terça-feira, 30 de junho de 2009

Nova lógica para o investimento social privado

Projetos realizados por empresas apostam no protagonismo das comunidades como via indutora de desenvolvimento

Pensar global, agir local. A máxima do desenvolvimento sustentável tem levado empresas a repensar suas relações com diferentes públicos de interesse. Nesse contexto, tão importante quanto estabelecer diferentes canais de diálogo é reconhecer que o negócio não pode ser o principal agente de desenvolvimento.

A partir dessa ótica, o investimento social privado assume novos contornos. Mais do que ensinar, as empresas estão aprendendo a ouvir as comunidades, para contribuir de maneira efetiva com o desenvolvimento local. Realização de diagnósticos socioeconômicos para identificação de carências e potenciais, apoio no planejamento participativo e fomento à atuação em rede caracterizem as iniciativas de desenvolvimento comunitário pensadas dentro dessa lógica.

Assim, a responsabilidade social empresarial ganha dimensão estratégica não apenas porque traz benefícios de reputação e imagem para a companhia ou assegura a licença para operar. Segundo Augusto de Franco, especialista em desenvolvimento social e professor de RSE da Fundação Dom Cabral, as corporações passam a compreender que não são unidades-produtivas isoladas, mas uma comunidade de negócios formada a partir de um ecossistema. “Só há uma maneira de a empresa continuar existindo: entender que o meio não é uma ameaça, mas sim faz parte dela. A companhia deve desenvolver muitos canais de interação porque se quiser embarcar tudo o que precisa para produzir, vai falir”, ressalta.

Para De Franco, a empresa não tem condições, por exemplo, de investir sozinha em educação para desenvolvimento do seu capital humano e social. “A descoberta de que as corporações precisam investir no protagonismo da comunidade representa um salto de qualidade na responsabilidade social corporativa. As pessoas precisam adquirir novas capacidades geradas na própria comunidade e que, portanto, são permanentes”, afirma.

Dentre as armadilhas comuns no desenvolvimento de projetos sociais por empresas, De Franco destaca a tentativa de atuar de maneira isolada, correndo o risco de tornar-se um alterego do Estado e reproduzir relações de dependência. “A companhia precisa atuar de maneira integrada com o poder público, organizações da sociedade civil e outras empresas. Para que isso ocorra, têm que entender a responsabilidade social como um assunto estratégico, não podendo ser destinado ao marketing ou qualquer outro departamento específico”, ressalta.

No final das contas, as conexões locais estabelecidas pela empresa asseguram que esteja interligada ao todo. Segundo De Franco, mais importante do que dar escala às iniciativas é respeitar as diferentes realidades, desenvolver produtos, serviços e ações que expressem as dinâmicas da comunidade. “Toda grande transformação resulta da efervescência de micro mudanças. É a lógica do tipping point: temos que salvar o mundo, um instante de cada vez. Assim, a visão ética dá lugar à visão lírica, que nos diz: se queres ser universal, canta tua aldeia”.

Construção de consensos
Uma cidade voltada para as necessidades das pessoas. Essa é a proposta do Ortopólis, que em grego significa cidade ideal. A ideia do consultor Edgar von Buettner tomou forma a partir do reencontro com um amigo de faculdade, Carlos Bühler, presidente da Holcim no Brasil, que buscava uma forma de estimular o desenvolvimento local sustentável da cidade de Barroso (MG).

Em 2003, iniciou-se um processo de diálogo com a comunidade para construção da visão de futuro da cidade para 2013. “Já no primeiro encontro, reunimos representantes dos três setores da comunidade para olhar para o município como um todo, identificar problemas, construir consensos e soluções coletivamente”, afirma Juliana Andrigueto, coordenadora geral do Instituto Holcim.

A mudança comportamental de uma visão assistencialista para a de desenvolvimento sustentável consiste em um dos principais desafios do projeto devido a uma relação histórica de dependência de Barroso em relação à fábrica de cimento, instalada na cidade, em meados de 1950, pelo grupo Paraíso.

