sábado, 15 de novembro de 2008

O recado verde de Jeffrey Immelt, CEO da General Eletric

É na crise que se destacam os líderes, as empresas líderes e as idéias líderes. No último dia seis de novembro, Jeffrey Immelt, CE0 da General Eletric, deu um recado importante para aqueles que estavam pensando em suspender investimentos em sustentabilidade por causa do tsunami financeiro mundial. Em palestra realizada na cidade de Nova York, disse a 1200 convidados da Business Social Responsability e do grupo brasileiro ABC, patrocinador do evento, que a crise representa o fim de um ciclo e que o momento sugere reorganizar os modelos dos negócios, criando novas formas de atuação.

Nesse cenário – acredita – a prática da responsabilidade social em todos os níveis da empresa constitui um diferencial competitivo estratégico valorizado por consumidores, funcionários, acionistas e sociedade. “Investir nisso não é queimar dinheiro, mas sim construir um meio estratégico para criar valor, gerar confiança e reforçar a transparência. Em um futuro próximo, as empresas vão competir para ver quem é mais responsável ou não”.

As palavras de Immelt ecoam com força e credibilidade. Não só porque é um dos mais importantes executivos do mundo. Mas, porque, há quatro anos, ele e a empresa que dirige têm sido respectivamente porta-voz e estandarte do movimento verde nos negócios.

Quando em dezembro de 2004, o sucessor de Jack Welch reuniu seus principais diretores para comunicar que todos os departamentos da empresa teriam que se esforçar para criar produtos ambientalmente responsáveis, a primeira reação foi de total incredulidade. A maioria pensou que o chefe enlouquecera. Afinal, como fabricar turbinas verdes em uma organização que até então sequer havia se preocupado em mensurar seus impactos ambientais? Incomodava-os, sobretudo, a ousadia de Immelt de achar que podia mexer, sem riscos, na estratégia de uma megacorporação centenária, com faturamento de 173 bilhões de dólares.

O executivo estava convicto da aposta. Sabia que a nova linha de produtos, denominada Ecoimagination, hoje com mais de 60 itens, atendia às expectativas de um novo perfil de consumidores preocupados com as mudanças climáticas. E que a atitude verde, longe de ser apenas um ato de generosidade para com o planeta, atrairia novos negócios.

Em 2007, a empresa investiu um bilhão de dólares na linha Ecoimagination, turbinando as vendas para um patamar de 14 bilhões de dólares, cerca de 10% do volume global de vendas da GE. Os negócios verdes crescem três vezes mais rápido do que a média dos demais produtos da empresa. E a expectativa é que, até 2010, alcancem a cifra de 25 bilhões de dólares.

Nesse processo, Immelt contou com dois conselheiros e uma executora de mão cheia. Chad Holliday, presidente da Dupont, foi uma espécie de coach. Andrew Shapiro, diretor da GreenOrder, e responsável pela estratégia de produtos limpos da Dupont e da BP, ajudou no planejamento. Já Lorraine Bolsinger, recrutada no Marketing, tem sido a capitã da implantação. Coube a ela, por exemplo, mobilizar e envolver os profissionais, inserir o tema na cultura da empresa, estabelecer um sistema de padrões e definir critérios para os produtos.

Quem analisa os números da evolução rápida da Ecoimagination pode até achar que o caminho verde tem sido plano e sem sobressaltos. Não é bem assim. A mudança no modo de pensar e fazer negócios impôs enormes desafios para a GE. Entre os mais bicudos enfrentados por Immelt, quatro merecem destaque.

O primeiro diz respeito à dificuldade natural de transformar a cultura organizacional de uma corporação global, com 327 mil funcionários espalhados em 83 países. Como a empresa optou por não ter um departamento de sustentabilidade, a tarefa de criar produtos verdes acaba sendo, na prática, de todos os colaboradores, o que exige diretrizes claras, metas bem definidas, ambiente encorajador à inovação e um enorme esforço de educação para pensar “fora da caixa.”

O segundo desafio refere-se ao fato de que, na maioria dos casos, os produtos verdes estão criando mercados absolutamente novos. Uma coisa é “tirar pedidos” para turbinas movidas a carvão em um mercado certo com clientes certos. Outra, bem diferente, é vender sistemas como o Ecohome, para controle do uso de água e energia em residências. Ninguém cria novos mercados impunemente. Há um custo inicial a se pagar –e aí se está diante do terceiro desafio – que é o de tornar os novos produtos comercialmente viáveis. Para fechar a equação de baixa escala e alto custo de desenvolvimento, os lançamentos verdes costumam cobrar 20% a mais do que os similares convencionais.

