quinta-feira, 31 de julho de 2008

Fundo Amazônia terá potencial para captar mais de US$ 21 bilhões até 2021

O Fundo Amazônia, que captará recursos para ações de combate ao desmatamento e de preservação da floresta, tem potencial para receber mais de US$ 21 bilhões até 2021, segundo estimativa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O banco será o gestor do fundo, que será criado nesta sexta-feira, por meio de decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o primeiro ano de operação, o fundo terá um limite de captação de US$ 1 bilhão. "Esses US$ 21 bilhões estão calculados baseados no limite potencial, e não na expectativa de doações que o órgão poderá ter", disse o chefe do departamento de meio ambiente do BNDES, Eduardo Bandeira de Mello.

O primeiro aporte está previsto para setembro, e deverá vir do governo da Noruega. O executivo do BNDES não confirmou o valor, mas fala-se em algo em torno de US$ 100 milhões.

Existe uma limitação de recursos que o fundo poderá agregar, a partir de uma média do desmatamento dos últimos dez anos e as emissões de carbono geradas a partir da devastação. Essa média será atestada pelo CTFA (Comitê Técnico do Fundo Amazônia). À medida em que o desmatamento cair, o fundo poderá ampliar esse teto de captação.

O fundo apoiará projetos voltados para atividades alternativas de combate ao desmatamento, à proteção de unidades de conservação, projetos de desenvolvimento científico e tecnológico para proteção da floresta, e projetos de desenvolvimento institucional ligados à floresta.

A aprovação dos projetos ficará a cargo do BNDES, apoiado na orientação de um comitê formado por membros do governo federal (Ministério do Meio Ambiente e Secretaria de Assuntos Estratégicos), governos estaduais que têm áreas da floresta e órgãos da sociedade civil, como ONGs e confederações.

"O trâmite de aprovação dos projetos obedecerá aos critérios normais do banco. Isso dá segurança a quem coloca os recursos. Eles entrarão na rotina do banco", afirmou Bandeira de Mello. Ele explicou que o o banco disponibilizará os dados sobre o fundo e seus projetos de forma periódica, na internet.

Bandeira de Mello disse que não haverá nenhum tipo de incentivo ou compensação a quem doar para o fundo, seja por meio de abonos fiscais ou pela concessão de crédito de carbono. Poderão fazer doações governos ou empresas de qualquer parte do mundo. Bandeira de Mello garantiu que os doadores não terão qualquer influência sobre as decisões do fundo, que não será contabilizado no orçamento do banco.

Lula assinará o decreto na sede do BNDES, no Rio, onde passará o dia. Antes, terá encontro com intelectuais no mesmo local. À tarde, estará na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), onde vai inaugurar um pólo de virologia e lançara a 17ª semana mundial de amamentação. À noite, Lula participa da posse do poeta Crispiniano Neto como imortal da Associação Brasileira de Literatura de Cordel.


Cirilo Junior
Folha Online, 31/07/08

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SOS Mata Atlântica lança serviço e capta recursos via SMS

A Fundação SOS Mata Atlântica lança na próxima segunda-feira, 4 de agosto, um serviço de notícias via SMS, em parceria com a Atope – empresa de soluções móveis do grupo Ouvi.

Os interessados poderão se cadastrar enviando de seu celular uma mensagem de texto (SMS) com a palavra SOS para o número 49820, passando a pagar R$ 0,31 (mais impostos) por dia para receber uma mensagem com dicas e informações a respeito da Mata Atlântica e sobre sustentabilidade.

Parte do valor será revertida para projetos e ações da entidade. Os usuários de celular também poderão fazer downloads de wallpapers e se informar sobre novidades da fundação no portal wap.sosma.org.br. Além do serviço via SMS, a SOS Mata Atlântica também acaba de colocar no ar o blog www.sosma.org.br/blog e um sistema de mobilização no portal www.sosma.org.br, ambos desenvolvidos pela Dialeto.


Portal da Propaganda, 30/07/08

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Abrale e Abrasta promovem concurso

As ONGs Abrale e Abrasta estão promovendo o concurso cultural "Retratos da coragem", com o intuito de conscientizar a sociedade para as doenças onco-hematológicas por meio da arte.

As inscrições, que vão de 4 de agosto até 9 de setembro, poderão ser feitas pelo www.abrale.org.br, pelo concursodefotografia@abrale.org.br ou pela Caixa Postal nº. 11058, CEP 05422-970.

