sábado, 18 de abril de 2009

"Há empresas sem noção", afirma Fábio Bibancos em Fórum Econômico

Em ritmo frenético, similar às diversas plenárias do Fórum Econômico no Rio, que aconteceu entre os dias 14 e 16 de abril, Fábio Bibancos, líder da ONG Turma do Bem, disse à Folha que a busca por patrocínios gera ansiedade e frustrações. E completou: "Há empresas sem noção".

A fala indignada do Empreendedor Social 2006 diz respeito aos empresários que apoiam projetos sociais interessados em alavancar suas vendas. Mas Fábio, sem papas na língua, desabafou: "Essa conta matemática que as empresas querem é para economistas. Não dá para colocar na planilha o resultado de 12 mil crianças sorrindo!".

A Turma do Bem foi fundada em 2002 e reúne atualmente 6.000 dentistas para atender gratuitamente em seus consultórios crianças de baixa renda com problemas graves de saúde bucal. Juntos, eles atendem mais de 12 mil jovens por ano.

Leia a entrevista na íntegra.

FOLHA - Como a crise impactou a Turma do Bem? Houve retração de patrocínios, doações e repasses de recursos?
FÁBIO BIBANCOS - Não, os dois financiadores se mantiveram (Energias de Portugal e Trident). Mas eu cresci monstruosamente [hoje, 6.000 dentistas atendem 12 mil jovens por ano; quando ganhou o Prêmio Empreendedor Social 2006, ele tinha 600 dentistas e 1.150 crianças], fui para Argentina [nove dentistas], Venezuela [seis] e Portugal [16], e estou entrando na área ambiental. Então, vou ter que gerar mais recursos do que eu tinha previsto, até porque, em outubro, trago para o Brasil, para capacitação, dentistas de Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru.

FOLHA - E como você vai captar com esse cenário de crise?
FÁBIO - Estou tendo que ser mais inventivo, porque, neste ano, o "não" está justificado. Antes, tinha um "não" enrolado. Agora, estou pegando o iPod usado de 40 celebridades (Marcelo Anthony, Naomi Campbell, Nelsinho Motta, Zé Pedro, Zélia Duncan, entre outras), com a trilha sonora delas, e vou leiloar na internet. Minha expectativa é arrecadar no mínimo R$ 50 mil. Estamos também produzindo um longa-metragem de educação para saúde com os irmãos Caio e Fabiano Gullane e um documentário com Márcio Werneck; um hit musical e um hino, com o Guilherme Arantes; e finalizando o maior cofre do mundo na avenida Paulista ou no shopping Morumbi, projetado pelo Marcelo Rosenbaum [arquiteto], para arrecadar fundos para várias causas sociais. Tenho feito isso, juntado pessoas do bem, "almas penadas" do bem. Mas será o grande ano da Turma do Bem! Ah, e estamos certificando a pasta do Serra [Governador de São Paulo], uma política pública que era o sonho do sonho.

FOLHA - Então essa é a receita para sobreviver à crise?
FÁBIO - Estou também reprogramando a minha marca, que tem um mapa [do Brasil], mas eu já saí do país! Então o Glauco Diógenes, ilustrador, e a agência Alexandria vão me ajudar a lançar a nova marca [uma mitocôndria que mistura o verde e o laranja, a esperança e a criatividade de mudar o mundo] em uma série de produtos da higiene bucal. Todos os produtos serão pensados nas cadeias deles. Quem consumir esses produtos vai fazer o bem.

FOLHA - Como você está entrando na área ambiental?
FÁBIO - Eu tenho um programa social importante, mas, no cenário atual, as questões ambientais estão próximas. Então a Turma do Bem vai provar que uma rede sólida é capaz de ter posturas ambientais e sociais tão importantes quanto. Nós já provamos que um dentista, num pequeno espaço, a clínica, consegue fazer uma ação muito impactante para uma criança. Agora estou pegando o meu exército de dentistas e fazendo eles terem uma postura ambiental: o que consumir, como, onde jogar o lixo. No microcosmo dele, o consultório, vai ser uma experiência de ação ambiental individual e ação social individual. Montamos uma cartilha com o Fábio Feldman, que o dentista aprende a ser um dentista ambientalmente correto. O impacto disso é replicar esse modelo para outras categorias profissionais.

FOLHA - Qual é o seu orçamento hoje?
FÁBIO - R$ 600 mil ano, e hoje uma criança custa só R$ 20! Eu baixei o custo. Uma decisão deste ano foi montar um portfólio de adoção de crianças, já que eu tenho um mercado que quer isso dentro do meu consultório. Tenho muitos pacientes que podem dar R$ 100 e adotar cinco crianças por ano.