A onda de progresso gerada pela empresa não resultou na diversificação da economia. Pelo contrário, pequenas cadeias produtivas locais, como a agropecuária, foram suprimidas diante do poder de atração da companhia sobre os trabalhadores, em especial os jovens, que preferiam ser assalariados da fábrica a tocar seus próprios empreendimentos.

Na década de 90, a Paraíso enfrentou dificuldades financeiras por causa das mudanças no mercado consumidor, da automação e da pressão por maior controle ambiental. Ao ver ameaçada a continuidade do negócio a, transferiu as suas atividades à Holcim.

Ao assumir o controle da fábrica em Barroso, no ano de 1996, o grupo suíço iniciou a adaptação dos processos produtivos e de gestão em linha com padrões internacionais. A economia de Barroso, que já vinha enfraquecida, sentiu fortemente os impactos dessa mudança, sobretudo com a perda de postos de trabalho a partir automação da fábrica.

Para reverter esse quadro, a Holcim fomentou a criação da Associação Ortópolis Barroso, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem como principal objetivo o fortalecimento de todas as instituições da cidade. Também foi criado o Fundo Solidário de Investimento Social, por meio do qual a AOB recebe aportes do Instituto Holcim e outros financiadores.

A OAB também estimulou a criação de grupos de trabalho no setor eletromecânico, de artesanato, pecuária, reciclagem e comércio. Os participantes encontram na associação um apoio para viabilização dos seus projetos, formulação de estratégias de ação, e captação de recursos e parceiros.

Os impactos decorrentes da mobilização da comunidade já são perceptíveis na economia de Barroso. Em 2006, teve início o projeto Rumo Certo para mapeamento do comércio local e capacitação dos empreendedores. Dois anos após sua implementação, registrou-se um aumento médio de 64% no faturamento dos empreendimentos e 20% no crescimento dos empregos.

Segundo Juliana, do Instituto Holcim, o grande desafio de agora em diante é mobilizar mais participantes, sobretudo os jovens. “A questão da sucessão nos negócios é crucial. Muitos jovens saem de Barroso para estudar e acabam não retornando. Buscamos ferramentas de comunicação adequadas para aumentar a visibilidade do projeto e com isso atrair cada vez mais as novas gerações”, ressalta.

Redes sociais

A estratégia de responsabilidade social da Veracel Celulose se divide entre antes e depois do programa de Redes Sociais, que teve início em 2007. Em parceria com o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), a companhia identificou as principais necessidades e ativos das comunidades do seu entorno.

“Buscávamos uma forma de estimular o desenvolvimento local, sem fazer filantropia e encontramos essa resposta junto a comunidade”, afirma Eliane dos Anjos, gerente de sustentabilidade da Veracel.

O projeto contempla os municípios de Barrolândia, Boca do Córrego, Santa Maria Eterna, Belmonte, Ponto Central, Santa Cruz Cabrália, Mascote, Guaratinga, União Baiana e Itagimirim, todos na Bahia, somando cerca de 400 mil habitantes.

Segundo Eliane, essa experiência proporcionou grande aprendizado para a empresa. “Aprendemos, primeiramente, que nenhum município é igual ao outro. Também compreendemos a importância de exercitar a humildade, respeitar o conhecimento local e o ritmo de cada comunidade”, destaca.

Cada município decide suas estratégias de ação. Da Veracel, eles recebem capacitação técnica e apoio para captação de financiadores.

Para Elaine, o grande fator de sucesso do projeto é o envolvimento dos diferentes atores da comunidade. “A empresa não pode ser prepotente. Deve ter a capacidade de ouvir e atrair novos parceiros. Somente a soma de experiências e esforços possibilita a construção de um tecido social para sustentação do projeto”, ressalta.

Legado de conhecimento
Possibilitar condições para que as comunidades sejam capazes de protagonizar o seu próprio desenvolvimento, no longo prazo, quando a mineração não estiver mais presente. Essa é a principal diretriz da nova estratégia de responsabilidade social da Vale. A implementação de unidades da Estação Conhecimento – Núcleo de Desenvolvimento Humano e Econômico no Sudeste do Pará faz parte desses esforços.

