terça-feira, 25 de setembro de 2007

Esquema similar ao das "sanguessugas" foi montado na inclusão digital

Luiz Queiroz
Publicado pelo
Convergência Digital em 24/09/07

Os auditores do TCU comprovaram que há fortes indícios que corroboram as denúncias feitas pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), durante a realização da CPI das Sanguessugas no Congresso, de que o esquema de compra superfaturada de ambulâncias no Ministério da Saúde, também tinha um paralelo aplicado na compra de unidades móveis de inclusão digital pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia, na Finep - Financiadora de Estudos e Projetos, na Caixa Econômica Federal e no Ministério das Comunicações.

O esquema não foi investigado pela CPI. O PSB ameaçou processar o deputado carioca, assim como, o ex-secretário de Inclusão Digital do Ministério da Ciência e Tecnologia, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), atualmente deputado federal por Brasília, e integrante da Comissão de Ciência e Tecnologia da Cãmara dos Deputados.

Segundo os auditores do TCU, diversos convênios (números 523.864, 534.051, 527.350 e 525.879) firmados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com os municípios para aquisição de unidades móveis de informática, trouxeram prejuízo aos cofres públicos, uma vez que saiu muito mais caro a compra de veículos do que a instalação dos telecentros, com o mesmo objetivo.

Segundo os auditores, o preço médio pelas proposições dos interessados para implantação de uma versão escola móvel - composta de um micro-ônibus e sete estações de trabalho - situa-se em aproximadamente R$ 280 mil. Já no caso da implantação de unidades fixas, como por exemplo, o aparelhamento de 22 bibliotecas públicas do Distrito Federal, o MCT despendeu aproximadamente R$ 50 mil para abrigar 19 estações de trabalho.

Desperdício
"Conclui-se, por conseguinte que uma unidade móvel sediada em micro-ônibus, com sete estações de trabalho, custa quase seis vezes mais que uma unidade fixa, com 19 estações de trabalho. Todavia, não constaram justificativas que pudessem comprovar que os gastos com as unidades móveis eram mais vantajosos do que a implantação de telecentros fixos", informaram os técnicos do TCU.

O Ministério das Comunicações, por sua vez, assinou o convênio n.º 522.242, com a Fundação Assis Gurgacz, sem apresentar uma análise fundamentada sobre a economicidade da utilização de unidades móveis estimadas, cada uma, em R$ 253,6 mil. Esse convênio gerou um gasto de R$ 1,014 milhão.

"Mesmo que se argumentasse que, de fato, as unidades móveis seriam necessárias para atender a população do interior e de zonas rurais, ainda assim, seria necessário demonstrar que o quantitativo solicitado foi adequado. Não consta do processo o quantitativo de pessoas das áreas rurais a serem atendidas, nem a correlação desse quantitativo com a necessidade de adquirir quatro unidades móveis", esclarecem os auditores.

Os órgãos também não tiveram a preocupação em um número expressivo dos convênios de avaliar, informa ainda o relatório, a qualificação técnica e as condições (administrativa, técnica, operacional, experiência, pessoal qualificado etc.) das entidades convenentes para consecução dos projetos.

Licitações
Alem de inexplicáveis do posto de vista do custo/benefício, a compra dessas unidades móveis e outras celebrações de contratos aparentaram suspeitas de fraudes para os auditores do TCU. "A consolidação dos diversos achados constantes dos relatórios de auditoria das unidades regionais apontam para a ocorrência recorrente de vícios nos procedimentos de licitação e(ou) contratação direta promovidos pelos órgãos/entidades beneficiários dos recursos públicos federais repassados no âmbito dos programas de inclusão digital", informam os auditores.

Por conta disso, eles constataram que em diversos casos, houve ocorrência de pagamentos por serviços/bens a preços, acima dos praticados no mercado, em 48% dos convênios auditados.

Apesar de todas as normas previstas pela Secretaria do Tesouro Naciona, TCU e da Lei de Licitações, gestores públicos passaram por cima das mesmas para beneficiarem conveniados.

"Menciona-se, a título ilustrativo, o caso do convênio firmado entre o Ministério das Comunicações e a Fundação Assis Gurgacz (Convênio Siafi n.º 522.242), por intermédio do qual foram realizadas licitações na modalidade convite em valores muito superiores ao permitido para essa modalidade. Foram comprados por "carta-convite" quatro ônibus usados, por R$ 1.008.000,00, quando o limite previsto na Lei n.º 8.666/93 para tal modalidade é de R$ 80.000,00".

Para os auditores, isso demonstra "indícios de procedimentos fraudulentos na condução do processo licitatório, que indicam a possibilidade de licitação montada".

No Paraná, por exemplo, os ônibus usados no âmbito do convênio já eram de propriedade de outras empresas do mesmo grupo da Fundação Assis Gurgacz (a Eucatur e a Viação Nova Integração).

"A equipe do Paraná verificou que o indício de direcionamento da licitação também fica explícito pela descrição dos veículos no edital como ano/modelo 1996 e pelo prazo de entrega oferecido pela vencedora do processo, 10 dias, prazo impossível, em condições normais, em virtude das adaptações exigidas para transformar um ônibus urbano usado em veículo-laboratório de informática".

Outro exemplo característico é do termo de parceria firmado entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a ONG "Sercap", no qual se constatou a realização de licitação na modalidade convite, quando a modalidade adequada seria a tomada de preços.

Em Pernambuco, a ONG considerou como o valor máximo (R$ 300.000,00) para efeito de convite (modalidade que admite publicidade menos abrangente), quando a forma de contratação correta seria a Tomada de Preços. Quantia quase quatro vezes maior que a prevista pela Lei n.º 8.666/93, que é de R$ 80.000,00.

"Nesse sentido, destaca-se que a equipe de auditoria também apontou a existência de indícios de procedimentos fraudulentos na condução do processo licitatório, que indicam possível ocorrência de direcionamento da licitação ou licitação montada".

Outra inconsistência cronológica se observou, pelo fato de a certidão de regularidade fiscal da empresa vencedora, emitida pela Sefaz/PE, enviada quando da suposta "habilitação", realizada em 20/12/2005, ter data de emissão de 29/12/2005.

Superfaturamento
Numa análise, em 25 convênios firmados entre órgãos estaduais e municipais por intermédio de ONGs e os ministérios, pelo menos dez apontaram "vícios no processo licitatório", o que representa 40% do número total de convênios. Fartos exemplos foram dados pelos auditores do TCU.

