim as experiências que o profissional acumulou ao longo de sua trajetória. Para exemplificar, ele conta um exemplo registrado em seu próprio departamento. “Demoramos seis meses para contratar um gerente de sustentabilidade. Só depois fui descobrir que era jornalista. A experiência que ele acumulou por meio de projetos realizados na Amazônia e junto a órgãos governamentais foi determinante para a sua contratação. Além de sólida formação, buscamos profissionais que não sejam apenas resolvedores de problemas, mas capazes de encontrar respostas a partir do relacionamento com diferentes públicos de interesse”, ressalta.

Entender a realidade do outro não é tarefa fácil e demanda, segundo Jansen da DuPont, a ruptura de paradigmas. “O profissional precisa ter a predisposição para entender a fundo a dinâmica das diferentes partes interessadas, além de iniciativa para vivenciar a realidade do outro. Não adiante ler um monte de coisas. É preciso estar lá, conversar e escutar”, explica.

Jansen destaca ainda o espírito empreendedor como competência essencial do profissional para fazer conexões entre as soluções criadas e as necessidades da sociedade. “É interessante observar que o tipo de profissional que se dá melhor nessa área, normalmente, desenvolveu a inteligência emocional, o lado direito do cérebro, área à qual as instituições de ensino não têm se dedicado muito”, completa.

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Rodrigo Rocha Loures reforça que a inovação social é uma competência a ser desenvolvida. “A inovação voltada para a sustentabilidade depende de habilidades pessoais, como, por exemplo, a de aprender a aprender, aprender a entender, a se relacionar, a fazer coisas em conjunto, conhecer a si próprio e ter a compreensão do contexto onde se situa. O desafio seguinte é transformar esses conhecimentos em produtos e serviços sustentáveis”, aposta.

A ponte entre a teoria e a prática
Outro caminho para o desenvolvimento de novas soluções se dá a partir de parcerias com universidades. Recentemente, a Braskem lançou o primeiro polietileno verde produzido com o uso da cana-de-açúcar em substituição à nafta, derivada do petróleo. A descoberta contou com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “É preciso buscar o conhecimento onde ele está, principalmente nos casos em que são muito específicos. A open innovation oferece essa possibilidade de troca de informações não só com universidades, mas também com outras empresas que não concorrem no mesmo mercado. A principal vantagem é a divisão dos custos da pesquisa”, afirma Cassinelli. Este modelo de cooperação permite que empresas comprem ou licenciem processos de inovação (como patentes) de outras organizações.

Segundo Jansen, da DuPont, a inflexibilidade das universidades em relação a propriedade intelectual dificulta o avanço dessa modalidade de pesquisa no Brasil. “Hoje em dia a inovação fica cada vez mais cara. Normalmente, a cada mil idéias, 100 são efetivamente transformadas em projetos, 10 conseguem atingir a fase de testes e apenas uma chega ao mercado. A colaboração entre empresas e universidades dilui os riscos e aumenta as chances de sucesso da inovação. No entanto é preciso assegurar o retorno financeiro para as empresas. Os resultados da inovação que vingou precisam compensar todo o investimento destinado às outras 1000 idéias malsucedidas. As universidades brasileiras resistem em ceder a patente ainda que 100% do seu desenvolvimento tenha sido financiado pela empresa”, exemplifica Jansen.

A Embraco, por sua vez, mantém parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1982, por meio de convênios de pesquisa que se renovam periodicamente. A primeira grande conquista da mais longa união entre iniciativa privada e academia de que se tem notícia no País foi a fabricação, em 1987, do primeiro compressor com tecnologia 100% nacional.

De dentro pra fora
Pioneiro na capacitação de seu corpo de funcionários com a criação das “Oficinas de sustentabilidade” em 1991, o Banco ABN Anro Real também inovou ao levar a experiência obtida a partir da vivência desse conceito na empresa a clientes e parceiros de negócio.

O programa “Práticas em sustentabilidade” teve início em 2001 com a realização de workshops sobre o tema com fornecedores para troca de informações e experiências. Hoje, o banco também disponibiliza um endereço na internet para ampliar o alcance com o público externo. O blog Práticas disponibiliza o acesso a um banco de iniciativas de implementação da sustentabilidade, uma biblioteca com documentos de referência e cursos online.