O quarto desafio está relacionado á superexsposição pública. Ao adotar uma linha de produtos verdes, a General Eletric entrou na alça de mira de ONGs, sociedade civil organizada e mídia vigilante. E passou a ser mais visada. A despeito de ter cortado em 20% suas emissões de carbono e da promessa de ampliar progressivamente a produção de equipamentos de energia eólica e solar, as poluidoras máquinas a carvão continuam sendo o carro-chefe da companhia. Superar as contradições como essa, para que a GE não venha a ser incluída no time das que praticam greenwashing, é o próximo trabalho do hércules Immelt.


Ricardo Voltolini
Publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor da consultoria Idéia Sustentável. ricardo@ideiasustentavel.com.br
Envolverde, 12/11/08
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Nova Metodologia Mensura Impacto de Projetos Sociais

Buscando medir o real valor de um investimento social, tendo como fundamento a promoção de políticas públicas já existentes para o desenvolvimento social e econômico de uma região, a John Snow Brasil Consultoria desenvolveu a MAIS (Metodologia de Avaliação de Impacto Social). Seu principal objetivo é mensurar a redução das diferenças sociais produzidas em função dos investimentos realizados por um agente de transformação, entre eles fundações e institutos privados, organizações da sociedade civil e agências governamentais.

Um dos estudos realizados pela consultoria foi em cima dos projetos sociais do SESI (Serviço Social da Indústria). A metodologia permitirá avaliar o impacto dos seus projetos nas áreas de educação, saúde, lazer e responsabilidade social e mostrará, com exatidão, a contribuição aos cidadãos e à sociedade.

“A MAIS vai permitir não só avaliar, mas inclusive quantificar o retorno econômico e financeiro para cada indivíduo, suas famílias e para as comunidades em que estão inseridos”, explica Carlos Henrique Ramos Fonseca, Diretor do Departamento Nacional do SESI. Numa fase inicial está prevista a utilização do MAIS na avaliação de oito projetos sociais.

A eficácia da metodologia criada pela John Snow Brasil foi testada no ano passado para avaliar os resultados da “Ação Global”, desenvolvido pelo SESI em parceria com a Rede Globo de Televisão. Criado em 1991 e realizado anualmente, o programa consiste em um mutirão de serviços essenciais e gratuitos, promovidos por profissionais voluntários nas áreas de saúde, lazer, educação e cidadania. Em 2007, foi realizado simultaneamente em 34 cidades, envolvendo 40 mil profissionais e 2 mil parceiros. Calcula-se que mais 1 milhão de pessoas tenham participado do evento, resultando em 2,3 milhões de atendimentos.

A análise realizada por meio do MAIS permitiu identificar que os serviços prestados pela Ação Global tem impacto na renda das famílias atendidas. “Isso não quer dizer que aqueles que vão à Ação Global terão, no dia seguinte, a sua renda aumentada”, destaca Rodrigo Laro, coordenador de pesquisa e avaliação de impacto social da John Snow Brasil. “Significa que uma pessoa beneficiada com os serviços da Ação Global pode ter mais acesso a um emprego, a uma renda fixa e inclusão social, portanto mais condições de aumentar a sua renda.”

A John Snow Brasil é uma consultoria especializada em Gestão e Desenvolvimento Social que promove e implementa conhecimentos inovadores aos gestores sociais das esferas empresarial, governamental e da sociedade civil organizada. Sua metodologia é baseada em uma escala de valores e possui seis etapas de aplicação: 1 - desenvolvimento do marco lógico; 2 - elaboração dos instrumentos de pesquisa avaliativa; 3 - coleta de dados e análises exploratórias dos dados; 4 - análise financeira (custo-eficácia); 5 - análise econômica (custo-benefício); 6 - análise social (equidade ou redução de diferenças sociais).

O desenvolvimento da Metodologia de Avaliação de Impacto Social partiu de uma abordagem integrada de algumas ferramentas que já se encontravam disponíveis na literatura. Porém, estas ferramentas não trabalhavam com a ferramenta inicial de marco lógico, que define metas e indicadores a todos os objetivos do programa. A John Snow acoplou o marco lógico e mais as ferramentas de pesquisa avaliativa e coleta de dados para chegar ao formato atual da MAIS. “Atualmente consideramos a metodologia completa”, avalia Miguel Fontes diretor da John Snow Brasil. “Até o momento, tínhamos aplicado parcialmente a MAIS, no entanto, essa é a primeira vez que a utilizaremos por completo junto a um parceiro”, diz Fontes.