"Ainda, não se deve deixar de citar, como casos emblemáticos de contratação direta em desacordo com a legislação, os ocorridos em municípios de Pernambuco que efetuaram contratações, sem licitação, da empresa KM Empreendimentos Ltda para aquisição de unidades móveis de informática".

Os técnicos do TCU evitaram comentar o assunto no relatório, mas este caso, em específico, foi objeto de denúncias do deputado Fernando Gabeira, na CPI das Sanguessugas. O caso não foi investigado pela CPI e Gabeira acabou sofrendo processos do PSB, do atual deputado Rodrigo Rollemberg, que na época das contratações era o secretário de Inclusão Digital do MCT. Rolemberg, inclusive, perdeu o cargo na época em que o escândalo estourou na CPI, pelo ministro Sérgio Rezende.

Para os técnicos do TCU ficou evidenciado que a empresa KM apresentava declaração de exclusividade registrada na junta comercial de Pernambuco com o intuito de firmar os contratos com as prefeituras municipais por inexigibilidade de licitação.

"Entretanto, conforme apontado pela equipe de fiscalização, trata-se, meramente, de declaração da Guararapes Equipamentos Rodoviários Ltda., arquivada na Junta Comercial do Estado de Pernambuco - Jucepe, onde consta como única autorizada a comercializar seus produtos em todo território nacional, distribuidor exclusivo para todo o Brasil".

De acordo com as informações que constam no Relatório de Auditoria, tal exclusividade limita-se aos veículos especiais fabricados pela Guararapes Equipamentos Rodoviários, só que existem no País diversas empresas atuantes neste setor, o que pode ser constatado em consultas a sítios na internet.

"No caso da Prefeitura Municipal de Exú/PE, a equipe propôs audiências, em especial quanto ao beneficiamento da empresa KM Empreendimentos Ltda, mediante autuação de processo de licitação ilicitamente frustrado, com fraude à legislação, e desviado para processo de inexigibilidade de procedimento".

E os auditores concluíram ainda que: "A mesma contratação por inexigibilidade também foi constatada nos convênios firmados com as Prefeituras Municipais de Cabo de Santo Agostinho/PE e Paulista/PE, indicando que, possivelmente, a fraude é sistemática em municípios pernambucanos".

A contratação direta, nestes casos, também, fica agravada pela constatação de que os preços contratados não eram compatíveis com o mercado. No caso da Prefeitura de Paulista, foi apontado o valor de R$ 315,1 mil, acima da média de mercado. Em Cabo de Santo Agostinho, foi calculado um prejuízo de R$ 100,2 mil, e em Exu, de R$ 46, 4 mil.

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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O que ensinam às nossas crianças

Ali Kamel
Publicado pel'
O Globo em 18/09/07

Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático "Nova História Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.

Sobre o que é hoje o capitalismo: "Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários."

Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores." Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador."

Sobre a Revolução Cultural Chinesa: "Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes "politicamente esclerosados". (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: "Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo." As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo."

Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular." Sobre as primeiras medidas de Fidel: "O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%." Essas medidas eram justificadas assim: "Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde."

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA. (...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?"

Sobre os motivos da derrocada da URSS: "É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe média dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas apenas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Se não for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.

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Publicidade gratuita para organizações sem fins lucrativos

Publicado pelo Google Grants

O programa Google Grants oferece apoio a organizações que compartilham da sua filosofia de prestação de serviços à comunidade, e que sejam claramente orientadas a melhorar o mundo em áreas tão diversas como a ciência e a tecnologia, a educação, a saúde pública mundial, o meio ambiente, a defesa dos direitos dos jovens e as artes.

O Google Grants é o único programa de publicidade gratuita destinado a organizações sem fins lucrativos no Brasil que atendam às suas exigências e que sejam certificadas como Organização Não Governamental (ONG) ou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) pelo Ministério da Justiça ou por outra entidade municipal ou estadual competente (conforme o caso), como entidade filantrópica pelo Instituto Nacional de Seguridade Social, ou que sejam registradas como associação ou fundação no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas competente. O Google Grants coloca as vantagens do seu principal produto publicitário, o Google AdWords, à disposição de organizações sem fins lucrativos que busquem informar e engajar simpatizantes utilizando-se do meio eletrônico. O Google Grants já concedeu anúncios Adwords a centenas de organizações sem fins lucrativos qualificadas, cujas missões variam desde a proteção dos animais à alfabetização, da assistência ao menor abandonado à promoção de programas educacionais de combate ao HIV.

Os beneficiários do Google Grants utilizam a publicidade gratuita do AdWords no Google.com.br para fins de conscientização e para aumentar o tráfego de seus sites.

Três de nossos beneficiários atingiram os seguintes resultados:
• A Room to Read, organização de educação infantil no Vietnã, Nepal, Índia e Camboja, atraiu um patrocinador que clicou no seu anúncio do AdWords. O patrocinador doou fundos para ajudar a financiar a educação de 25 meninas nos próximos 10 anos.
• O site de e-commerce US Fund para o UNICEF, o Shop UNICEF, teve um aumento de 43% nas vendas em comparação ao ano anterior.
• A CoachArt, que trabalha por meio de programas de arte e esporte com crianças portadoras de doenças e que correm risco de vida, obteve um aumento de 60% a 70% no seu número de voluntários.

Cada organização que for beneficiada com o Google Grants recebe, pelo menos, 3 meses de publicidade gratuita.

Saiba mais sobre o Google Grants:

Detalhes do programa: quem se qualifica e como se inscrever
FAQ do programa:perguntas mais freqüentes
Google AdWords: diretrizes e dicas para otimizar os resultados do seu anúncio

*A participação no programa Google Grants está sujeita a termos e condições adicionais.

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terça-feira, 18 de setembro de 2007

Governo recua e desiste de premiar alunos do Bolsa Família

Marta Salomon
Publicado pela
Folha de São Paulo em 18/09/07

Pesquisa do governo mostra freqüência alta, mas baixo aproveitamento; secretária diz que professores poderiam ser pressionados a aprovar estudantes

Incentivada por R$ 18 pagos por mês aos pais, a maior freqüência às aulas por pelo menos 10 milhões de alunos não garantiu bom aproveitamento escolar aos beneficiários do Bolsa Família, aponta pesquisa contratada pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O dado, ainda preliminar, revela limites do principal programa social do governo Lula.

Como primeira reação ao problema, ganhou força no governo proposta de premiar os alunos do Bolsa Família que concluíssem o ensino fundamental e o ensino médio. Mas a proposta foi para o limbo. "Pisamos no freio", informou Rosani Cunha, secretária do ministério responsável pela bolsa.

