quinta-feira, 8 de maio de 2008

Wal-Mart Brasil lança prêmio para estudantes

Iniciativa inédita no varejo brasileiro premiará anualmente estudantes

Já estão abertas as inscrições para a primeira edição do Prêmio Varejo Sustentável Wal-Mart Brasil. A premiação é direcionada a estudantes de nível técnico e universitário de qualquer área de formação que tenham interesse em buscar novas práticas para o desenvolvimento sustentável e vai reconhecer os autores dos melhores trabalhos.

O concurso é uma iniciativa pioneira da rede e pretende disseminar a discussão sobre como satisfazer as necessidades do consumidor sem comprometer os recursos para gerações futuras. “Com este prêmio, o Wal-Mart quer contribuir para a formação destes futuros profissionais tornando-os agentes na preservação do meio ambiente a partir da formulação de novos projetos, práticas, idéias ou aplicações com potencial de desenvolvimento do setor varejista”, explica Daniela de Fiori, Vice-Presidente de Sustentabilidade da empresa.

O Prêmio Varejo Sustentável Wal-Mart Brasil será um concurso nacional, aberto a todos os estudantes dos níveis técnico e superior, sem distinção no nível de formação – seqüencial, tecnologia ou graduação - que poderão participar com projetos variados de sustentabilidade - ações, métodos, equipamentos, sistemas operacionais e soluções inovadoras que atinjam qualquer etapa da cadeia produtiva do varejo, garantam menor impacto ao meio ambiente e que possam ser aplicados pelo segmento varejista supermercadista.

Os trabalhos inscritos devem ser inéditos – ainda não aplicados no setor varejista – e estruturados de maneira que demonstrem todo o seu potencial para ser desenvolvido e aplicado pelo Wal-Mart. As propostas devem contemplar pelo menos uma das seguintes áreas: ecoeficiência; redução e reciclagem de resíduos; produtos e embalagens sustentáveis; processos e métodos de avaliação, medição, minimização e mitigação dos impactos ambientais dos produtos comercializados pelo setor. Projetos desenvolvidos para testes ou em caráter experimental poderão participar deste concurso.

Serão eleitos os três melhores trabalhos por uma comissão julgadora composta por uma equipe técnica com profissionais da rede e especialistas externos. Cada projeto será premiado com um Notebook DELL de última geração, bolsa de estudos no valor de até R$ 5.000,00 e realização de visita técnica de cinco dias ao Departamento de Sustentabilidade do Wal-Mart Brasil, em São Paulo. Caso o Wal-Mart decida implementar um ou mais projetos vencedores, os escolhidos receberão prêmio adicional de R$ 15.000,00. Como os projetos podem ser orientados por professores da mesma instituição de ensino dos estudantes inscritos, o professor dos projetos selecionados ganhará um SmartPhone desbloqueado.

As inscrições poderão ser realizadas apenas pelo site: www.premiovarejosustentavel.com.br e os trabalhos devem ser enviados até o dia 19 de setembro de 2008. Mais informações e o regulamento completo também estão disponíveis no site.

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Sustentabilidade na carne: a responsabilidade social e ambiental bate à porta das empresas

O site Clima e Consumo, lançado pelas ONGs Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e Vitae Civilis, mostra como os hábitos cotidianos influenciam nas mudanças climáticas. Dos combustíveis fósseis (como gasolina, diesel e gás) que são queimados em motores ou em fogões domésticos ao avanço da pecuária e da soja derrubando as árvores da Amazônia, vários são os motivos que explicam como nosso modo de vida está relacionado ao aumento das emissões de gases de efeito estufa, o que provoca o aquecimento global e as conseqüentes mudanças climáticas.

Para que o consumidor seja parte da solução e não do problema, o site convida-o a colocar a mão na massa e lista 21 atitudes que deveria tomar, como economizar energia, usar menos o automóvel etc. Dessa lista, porém, sete itens estão ligados diretamente ao consumo de produtos ou à pressão que o consumidor deveria fazer sobre as empresas. Em relação ao fato de a pecuária estar crescendo na Amazônia, sendo um dos fatores responsáveis pelo aumento do desmatamento, o site apresenta duas sugestões bem diretas: ou o consumidor reduz o consumo de carne, ou exige dos supermercados que garantam não ser aquele bife o pedaço de um boi criado sobre áreas desflorestadas.