Sobre o SESI

Criado oficialmente no dia 1º de julho de 1946 como uma entidade de direito privado, mantida e administrada pela indústria que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do industriário e seus dependentes, o SESI tem procurado focar sua atuação em seu público estratégico. “As avaliações de impacto trarão maior direcionamento quanto à eficácia da atuação junto a esse público e permitirá também a demonstração dos benefícios às comunidades desassistidas socialmente”, afirma Carlos Henrique Fonseca.

Em 2007, o SESI investiu em seus programas sociais e realizando 48,6 milhões de atendimentos. Os Departamentos Regionais do SESI estão espalhados nos 26 estados e no Distrito Federal e são percebidos pelos empresários locais como parceiros para o desenvolvimento social de suas indústrias e de seus funcionários. Entre as atividades realizadas estão a prestação de serviços em saúde, educação, lazer, cultura, nutrição e promoção da cidadania.

Agora o SESI pretende, com os resultados obtidos pela pesquisa, otimizar os impactos das ações, entendendo o que realmente funciona e o que não dentro de seus programas, para fazer as alterações adequadas e atender ainda melhor à população. “Ao terminarmos a avaliação divulgaremos para sociedade os resultados do investimento social da Indústria, afirma Carlos Henrique Fonseca.


Envolverde, 12/11/08
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Profissionais optam cada vez mais pelo terceiro setor

Hoje, cerca de 4 milhões de pessoas trabalham no terceiro setor no Brasil. O número de vagas cresceu duas vezes mais que a média geral do país nos últimos anos. Nesse contexto, longe da imagem de trabalho voluntário, organizações não-governamentais, institutos e fundações atraem cada vez mais profissionais bem sucedidos da iniciativa privada.

Esse foi o caminho que o diretor-presidente do Instituto C&A, Paulo Castro, resolveu seguir. Formado em economia, Castro atuou durante 18 anos na C&A. Em sete deles, o executivo acumulou o cargo de conselheiro do instituto responsável pela parte de responsabilidade social da empresa. Apaixonou-se pelas causas sociais e hoje é o principal dirigente da instituição. “A possibilidade de colocar a energia em uma causa que tem dimensão social amplia o sentido do que você está fazendo”, afirma.

Buscando um sentido maior para a vida, a coordenadora de comunicação do programa Geração MudaMundo, da ONG Ashoka Empreendedores Sociais, Juliana Soares, também optou por fazer carreira no terceiro setor. “Trabalhar no terceiro setor trouxe mais paixão, prazer e vontade”, revela.

Formada em publicidade pela ESPM, universidade que tradicionalmente forma profissionais para grandes agências, há dois anos Juliana quis traçar um caminho diferente. “Foi uma escolha pessoal, não financeira. Queria uma razão maior para minha profissão do que um comercial de 30 segundos”.

Formação
Assim como Castro e Juliana, profissionais de diversas áreas têm optado por fazer carreira no terceiro setor, mas para isso é necessário buscar uma formação apropriada, principalmente quando a questão é gestão. “As iniciativas no terceiro setor não têm maior continuidade, pois não há gestão adequada. A profissionalização é fundamental para se gerir uma ONG”, afirma a vice-coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor e professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Graziella Comini. “Quem atua no terceiro setor precisa entender a construção de alianças e parcerias. Se não entender isso, não vai a lugar nenhum. Gerir o terceiro setor é mais difícil do que se pensa”, completa.

Hoje, muitas universidades já oferecem cursos de MBA para capacitação no terceiro setor. “Há restrição de recursos e disputa entre as ONGs por recursos escassos das empresas. Por isso, um gestor do terceiro setor deve entender a lógica empresarial e para isso precisa de conhecimentos básicos de captação de recursos”, defende Graziella.

A professora conta que o tempo médio de duração de uma ONG no Brasil é de oito anos, isso porque não há uma devida preparação para o gerenciamento da organização. “Só o sonho de fazer o bem não basta, tem que saber gerir o projeto para que dê certo. A morte de uma ONG é um prejuízo enorme para a sociedade, já que o resultado do trabalho de uma ONG demora a aparecer”, alerta.