FOLHA - Aqui no fórum, que oportunidades se abrem?
FÁBIO - Essa mendigagem internacional cansa. Gera ansiedade, gera frustrações. E há empresas sem noção. Tenho exemplo de uma empresa que, no final de um processo de patrocínio, me perguntou: "Quanto a Turma do Bem vai me gerar em vendas?" Isso causou um desconforto imenso na organização. Essa conta matemática que as empresas querem é para economistas. Não dá para colocar na planilha o resultado de 12 mil crianças sorrindo!

FOLHA - Qual é a saída, então?
FÁBIO - Esse lucro e esse consumo geraram um monstro. Ou a gente vai rever ou a gente vai rever. Não tem como. Não é uma visão otimista, é uma visão prática. As empresas vão ter que fazer responsabilidade social para ter novos consumidores.

FOLHA - Mas vocês serão cobrados a ter sustentabilidade. É possível?
FÁBIO - É, mas os donos do lucro, as empresas, vão fazer o quê? Elas têm de dar, dividir o pão. Cada empresa deveria ser obrigada a investir um percentual dos lucros em ONGs do seu setor e cobrar o resultado delas. Jogar o peso da sustentabilidade para as organizações está errado. Eu queria ter de parar para pensar em como eu chego num modelo melhor, em como eu aumento o número de beneficiários.

FOLHA - Que parcerias você tem feito com outros empreendedores sociais?
FÁBIO - Vai sair o barco de dentistas da Amazônia, com o Eugenio [do Projeto Saúde & Alegria]. Compro e atendo as meninas da Raquel [da Associação Lua Nova] e da Ivonne [do Projeto Uerê]. Estamos começando um projeto com o Valdir [da Associação Viva e Deixe Deixe Viver]. Tem uma lista enorme de organizações.

FOLHA - O que você ganhou entrando para a Rede Mundial de Empreendedores Sociais?
FÁBIO - Experiência, com os empreendedores sociais. Nos encontros, você vê que a ideia dos empreendedores se aplica a você ou a sua organização. Foi assim com o livro, que foi feito primeiro pela Marcela Benitez [da organização argentina Responde (Recuperação Econômica e Social de Povoados Rurais e Nacionais sob Risco de Desaparecimento) ]. Quando eu fui ao primeiro Fórum Econômico da América Latina, em 2007, no Chile, ganhei um software [sales force] personalizado, que aproxima o dentista da criança. Hoje, o que eu levava meia hora fazendo, faço em um minuto [encontrar o dentista mais próximo do beneficiário]. Também ganhei uma consultoria internacional. E ser referendado pela Schwab é o melhor. Dá credibilidade, abre portas.

Acesse www2.uol.com.br/empreendedorsocial/2006-fabio.shtml e saiba mais sobre a trajetória de Fábio Bibancos, líder da Turma do Bem


Cássio Aoqui
Patrícia Trudes da Veiga
Folha Online, 18/04/09

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É preciso reconhecer as ONGs sérias, diz líder do Saúde & Alegria

Brincalhão quando visita os ribeirinhos atendidos pelo projeto que lidera, o Saúde & Alegria, mas sério quando fala em desmatamento e leis que regulam o terceiro setor, Eugenio Scannavinno Netto foi entrevistado pela Folha durante o Fórum Econômico para a América Latina, que terminou no dia 16 de abril, no Rio.

Frequentador dessas reuniões desde 2006, um ano depois de consagrar-se Empreendedor Social do Ano pela Folha de S.Paulo e pela Fundação Schwab, o médico também falou do impacto social que provoca na Amazônia paraense, local onde atua desde 1985.

O Projeto Saúde & Alegria é uma organização sem fins lucrativos que estimula a cidadania de mais de 120 comunidades extrativistas de Santarém, no Pará. Hoje, a entidade já soma mais de 30 mil beneficiários diretos.

Confira a entrevista na íntegra.

FOLHA - Como a crise econômica mundial impactou a Amazônia?
EUGENIO SCANNAVINO NETTO - É ruim falar isso, mas positivamente, porque diminuiu o desmatamento, em função do preço das commodities.

FOLHA - E no Saúde & Alegria?
EUGENIO - De imediato, perdemos 30% do orçamento porque um de nossos patrocinadores, uma seguradora, perdeu dinheiro. Mas o que está acontecendo é que os patrocinadores, ao renovarem os contratos, e com menos verbas para investir, estão mais seletivos. E hoje ONGs como a nossa, consolidadas, estão tendo mais oferta do que antes da crise. Algumas fundações internacionais eliminaram 80% do seu portifólio de projetos, mas não foi o caso da nossa.

FOLHA - Os contratos feitos com as ONGs são por quanto tempo?
EUGENIO - Eles são de três anos, mas com renovação anual. São perversos. A gente nunca sabe se no próximo ano o orçamento será o mesmo, porque os doadores se dão o direito de definir quando e quanto eles dão.