Para não ficar apenas no discurso, o site produziu um cartão postal que pode ser baixado, impresso pelo consumidor e entregue ao supermercado do qual é cliente. De um lado, sobre uma foto da floresta em chamas, a frase "não quero ser cúmplice do desmatamento da Amazônia". Do outro, um espaço para ser preenchido com o nome e o endereço do supermercado, além do recado impresso: "Como consumidor desse supermercado, solicito que o senhor exija dos seus fornecedores um sistema de rastreamento da carne bovina comercializada que me garanta não estar contribuindo para o desmatamento da Amazônia Legal ao comprar esse produto no seu estabelecimento. Essa informação precisa estar visível para os consumidores".

Pelas mãos do consumidor, a responsabilidade social e ambiental bate à porta das empresas ligadas à produção e ao comércio da carne - com uma ajudazinha da sociedade civil organizada, é claro. "O Idec quer conscientizar o consumidor sobre a relação direta entre seu consumo de carne e os problemas do desmatamento e das queimadas na Amazônia e, também, dar uma ferramenta concreta para que ele possa agir", conta Lisa Gunn, gerente de Informação do Idec. "A idéia é que haja uma pressão em cadeia: o consumidor pressiona o supermercado, que pressiona o frigorífico, que pressiona o produtor. Dessa forma, esperamos que a demanda do consumidor contribua para que tanto os supermercados quanto os frigoríficos assumam sua responsabilidade socioambiental e desenvolvam ferramentas eficazes que garantam a rastreabilidade da carne e a informação clara e adequada aos consumidores".

Pressão com nome e endereço
Alguns dos cartões postais do site já vêm com destinatário, pois têm impressos o nome e o endereço de algum supermercado. Um deles é endereçado ao Carrefour, que deve recebê-los de portas abertas, caso os postais apareçam mesmo por lá. "Apoiamos iniciativas que tenham, entre outros objetivos, o consumo consciente e a aproximação dos consumidores com as empresas", afirma Rodrigo Lacerda, diretor de Marketing Corporativo do Carrefour. "Conhecer e entender a percepção dos consumidores em relação à responsabilidade social empresarial nos ajuda a estabelecer um campo fértil em prol de um consumo digno e consciente". Em fevereiro deste ano, o Carrefour lançou o projeto Cuca, que une um grupo de consumidores transformados em uma espécie de consultores sobre os produtos vendidos, atendimento, ambiente das lojas e até questões ligadas a responsabilidade social e ambiental. Foi montado um blog do projeto que, para o diretor de Marketing Corporativo do Carrefour, representa "uma postura mais próxima e transparente de ouvir, aprender e evoluir junto com o consumidor".

Em relação à origem da carne vendida nas lojas, Lacerda conta que o Carrefour tem um contrato com os fornecedores que, entre outras cláusulas, "prevê a obrigatoriedade do respeito às leis sanitárias, ambientais, à legislação trabalhista e à dignidade humana, sob pena de rescisão, nos casos de descumprimento". De toda a carne bovina comercializada pelo Carrefour, 40% estão dentro do selo Garantia de Origem, um programa desenvolvido desde 1999 que estabelece padrões de exigências aos fornecedores acima do que estabelece a legislação. "Os produtos com este selo, sejam carnes, peixes, frutas ou legumes, são aqueles que, em todas as etapas, do campo à gôndola, foram preparados dentro de conceitos rigorosos de qualidade, responsabilidade ambiental e social", destaca Rodrigo Lacerda, explicando ainda que os fornecedores desses produtos são constantemente visitados para monitoramento de suas atividades.