Constituídas como Oscips, essas organizações têm como missão mobilizar a comunidade em torno de soluções que estimulem o desenvolvimento local. Para tanto, contam com os diagnósticos socioeconômicos - elaborados por uma equipe multidisciplinar contratada pela Vale, a partir do cruzamento de uma série de dados estatísticos e de um processo de consulta pública junto a comunidade.

O programa aposta na formação de profissionais para promover o desenvolvimento em três frentes: físico, com esporte de alto rendimento (atletismo, judô, futebol e natação); emocional por meio da cultura (teatro, dança, música e artes); e intelectual, com base na qualificação profissional. Na perspectiva econômica, a Estação apoia a organização da produção em escala empresarial, oferecendo orientação técnica para melhoria da qualidade e padronização da produção.

Segundo Silvio Vaz, diretor-presidente da Fundação Vale, a Estação Conhecimento amplia o conceito da escola tradicional porque trabalha com a visão de desenvolvimento humano e econômico da sociedade integrada ao mercado.

“Nosso objetivo é deixar um legado institucionalizado e sistematizado para a comunidade local. Para isso, instalamos Núcleos de Desenvolvimento Humano em um esforço de pensar a escola fora da caixa, para que se transforme em pólo de conhecimento, participando do desenvolvimento da sociedade”, afirma Vaz.

Fatores-chave para projetos de desenvolvimento comunitário
-Estimular a organização da comunidade em redes sociais;
-Elaborar estudos socioeconômicos para conhecer as necessidades e potenciais da comunidade;
-Buscar parceiros junto ao poder público, setor privado e sociedade civil;
-Estabelecer diferentes canais de diálogo com a comunidade;
-Desenvolver as capacidades locais para que a comunidade assuma a gestão do projeto no longo-prazo.


Idéia Sustentável, 30/06/09

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2009 motivos para participar do Festival Latino-Americano de Captação de Recursos!


Profissionais brasileiros e estrangeiros se unem para trazer estratégias inovadoras de captação de recursos

1º Os temas são fascinantes e interessam a todos: teoria e prática sobre captação de recursos em relatos, oficinas e mesas redondas.

2º Captação de recursos se aprende com experiência e vivência, e a troca delas com colegas será uma constante.

3º Diversos países estarão representados com palestrantes expondo suas experiências internacionais.

4º Os palestrantes estão entre os mais experientes captadores de recursos do mundo.

5º Em tempos de mudança, é necessário aprender novas formas de comunicação e novas oportunidades em captação.

6º Além das palestras e oficinas, será possível se reunir com os colegas do setor, e este será o melhor ponto de encontro.

7º São necessárias novas técnicas e novas estratégias para desenvolver a captação de recursos em época de crise.

8º Haverá o Espaço Aberto, em que participantes poderão programar oficinas com temas pertinentes à captação de recursos.

9º Aprender é sempre uma oportunidade para melhorar, e lá CRIAREMOS MUITAS NOVAS OPORTUNIDADES!

E... Mais de 2.000 motivos para você se arrepender se perder a inscrição, pois as vagas são limitadas... é bom correr!

Compareça e compartilhe você também seu conhecimento: no evento, exponha suas experiências no “Espaço Aberto”

20 a 22 de Julho de 2009

LOCAL
Teatro Tuca - PUC São Paulo
Rua Monte Alegre, 1.024
Perdizes/São Paulo

Informações e Inscrições
(11) 2281-9643
dialogo@dialogosocial.com.br
www.dialogosocial.com.br/festival

Veja alguns temas que serão abordados:

Ferramentas para gestão de base de dados de doadores (sistema de cobrança automática de doações)
Palestrante: Gonzalo Ibarra L.

Desenvolvimento de estratégias de arrecação de fundos usando os novos meios.
Palestrante: Gonzalo Ibarra L.