Fotógrafos profissionais e amadores poderão participar com imagens que representem atos corajosos. As fotos pré-selecionadas e vencedoras farão parte de uma exposição fixa em 2008 e outras itinerantes em 2009, além de ilustrar a agenda e o calendário da Abrale.


Portal da Propaganda, 30/07/08

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Autora de "Harry Potter" doa livro para caridade

Autora inglesa J.K Rowling doou livro de contos para instituição de caridade
Foto Brian Snyder/Reuters


Uma coleção de contos de fadas escritos por J.K. Rowling será publicada em benefício de uma organização para ajuda de crianças. Ela, que completa 43 anos nesta quinta (31), é a criadora da saga do bruxinho Harry Potter.

O livro "Os Contos de Beedle, o Bardo" ("The Tales of Beedle the Bard"), escrito e ilustrado por Rowling, será publicado no dia 4 de dezembro, anunciou a Children's High Level Group (CHLG), a organização criada por Rowling e a parlamentar Emma Nicholson.

A obra original, um manuscrito nunca publicado, foi doado por Rowling para um leilão em benefício dessa organização que ajuda as crianças na Europa. Rowling é a escritora de maior sucesso de todos os tempos, com uma fortuna calculada em mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 1,56 bilhão).

A decisão de publicar o livro é resultado de um acordo exclusivo entre as editoras Bloomsbury e Scholastic, que publicam a saga do bruxinho, e a Amazon. Todo o dinheiro arrecadado pela venda dos contos, que devem alcançar US$ 8 milhões (cerca de R$ 12,53 milhões), será entregue à organização de caridade.

A coleção é composta de cinco histórias que o diretor da Escola de Magia de Hogwarts, Albus Dumbledore, deu à amiga de Harry, Hermione Granger. Um deles aparece no sétimo volume da série de Harry Potter, mas os demais são inéditos.


Folha Online, 31/07/08

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Fraude no sistema de transplantes deve reduzir doações, afirma associação

Prisão do médico Joaquim Ribeiro Filho, acusado de manipular a lista de transplantes de fígado no Rio
Foto Bruno Gonzalez/Agência Estado


O presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), Valter Garcia, afirma que a suposta fraude no Sistema Nacional de Transplantes deve reduzir o número de doações pela metade.

Na quarta-feira (30), o médico Joaquim Ribeiro Filho, professor da UFRJ e ex-chefe da Rio Transplantes (hoje Central Estadual de Transplantes), foi preso na chamada Operação Fura-Fila da Polícia Federal sob a acusação de manipular a lista de transplantes de fígado no Rio e de desviar órgãos para fazer cirurgias em clínicas particulares, ao custo de até R$ 250 mil cada uma.

Em entrevista concedida nesta quinta ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, o presidente da ABTO disse que a associação tinha dúvidas quanto ao respeito à seqüência da fila do sistema de transplantes, mas que considerava difícil ocorrer fraudes. Garcia afirma que a lista de candidatos a um órgão é feita por meio de software e segue rigorosamente os critérios de classificação.

Segundo ele, o sistema é "muito bom", porque mais de 90% dos transplantes são feitos em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). "O sistema hoje é baseado na gravidade que se encontra o paciente, não no tempo de espera" diz.

Investigação
De acordo com as investigações da PF e a denúncia do Ministério Público Federal, Ribeiro Filho, que era credenciado ao sistema nacional de transplantes, colocava na frente de pessoas que estavam no topo da lista de doações pacientes que pagavam a ele taxas que variavam entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. Ele e outros quatro médicos suspeitos de participar do esquema foram denunciados à Justiça por peculato --apropriação ilegal de recursos.

A advogada de Ribeiro Filho negou o envolvimento do médico no esquema e afirmou que ele é vítima de perseguição por denunciar suposta precariedade do sistema de saúde do Rio. "O doutor Joaquim é um médico muito experiente, um dos mais reputados na área de transplante, mas é muito combativo. Ele vem denunciado a precariedade da saúde no Rio e, com isso, angariando inimigos", afirmou a advogada Simone Kamenetz.

Transplantes
Após a operação, o Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que determinou a concentração de todos os transplantes de fígado do Estado do Rio no Hospital Geral de Bonsucesso (zona norte do Rio).

Em 2007, o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou 15.857 transplantes de órgãos, sendo deles 971 de fígado.