Outro destinatário já pronto dos cartões postais é a rede de supermercados Extra, que pertence ao Grupo Pão de Açúcar. Para o consumidor que exigir não comprar um bife responsável pela destruição da Amazônia, o Grupo atesta que, "antenado com as demandas urgentes de responsabilidade socioambiental, tomou a iniciativa de realizar um programa de carne de qualidade com princípios de sustentabilidade", segundo informou sua assessoria de imprensa. "Nesse programa, temos uma parceria com pecuaristas, dos quais somos co-responsáveis pela proteção ambiental e desenvolvimento social".

Essa iniciativa é parte do Programa Tear - Tecendo Redes Sustentáveis, promovido pelo Instituto Ethos e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Programa Tear tem o objetivo de estender práticas de responsabilidade social e ambiental a pequenas e médias empresas que atuam na cadeia de valor de grandes empresas estratégicas de sete setores da economia: açúcar e álcool; construção civil; energia elétrica; mineração; petróleo e gás; siderurgia; varejo. No setor varejo, a empresa estratégica (âncora) é o Grupo Pão de Açúcar, que conta com nove fazendas no Tear.

As fazendas participantes do programa conseguem rastrear sua produção desde o momento de fecundação dos bois até a chegada da carne às gôndolas dos supermercados e hipermercados do Grupo. De acordo com a assessoria de imprensa, a rastreabilidade da carne é só uma parte do processo, pois "as fazendas parceiras passaram a incorporar o conceito de responsabilidade social empresarial nas suas práticas de gestão, com um modelo mais participativo e o desenvolvimento de produtos e serviços que atendem a critérios sociombientais".

Rastreabilidade é a chave
O consumidor bate à porta que enxerga - a carne à venda no varejo - e é lá que vai exigir produtos socialmente e ambientalmente responsáveis à sua disposição. Os produtores, que ficam alguns passos atrás nessa cadeia, não são atingidos diretamente pela pressão do consumidor, mas sofrem as conseqüências dela. E não é a única. De acordo com Leslie Cohen, assessora internacional da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), entidade que reúne os maiores frigoríficos do Brasil, a demanda por práticas socialmente e ambientalmente corretas está vindo de todos os lados. "Os grandes frigoríficos são empresas de capital aberto, têm ações na Bolsa de Valores. Há pressão dos acionistas, dos clientes, dos bancos que financiam essas empresas. Por isso, há uma grande preocupação no setor com as questões sociais e ambientais", explica Leslie.

Como os grandes frigoríficos processam a carne mas normalmente não criam bois, a solução é atuar junto aos fazendeiros. "Os frigoríficos fazem acordos com seus fornecedores. Pagam mais se eles fornecerem animais não só dentro dos padrões sanitários exigidos, mas que atendam critérios de responsabilidade social e ambiental", conta Leslie. "Os frigoríficos não têm poder de fiscalização, mas são clientes dos pecuaristas e escolhem de quem comprar. Visitam as fazendas e às vezes até financiam os pecuaristas para que façam os investimentos necessários para fornecer animais dentro dos padrões exigidos".

Para que o consumidor saiba se os fazendeiros, os frigoríficos e os supermercados estão lhe oferecendo um pedaço de bife que não ajudou a derrubar a floresta, a palavra-chave é rastreabilidade. "É possível pegar um pedaço de carne e saber de onde ela veio e quem é o fornecedor, mesmo que essa informação não esteja no rótulo do produto, pois todo animal é identificado desde o nascimento até o abatimento", afirma Leslie Cohen. Esse processo, exigido na carne para exportação, acaba sendo estendido também no mercado interno.

O passo além seria a certificação, ou seja, a criação de um sistema confiável de verificação da origem da carne, garantindo que aquele boi não pastou sobre a Amazônia devastada. Essa informação seria dada ao consumidor por meio de um selo estampado na embalagem. Seria um sistema semelhante ao selo FSC para produtos de madeira, uma certificação que garante que o produto é originário de florestas com manejo sustentável, e não do desmatamento ilegal. "Talvez a certificação seja o caminho, mas isso traria um custo adicional a toda a cadeia produtiva. Como o preço ainda tem um peso muito grande para o consumidor, pode ser um processo que leve algum tempo", opina Leslie.

Mesmo que a certificação ainda esteja longe, todas essas empresas estão começando a sentir na carne o que é sustentabilidade.