O incentivo financeiro aos alunos aprovados -de R$ 400 para os que concluíssem a oitava série e de R$ 800 para os que terminassem o ensino médio- custaria R$ 300 milhões ao ano, de acordo com a última versão da proposta. Mas o obstáculo não foi financeiro, conta Rosani: "Havia o risco de os professores serem pressionados a aprovar os alunos".

Em Samambaia, a 50 quilômetros do Plano Piloto, em Brasília, mais da metade dos alunos do Centro de Ensino 427 são beneficiários do Bolsa Família. Os demais não têm renda muito diferente do teto de acesso ao programa (R$ 120 mensais por pessoa). Os boletins comprovam a diferença no rendimento escolar: 73% dos alunos do Bolsa Família apresentaram rendimento insatisfatório, contra 14% de mau aproveitamento entre os demais alunos da oitava série.

Foi a maior discrepância registrada na escola, com bons índices de aproveitamento nas avaliações oficiais.

"É muito clara a questão dos alunos que vêm para a escola pressionados pela família, mas não estão comprometidos com os estudos", disse João Marcos Marçal, vice-diretor da escola.

O Distrito Federal está na área do país em que a pesquisa contratada pelo Desenvolvimento Social detectou aproveitamento escolar inferior dos alunos do Bolsa Família, comparados a alunos pobres não atendidos pelo programa. Encontraram-se diferenças significativas de rendimento sobretudo entre os meninos e nas regiões Norte e Centro-Oeste.

A pesquisa detectou impacto mais significativo do Bolsa Família no aumento da freqüência às aulas nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste e na queda da evasão escolar no Nordeste, Norte e Centro-Oeste - resultados mais esperados diante da exigência do programa, de freqüência a 85% das aulas. A pesquisa foi feita em 269 municípios de todos os Estados, exceto Acre, Roraima e Tocantins.

A secretária de educação básica do MEC, Pilar Silva, sai em defesa do programa: "O fato de essas crianças estarem na escola já é um ganho, mas não basta: elas têm de aprender".

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Código de Princípios e Padrões Éticos de Prática Profissional da AFP - Association of Fund Raising Professionals

Declaração de Princípios Éticos

A Association of Fundraising Professionals (AFP) existe para promover o desenvolvimento e o crescimento dos profissionais e da profissão de fundraising, promovendo padrões éticos na profissão de fundraising e para preservar e melhorar a filantropia e o voluntariado. Os membros da AFP são motivados por uma energia interna para melhorar a qualidade de vida através das causas a que eles servem. Eles servem ao ideal da filantropia, estão comprometidos com a preservação e melhora do voluntariado e mantêm a administração destes conceitos como o princípio primordial de sua vida profissional. Reconhecem sua responsabilidade em assegurar que os recursos necessários sejam vigorosa e eticamente buscados e que a intenção do doador seja realizada com honestidade. Para estes fins, os membros da AFP abraçam certos valores que eles fazem o máximo esforço para sustentar quando realizam suas responsabilidades para gerar suporte filantrópico.

Os membros da AFP aspiram:
. praticar sua profissão com integridade, honestidade, verdade, aderindo à absoluta obrigação de salvaguardar a confiança pública;
. agir de acordo com os mais altos padrões e visões de sua organização, profissão e consciência;
. colocar a missão filantrópica acima do ganho pessoal;
. inspirar os outros através de seu próprio senso de dedicação e alto propósito;
. melhorar seu conhecimento e habilidades profissionais, de forma que seu desempenho sirva melhor aos outros;
. demonstrar preocupação com os interesses e bem-estar dos indivíduos afetados por suas ações; . valorizar a privacidade, liberdade de escolha e interesses de todos os afetados por suas ações;
. fomentar a diversidade cultural e os valores pluralistas e tratar todas as pessoas com dignidade e respeito;
. afirmar, através da doação pessoal, um compromisso para com a filantropia e seu papel na sociedade;
. aderir à forma, bem como ao conteúdo de todas as leis e regulamentos aplicáveis;
. advogar, dentro de suas organizações, a aderência a todas as leis e regulamentos aplicáveis;
. evitar até mesmo a aparência de qualquer ofensa criminosa ou má conduta profissional;
. dar crédito à profissão de fundraising através de sua conduta em público;
. motivar os colegas a abraçarem e praticarem seus princípios e padrões éticos de prática profissional; e
. estar consciente dos códigos de ética promulgados por outras organizações profissionais que servem à filantropia.

Padrões de prática profissional
Além disso, enquanto buscam agir de acordo com os valores acima, os membros da AFP concordam em submeter-se aos Padrões de Prática Profissional da AFP, que são adotados e incorporados no Código de Princípios Éticos da AFP. A violação dos Padrões pode sujeitar o membro a sanções disciplinares, incluindo expulsão, como mencionado nos Procedimentos de Cumprimento Ético da AFP.

Obrigações profissionais
1. Os Membros não se envolverão em atividades que prejudiquem os membros da organização, clientes ou profissão.
2. Os membros não se envolverão em atividades que sejam conflitantes com suas obrigações fiduciárias, éticas e legais junto às suas organizações e aos seus clientes.
3. Os membros revelarão eficazmente todos os conflitos reais e potenciais de interesse; tal revelação não exclui nem implica inadequação ética.
4. Os membros não explorarão qualquer relacionamento com um doador, doador em potencial, voluntário ou funcionário para benefício dos membros ou das organizações dos membros.
5. Os membros cumprirão com todas as leis locais, estaduais, municipais, federais, civis e criminais, aplicáveis.
6. Os membros reconhecem seus limites individuais de competência e estão disponíveis e são verdadeiros sobre sua experiência e qualificações profissionais.

Proposta e uso dos fundos filantrópicos
7. Os membros assegurarão que todos os materiais de proposta sejam precisos e corretamente reflitam a missão de sua organização e o uso dos fundos solicitados.
8. Os membros assegurarão que os doadores recebam aconselhamento informado, preciso e ético sobre o valor e as implicações tributárias das contribuições.
9. Os membros assegurarão que as contribuições sejam usadas de acordo com as intenções dos doadores.
10. Os membros assegurarão a administração apropriada das contribuições filantrópicas, inclusive pontualidade nos relatórios sobre o uso e gerenciamento de tais fundos.
11. Os membros obterão consentimento explícito dos doadores antes de alterar as condições das contribuições.