Como escrever relatórios no padrão da Global Reporting Initiative (GRI)
Palestrante: João Meirelles

Relação de longo prazo entre Responsabilidade Social Empresarial e ONGs – casos reais
Palestrante: João Meirelles

Empresas sociais – como as ONGs estão criando empresas para ser sustentáveis
Palestrante: João Meirelles

Construindo parcerias duradouras com empresas
Palestrante: Carla da Nóbrega

Cenário da captação de recursos na Europa: financiadores, mercado de trabalho e formação dos captadores de recursos
Palestrante: Marcos Concepción Raba

Cara a cara com o potencial doador
Palestrante: Víctor Naranjo

Conceito de marketing relacionado a causas e casos de sucesso no Brasil
Palestrante: Márcia Woods

Como desenvolver relações sustentáveis com doadores internacionais
Harley Nascimento

Montando um departamento de captação de recursos
Palestrante: Marcelo Estraviz

Harmonizando conceitos para escrever projetos de captação de recursos
Palestrante: Michel Freller

Geração de renda e impostos incidentes sobre venda de produtos e serviços
Palestrante: Michel Freller

Histórias que mobilizam: como utilizar o poder das histórias para mobilizar recursos
Palestrante: Rodrigo Alvarez

Planejamento de indicadores de êxito
Palestrante: René Steuer

Introdução à Captação de Recursos - o que você não pode deixar de saber para ser bem sucedido
Palestrante: Claudia Amaral

Você é com quem se relaciona - gestão de relacionamentos para a mobilização de recursos
Palestrantes: Claudia Amaral e Fabiano Moraes

Inspirações: as melhores práticas de captação de instituições de saúde no Brasil e nos EUA.
Palestrantes: Renata Brunetti e Fabiana Dias

Segmentação de doadores
Palestrante: Pedro Adam



Fonte: Diálogo Social

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Especialistas defendem a importância de novas tecnologias em favor das mudanças sociais

Pensar a transformação, a visão integral e complexa dos seres humanos como pessoas, além dos valores que possuem na conta bancária. Esse foi uma das questões debatidas na primeira mesa redonda da Conferência Internacional Ethos 2009, que aconteceu entre os dias 15 e 18 de junho.


Com o tema Redefinindo o Marketing e a Comunicação das Empresas num Mercado Socialmente Responsável, participaram: a vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro (NEF/PUC SP), Rosa Alegria; o diretor geral e superintendente da MTV, José Wilson Andrade da Fonseca; o fundador e presidente da Thymus Branding, Ricardo Guimarães; a coordenadora do Unicef para os estados de Minas Gerais, São Paulo e Sul do Brasil, Anna Penido e a vice-presidente de responsabilidade social empresarial da Holcim, Barbara Dubach.

Rosa Alegria, moderadora do debate, abriu o debate falando sobre os processos mentais e interativos intensificados pelas novas tecnologias da informação. “Somos influenciados pelos valores coletivos, temos uma vida integral. Mas o marketing vê hoje o consumidor de uma forma fragmentada. A própria palavra “consumidor” é anacrônica. Não sou mais só um algo que consume, mas que interage.”

De acordo com Rosa Alegria vivemos um tempo que necessidade não é somente de uma mudança nas relações da comunicação publicitária, mas de realmente reinventar as regras do marketing. “Por que a propaganda não se pauta pela felicidade ao invés da infelicidade? É preciso investir nas pessoas e naquilo que elas têm de bom. A economia precisa mudar, se desmaterializar, para satisfazer as reais necessidades humanas.”

Penido concordou com o poder da comunicação e abordou vários aspectos que apontam para uma transformação profunda nas formas sociais de comunicação e retransmissão de conhecimento e informação. “A comunicação tradicional é vertical, unidirecional, traz poucas fontes e é de fácil controle. Já a comunicação contemporânea é horizontal, em rede, plural e difícil de controlar.” Ou seja, com as novas possibilidades de manejamento, produção e difusão popularizadas pela internet, os veículos de massa não são as únicas fontes de informação.