Fátima Cardoso, para o Instituto Ethos

Envolverde, 07/05/08
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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Impressão responsável no ambiente corporativo

Por que imprimimos documentos? Qual é a real necessidade de se imprimir um documento? Responder a essas perguntas pode ser a chave para uma redução significativa nos custos de impressão, especialmente no ambiente corporativo, em que os volumes de informações, relatórios e documentos que precisam ser distribuídos costumam ser elevados.

Imprimir um documento é a simples transferência de uma informação digital para uma mídia física. Esse conceito é muito útil para definirmos o que é necessário ser impresso.

Controlar a maneira como os colaboradores se comportam quanto à impressão é fundamental para que uma corporação imprima com eficácia. Mas doutrinar os colaboradores não é suficiente, pois o ato de imprimir já é algo incorporado à cultura das corporações. Afinal, o colaborador, na maioria das vezes, não sente o peso que uma impressão pode ter no bolso da corporação. E as atitudes ambientalistas ainda são só um discurso bonito que gerentes de marketing gostam de usar para cativar clientes e ganhar pontos nas Bolsas. Para todos os efeitos, apertar o botão de “print” ainda é bem mais fácil para todo mundo.

Os modelos de outsourcing de impressão utilizados no Brasil apenas controlam o quanto se imprime, afinal eles têm quemandar a fatura para alguém, mas não controlam de maneira alguma como é utilizado o parque de impressoras e como a corporação pode dotar de inteligência sua impressão. As empresas que oferecem esse tipo de serviço fornecem equipamentos de alta tecnologia que facilitam ainda mais o uso do botão “print”. Resultado: o funcionário prefere imprimir a enviar este documento por e-mail e, no final das contas, a empresa acaba imprimindo mais do que precisa sem saber o que está imprimindo.

É preciso que exista algum controle sobre o que os usuários imprimem, sem tirar dele a capacidade de transferência de mídia e armazenamento destes documentos. Ou seja, é necessário definir como cada usuário pode ter acesso a cada tipo de mídia. Essa não é uma tarefa fácil, exige planejamento, esforço e investimento para que se colham os frutos em um tempo razoável. É necessário então uma solução para gerenciamento e distribuição de documentos para diferentes mídias disponíveis na corporação, administrando como cada tipo de documento deve ser transportado ou armazenado.

Possuir uma solução capaz de gerenciar e distribuir documentos de forma “inteligente” significa disponibilizar a informação exata, na hora certa e da maneira mais conveniente. Significa ainda acesso fácil, rápido e seguro aos dados, além da troca de informações eletrônicas com clientes e fornecedores de forma integrada. A entrega controlada e garantida de documentos para qualquer dispositivo - não só impressoras e aparelhos de fax, mas também e-mail, SMS ou Web sites – é também outro benefício relevante.

Já existem hoje no mercado ferramentas voltadas ao gerenciamento inteligente de documentos, que, entre outras coisas, resultam em redução dos custos com impressão. Há que se transpor, contudo, a barreira cultural que ainda existe nas corporações. Será que todas as pessoas na empresa realmente precisam imprimir tudo para ter um “documento válido”?

Quando se trata de documentos oficiais, é certo que ainda confiamos mais no papel que nas mídias digitais. Mas, nessas horas, devemos nos lembrar dos bancos. Nosso dinheiro está lá, de maneira 100% digital, e nós confiamos nisso, não deixamos mais o papel moeda debaixo dos colchões. Ou seja, por que confiamos lá, mas não confiamos quando precisamos apenas mostrar um relatório para colegas ou superiores?

Quando falamos em impressão em nossas casas, sabemos o quanto isso custa. Não é só o preço do cartucho e do papel, mas também o espaço que isso ocupa em nossas gavetas e, principalmente, quanto tempo perdemos organizando, limpando e eliminando papéis desnecessários. As empresas também têm que pensar nisso. É trabalhoso mas, sem dúvida alguma, vale à pena para conquistar mais produtividade, eficiência, economia e responsabilidade sócio-ambiental.