Apresentação de informações
12. Os membros não revelarão informações privilegiadas ou confidenciais a pessoas não autorizadas.
13. Os membros aderirão ao princípio que todas as informações de doador ou doador em potencial criadas por uma organização, ou em nome dela, é propriedade daquela organização e não será transferida ou utilizada exceto se em nome de tal organização.
14. Os membros darão aos doadores a oportunidade de terem seus nomes removidos das listas que são vendidas, alugadas ou trocadas com outras organizações.
15. Os membros usarão, ao declarar resultados de fundraising, métodos contábeis precisos e acurados de acordo com as diretrizes apropriadas adotadas pelo American Institute of Certified Public Accountants (AICPA)* para o tipo de organização envolvida.

Remuneração
16. Os membros não devem aceitar remuneração que baseie-se na porcentagem de contribuições, nem deverão aceitar taxas de descobridor.
17. Os membros podem aceitar remuneração baseada em desempenho, tais como bônus, desde que tal bônus esteja de acordo com as práticas prevalecentes nas organizações dos membros e não se baseie em uma porcentagem das contribuições.
18. Os membros não devem pagar taxas de agentes promotores nem comissões ou compensação de porcentagem com base nas contribuições e deverão desencorajar que suas organizações façam tais pagamentos.
* Nos outros países, que não os Estados Unidos, deve ser utilizada uma autoridade equivalente.

Adotado em 1964; modificado em outubro de 2004

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Código de Ética e Padrões Profissionais da ABCR - Associação Brasielira dos Captadores de Recursos

Para cumprir sua missão de promover e desenvolver a atividade de captação de recursos no Brasil, apoiando o Terceiro Setor na construção de uma sociedade melhor, a ABCR - Associação Brasileira de Captadores de Recursos estabeleceu um código de ética que disciplina a prática profissional, ressalta princípios de atuação responsável e propõe condutas éticas elevadas a serem seguidas pelos seus associados e servir como referência para todos aqueles que desejam captar recursos no campo social.


Princípios e valores


Integridade, transparência, respeito à informação, honestidade em relação à intenção do doador e compromisso com a missão da organização que solicita fundos são princípios fundamentais na tarefa de captar recursos privados para benefício público. Todos os associados da ABCR devem segui-los incondicionalmente sob pena de comprometerem aquilo que lhes é mais valioso no exercício de sua profissão: a credibilidade.


Código de Ética

1. Sobre a legalidade
O captador de recursos deve respeitar incondicionalmente a legislação vigente no País,
• acatando todas as leis federais, estaduais e municipais aplicáveis ao exercício de sua profissão;
• cuidando para que não haja, em nenhuma etapa de seu trabalho, qualquer ato ilícito ou de improbidade das partes envolvidas; e
• defendendo e apoiando, nas organizações em que atua e naquelas junto às quais capta recursos, o absoluto respeito às leis e regulamentos existentes.

2. Sobre a remuneração
O captador de recursos deve receber pelo seu trabalho apenas remuneração pré-estabelecida,
• não aceitando, sob nenhuma justificativa, o comissionamento baseado em resultados obtidos; e
• atuando em troca de um salário ou de honorários fixos definidos em contrato; eventual remuneração variável, a título de premiação por desempenho, poderá ser aceita em forma de bônus, desde que tal prática seja uma política de remuneração da organização para a qual trabalha e estenda-se a funcionários de diferentes áreas.

3. Sobre a confidencialidade e lealdade aos doadores
O captador de recursos deve respeitar o sigilo das informações sobre os doadores obtidas em nome da organização em que trabalha,
• acatando o princípio de que toda informação sobre doadores, obtida pela organização ou em nome dela, pertence à mesma e não deverá ser transferida para terceiros nem subtraída;assegurando aos doadores o direito de não integrarem listas vendidas, alugadas ou cedidas para outras organizações; e
• não revelando nenhum tipo de informação privilegiada sobre doadores efetivos ou potenciais a pessoas não autorizadas, a não ser mediante concordância de ambas as partes (receptor e doador).

4. Sobre a transparência nas informações
O captador de recursos deve exigir da organização para a qual trabalha total transparência na gestão dos recursos captados,
• cuidando para que as peças de comunicação utilizadas na atividade de captação de recursos informem, com a máxima exatidão, a missão da organização e o projeto ou ação para os quais os recursos são solicitados;
• assegurando que o doador receba informações precisas sobre a administração dos recursos, e defendendo que qualquer alteração no uso e destinação dos mesmos será feita somente após consentimento por escrito do doador; e
• cobrando a divulgação pública dos resultados obtidos pela organização com a aplicação dos recursos, por meio de documento que contenha informações avalizadas por auditores independentes.

5. Sobre conflitos de interesse
O captador de recursos deve cuidar para que não existam conflitos de interesse no desenvolvimento de sua atividade,
• não trabalhando simultaneamente para organizações congêneres com o mesmo tipo de causa ou projetos, salvo com o consentimento das mesmas;
• informando doadores sobre a existência de doadores congêneres atuais ou anteriores da organização ou do projeto, para que possam conscientemente decidir entre doar ou não;
• não aceitando qualquer doação indiscriminadamente, considerando que determinados recursos podem não condizer com o propósito da organização e devem ser discutidos - e aprovados ou não -- entre a entidade e o profissional;
• não incentivando mudanças em projetos que os desviem da missão da organização, a fim de adequá-los a interesses de eventuais doadores; e
• não ocultando nenhum tipo de informação estratégica que possa influir na decisão dos doadores.

6. Sobre os direitos do doador
O captador de recursos deve respeitar e divulgar o Estatuto dos Direitos do Doador.

Estatuto dos Direitos do Doador
Para que pessoas e organizações interessadas em doar tenham plena confiança nas organizações do Terceiro Setor e estabeleçam vínculos e compromisso com as causas a que são chamados a apoiar, a ABCR declara que todo doador tem os seguintes direitos:

1. Ser informado sobre a missão da organização, sobre como ela pretende usar os recursos doados e sobre sua capacidade de usar as doações, de forma eficaz, para os objetivos pretendidos.

2. Receber informações completas sobre os integrantes do Conselho Diretor e da Diretoria da organização que requisita os recursos.

3. Ter acesso à mais recente demonstração financeira anual da organização.

4. Ter assegurado que as doações serão usadas para os propósitos para os quais foram feitas.

5. Receber reconhecimento apropriado.

6. Ter a garantia de que qualquer informação sobre sua doação será tratada com respeito e confidencialidade, não podendo ser divulgada sem prévia aprovação.