“Infelizmente, no terceiro setor, há uma carência de profissionais que trabalhem com administração financeira, mas em um geral, faltam profissionais realmente preparados”, afirma a Coordenadora Executiva da ONG baiana Eletrocooperativa, Leila Rocha Marques. “A formação é necessária, mas o aprendizado é contínuo”, completa.

Graziella afirma que o público dos cursos de capacitação para o terceiro setor é variado. “São pessoas que querem fazer a diferença. Profissionais que trabalham no setor privado, mas querem mudar de trajetória; pessoas que já estão no terceiro setor e querem aprimorar o que já sabem na prática; pessoas que querem saber o que é o terceiro setor. Basicamente, pessoas com vontade de se profissionalizarem no terceiro setor”.

O perfil dos professores do curso também é diversificado: varia entre profissionais que trabalham com gestão empresarial e profissionais experientes do terceiro setor. “É importante compartilhar as experiências que deram certo”.


Bruna Souza, do Aprendiz
Envolverde, 11/11/08
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Brazil Foundation lança edital 2008-2009 para educação, saúde, direitos humanos, cidadania e cultura

BrazilFoundation oferece apoio financeiro de até R$ 30 mil durante um ano

O processo de seleção está aberto a todas as organizações de direito privado sem fins lucrativos, de todas as regiões do país, que atendam aos objetivos e critérios da BrazilFoundation e busca identificar iniciativas sociais nas áreas de educação, saúde, direitos humanos, cidadania e cultura.

As propostas serão avaliadas de acordo com os seguintes critérios de seleção:
* Alinhamento da proposta apresentada com a missão da instituição proponente;
* Comprovada capacidade técnica e operacional da instituição de desenvolver o projeto proposto
* Adequação da intervenção social proposta às necessidades impostas pela realidade social da comunidade ou público diretamente beneficiado;
* Apresentação de abordagens diferenciadas em relação a outras iniciativas da mesma área de atuação em seu estado ou região;
* Implantação de um modelo de atuação eficaz que possa gerar mudanças sociais e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da comunidade ou do público diretamente beneficiado;
* Apresentação de uma estratégia clara de continuidade do trabalho;
* Legitimidade da instituição em sua área de atuação

Instruções para o envio de projetos
A BrazilFoundation tem por objetivo principal estimular mudanças sociais ao apoiar soluções criativas e eficazes que gerem resultados significativos na realidade de comunidades e grupos sociais em situação de vulnerabilidade.

Podem participar pessoas jurídicas, não-governamentais, de direito privado e sem fins lucrativos, políticos ou religiosos. Cada instituição poderá enviar apenas um projeto.

Não poderão participar:
* Pessoas físicas;
* Partidos Políticos e Igrejas;
* Instituições cujo projeto tenha objetivos político-partidários ou religiosos;
* Instituições do Sistema "S" (SENAI, SESI, SESC, SESI, SEBRAE), que podem, porém, ser parceiras do projeto ou da instituição proponente;
* Universidades e autarquias, que podem, porém, ser parceiras do projeto ou da instituição proponente.

A BrazilFoundation prioriza projetos que visem:
* Melhorar as condições sociais de uma comunidade ou grupo social em situação de vulnerabilidade.
* Desenvolver lideranças nas áreas em que atua.
* Criar modelos inovadores e eficazes que tenham potencial de reaplicação para outras iniciativas, governamentais ou não governamentais.

Serão consideradas apenas as propostas apresentadas por meio do formulário de inscrição acompanhado da planilha de solicitação de recursos, disponíveis no site da fundação (veja links abaixo). A inscrição deve ser feita exclusivamente através do preenchimento integral e envio pelo correio do Formulário de Inscrição e Planilha de Solicitação de Recursos.

Prazos
O prazo de envio é de 01 de outubro 2008 a 05 de dezembro de 2008.
Data limite para postagem de projetos: 05 de dezembro de 2008.
Divulgação dos projetos finalistas no website da BrazilFoundation: 14 de abril de 2009.
Divulgação dos projetos aprovados no website da BrazilFoundation: 30 de junho de 2009.