“Toda a transformação pode acontecer pela consciência, ou pela ciência. Ou pelos dois. A ciência nasce da natureza e sobre a natureza você não tem vontade, você não pode escolher. Ela te pune”, reflete Ricardo Guimarães sobre a necessidade de conscientização dos processos de produção de bens de consumo e de serviços. O presidente da Thymus Branding ressaltou que antes a transparência das empresas com relação ao impacto sob o meio ambiente era uma questão de escolha, de virtude. “Agora significa uma capacidade de competir no mercado, saiu do plano moral. É o cenário. Tudo comunica. Comunicação é um exercício de identidade.”, disse.

Já a honestidade parece se refletir nos indicadores de credibilidade junto aos clientes. De acordo com Barbara Dubach, a disponibilidade das empresas em ouvir as reclamações e acolher as expectativas de seus consumidores é cada vez mais valorizada e tida como um fator de pré-avaliação daqueles que pensam em adquirir produtos de determinada empresa. “O poder de ouvir, de empenhar a sua palavra e de construir parcerias são itens essenciais. Os fatos devem corresponder ao discurso empresarial.”

De acordo com José Fonseca é essa mesma a missão da MTV. O compromisso de levar os jovens a processos de conscientização numa linguagem própria e identificada com o público. “Existe um paradoxo desesperador. O jovem nunca teve tanto acesso à informação, mas nunca foi tão individualista. Essa é uma questão muito latente para a MTV. Como quebrar esse fenômeno?”

Para esclarecer seu questionamento, Fonseca exibiu vídeos de campanhas da MTV em favor do consumo consciente, da responsabilidade social, sexual e campanhas de mobilização, como esta aqui: http://mtv.uol.com.br/publica/blog/como-ser-um-consumidor-um-pouco-consciente

Serviço:
Conferência Internacional Ethos 2009
www.ethos.org.br/Ci2009


Camila Caringe,
Setor3, 23/06/09

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Depois do sucesso: cópia vs disseminação

Como uma organização sem fins lucrativos pode progredir baseada nos seus projetos de sucesso? E como as fundações podem ajudá-las a fazer isso?

A replicação é um enfoque, mas a propagação é um conceito mais forte. Enquanto os dois termos implicam na continuidade e no crescimento de projetos de sucesso, a propagação abrange resultados mais amplos, contínuas “gerações” e novos direcionamentos. A propagação incorpora a disseminação de adaptações de idéias e projetos para novos ambientes geográficos, culturais e socioeconômicos.

Uma estratégia para expandir ou ampliar projetos de sucesso é ajudá-los com a replicação; ou seja; copiar suas características essenciais e implementá-las em outros cenários. No entanto, o termo replicação é tirado de dois outros contextos: (a) o experimento em laboratório (um cientista deseja replicar um experimento para confirmar uma hipótese) e (b) o mundo das licenças de varejo e franquias (MacDonald, em suas localidades, deseja comida consistente, valor e “experiência com o consumidor”). Nenhuma das duas utilizações do termo geralmente não são aplicáveis aos serviços sociais ou às organizações de comunidades de base.

A rigor, os projetos de sucesso das comunidades de base não podem simplesmente ser copiados ou “clonados” ou franqueados. “O fator do sucesso é sempre exclusivo e, frequentemente, depende dos esforços de um ou mais “campeões” muito ligados às circunstâncias específicas de tempo e lugar.

Uma avaliação de um reconhecido “sucesso”, muitas vezes identifica – e depois tropeça destacando-se nas diferentes variáveis de um lugar a outro. A comparação resultante de “alhos” com “bugalhos” é ilusória e inconcludente. Outro ponto fraco é a ênfase exagerada em desenvolver “melhores práticas”.

Existe uma visão cujo principal ponto assinala a diminuta quantidade de processos ou técnicas que deram certo num cenário e, assim, ser espalhados em pacotes uniformes - gerando uma visão que subestima ou ignora a complexidade humana, as organizações e outros temas de contextos específicos.