7. Ser informado se aqueles que solicitam recursos são membros da organização, profissionais autônomos contratados ou voluntários.

8. Poder retirar seu nome, se assim desejar, de qualquer lista de endereços que a organização pretenda compartilhar com terceiros.

9. Receber respostas rápidas, francas e verdadeiras às perguntas que fizer.

7. Sobre a relação do captador com as organizações para as quais ele mobiliza recursos
O captador de recursos, seja funcionário ou autônomo ou voluntário, deve estar comprometido com o progresso das condições de sustentabilidade da organização,
• não estimulando a formação de parcerias que interfiram na autonomia dos projetos e possam gerar desvios na missão assumida pela organização;
• preservando os valores e princípios que orientam a atuação da organização;
• cumprindo papel estratégico na comunicação com os doadores da organização; e
• responsabilizando-se pela elaboração e manutenção de um banco de dados básico que torne mais eficaz a relação da organização com seus doadores.

8. Sobre sanções
Sempre que a conduta de um associado da ABCR for objeto de denúncia identificada de infração às normas estabelecidas neste Código de Ética, o caso será avaliado por uma comissão designada pela Diretoria da ABCR, podendo o captador ser punido com mera advertência até desligamento do quadro associativo, conforme a gravidade do ato.

9. Recomendações finais
Considerando o estágio atual de profissionalização das organizações do Terceiro Setor e o fato de que elas se encontram em processo de construção de sua sustentabilidade, a ABCR considera aceitável ainda a remuneração firmada em contrato de risco com valor pré-estipulado com base na experiência, na qualificação do profissional e nas horas de trabalho realizadas.

A ABCR estimula o trabalho voluntário na captação de recursos, sugere que todas as condições estejam claras entre as partes e recomenda a formalização desta ação por meio de um contrato de atividade voluntária com a organização.

Com relação à qualidade dos projetos, o captador de recursos deve selecionar projetos que, em seu julgamento ou no de especialistas, tenham qualidade suficiente para motivar doações.

A ABCR considera projeto de qualidade aquele que:
1. atende a uma necessidade social efetiva, representando uma solução que desperte o interesse de diferentes pessoas e organizações;
2. esteja afinado com a missão da organização; e
3. seja administrado por uma organização idônea, legalmente constituída e suficientemente estruturada para a adequada gestão dos recursos.

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Maio 2010

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Redes investem em ensino técnico

Roberta Campassi
Publicado pelo Valor Online em 18/09/07

A falta de profissionais com formação técnica é uma reclamação freqüente, seja na indústria, na agropecuária ou no setor de serviços. Em tempos de crescimento econômico, esse gargalo torna-se ainda mais preocupante. Ao mesmo tempo, pode representar uma oportunidade de negócios que começa a ser explorada por redes de ensino privado.

Franholding e Microcamp, dois grupos de franquias educacionais, já têm projetos para oferecer cursos técnicos de nível médio. Os planos são inéditos, uma vez que essa modalidade de ensino ainda não é explorada por redes de escolas com fins lucrativos.

A Microcamp, cujo principal negócio são os cursos livres de computação, criou dois cursos técnicos no ano passado, um de informática e o outro de tradução em dois idiomas. Foram investidos R$ 6 milhões na construção de um colégio técnico no centro de Campinas (SP), cidade sede da empresa, e mais R$ 600 mil no desenvolvimento do material didático. Por enquanto, os cursos são freqüentados por 4 mil alunos e estão sendo ministrados no colégio e em outras 18 unidades da rede - de um total de 150.

"Até o final do ano, 26 escolas vão oferecer o técnico", afirma Julio Cesar Andreolli, diretor do colégio. "A meta é levar essa modalidade a 80% de nossas unidades até o fim de 2008." De todas as escolas que compõem a rede da Microcamp, metade são franquias e metade são administradas diretamente pelo grupo. Segundo Andreolli, é necessário investir R$ 35 mil em cada unidade que passará a oferecer os cursos técnicos.

Já a Franholding, grupo com cinco marcas de franquias educacionais e mais de mil unidades em operação, começa a vender cursos técnicos de nível médio a partir de 2008. A empresa tem um projeto piloto em São José do Rio Preto (SP), onde oferece o curso de processamento de dados a 200 alunos. "Vamos implantar mais dez escolas no ano que vem", afirma José Carlos Semenzato, presidente da empresa. "Creio que até 2010 seja possível implantar o ensino técnico em dez Estados", conta. Cada unidade custará perto de R$ 500 mil, conforme a estimativa do executivo. A Franholding deve faturar R$ 450 milhões este ano.

Semenzato afirma que está fazendo um levantamento dos setores em que há demanda por profissionais com formação técnica. Ele cita como exemplo a indústria do álcool, onde já existe carência de profissionais com diferentes níveis de capacitação. "Já em Recife, haverá necessidade de pessoas para trabalhar nos vários estaleiros que estão sendo construídos."

A expectativa dessas redes é que o crescimento econômico fomente a demanda pela formação técnica como, de fato, ocorreu nos últimos anos. Entre 2001 e 2006, o número de alunos do ensino médio em nível técnico saltou de 462 mil para 744 mil. Entre 2004 e 2006, o crescimento ao ano foi de aproximadamente 5%. Boa parte dessa expansão esteve concentrada nas escolas administradas pelos Estados e pela rede privada - esta responde por 70% das instituições e pouco mais de 50% das matrículas. A rede particular também inclui o "sistema S" (formado por Sesc, Senai, Senac, Sebrae e Sesi), que sozinho responde por mais de mil estabelecimentos.

O desafio das redes de franquias será justamente competir com as vagas oferecidas pelo "sistema S" e pelas escolas públicas, sejam elas do governo municipal, estadual ou federal. No início de setembro, o Ministério da Educação (MEC) lançou oficialmente um programa de expansão do ensino técnico que prevê a construção de mais 210 escolas até 2010, em complemento às 144 que existiam ao fim de 2006. No mesmo intervalo de tempo, apenas o Senai quer abrir mais 400 mil vagas de ensino técnico de nível médio voltado para as demandas da indústria.

Ryon Braga, presidente da Hoper, consultoria especializada em educação, avalia que o o crescimento da demanda ocorrerá na população de baixa renda, que dificilmente poderá pagar pelo ensino. "Hoje, há cursos técnicos que custam R$ 250 por mês, mas acredito que nos próximos anos o mercado só vai absorver mensalidades entre R$ 80 e 140", afirma. "Acho um risco relativamente grande para as redes privadas investirem no ensino técnico de nível médio."