André Balparda, Product Manager da Eccox

Envolverde, 07/05/08
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Michael Conroy anuncia a revolução pela certificação de produtos

O economista e consultor americano Michael Conroy vê uma revolução no horizonte. Ela está surgindo por meio da certificação de produtos que estejam adequados a práticas socialmente e ambientalmente responsáveis. Um sistema de certificação com credibilidade é, segundo ele, a melhor forma de as grandes empresas garantirem que estão fazendo negócios respeitando a sociedade e o meio ambiente, e não o contrário. E é uma resposta à pressão social exercida principalmente por campanhas lideradas pelas ONGs.

De Austin, no Texas, onde fica a sede da Colibri Consulting, empresa que ele dirige e que atua em certificação e desenvolvimento sustentável, Conroy falou sobre como as ONGs podem mudar o comportamento das grandes corporações. Essa história ele conta em detalhes no livro "Certificado! - A Certificação de Produtos Transformando as Corporações Globais", que será lançado no Brasil em junho, pela WGB Editora.

Instituto Ethos: Você diz no seu livro que as ONGs têm afetado os mercados corporativos. De onde vem esse poder? Como elas conseguem fazer com que as grandes empresas transformem suas práticas em socialmente responsáveis?
Michael Conroy: Neste mundo que se globaliza rapidamente, o mais importante ativo das grandes companhias é sua marca, isto é, seu nome e sua reputação. As ONGs descobriram novos e poderosos meios de desafiar essas companhias comunicando aos clientes das empresas e aos consumidores finais sobre qualquer problema que exista na cadeia de valor. Evidências de que um varejista está comprando carne da região amazônica, onde essa carne pode ser ligada diretamente à devastação da floresta, proporcionam uma base muito fácil - e muito dramática - para atacar a marca da companhia, diminuindo sua participação no mercado e prejudicando o valor das ações da empresa nos mercados financeiros. Uma campanha parecida contra o McDonald's, alguns anos atrás, o forçou a parar de comprar carne de áreas onde as florestas estavam sendo devastadas e a começar a criar fazendas de gado para obter carne.

IE: Por que as grandes empresas respondem a essas pressões? É a única maneira de continuar no mercado?
MC: As empresas que se recusam a reconhecer que a sociedade civil, tanto no Brasil como em outras partes do mundo, está cada vez mais consciente da conexão entre a destruição das florestas e as mudanças climáticas, e se recusam a mudar suas práticas, estão sob grande risco de perder seus mercados e o valor das suas ações, quando elas forem relacionadas à destruição das florestas. Não é preciso que os consumidores sejam completamente educados ambientalmente; basta que as empresas mais inteligentes reconheçam que elas arriscam suas marcas se forem associadas com práticas ambientalmente irresponsáveis.

IE: No seu livro, você menciona que a Nestlé e a Starbucks começaram a pagar mais pelo café que compram de seus fornecedores. Por que fizeram isso?
MC: Eles concordaram em pagar mais pelo café que tinha uma nova qualidade, uma "qualidade ética", que assegurava a seus consumidores que um preço justo tinha sido pago pelo café, e que um sistema válido de certificação estava em vigor para assegurá-los de que a reivindicação "ética" era válida. Esse sistema de certificação é o Fair Trade Certified (Certificado de Comércio Justo), e ele garante aos consumidores que os fazendeiros receberam não apenas um preço mais alto pelo café do que é pago pelos "coiotes" locais, mas também um "prêmio social" que contribui para o desenvolvimento econômico das suas comunidades. A resposta dos consumidores foi tão grande que o Fair Trade Certified é o segmento que mais cresce na indústria de café em todo o mundo.