Folha Online, 31/07/08

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Seminário gratuito aborda e-commerce em pequenas e médias empresas

Ciclo de seminários sobre comércio eletrônico será oferecido gratuitamente para micros, pequenas e médias empresas em agosto e setembro

A 5ª edição do ciclo de seminários “Comércio Eletrônico para micro, pequena e média empresa” promete detalhar o usp do comércio eletrônico em seis capitais brasileiras, nos meses de agosto e setembro.

As apresentações mostrarão como é possível e barato transformar os negócios tradicionais em digitais com a utilização adequada da tecnologia.

Os participantes irão receber um Kit de Inclusão Digital, com uma oferta integrada para a inclusão das micro, pequenas e médias empresas participantes do evento.

O evento acontecerá nas cidades de Salvador (05/08), Vitória (07/08), Londrina (12/08), Florianópolis (21/08), Curitiba (04/09), Campinas (16/09), Porto Alegre (07/10) e Brasília (23/10).

Os interessados podem se inscrever ou obter mais informações no site do evento.


IDG Now!, 30/07/08

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Lucro do petróleo pode espalhar Ceus e Cieps por todo o país

Piscina do Ceu Casa Blanca, na Vila das Belezas. A vizinhança pensava: "É tudo tão bonito, não deve ser para nós"
Foto Ed Viggiani / Valor


Ainda não se sabe quanto de petróleo a Petrobras descobriu sob uma camada de sal a 280 quilômetros da costa brasileira no Atlântico Sul. Também não se sabe se haverá mudanças na legislação para adaptá-la à prodigalidade com que a natureza retribui o esforço de técnicos e pesquisadores da estatal. Muito se vai discutir também sobre se é justo a lei de royalties permitir, entre 5.500 municípios, que apenas nove deles, no Rio de Janeiro, fiquem com 62% da distribuição nacional da regalia. Começa, entretanto, a criar-se um consenso em torno do que deve ser feito com o resultado da exploração dessas ultragenerosas reservas.

O dinheiro irá preferencialmente para a educação pública fundamental, num projeto que associará experiências realizadas em países de culturas e sistemas econômicos distintos, como Noruega, Coréia do Sul, Cuba, com duas iniciativas autenticamente nacionais: os Cieps de Leonel Brizola, no Estado do Rio de Janeiro, e os Ceus de Marta Suplicy, na cidade de São Paulo. Não há uma diretriz definida para a utilização desses recursos, mas os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Cristovam Buarque (PDT-DF) já apresentaram projeto de lei em que propõem a criação de um Fundo Nacional do Petróleo para Formação de Poupança e Desenvolvimento da Educação Básica (Funped). O fundo seria formado com 59,3% do lucro com o aproveitamento das recentes descobertas e, desses recursos, 60% seriam destinados à educação básica. O nome e a sigla do Funped serão obviamente mudados por falta de apelo de marketing e por causa do "n" antes do "p", erro de ortografia inconcebível num projeto educacional, mesmo se tratando de sigla. Mas o projeto está na comissão de infra-estrutura do Senado para o recebimento de emendas e se espera que, em torno dele, se harmonizem todas as tendências da Casa.

Na execução do programa, a inspiração do horário integral, com alunos permanecendo na escola o dia inteiro, virá dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps). Dos Centros Educacionais Unificados (Ceus) virá o conceito de escola como pólo de convivência comunitária em regiões urbanas tão carentes de educação de qualidade quanto de entretenimento e atividades culturais e esportivas.

Confirmadas as previsões de que do fundo do mar jorrará dinheiro para investir no encaminhamento de soluções para as carências nacionais - educação básica em primeiro plano, sem descuidar do ensino médio e superior, com ênfase na inovação e na tecnologia de ponta -, desaparecerão os motivos da principal crítica que Cieps e Ceus atraem até hoje: seu alto custo e a falta de recursos para implementá-los. A educação, como o petróleo, é um ativo que se valoriza à medida que se torna mais necessário e o benefício do seu alto retorno justifica e recompensa o investimento para desenvolvê-lo.

A candidata à prefeitura do Rio, Jandira Feghali (PCdoB), segunda nas pesquisas, diz que o projeto pedagógico dos Cieps "foi perdido no tempo" e promete revivê-lo, abrir as escolas nos fins de semana para integração comunitária, restabelecer a permanente assistência à saúde, dotar a rede municipal de equipamentos de cultura, esporte e inclusão digital. "Nada em educação é tão caro quanto o alto custo de não fazer nada", diz.