O Real apostou na troca de experiências e informações para construção conjunta de conhecimentos, reconhecendo a importância da colaboração na economia contemporânea. “Os indivíduos têm que ser protagonistas, o que pressupõe olhar para o novo, reconhecendo que não sabemos tudo e temos muito a aprender. Podemos não ter todas as repostas, mas não temos medo das perguntas”, afirma Carla Bardaro, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco ABN Anro Real.

Desafios da educação voltada para a sustentabilidade
* Desenvolver ambientes de construção coletiva do saber
* Criar estruturas descentralizadas que proporcionem sinergias entre diferentes áreas do conhecimento
* Estabelecer relações de confiança
* Formar indivíduos integrais que pensam e ajam em um contexto global
* Proporcionar o autoconhecimento
* Valorizar a diferença


Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 08/10/08
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Para construir uma escola, salve um hipopótamo

Como descobriu a comunidade Wechiau, que vive na ribeira do rio Volta Negro, em Gana, cuidar dos hipopótamos pode ajudar a construir escolas e obter eletricidade. Em 1998, as 17 comunidades agrícolas e de caça dos Wechiau não tinham onde estudar, nem água potável e nem eletricidade. Agora, seus aproximadamente 10 mil membros contam com tudo isso, graças a um plano para preservar a população de hipopótamos. Os Wechiau simplesmente acordaram criar uma reserva para esses animais. “Logo começamos a colher algum lucro com o projeto, especialmente através do turismo”, disse à IPS o líder da comunidade, Chielinah Bandanaa, que participa em Barcelona do Congresso Mundial da Natureza, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“Com o dinheiro ganho, e o apoio para o desenvolvimento de nossos sócios do mundo industrializado, especialmente do Canadá, pudemos construir escolas, cavar poços de água e instalar painéis solares para gerar eletricidade”, explicou Bandanaa. A reserva é o lar de mais de 500 espécies animais e de numerosas plantas medicinais. É administrada por uma junta que representa todas as comunidades Wechiau. As crianças da comunidade agora têm bolsas de estudo graças ao dinheiro obtido com o projeto. Bandanaa recebeu o prêmio Equator, que reconhece internacionalmente os esforços destacados em países abaixo da linha do Equador em sua luta contra a pobreza, pela conservação ambiental e pelo uso sustentável da biodiversidade.

O prêmio é entregue pela Equator Initiative, uma coalizão de organizações da sociedade civil, empresários, governos e comunidades, sob patrocínio da Organização das Nações Unidas. A diretora-executiva para desenvolvimento sustentável da Fundação das Nações Unidas, Érika Harms, afirmou que estes tipos de projetos são “simples e inspiradores exemplos do que as comunidades de base fazem ao longo do Equador para preservar a biodiversidade e, ao mesmo tampo, aliviar a pobreza”. Harms disse que o trabalho da Equator Initiative se baseia no simples fato de que “as grandes concentrações de riqueza biológica do mundo estão nos trópicos, em nações que também têm alguns dos mais altos níveis de pobreza”.

A comunidade Wechiau foi um dos 25 grupos que receberam o prêmio este ano. Os demais foram comunidades indígenas de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, pela América Latina; das Ilhas Salomão, Filipinas, Sri Lanka, Micronésia, Indonésia, Vanuatu e Camboja, pela Ásia-Pacífico; e República Democrática do Congo, Zâmbia, Quênia, Senegal, Namíbia, Tanzânia e Gana, pela África. O centro para o Desenvolvimento Comunitário (CDC) em Sri Lanka ganhou o prêmio graças a um plano para preservar vegetais tradicionais, especialmente tubérculos. O projeto foi lançado em Aranayaka, no distrito de Kegalle, em1996.