IE: Uma grande empresa pode ser lucrativa se tiver de pagar mais a seus fornecedores?
MC: Sim, pode, se ela estiver pagando por produtos certificados com credibilidade para carregar essa nova "qualidade ética", e se os consumidores estiverem dispostos a pagar um preço levemente mais alto como uma forma de contribuir para uma globalização mais equânime, por meio da criação de um sistema mais igualitário de comércio por todo o mundo. Desde que meu livro foi publicado nos Estados Unidos, o Wal-Mart pode ser acrescentado à lista das empresas que estão importando grandes quantidades de café, a maior parte do Brasil, que é Fair Trade Certified. Processando e embalando o café no Brasil, o Wal-Mart descobriu uma maneira de colocá-lo nas lojas dos Estados Unidos a um preço competitivo. Isso gerou respostas muito positivas dos consumidores do Wal-Mart, que são muito sensíveis a preço. Mesmo os consumidores do Wal-Mart gostam de ter a satisfação de contribuir para um mundo melhor.

IE: O subtítulo do seu livro em inglês é "como a revolução da certificação está transformando as corporações globais". Por que a certificação é uma revolução? Que tipo de mudança a certificação pode trazer aos negócios, ao comportamento das empresas e à sociedade?
MC: No ultimo século, as grandes corporações, especialmente as transnacionais, cresceram de uma maneira que é quase impossível para a sociedade civil exercer algum controle sobre suas práticas sociais e ambientais. Elas são mais poderosas do que muitos governos! Nenhuma nação pode controlar as atividades delas fora de suas fronteiras. E a Organização Mundial do Comércio proíbe os países de banir a importação de produtos com base no fato de eles serem produzidos de maneira responsável ou irresponsável. Esta parece ter sido a era em que as corporações dominavam o mundo. Mas, nos últimos quinze anos, a sociedade civil aprendeu que a combinação de "campanhas de marketing" duras, claras e precisas, que movem as corporações na direção de melhorar suas práticas, além de sistemas de certificação que validam com independência se as companhias estão cumprindo essas melhores práticas, pode devolver às sociedade civil a influência sobre as práticas das grandes corporações. E parece não haver fim para o número de indústrias sobre as quais isto pode ser aplicado. Isso é revolucionário!

IE: No Brasil, há uma campanha contra comer carne que venha de gado criado na Amazônia. É possível salvar a floresta se recusando a comer esse tipo de carne? Os produtores de carne e os varejistas responderão a isso, ou essas campanhas são uma pregação no deserto?
MC: Isso não vai acontecer imediatamente, essas campanhas levam tempo para se desenvolver. Mas estamos descobrindo que o reconhecimento por parte das empresas do dano que essas campanhas de marketing podem fazer está levando-as a responder muito mais rapidamente. E, mais importante, as empresas estão começando a perceber que há um mercado importante para produtos socialmente e ambientalmente responsáveis. Por isso, as empresas estão pedindo às ONGs que as ajudem a desenvolver novos sistemas de certificação para uma variedade completa de novos produtos. Isso é o que está acontecendo, por exemplo, na indústria de mineração. Veja o site www.responsiblemining.net para ter um exemplo da Iniciativa para Garantia de Mineração Responsável (IRMA, na sigla em inglês), que está surgindo como um sistema de certificação para a mineração.


Fátima Cardoso, para o Instituto Ethos

Envolverde, 06/05/08
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Governos no Brasil usam software da ONU

Presidência da República, prefeitura de São Paulo e governo do Amazonas utilizam sistema que interliga dados de gestão pública

Um sistema de gestão baseado num software desenvolvido pelo PNUD, aplicado em pelo menos 17 países da América Latina e do Caribe, na Europa Oriental (Geórgia) e na Ásia (Timor Leste), já foi implantado, no Brasil, em três órgãos do governo federal (incluindo a Presidência da República), na prefeitura do município mais populoso (São Paulo) e no governo do maior Estado (Amazonas). Outras unidades da Federação estudam adotá-lo.

Chamada Sigob (Sistema de Informação e Gestão para a Governabilidade), a ferramenta dispõe de 15 sistemas de trabalhos e de informática e tem entre seus pilares a transparência dos processos internos de gestão pública, através de uma espécie de mapeamento eletrônico das ações.

As informações do programa são interligadas — de modo que os funcionários que lidam com o software podem alimentá-lo e ter acesso às informações acrescentadas pelos outros usuários. "Os usuários recebem treinamento de uma equipe de consultores internacionais multidisciplinar", afirma o técnico em informática Rodolfo Otalora, consultor para o projeto regional do Sigob no Brasil. Além de consultores de informática, a equipe é composta por sociólogos e especialistas em políticas públicas. “São módulos que requerem uma forte capacitação dentro dos gabinetes", afirma Otalora.