A propagação – adaptação, dispersão e expansão
Um dos mais modestos, realista e robusto conceito é a propagação: um termo da ciência natural que sugere dispersão e expansão em números. Também leva a inerência natural de gerações múltiplas e a existência de variáveis nos casos individuais. A propagação tem sucesso análogo ao das famílias: ter filhos e netos que podem herdar as características dos seus ancestrais, muito embora sejam visualmente diferentes. É, portanto, um conceito mais útil e mais objetivo que replicação.

No entanto, enquanto muitas organizações têm a capacidade de manter e gerenciar um projeto, a maioria preocupa-se mais com as prioridades imediatas e não tem a capacidade de expandir programas ou melhorá-los de forma organizada. O resultado é que poucas organizações têm desenvolvido a capacidade explícita de autopropagar-se.

As “histórias de sucesso” são rapidamente publicadas; porém, quantas organizações podem sempre acomodar um estagiário visitante ou um gerente médio para aprenderem os sistemas? Com que frequência o fundador/ganhador ficou por um extenso período de tempo em outro local como mentor ou multiplicador? Até que ponto existe um processo em curso alimentando a multiplicação ou apenas definindo a propagação como uma meta importante para uma organização?

Raramente há o reconhecimento de que a própria organização forneceu recursos de tempo, energia e dinheiro e desenvolveu procedimentos operacionais que incentivaram a propagação. É nesse ponto que os doadores podem ajudar – não apenas com dinheiro como também com uma visão ampla e mais informada do processo.

Os benefícios do enfoque de propagação
Existem benefícios para os doadores, beneficiados e para a população alvo ao adaptar o enfoque da propagação.

Aumento do Impacto. Os doadores deveriam prestar mais atenção às “histórias de sucesso”. Projetos iniciais que respondam às necessidades urgentes merecem apoio filantrópico. Nosso ponto não é denegrir esses esforços, mas incluir a propagação como outro objetivo a ser reconhecido. Responde à pergunta: “o dinheiro está bem gasto?”. Parte da resposta poderia direcionar-se aos projetos que já tiveram sucesso e ajudá-los a se propagarem.

Elementos críticos. A propagação reconhece que organizações de sucesso dependem dos esforços dedicados e do “toque” humano das pessoas que fizeram-na acontecer. As doações direcionadas à propagação tanto podem dar apoio financeiro aos indivíduos quanto às idéias de sucesso comprovado. Os recursos devem ser gastos para cultivar novas gerações por um período longo além dos cálculos de “custo - benefício”. Esta é uma perspectiva importante que o financiamento das fundações pode providenciar.

Efetividade organizacional. As doações para a propagação oferecem incentivos tangíveis e recompensas pelo sucesso. Estes reforçam o que as organizações estão fazendo melhor e fortalecem a comunicação entre o diretório e o pessoal, visto concentrarem-se nas prioridades tanto dentro como fora da organização.

Capital humano. Um impacto menos óbvio e de longa duração da propagação é construir uma carreira profissional genuína para os campeões dentro (ou fora) das organizações, uma correspondente diminuição do risco de ser “queimado” ou abandonar o campo.

Baixo risco e alta eficiência. Resumindo: comparativamente, a propagação é um método de baixo custo para disseminar boas idéias em novos lugares. De fato, doações para propagações dão capital e liquidez para as empresas de risco social darem um arranque em lugares novos sem reinventar a roda.

Financiamento crítico e temas do recrutamento
Para empresas interessadas em propagação, existem algumas implicações claras referentes às finanças e ao pessoal.