“Desde então, redescobrimos 58 variedades de batata-doce muito nutritivos e saborosos, bem como raízes que nossos ancestrais usavam e que quase desapareceram da dieta diária de nossas comunidades”, disse à IPS Achala Adikari, do CDC. Nos últimos 12 anos – acrescentou – mais de 800 agricultores se uniram ao grupo para cultivar tubérculos tradicionais. “Não usamos aditivos químicos em nossa agricultura”, ressaltou. Mas estes vegetais não só enriquecem a dieta das comunidades Aranayaka como também trouxeram segurança alimentar. “A batata-doce e os tubérculos estão disponíveis o ano todo”, disse Adikari. Além disso, as vendas trouxeram uma nova fonte de renda para as comunidades. “Agora queremos criar um centro de pesquisa e capacitação para permitir a expansão do projeto, bem como o mercado para as sementes tradicionais”, afirmou Adikari.

Outro ganhador foi um projeto de tecido de algodão no Peru. Em 2004, 25 artesãos de Mórrope, na província de Lambayeque, lançaram um programa para preservar uma variedade nativa e tradicional do algodão. “Também quisemos resgatar do desaparecimento nossa indústria artesanal do tecido”, disse à IPS Magbdalena Puican Chinguel, representante do projeto. As mulheres da região tecem com ferramentas locais que carregam na cintura. “No início, nossos maridos nos olhavam como se estivéssemos lucas. Mas logo, quando o dinheiro começou a chegar, viram que tínhamos razão”, contou Chinguel à IPS.

Agências do governo se integraram ao projeto fornecendo cursos de capacitação e apoio financeiro a planos suplementares destinados, por exemplo às fontes de água, tanto para consumo quanto para uso agrícola. “Agora, as mulheres de Mórrope geram sua própria renda e contribuem para o desenvolvimento da província”, disse Puican Chinguel.


Por Julio Godoy, da IPS
Envolverde, 08/10/08
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Cresce a busca de permuta para garantir economia

Bertagnon, da Village, já reservou 500 caixas de panetone como moeda de troca nesse Natal: "Quero espaço de mídia"
Foto Ed Viggiani/Valor


Os móveis do departamento comercial do carioca Studio Alfa - fornecedor de peças para mobiliário urbano - acabam de ser trocados. Depois de passar dez anos com a mesma mobília, os 20 funcionários da área agora vão trabalhar em mesas e cadeiras de primeira linha, fornecidas pela fabricante ML Magalhães, também do Rio de Janeiro. Esta, por sua vez, vai distribuir no próximo Natal aos seus clientes e parceiros brindes da mineira Cia. do Acrílico. Antes disso, em novembro, o Studio Alfa deve entregar as peças da nova campanha publicitária da rádio Oi FM.

Cada uma dessas operações será devidamente tributada (ver reportagem abaixo), mas nenhuma envolve dinheiro. Todas são fruto de permuta multilateral, permeadas pela ProRede, com sede no Rio e unidades em Minas Gerais, Paraná e Santa Cataria. Em São Paulo, a Permute e a Tradaq também são especializadas nessa atividade, que cresce no Brasil como forma de diminuir custos e manter livre o fluxo de caixa.

A ProRede deve movimentar o equivalente a R$ 9 milhões em permutas este ano, valor 40% superior ao de 2007. Entre as 400 empresas atendidas, estão a vinícola Miolo, a editora Record e escola de idiomas Wizard. Já a Permute tem cerca de 600 clientes, que encerrarão o ano trocando entre si produtos e serviços que somam R$ 7 milhões, 27% a mais do que o ano passado. A Permute cobra 5% sobre o valor da operação, de cada uma das empresas envolvidas. A comissão da ProRede, por sua vez varia de 4% a 9%, de acordo com o volume de trocas feitas pelo cliente.

"O sistema funciona como uma 'câmara de compensação', em que cada empresa acumula créditos, conforme o que cede para outras, que podem ser debitados com qualquer tipo de produto ou serviço das demais clientes cadastradas", explica Nádia Nunes, diretora da Permute. A permuta também pode ser "repassada", quando uma empresa oferece como pagamento bens ou serviços que recebeu de terceiros. "O melhor do sistema é que ele mantém livre o fluxo de caixa das companhias", diz Nádia.