A saída para as entidades privadas, segundo Ryon, é justamente oferecer cursos em áreas que o governo e o "sistema S" ainda não são fortes. "Por exemplo, cursos de saúde, hotelaria e turismo."

Esse foi o caminho escolhido pela Microcamp, segundo Andreolli, apesar do preço cobrado: R$ 249 ao mês. "Temos a vantagem de que não existe nenhum outro curso técnico de idiomas no país. Ao mesmo tempo, a grande demanda pelo técnico em informática se mantém."

Outro desafio é competir com os cursos tecnológicos de nível superior, que duram dois ou três anos e são oferecidos em grande quantidade pelas faculdades. "Essa modalidade ainda não decolou, mas tem tudo para crescer nos próximos anos", diz Braga.

Semenzato, da Franholding, reconhece que a concorrência existe, mas aposta na demanda em ascensão. "Muitos jovens não podem esperar chegar à universidade para ter uma profissão", afirma.



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Efeito Renan dilui-se na disputa dos grotões

Cristiane Agostine
Publicado pelo
Valor Online em 18/09/07

Roberto da Silva, empresário, candidato a prefeito de Buritis (RO): "A cidade indo adiante os meus negócios vão bem"
Foto Davilym Dourado/Valor


O assunto estava na capa dos principais jornais, nas rádios e nos telejornais. Nas rodinhas de bar e nos pontos de táxi. Mas a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou ao largo da sala de um hotel, na zona sul de São Paulo, onde estavam reunidos candidatos e assessores, de 14 Estados, que discutiam estratégias para as eleições municipais de 2008. Dois dias depois daquela que foi descrita como uma das grandes tragédias da política dos últimos tempos, protagonistas anônimos da próxima disputa eleitoral desprezavam o impacto político da crise moral sobre as urnas.

Daqui a um ano, eles disputarão prefeituras e Câmaras Municipais. Mas já na última sexta-feira, enquanto Renan ainda comemorava sua permanência no cargo, candidatos e assessores políticos diziam que seus eleitores estão mais preocupados com o posto de saúde de seu bairro e a linha de ônibus que serve à sua comunidade do que em saber como e por que o presidente do Senado foi blindado.

Filiado ao PSB de Barueri, região metropolitana de São Paulo, o vereador e cientista político Gatti tinha sua explicação sobre o por quê desses escândalos não afetarem eleitores, nem preocuparem os candidatos. "Na disputa municipal, o que se leva em conta é se a rua está bem asfaltada, se a merenda escolar é boa. Não são os escândalos nacionais. O que pode ficar disso é a sensação de que todos os políticos são iguais", diz o vereador.

No intervalo do curso de "Estratégia e marketing político para campanha eleitoral", Marcelo Jorge (PTC), 30 anos, candidato à prefeitura de Godofredo Viana, cidade de 13 mil habitantes no interior do Maranhão, limitou-se a dizer que sentia vergonha de o PMDB de Roseana Sarney ter lutado pela absolvição do presidente do Senado. E logo em seguida partiu para aquilo que julga mais importante: os elogios à Roseana, "que asfaltou e sinalizou as estradas de seu município".

Os candidatos relataram que não são só os escândalos nacionais que não chegam às rodas de discussão de seus municípios. Relacionam essa indiferença ao divórcio entre a atuação nacional dos partidos e sua influência nos diretórios municipais. Atribuem as filiações aos mais diversos motivos.

Há três meses Osterlaine Henriques Alves filiou-se ao PP para concorrer em 2008 ao cargo de vereadora de Birigüi, no interior paulista. A escolha do partido "não teve nada de ideologia" e, sim, um motivo familiar: "Cresci ouvindo meu pai e meu irmão falando do (Paulo) Maluf. Sei que ele apronta como todos, mas eu tinha que fazer uma escolha e resolvi entrar no partido dele", explica a médica, de 38 anos. No lugar do PP poderia ter sido o DEM ou até mesmo o P-Sol. Pouco importa: "As pessoas vão votar no candidato, não no partido. Assim como a sociedade impõe uma religião, um posicionamento político , ela impõe um partido".

A ideologia partidária também não foi o motivo que levou Marcelo Jorge a escolher o PTC - "O mesmo partido do Clodovil", destaca - para disputar a prefeitura de Godofredo Viana. Formado em Direito, ele trabalha como tabelião de um cartório e entrou no partido pelas mãos de um tio, prefeito no interior maranhense. "Mas me identifico com o partido, que é sério, evangélico, e dá credibilidade à minha imagem."

A falta de experiência na política é minimizada tanto por Osterlaine quanto por Marcelo. "Só estando lá dentro da política mesmo para saber como são as coisas", diz Osterlaine. "É como em outras profissões: tem que começar do nada para ter experiência. E na campanha a imagem é tudo."

O que é mais importante nas eleições municipais do que o partido, a ideologia defendida por eles e as questões nacionais? "A imagem", repetiam os participantes do curso. "O eleitor não está interessado na ideologia. O candidato que insistir em falar disso vai falar para as paredes", diz Francisco Ferraz, cientista político e coordenador do curso.

Presidente da Câmara Municipal da paulista Itápolis e em seu terceiro mandato como vereador, Fernando Travensolo, do DEM, contesta o esvaziamento do debate político da disputa: "Isso não limita o debate ideológico, mas o candidato é a estrela".

Candidato à prefeitura, ele reconhece que os gastos de sua campanha devem crescer mais de 60% e, por isso, prega o combate à corrupção como lema de campanha. Para combater a corrupção no governo, defende: "Não se pode trabalhar com comparsas. É melhor ter mais técnicos na administração. Tem de ter comprometimento com a cidade. Não pode atrair esse tipo de gente", afirma. "E tudo começa na campanha. Tem de ter uma arrecadação transparente, sem corrupção". Para ele, o financiamento eleitoral pelo "caixa dois", comandado pelos partidos, não vai mudar tão cedo porque é praticado 'pelos mesmos' que o fizeram nas outras eleições: "Não adianta: quem foi eleito com recursos de caixa dois não vai mudar isso e é só ver na Câmara, no Senado. Eles ainda estão lá".