EDITAL (em PDF)
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO (formato Word)
PLANILHA DE SOLICITAÇÃO DE RECURSOS(formato Excel)


Fonte: Brazil Foundation

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Captação de recursos: uma atividade em que se cria e se copia

A prática da captação de recursos envolve não apenas processos e técnicas, mas, principalmente, pessoas. O processo de captação é um ciclo que passa pela implantação de uma idéia, pela criação de uma cultura no interior da organização – freqüentemente demandando a quebra de paradigmas e práticas consagradas internamente –, a consolidação de novas práticas internas e de relacionamento com parceiros, culminando no aprofundamento dessas práticas e relações e na abertura de novas possibilidades e oportunidades no domínio dessas redes.

Tecnicamente falando, cada uma dessas etapas tem sido descrita e praticada a partir de conceitos muito bem definidos no recente artigo de Rene Steuer, “O ciclo da captação não termina nunca...”, como: o caso; os objetivos; as metas de captação; as necessidades do mercado; os potenciais doadores; os meios e as fontes de captação; a solicitação e a renovação da doação, entre outros.

Todo esse arsenal conceitual pode ser exemplificado pela própria história da captação de recursos na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP). A captação na FGV-EAESP começou em 1991 com o então diretor Michael Paul Zeitlin que, logo que eleito, viajou aos Estados Unidos para estudar os modelos americanos de captação para universidades e adaptá-los à cultura brasileira. Com a captação incorporada ao planejamento estratégico da instituição, Zeitlin iniciou o processo com empresas e ex-alunos de modo institucional, dando origem às famosas salas patrocinadas, laboratórios e auditórios personalizados.

O movimento iniciado por Zeitlin é referência até hoje entre as instituições de ensino superior e no Terceiro Setor em geral. Esse trabalho foi consolidado pela atuação internacionalmente reconhecida de Célia Cruz, que coordenou o departamento de desenvolvimento institucional da FGV-EAESP até 2000, passando a gestão para Zilla Bendit, que aprimorou e expandiu as técnicas utilizadas no patrocínio de espaços físicos, eventos culturais e acadêmicos, incorporando o marketing de relacionamento às ações de captação.

Entretanto, há mais a considerar com relação ao ciclo de captação do que o simples instrumental técnico. Esse ciclo, que não termina nunca, é um processo que passa por diferentes momentos e fases, que, por sua vez, têm diferentes exigências e características. Existem diversos meios de fazer captação: eventos especiais, mala direta, campanha anual, campanha de capital, captação on-line, telemarketing e projetos específicos, entre outros. Existem também diversas fontes de doação: pessoa física, empresas, fundações nacionais e internacionais, igrejas, convênios públicos, agências internacionais etc. E existem ainda diversas organizações da sociedade civil, ligadas a diferentes áreas de atuação: à saúde, ao meio ambiente, ao ensino, à cultura e outras. Essas diferentes organizações direcionam suas ações para diferentes públicos-alvo: crianças, adolescentes, adultos, idosos, natureza, animais... qual é a melhor prática? Qual é a mais eficiente? Além disso, sabemos que a prática da captação envolve pessoas. Como deveria, então, ser a pessoa do captador de recursos? Que habilidades deveria ter o melhor captador de recursos?

Para responder essas questões, a citação do professor em captação, Daniel Yoffe, é ideal: “Diga-me quais recursos desejas buscar que te direi o melhor tipo de pessoa para ajudá-lo”.

É a melhor combinação de todos esses fatores que determinará o melhor resultado na captação de recursos. É muito importante esclarecer que os melhores resultados se alcançam ao longo do tempo.

Nesse sentido, recomenda-se às organizações que pretendem criar uma área de captação de recursos que conheçam outras entidades já estruturadas e seus processos de desenvolvimento nessa área.

Ações como essas, alinhadas à cultura e valores das suas organizações, é que poderão garantir sua autonomia e sustentabilidade. O bom resultado decorre do amadurecimento do processo. Seguem alguns exemplos:

Programa de sócios-contribuintes
A equipe de captação de recursos do Doutores da Alegria é uma boa referência. A qualidade do trabalho de captação dos Doutores é reconhecida por todos e é importante lembrar que isso é resultado de um esforço de muitos em um processo contínuo iniciado há muitos anos.

Em 1996, os Doutores da Alegria fecharam um grande patrocínio com a Itaú Seguros. Nessa época, Rodrigo Alvarez foi chamado para iniciar o processo estruturando um programa que chamou informalmente de “um programa atencioso para qualquer doador”. Desde o início, a maior preocupação foi acolher os doadores. Naquela época, Alvarez foi visitar as equipes da Fundação Abrinq e do Greenpeace, provavelmente com a mesma intenção que outras organizações hoje visitam a equipe dos Doutores. O passo seguinte desse processo foi o uso da Internet como ferramenta para captação de recursos.