FOLHA - E como você administrou esses 30% a menos?
EUGENIO - Suspendi projetos, demiti pessoas. Como a crise foi no final do ano, alguns patrocinadores não renovaram os contratos com nenhuma ONG. Esperaram o cenário clarear. Agora, neste final de trimestre, estão nos reconvocando para renovar os contratos.

FOLHA - Qual é o desafio hoje das ONGs?
EUGENIO - Ter escala, para ser tornar uma política pública. Com a crise, 80% das ONGs menores foram afetadas: algumas perderam patrocínio, algumas fecharam. Muitos beneficiários foram prejudicados.

FOLHA - O empreendedor social tem um novo papel em momentos de crise como esta?
EUGENIO - Todo mundo fala, hoje, em novos paradigmas. Sustentabilidade se tornou a palavra mais vazia que existe. Mas, na hora de buscar as soluções, quem é que apresenta? A sociedade civil. Nosso trabalho, hoje, é influenciar o modelo atual de políticas sociais.

FOLHA - A legislação do terceiro setor precisa ser revista?
EUGENIO - Na verdade, ela é uma tentativa de imobilizar o terceiro setor. Em cima da generalização, eles amarram. Tem muita ONG corrupta, sim, mas principalmente as que são ligadas aos políticos. Tem que aplicar as regras da União para fiscalizar as fundações. Tem, sim, de regular a atividade do terceiro setor, para que ONGs falsas não existam. Mas tem de ter um reconhecimento das ONGs sérias.

FOLHA - Os patrocinadores fiscalizam sistematicamente o Saúde & Alegria?
EUGENIO - Tenho 13 financiadores, entre nacionais e internacionais, e cada um faz pelo menos uma auditoria por ano. Ou seja, tenho um auditor, permanentemente, sentado no administrativo: sou avaliado pela eficiência nos gastos, pelo impacto. As ONGs serias são muito mais transparentes e controladas que qualquer prefeitura. E nosso trabalho custa 10% do que o governo gasta para fazer um serviço sete vezes mais eficiente.

FOLHA - Que parcerias você tem hoje com outros empreendedores?
EUGENIO - Tenho uma de energia solar, com o Fábio Rosa, do Ideaas [Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas e da Auto-Sustentabilidade]; outra de permacultura, com o IPA [Instituto de Permacultura da Amazônia], e agora estamos finalizando o barco dos dentistas, com o Fábio Bibancos, da Turma do Bem.

FOLHA - O príncipe Charles visitou o Saúde & Alegria e viajou no barco Abaré com vocês. O que o projeto teve em troca, além de visibilidade na imprensa?
EUGENIO - Nem isso! A imprensa ficou mais interessada quando ele dançou carimbó com a governadora do que com o barco-hospital. Mas ganhamos prestígio com os patrocinadores, com as autoridades. Em função disso, outro [príncipe] deve vir.

FOLHA - E quais foram as conquistas no último ano?
EUGENIO - Estamos com indicadores [de impacto social] muito bons: 100% de saneamento básico, 100% de pré-natal, 98% de cobertura vacinal, demanda cirúrgica quase zero, isto é, operamos todas as cataratas, todos os baixo ventres. A mortalidade infantil está em torno de 18 por 1.000, quase padrão da Europa Oriental, bem melhor do que a do Brasil e muito melhor do que a da Amazônia. Atingimos as Metas do Milênio há cinco anos. Estamos com um IDH muito bom e finalizando um cálculo de carbono evitado, porque a nossa área não tem desmatamento, não tem fogo. E, além disso, estamos calculando o IFH (Índice de Felicidade Humana). Nós já estamos muito acima do padrão mundial.

Acesse www2.uol.com.br/empreendedorsocial/2005-eugenio.shtml e saiba mais sobre a trajetória de Eugenio Scannavino Netto, líder do Saúde & Alegria


Cássio Aoqui
Patrícia Trudes da Veiga
Folha Online, 18/04/09

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Google TV Ads - o Google dos 30 segundos

Com um video-demonstração de pouco mais de 3 minutos, o Google TV Ads te ensina, passo-a-passo, como fazer seu plano de mídia, definir seu orçamento, produzir e veicular seu comercial de TV. Simples assim.



Tudo começa com um grande botão verde “Create TV Campaign”. No final da demonstração, uma locução feliz diz: “That’s it. You have just created your first television campaign with Google TV Ads!”.

Essa tentativa de simplificar e fazer campanhas de TV via web já tinha sido lançada antes pela empresa SpotRunner, mas a verdade é que nunca deslanchou, nem ameaçou as agências de propaganda. É claro que com a marca ‘Google’ qualquer coisa toma outra proporção e assusta muito mais. E aí? Será que o Google vai invadir nossa praia?


Marcelo Kertész
Update Or Die, 16/04/09

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