  • Precisa de uma alocação exata de tempo do pessoal para ter sucesso; para tanto será necessário “comprar” algum percentual de tempo de indivíduos chave que lideraram um projeto bem sucedido; vamos calcular de 10 a 25 por cento, a ser utilizado em orientar equipes de outras organizações, atender conferências, publicar relatórios etc.
  • O diretório e a liderança devem decidir se inclui ou não na propagação a estratégia e os objetivos da organização e se comunica o fato e suas implicações com clareza aos acionistas de dentro e fora da organização.
  • É necessário estabelecer critérios apropriados para monitorar e avaliar a propagação. Como muitos dos benefícios dela são gerados fora da organização, é importante avaliar seu valor para o sucesso desta por meio de outros critérios que não sejam os financeiros, operacionais ou aqueles não-tangíveis.
  • A propagação atrai a colaboração com outros. Devido aos impactos externos e os de longo prazo, existem oportunidades para desenvolver alianças e colaborações para diminuir alguns dos custos.
Resumindo, a propagação significa “refocalizar-se” no interior da organização para poder construir com sucesso. Isto terá implicações em cada uma das partes da organização.

No entanto, eu acredito que é um conceito mais forte e realista que a replicação. Em termos financeiros um gasto modesto pode gerar impacto considerável ao ajudar um projeto de sucesso que possa continuar, que possa ser adaptado a outros cenários e ser divulgado mais amplamente.

Veja comentário sobre o texto elaborado pelo diretor da Young Foundation, Geoff Mulgan.


James R. Posner
Phd, é membro da fundação sediada nos EUA: Posner – Wallace Foundation.
E-mail: posnerplus@AOL.com
redeGIFE Online, 29/06/09

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Investidores sociais querem alinhar recursos para Educação

Debater o alinhamento entre investidores sociais e o governo em prol de um ensino de qualidade para o alcance de melhores resultados foi o objetivo do 2º Workshop de Alinhamento do Investimento Social Privado em Educação. Realizado no dia 26 junho, o evento é promovido pelo GIFE, Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e Todos pela Educação e contou com a participação de 100 convidados.

Na abertura, Cláudio Haddad, presidente do Insper, reafirmou o compromisso da universidade em desenvolver mais conhecimento e melhores práticas em Educação. “Um dos temas importantes para o desenvolvimento do país e seu crescimento”, esclareceu. Segundo Haddad, a mudança do nome da universidade – antes Ibmec – para Insper também contribui para os valores da organização. “Insper significa Inspirar, pertencer e transformar”, declarou.

Já o presidente-executivo do Todos Pela Educação, Mozart Ramos, destacou a importância da harmonia entre o investimento público e privado. “Esse momento de alinhamento e de conhecimento das experiências dos institutos e fundações é decisivo para a continuidade de políticas públicas”, disse. Em sua experiência, enquanto reitor da Universidade Federal de Pernambuco, ele pôde perceber a contribuição do investimento social privado na UFPE, o que possibilitou a criação de novos departamentos de estudos.

De acordo com dados do Censo GIFE -- mapeamento que o GIFE faz sobre o Investimento Social Privado (ISP) de seus associado -- , educação é a área prioritária do ISP. Em 2007, 80 associados – de uma base de 101 organizações - investiram R$ 1,15 bilhões nessa área. “O workshop partiu da constatação de que é desafiador trabalhar de maneira alinhada. São universos diferentes no setor privado, no terceiro setor e no setor público, são vocabulários diferentes e perspectivas distintas sobre o que é boa educação. Gerar esse alinhamento é um grande desafio e o workshop conseguiu avançar nessa agenda”, afirmou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

Secretário-geral ainda afirmou que “o engajamento das organizações que foram ao workshop e o esforço verdadeiro em discutir como articular seus projetos entre si e com as políticas públicas mostra a preocupação dos investidores sociais brasileiros em realmente fazer transformação social por meio de seus projetos.