Captação de recursos no Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
A AACD é uma referência importante, pois estruturou uma área especializada em viabilizar recursos para os projetos aprovados pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad), coordenada por Marta Delpoio. Em 2005, teve três projetos aprovados e, atualmente, já tem seis. Toda doação recebida de pessoas físicas e jurídicas até o último dia do ano-calendário pode ser deduzida do imposto de renda devido. O limite de doação para declaração do IR é de 6% (PF) e 1% (PJ).

Programa com ex-alunos
O trabalho da FGV-EAESP é muito bem desenvolvido. Como descreve Márcia Pastore, responsável pela captação com os ex-alunos da instituição no período de 1996 a 2000, alguns fatores são fundamentais para o sucesso dessa captação:
• Apoio irrestrito da diretoria;
• Planejamento a médio e longo prazo;
• Equipe bem-estruturada com profundo conhecimento da instituição e de seus ex-alunos, além das técnicas de captação;
• Tecnologia da informação – banco de dados estruturado e organizado;
• Comunicação pessoal para estreitar e fidelizar o relacionamento.

O programa ex-aluno doador da FGV-EAESP – Comunidade GV, começou com encontros entre as turmas dentro da própria instituição. Com o tempo, tornou-se um programa de relacionamento, oferecendo a seus ex-alunos doadores palestras com professores renomados, cafés da manhã, festas, seminários, entre outros.

Os ex-alunos, por sua vez, eram chamados a contribuir e participar desse movimento histórico na instituição investindo em bolsas para alunos que não podiam pagar a graduação, na atualização da biblioteca, ou mesmo deixando a critério da própria diretoria o que fazer com a doação, tamanha a credibilidade do trabalho. São exemplos assim que permitem que nesse espaço social, regido pela lógica da solidariedade, essas trocas de experiências sejam possíveis e, até mesmo, estimuladas.

Links
www.aacd.org.br
www.doutoresdaalegria.org.br
www.eaesp.fgvsp.br


Renata Brunetti
Doutora e mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, certificada em Fund Raising Management pela Fund Raising School, do Centro de Filantropia da Indiana University e mestre em Gestão em Empreendedorismo Social pela Universidade de São Paulo.
Revista Filantropia - OnLine - nº175

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Talent cria por novo Cultura Artística

Agência é a responsável por campanha voltada a empresas que possam ajudar na reconstrução do teatro, orçada em R$ 60 milhões. Até o final do ano Sociedade de Cultura Artística deve ir à mídia pedir contribuições da população

Após incêndio que consumiu as instalações do Teatro Cultura Artística, em São Paulo, em agosto, a Talent assina voluntariamente uma campanha que visa sensibilizar empresas e pessoas jurídicas para que sejam potenciais colaboradoras do plano de reconstrução do teatro, orçado em R$ 60 milhões. "Quando aconteceu aquele infeliz acidente, achamos que poderíamos ajudar o Cultura Artística", conta José Eustachio, sócio-diretor da agência.

Assim, foi desenvolvido um folder dividido em quatro atos, por meio dos quais é contada a história da Sociedade de Cultura Artística, de seu surgimento à atual fase, passando pela inauguração do teatro. Por fim, o material propõe o renascimento do espaço, que deve se tornar mais completo e moderno.

Segundo Eric Klug, responsável pela área de relações institucionais da Sociedade, a apresentação desse material aos potenciais investidores deve acontecer em dezembro, já que nesta semana o tombamento da fachada do teatro deve ser aprovado e, até o final deste mês, o projeto de reconstrução deve ser aprovado pelo Ministério da Cultura para de beneficiar da Lei Rouanet. O plano prevê a retirada de todo o entulho gerado pelo incêndio e a reconstrução de 10,5 mil metros quadrados, com melhorias no backstage e no estacionamento do espaço, sem qualquer alteração na fachada original.

Em breve, um DVD vai compor o material apresentado aos potenciais investidores, no qual artistas como Monica Salmaso, Nelson Freire, Regina Duarte e Roberto Minczuk ressaltam a importância do espaço para a cultura nacional. Até o primeiro trimestre de 2009, a população em geral deverá ser impactada por uma campanha em mídia impressa e rádio convidando todos a contribuírem com a reconstrução do teatro. "A idéia é que possamos contar com a disposição dos veículos", prevê Eustachio. O novo Centro Cultura Artística deve ser inaugurado em 2012, quando serão comemorados os cem anos da Sociedade.