Para Francisco Barone, professor Fundação Getúlio Vargas (FGV), trata-se de uma prática atraente, em especial em tempos de pouco crédito na praça. "Nessa época, como a que se avizinha para as empresas brasileiras, tudo o que permitir postergar o desembolso é interessante", diz o professor, que coordena o programa Small Business na Ebap-FGV. Para ele, as empresas economizam com operações de permuta cerca de 5% do seu orçamento anual. "Esse percentual só não é maior porque é preciso uma pessoa - ou, no caso, uma empresa, como essas intermediadoras - apenas para costurar as permutas", diz Barone.

É o que acontece na HSM, empresa de educação e eventos corporativos. Cliente da Permute, a HSM tem uma executiva apenas para tratar de parcerias e permutas. "Vamos economizar 10% a mais este ano em relação a 2007, atingindo uma economia de R$ 3,3 milhões com essas atividades ", diz Vera Costa, gerente de relacionamento da HSM. Em troca de cursos e participação em eventos, a HSM busca brindes e presentes para parceiros e clientes. "A tendência é que essas operações continuem crescendo no próximo ano", diz Vera, considerando a economia de tempo um dos principais atributos das permutas costuradas pela Permute. "Não precisamos ir pessoalmente fechar uma negociação e tudo corre mais rápido".

Para Leandro Bach, sócio Studio Alfa, cliente da ProRede, o melhor é alocar parte da sua capacidade ociosa como moeda para aquisição de produtos ou serviços que dificilmente teriam espaço no orçamento. "Nenhuma empresa trabalha com 100% da sua capacidade produtiva e é plenamente possível encaixar a permuta em períodos ociosos, mesmo em momentos de maior demanda, como o atual", diz ele, que vai economizar o equivalente a 2,3% do seu faturamento deste ano, previsto em R$ 22 milhões, com permutas.

A fabricante de produtos alimentícios Village, de São Paulo, também está a todo vapor com a produção de panetones. Mas já reservou 500 caixas, de 12 unidades cada uma, para as trocas negociadas por meio da Permute. "Temos interesse por mídia, como anúncios em revistas e ações de merchandising", diz Reinaldo Bertagnon, gerente comercial e de exportação da Village, que vê outra vantagem na operação. "Muita gente que não conhecia o meu panetone tem a chance de saboreá-lo agora, o que pode aumentar as minhas vendas futuras", afirma.

Não se sabe ao certo quanto as operações de permuta movimentam no Brasil mas, segundo a International Reciprocal Trade Association (IRTA), entidade sem fins lucrativos que promove esse tipo de atividade no mundo, só nos Estados Unidos essas atividades permitem trocas de R$ US$ 10 bilhões ao ano. No Brasil, o mercado ainda é incipiente: Permute e ProRede começaram há cerca de cinco anos. A Tradaq, do grupo americano Intagio, começou no Brasil em 2000.

Márcio Lerner, diretor da ProRede, acredita que o mercado pode crescer mais agora com a crise. Na sua mira estão empresas com mais de R$ 20 milhões de faturamento. "Já atendemos desde profissionais liberais à locação de DVD, mas o esforço na permuta desses serviços é quase o mesmo destinado a uma grande operação e não compensa", diz ele.


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Daniele Madureira, de São Paulo
Valor Online, 09/10/08

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Lei cria cadastro contra telemarketing em SP

Um cadastro estadual permitirá aos usuários proibir que empresas de telemarketing liguem para eles

Uma lei, sancionada nesta quarta (8) pelo governador de São Paulo, José Serra, prevê a criação de um cadastro estadual de usuários que não desejam ser abordados por serviços de telemarketing. A lei valerá para todos os telefones com prefixos paulistas, como 11, 12 e 16, por exemplo.

O cadastro será organizado pela Fundação Procon. O usuário que não quiser ser abordado por estes tipos de serviços, deverá fornecer seu telefone ao órgão e, a partir daí, as empresas de call center terão 30 dias para bloquear este número em suas centrais.

A lei não prevê como será feito o cadastro. O Procon espera fornecer a opção de entrar ou sair do cadastro pela internet. As empresas que descumprirem a lei serão multadas pelo Procon.


Felipe Zmoginski
Plantão INFO, 08/10/08

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