O financiamento de campanha parece não ser a maior preocupação de Roberto Mauro da Silva, de 37 anos, candidato à prefeitura de Buritis, cidade de 60 mil habitantes de Rondônia. Filiado há 40 dias no PSDC, o empresário explica que metade dos custos da campanha será financiada por ele próprio e a outra metade ele espera conseguir de seus colegas e amigos empresários. Isso não comprometeria seu mandato com os financiadores? "Não acho que depois vou ter que me comprometer com eles porque a maioria (dos empresários) quer o bem do município. O que pode acontecer é, por exemplo, um posto de gasolina esperar ser beneficiado em uma licitação. Isso é normal, né, vamos precisar comprar gasolina de algum lugar...", afirma Roberto. Em seguida ele faz uma pausa e lembra-se: "Mas tudo dentro da ética."

É no eleitor que o empresário localiza o grande problema da disputa: "Nosso próprio eleitor é muito corrupto. O que se pede para um candidato não está escrito. Eles tentam se corromper, não pensam no bem coletivo. Só querem um bem imediato."

Roberto quer ser prefeito "porque a administração está mal", mas como o eleitor, também tem seus próprios interesses. "Meus investimentos estão na cidade e quero fazer o possível para melhorá-la. Viabilizar recursos para mais empregos, indústria e renda. A cidade indo adiante os meus negócios vão bem."

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Fôlego do crescimento opõe economistas e ministro em debate

Sergio Lamucci
Publicado pelo
Valor Online em 18/09/07

Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV: dúvidas quanto ao fôlego do atual ciclo de expansão ainda persistem
Foto Carol Carquejeiro/ Valor

Um país que já entrou na fase do crescimento sustentado, exibindo solidez nas contas externas, inflação sob controle e redução das desigualdades sociais e regionais. Esse é o retrato do Brasil apresentado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que esbanjou otimismo no 4 Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Sao Paulo, criticando o que considera "análises distorcidas" sobre os avanços recentes da economia brasileira. Já os outros participantes do evento - como Yoshiaki Nakano, Eliana Cardoso e Luiz Carlos Mendonça de Barros - disseram que de fato o país vive um momento positivo, com crescimento mais robusto, mas colocaram em xeque a idéia de que o ciclo atual é sustentado - sobraram críticas para a dupla juro alto e câmbio valorizado, assim como para a carga tributária elevada e a expansão firme dos gastos públicos.

Segundo Mantega, o governo Lula adota o modelo do social-desenvolvimentismo, marcado pelo "crescimento econômico mais vigoroso e mais equilibrado e pela redução das desigualdades sociais e regionais". O ministro lembrou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresce há 22 trimestres consecutivos na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. "É um ciclo sustentável. Não é mais um espasmo."

O ministro também destacou a solidez das contas externas, caracterizada pelo superávit comercial superior a US$ 40 bilhões por ano e pelas reservas internacionais de US$ 163 bilhões. Desse modo, o país está bem menos vulnerável à piora do cenário externo. Segundo ele, mesmo se houver uma desaceleração mais acentuada da economia global, o Brasil deve deixar de crescer apenas 0,1 a 0,3 ponto percentual em 2008. "Em vez de 5%, o país cresceria 4,7%, 4,8%", afirmou ele. Mantega disse ainda que o investimento no aumento da capacidade produtiva avança a um ritmo duas vezes superior ao do PIB, o que seria uma garantia de que não haverá desequilíbrios entre oferta e demanda. Mantega disse que o país "não está no Paraíso", mas se queixou do que avalia como uma resistência dos analistas brasileiros em aceitar as melhoras do país. Segundo o ministro, os avanços do Brasil têm sido mais reconhecidos no exterior. Deu como exemplos a revista "The Economist" e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da FGV, fez uma avaliação bem menos positiva. Ele acha possível que o país cresça mais "dois ou três anos" a um ritmo razoável, devido ao colchão de reservas e ao superávit nas contas externas, mas tem dúvidas quanto à sustentabilidade do atual ciclo de expansão. Para ele, a taxa de investimento como proporção do PIB, que deve terminar o ano na casa de 17,5%, é muito baixa para o Brasil avançar a 5% ao ano por períodos prolongados. A carga tributária, superior a 34% do PIB, também é um obstáculo.

Nakano reiterou suas críticas à combinação de juros elevados e câmbio valorizado. Segundo ele, países que cresceram por décadas a taxas expressivas mantiveram o câmbio desvalorizado, para estimular as exportações de manufaturados. Para ele, o país deveria mudar seu mix de política macroeconômica, passando a usar o câmbio - num nível desvalorizado e mais estável - para controlar a inflação e estimular o crescimento das exportações, enquanto os juros serviriam para equilibrar o fluxo de capitais. Para impedir que a desvalorização do câmbio gere inflação, seria necessário também forte ajuste fiscal, para diminuir a demanda por bens e serviços não-comercializáveis no exterior ("non tradables", em economês).

Eliana Cardoso discordou da proposta de Nakano, dizendo que a política monetária é o instrumento mais adequado para controlar a inflação. O câmbio flutuante tem a vantagem, segundo ela, de absorver choques e dar liberdade ao manejo das taxas de juros. Ela lembrou que países que tiveram longos períodos de expansão também tinham como característica importante uma política fiscal austera.

Mendonça de Barros disse que a economia brasileira, de fato, passou por mudanças estruturais significativas nos últimos anos, devido à forte mudança nas contas externas, que reduziu a volatilidade do câmbio, abrindo espaço para a queda dos juros. A questão, para ele, é que essa virada no balanço de pagamentos se deveu basicamente ao cenário externo. Com o forte crescimento da economia global, melhoraram significativamente os preços das exportações brasileiras, o que possibilitou a mudança no balanço de pagamentos do país, análise compartilhada por Eliana. O mérito do governo na melhora das contas externas seria pequeno.

Mendonça de Barros criticou o forte crescimento dos gastos públicos, superior a 10% ao ano. Esse aumento das despesas, segundo ele, é preocupante num momento em que outros componentes da demanda, como o investimento e o consumo das famílias, avançam a um ritmo forte. Há o risco de um aumento dos preços dos "non tradables", que não podem ser atendidos por importações, advertiu.

O secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, rechaçou a idéia de que haja pressões inflacionárias preocupantes. Segundo ele, "é necessário diferenciar o que é elevação temporária de preços do que é aumento permanente da inflação". Barbosa disse que boa parte das altas dos índices de preços se deve ao choque de alimentos, decorrente de fatores internacionais e da entressafra. A alta dos serviços pessoais seria uma questão "mais estrutural ligada ao modelo de desenvolvimento do país". Mais emprego e mais renda levam a um aumento relativo dos preços de serviços em relação a outros bens, disse ele. "É uma mudança estrutural de preços, que gera um aumento temporário de inflação", afirmou Barbosa, que também chamou a atenção para o fato de o investimento crescer acima do PIB.