Na prática, esse treinamento — que pode durar de quatro meses a cerca de um ano — implica uma mudança da cultura de trabalho nos gabinetes, que precisam se organizar dentro da filosofia que o Sigob propõe.

Na Presidência da República, por exemplo, primeira instância do poder público brasileiro em que o sistema foi implantado, em 2003, a ferramenta facilitou a interação entre ministros ou secretários e a agenda do presidente. "Antes do Sigob, era muito uma questão reativa. O sistema permite, por exemplo, que o ministro da Saúde veja que o presidente vai viajar daqui a 15 dias para um Estado e então proponha atividades para a agenda do presidente lá", explica a diretora de Gestão Interna do Gabinete Pessoal do Presidente, Fanie Miranda. "A agenda do presidente da República envolve vários setores, como segurança, logística, comunicação, uma série de equipes. Em vez de você ter um papel que ordena os acontecimentos, você tem um sistema que faz essa organização e, ao mesmo tempo, em que todos que participam têm acesso às informações."

"Em termos de sistema, o Sigob não é nada muito complexo. O que existe de mais importante é a forma de arranjo do trabalho", afirma Érica Mássimo, oficial de projeto da Unidade de Políticas Sociais e Cidadania do PNUD.

Não é necessário implantar todos os 15 módulos — a instituição escolhe o que melhor se adequar às suas necessidades. No caso do gabinete do presidente Lula, onde a aplicação começou em janeiro de 2004, são três as aplicações: o Centro de Gestão do Presidente; Sistema de Gestão de Correspondência Oficial; e Arquivos e Metas Prioritárias.

Além de ser um instrumento básico de trabalho do gabinete presidencial, o Sigob está em outras áreas do governo federal — a Casa Civil usa um dos módulos, assim como o Ministério do Planejamento, onde foi recém-implantado. O sistema também está presente na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Amazonas.

Outros governos estaduais, como os de Alagoas, Distrito Federal, Fortaleza, Rio Grande do Sul, Sergipe, Pará e Paraíba, além da Advocacia Geral a União e a Prefeitura da Bahia, estudam ou estudaram a implementação do Sigob. O custo para implementação do sistema varia, em média, de US$ 40 mil a US$ 90 mil — envolvem as viagens dos consultores para treinamento dos usuários e a instalação do programa.

"São custos unicamente de implementação. O software do Sigob, a metodologia e a documentação têm custo zero para a organização", diz o paraguaio Miguel Cereceda, coordenador-regional para América Latina do Sigob.

Saiba mais sobre o Sigob
O sistema Sigob nasceu de uma iniciativa do governo peruano, há cerca de 20 anos. O então presidente do país, Alan Garcia — hoje novamente no cargo —, ao assumir o posto avaliou que o Peru estava precisando de ferramentas para a gestão pública. "Para isso, ele pediu apoio ao escritório do PNUD no Peru, que ajudou com algumas experiências na área", conta Rodolfo Otalora, consultor para o projeto regional do Sigob no Brasil.

Foi iniciado um projeto nacional para a criação dessas ferramentas de trabalho. "Os conceitos eram relativamente novos, tanto em relação à computação quanto o conceito de gestão para governabilidade", diz Otalora.

A partir dessa experiência, o PNUD ofereceu o sistema a outros países da América Latina.

"A intenção do PNUD com o Sigob é constituir uma metodologia de trabalho que propicie transparência, interatividade e contato com o cidadão", afirma Miguel Cereceda, responsável pelo Sigob. "O sistema tem métodos de trabalho, procedimentos operacionais para diferentes módulos de trabalho, softwares e uma técnica de implementação."

Além do Brasil, o Sigob está hoje em países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Honduras, México, Paraguai, Panamá, Peru, República Dominicana, Timor Leste e Uruguai.

Osmar Soares de Campos, do Pnud
Envolverde, 06/05/08
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