Com maior ou menor entusiasmo, outros candidatos a prefeito do Rio elogiam os Cieps. Fernando Gabeira (PV-PSDB), diz que, por enquanto, está "na fase do pré-pré-sal", ou seja, ainda não há dinheiro para grandes vôos, mas pretende ampliar em uma hora os turnos atuais de apenas quatro horas diárias na maioria das escolas municipais e também a duração do ano letivo, de 175 para 200 dias, equiparando-as às escolas particulares (o calendário da secretaria da Educação indica que essa equiparação já existe).

A deputada federal Solange Amaral (DEM) diz que a educação em horário integral "é uma absoluta necessidade" a ser satisfeita até o fim do mandato, se eleita, "em estruturas que não precisam, necessariamente, ser as dos Cieps". O senador Marcelo Crivella (PRB), líder nas pesquisas, diz que o turno único será implantado primeiramente nas áreas mais carentes das zonas Norte e Oeste para, até 2012, chegar a todo o município. É o que pode ser feito no momento com recursos próprios (R$ 1,5 bilhão), royalties (R$ 135 milhões) e os atuais R$ 800 milhões do Fundeb. "Mas todo dinheiro novo será bem-vindo", diz Crivella.

Dos 515 Cieps que Brizola construiu, 316 ainda são administrados pela secretaria estadual de Educação e o restante foi municipalizado - na capital, são 101 os que passaram à prefeitura; o Estado conserva 31. Os candidatos afirmam que não há necessidade de mais Cieps e nenhum deles, em período eleitoral, parece disposto a condená-los. Sincera ou não, essa unanimidade é explorada por outro candidato, o deputado estadual Paulo Ramos (PDT): "Brizola fez tanto pela educação que, 25 anos depois, os brizolões ainda atendem às necessidades do Rio."

O dinheiro da exploração dos novos campos de petróleo só entrará para os cofres do governo federal por volta de 2012. A disputa pela repartição desses ainda incalculáveis recursos, porém, já começou e desde agora se poderá visitar o que resta dos Cieps no Estado do Rio e acompanhar o evolução dos Ceus de São Paulo, para avaliar se a experiência tem realmente potencial para transformar o Brasil no primeiro país de economia emergente a usar a riqueza do petróleo na melhora das condições de vida de sua população.

O Valor visitou Cieps e Ceus e constatou que autoridades da área, professores e outros profissionais da educação, ex-alunos e moradores das comunidades que os hospedam consideram válida a experiência, com plenas condições de servir de modelo à educação básica brasileira no futuro. Existindo dinheiro para sustentá-los, gostariam todos de ver Ceus e Cieps espalhados pelo país - feitas as correções que o passar do tempo e as diferenças regionais impõem. "Unidade não significa uniformidade. A unidade pressupõe multiplicidade. A um centralismo estéril e odioso se opõem as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação crescente da escola aos interesses e às exigências regionais", já proclamava o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que Anísio Teixeira assinou em 1932, na companhia de educadores como Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto e Roquette Pinto e de intelectuais como Júlio de Mesquita Filho e Cecília Meirelles.


Paulo Totti, do Rio e São Paulo
Valor Online, 31/07/08

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Ativismo societário ganha o manual de um novo capitalismo

"Os Novos Capitalistas" - Stephen Davis, Jon Lukomnik, David Pitt-Watson. Trad. de Afonso Celso C. Serra. Campus/Elsevier, 303 págs., R$ 79,90

Ah, a revolução. Quantos livros ilegíveis não lemos em nome dela? Quantos anos de nossas vidas esperando por ela, noites em claro em botecos de quinta categoria planejando os próximos passos e... nada. Só a ressaca. Talvez não seja tão drástico como na canção do compositor cearense, talvez não sejamos os mesmos e nem vivamos como os nossos pais, pode ser que até tenhamos conseguido mudar alguma coisa, mas o fato é que a revolução não veio nos resgatar em seu cavalo branco.

Mas há esperança. O grande líder revolucionário está a caminho, não pela via campesina, pés descalços, camisa de tecido grosseiro com mangas arregaçadas. Ele vem por uma moderníssima autopista, dirigindo uma Ferrari (vermelha, como não?), charuto cubano (é a revolução!), terno Armani, Rolex e o livro azul (de lucro, de blue chip): "Os Novos Capitalistas - A influência dos Investidores-cidadãos nas Decisões das Empresas".