Eduardo Duarte Zanelato
Meio & Mensagem Online, 12/11/08

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A esperança vem do microcrédito

Economista e detentor do Prêmio Nobel da Paz conta como seu projeto vem transformando há décadas a realidade em Bangladesh

Vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 2006, pela criação do Grameen Bank -- banco que fornece microcrédito à população pobre de Bangladesh sem burocracia -- Muhammad Yunus, afirmou nesta terça-feira,11, durante o HSM Expo Management, que o presidente Lula foi o único presidente que admitiu o fracasso de suas iniciativas relacionadas a esse tipo de programa. "Quando estivemos juntos percebi que ele é um homem muito realista e foi o único governante que conheci capaz de admitir seus erros e pedir ajuda", disse.

Ao comentar o programa federal Bolsa Família, o professor ressaltou que "dar um dinheirinho para garantir dignidade é o primeiro passo de um processo mais amplo, mas está longe de ser a solução para a pobreza e dificuldades da população. "Para aqueles que buscam sobreviver, qualquer espécie de apoio imediato é bem-vindo, mas é importante oferecer alternativas para que a pessoa cresça e desenvolva suas idéias para conseguir deixar o estado de pobreza pensando em longo prazo", comentou Yunus.

Segundo ele, apresentar a possibilidade de, ao invés de pegar um determinado valor para as necessidades mais urgentes, o cidadão tenha acesso a uma quantia cinco vezes maior para pensar em um ofício que lhe traga retorno é essencial para estimular uma população a abondanar a pobreza. "Se você oferecer o crédito a cem pessoas e dez aceitarem e dessas dez, cinco conseguirem algum tipo de retorno, as atitudes geram uma reação em cadeia capaz de despertar o empreendedorismo em qualquer um", afirmou.

No entanto, para que esse tipo de programa obtenha sucesso, Yunus aconselha que não haja vínculo algum com o governo de forma que não haja chances de manipulação política e se torne objeto para simples conquista de eleitorado. "O trabalho social deve pregar transparência total e o envolvimento da política deve ser de todas as formas evitado para que essa não comprometa o controle financeiro e ético", acrescentou.

Crédito: direito humano fundamental
De acordo com Yunus, o direito ao crédito deveria estar no topo da lista dos direitos humanos, já que torna todos os outros direitos básicos de qualquer cidadão consequência de seu esforço e trabalho. O acesso ao dinheiro para sobrevivência gera automaticamente acesso à alimentação, moradia, saúde e educação.

Partindo do princípio de que a pobreza é um conceito artificial criado e imposto por uma sociedade que definiu suas políticas e sistemas baseado em um único modelo de lucros nos negócios, Yunus deixou claro qual seu sonho e sua missão no mundo: acabar com a pobreza até que essa se transforme em tema de museu como são hoje os dinossauros.

Para tanto, o professor e economista defende que cada vez mais sejam criadas empresas sociais, ou seja, aquelas que não vislumbram lucro ou retorno financeiro para reaplicar recursos em busca da solução para problemas que afetam o desenvolvimento da sociedade como um todo.


Mariana Ditolvo
Meio & Mensagem Online, 11/11/08

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Ken Robinson: Escolas matam a criatividade?

Para quem não conhece, TED é uma conferência anual que desde 1984 reúne, segundo seus promotores, os pensadores e atores mais fascinantes do mundo. Os temas são tecnologia, entretenimento e design, e os convidados a falar são desafiados a fazer "a palestra de suas vidas" em 18 minutos.

Embora de algum tempo para cá elas sejam disponibilizadas em vídeo - e nunca me arrependi de ter investido tempo em assiti-las -, infelizmente as palestras são em inglês, razão pela qual nunca publiquei nenhuma aqui. Mas para nossa sorte, algumas vem sendo legendadas em português. Inauguro, portanto, a publicação de uma seleção, entre as que já estão legendadas, com a de Sir Ken Robinson que embora seja sobre educação, nos faz refletir sobre muito mais do que isso. Vale apena ver! Abaixo a primeira parte. Clicando no link "Mais..." no fim do post, a segunda.



Abaixo a segunda parte:

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