Além de seu censo bienal, o GIFE começou a produzir um levantamento denominado “Mini-Censo Educação”, que apontará as práticas realizadas pelos investidores sociais associados ao Grupo. A diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, apresentou algumas reflexões já apontadas na pesquisa:

atuar em parceria não é novidade para associados que praticam seu ISP na área da Educação, seja por meio da própria execução de seus programas, recebendo aportes de diferentes tipos de parceiros ou apoiando parceiros com recursos econômicos e técnicos;

o critério que o associado leva em conta ao desenhar sua estratégia de investimento social na área de Educação é temático (ex: Educação para questões de Meio Ambiente, Saúde etc.);

as diretrizes consideradas na seleção dos segmentos populacionais beneficiados pelas ações são indicadores educacionais, tal como a proximidade às instalações da empresa;

as formas de atuar são muito diversas e complementares, por meio de campanhas de mobilização, voluntariado, entrega de prêmios, ações de advocacy etc.;

recursos e metodologias podem ser compartilhados.

A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda, também presente no evento, destacou que é fundamental para os investidores sociais privados o conhecimento mais aprofundado da realidade da escola pública e de seu funcionamento. “Atualmente os professores estão se debatendo com questões para as quais eles não tiveram formação”, explicou.

Por meio do relatório do Unicef “Situação da Infância e da adolescência brasileira 2009” – O Direito de Aprender”, a oficial de projetos de Educação do organização internacional, Maria Salete Silva, pontuou que desigualdades como, região ou local onde a criança vive, cor da pele, idade e deficiências físicas ou mentais, impactam no aprendizado desse público. “Queremos discutir o papel do ISP na garantia do desenvolvimento das crianças”, afirmou.

Ele fez também algumas recomendações como:
. potencializar avanços e radicalizar na redução ou eliminação das desigualdades;
. universalização de direitos
. conhecimento e reconhecimento da situação das crianças e adolescentes mais vulneráveis;
. intersetorialidade;

. abordagem sistêmica dos ciclos de vida;
. ampliação da escolaridade obrigatória;
. alcançar 8% do PIB na Educação;
. troca de experiências e aprendizagem conjunta com outros países.

Os participantes do workshop participaram ainda da dinâmica “O papel de cada ator: obstáculos e soluções”, cujo objetivo era chegar a consensos sobre caminhos para o alinhamento dos investimentos. Com a mediação de Fernando Abrucio, doutor em Ciência Política pela USP e professor da Fundação Getúlio Vargas, os participantes do grupo representavam um “personagem” que participava de uma reunião para definir o projeto que uma usina fictícia patrocinaria em uma cidade do Nordeste.

Nessa reunião hipotética, participaram representantes da secretaria de educação do município, da Usina, da associação local e das escolas da rede. Ao final da dinâmica, cada grupo entregou um formulário preenchido, mostrando como foi a discussão, como seria o projeto e relatando os principais obstáculos encontrados para o alinhamento.

Ao final, o evento trouxe como proposta a construção de eixos de conteúdo, identificando ideias e materiais já desenvolvidos pelos associados sobre o investimento nessa área. Como encaminhamento ficou a construção de uma carta de princípios para o alinhamento do ISP em Educação.

Conheça o histórico dessa iniciativa: Workshop de Alinhamento do Investimento Social Privado em Educação.


Tatiana Vieira
redeGIFE Online, 29/06/09

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Banco de leite humano em São Bernardo do Campo (SP) precisa de doações

O Banco de Leite Humano do Hospital Municipal Universitário (HMU), em São Bernardo do Campo (Grande SP), precisa urgentemente de doações. Os 16 litros atualmente em estoque são suficientes para o consumo de apenas três dias. O ideal é ter aproximadamente 300 litros de leite.

As candidatas devem ser saudáveis e produzir leite em excesso. Elas não podem ter tido hepatite ou ser portadoras de sífilis ou do vírus HIV.

Para doar, basta entrar em contato com o HMU, que orienta sobre a retirada do leite e fornece materiais como vidro esterilizado, máscara e touca. O banco também pode recolher o leite, inclusive em São Paulo.

Antes de ser liberado para o consumo, o leite doado -que alimenta cerca de 80 prematuros por mês no HMU- passa por um controle de qualidade e por um processo de pasteurização que elimina vírus e bactérias.

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 0/ xx/11/4365-1480, ramal 203.


Folha de S.Paulo, 30/06/09

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