Os três autores, arautos da nova era de distribuição de riqueza, são Stephen Davis, Jon Lukomnik e David Pitt-Watson, todos com currículos cheios de feitos notáveis em ativismo pró-governança empresarial e direitos de acionistas. A boa nova que eles trazem não é tão romântica como a redenção das classes trabalhadoras sonhada pelos estudantes nas ruas de Paris naquele ano mítico, não segue nem de longe os preceitos do Manifesto Comunista e não sobe as encostas de Sierra Maestra. Mesmo assim, o trio chega a soar tão grandiloqüente quanto qualquer obra do realismo soviético.

A tese sustenta-se na constatação de que não há mais "donos" de empresas abertas, chamadas "públicas", na acepção anglo-americana - e o livro tenta ser o mais global, mas o foco está, obviamente, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Acontece que essas empresas se tornaram públicas de fato muito recentemente, depois da era dos "barões ladrões" e de um período em que o poder estava nas mãos de uma elite de capitalistas. A revolução é esta: o "capitalismo sem proprietários", ou melhor, com milhões de proprietários, trabalhadores do mundo unidos, por meio de suas poupanças, investidas em fundos de pensão e de investimento, "acionistas majoritários das empresas mais poderosas do mundo". De acordo com uma das muitas citações do livro (são dez páginas delas, o que torna a leitura um tanto truncada), investidores institucionais detinham 69,4% das mil maiores empresas abertas dos Estados Unidos em 2004, comparado a 61,4% em 2000. Na Inglaterra, a participação do "povo" saiu de 25% em 1963 para mais de 70% das ações das empresas atualmente.

Então, o povo chegará ao poder não pelas armas, mas pelas cotas dos fundos. Na verdade, o povo já chegou ao poder nos países desenvolvidos, o que confirmaria a previsão da dupla Marx-Engels sobre a vitória do comunismo em países mais desenvolvidos, no estágio mais avançado do capitalismo. Resta agora o mundo todo seguir o modelo - sem nenhuma alusão a Leon Trotsky. Ou talvez isso até esteja nas entrelinhas.

Os autores são mais claros nas referências furtivas aos autores do Manifesto Comunista e não tiveram pudor em redigir, para que a alusão ficasse completa, um "Manifesto Capitalista" - composto de dez curtos mandamentos, como se para provar que não há limites no quesito emulações pretensiosas. "Seja lucrativo - crie valor" é o primeiro. Os outros também não trazem nada que você não tenha visto num manual de gestão.

Os trabalhadores chegaram ao topo das companhias, agora é a hora de assumir as responsabilidades. Os autores passam, então, a examinar todos os animais do "ecossistema capitalista" e a discorrer sobre os elos fracos da cadeia, os problemas que impedem a ascensão plena dos trabalhadores: os conflitos de interesse na gestão de recursos, os conselhos de administração ausentes, os analistas de investimentos alinhados aos interesses do banco de investimento, os auditores só supostamente independentes, normas contábeis "ultrapassadas", a "timidez" da grande imprensa na cobertura das empresas, entre outros empecilhos.

No levantamento dessas fragilidades, o livro faz um apanhado dos abusos perpetrados contra os acionistas minoritários nas últimas décadas, o que serve para nos lembrar que o escândalo da Enron foi um cataclisma de intensidade similar ou superior ao da quebra de 1929.

Mas isso é história. O livro concentra seus esforços em mapear a expansão do universo da governança depois da grande explosão dos escândalos. E nesse ponto é uma ótima referência sobre o chamado ativismo societário. Para fortalecer o sistema do novo capitalismo, os autores propõem um espelhamento entre a sociedade civil e a "economia civil": eleição de conselheiros, limitação de poderes dos executivos etc. Faz sentido, mas não é garantia de bom funcionamento, mesmo porque as instituições da sociedade civil estão cheias de imperfeições.

O Brasil aparece em quatro citações, duas como referência negativa (ações sem direito a voto e controle concentrado) e duas positivas (Novo Mercado e obrigação dos investidores institucionais de votar e revelar o voto). O fato é que o país ainda é pé de página no assunto, apesar dos avanços recentes. O controle "difuso" é realidade em pouquíssimas empresas, e o ativismo dos proprietários de ação ainda está engatinhando. Ainda assim, não há como os nossos capitalistas continuarem ausentes, porque os fundos globais estão nos portões, soando as trombetas da revolução.


Nelson Niero, de São Paulo
Valor Online, 31/07/08

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