Ele também aproveitou para defender a iniciativa do governo de fixar a meta de inflação de 2009 em 4,5%, o mesmo número que vale para este ano e para o próximo. "Os analistas que diziam que reduzir a meta não teria custo adicional são os mesmos que dizem que a inflação está ali na esquina, esperando para nos pegar. Nós permanecemos calmos em relação à inflação, mas atentos. No passado, ela não era motivo de euforia e atualmente não é motivo de desespero."

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Canadá investirá $20 milhões para a promoção da equidade no Brasil até 2010

Publicado pelo site do governo do Canadá

A Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA/ACDI) é o orgão do governo federal do Canadá responsável pelo planejamento e implementação do apoio ao desenvolvimento internacional. A função da CIDA é apoiar o desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento com o objetivo de reduzir a pobreza e contribuir para um mundo mais seguro, equitativo e próspero. Os setores de concentração da Agência são:
. a Promoção da Boa Governança;
. a Melhoria das Questões de Saúde;
. o Fortalecimento da Educação Básica;
. o Apoio ao Desenvolvimento do Setor Privado;
. a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;
A Igualdade de Gênero é um tema que deve ser integrado de forma explícita e sistemática em todas as iniciativas apoiadas pela Agência.

Além disso, após a Reunião da Cúpula do Milênio, o Canadá declarou seu compromisso de trabalhar em parceria com outras fontes internacionais para contribuir para as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM):
. Erradicar a pobreza extrema e a fome;
. Alcançar a universalização da educação primária;
. Promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres;
. Reduzir a mortalidade infantil;
. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;
. Assegurar a sustentabilidade ambiental;
. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.

A Agência dispõe de uma série de mecanismos para implementar seu programa:
. O MECANISMO BILATERAL representa a cooperação oficial entre Brasil e Canadá e tem objetivos e prioridades estabelecidas em conjunto pelo governo brasileiro e o canadense.
. O MECANISMO INTER-INSTITUCIONAL que apóia o trabalho de entidades canadenses junto às congêneres brasileiras, incluindo universidades, ONGs, empresas, etc.
. O MECANISMO MULTILATERAL que injeta recursos financeiros em diversos organismos multilaterais ativos no Brasil, como UNICEF, PNUD, Banco Mundial e outros.

Nos últimos anos, o investimento anual da Agência no Brasil tem girado em torno de 28 milhões de dólares canadenses, sendo 5 milhões do mecanismo bilateral, 6 milhões do mecanismo inter-institucional e o restante das contribuições da CIDA a diversos organismos multilaterais atuantes no Brasil.

Com relação ao MECANISMO BILATERAL, a Agência aprovou um novo programa de $ 20 milhões de dólares canadenses para o período de 2005 a 2010. O programa chamado Programa Brasil-Canadá de Intercâmbio de Conhecimentos para a Promoção da Eqüidade (PIPE) concentra seus esforços nos seguintes setores:
. Governança;
. Saúde;
. Mundo do Trabalho.
Conta com os seguintes temas transversais:
. Igualdade de Gênero;
. Igualdade de Etnia.
Concentra suas ações nas seguintes áreas geográficas:
. região nordeste;
. periferia dos grandes centros urbanos brasileiros;
. iniciativas de âmbito nacional.

Se quiser saber mais sobre o novo programa como as diversas janelas de acesso, os prazos para apresentação de propostas, os itens que devem constar de um proposta e outros detalhes, clique aqui.

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segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Instituto Ronald McDonald lança o Programa Diagnóstico Precoce.


Publicado pelo Instituto Ronald McDonald

Considerando a importância do diagnóstico precoce no cenário do câncer infanto-juvenil, o Instituto Ronald McDonald lança o Programa Diagnóstico Precoce.

O Programa irá viabilizar a execução de projetos de capacitação dos profissionais do Saúde da Família, para que os mesmos possam suspeitar e encaminhar adequadamente os potenciais casos de câncer infanto-juvenil.

No primeiro ano do Programa, a estratégia do Instituto é apoiar ao menos um projeto em cada região geográfica brasileira.

Faça o download do edital e saiba quem pode participar e como participar. De acordo com o cronograma do Programa, os interessados devem encaminhar suas propostas até o dia 30 de setembro.

Através dessa iniciativa, o Instituto espera contribuir para a redução do tempo entre o aparecimento de sinais e sintomas e o diagnóstico em um serviço especializado, aumentando a expectativa de cura dos pequenos pacientes.

Mais informações
Para mais informações, entre em contato: projetos@instituto-ronald.org.br ou pelos telefones (21) 2176-3830 / (21) 2176-3832.

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Prazo do Instituto C&A para envio de solicitações de apoio é estendido

Publicado pelo Instituto C&A em 14/09/07

Em função da greve dos Correios, o prazo para as organizações interessadas em enviar solicitações de apoio a projetos ao Instituto C&A foi estendido a 26 de setembro de 2007. Originalmente, a data-limite para postagem era 19 de setembro.

O processo de seleção de projetos é válido para apoio no exercício orçamentário de 2008/2009 do Instituto C&A (março de 2008 a fevereiro de 2009). O edital e o formulário para encaminhamento de propostas estão disponíveis no link http://www.institutocea.org.br/instituto/site/content/apoio/

Desta vez, o edital prevê apoio apenas a projetos inseridos no escopo do programa Prazer em Ler de promoção da leitura, em 13 cidades brasileiras: Balneário de Camboriú (SC), Belém (PA), Campina Grande (PB), Fortaleza (CE), Franca (SP), Juiz de Fora (MG), Mogi das Cruzes (SP), Niterói (RJ), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), São João do Meriti (RJ), São José dos Campos (SP) e Teresina (PI).

O edital não contempla a renovação de projetos vinculados ao programa Prazer em Ler que já estejam em desenvolvimento. Nesses casos, as solicitações de renovação de apoio serão negociadas mediante a apresentação e análise de um plano de ação pelas instituições parceiras para o período 2008/2009.

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Para formular e avaliar políticas públicas

Rodrigo Zavala
Publicado pelo
redeGife Online em 17/09/07

Extraindo aproximadamente 40% do PIB brasileiro, o Estado brasileiro devolve à sociedade serviços públicos e políticas públicas de qualidade abaixo do esperado. Assim, em certa medida, acredita-se que o modelo atual do governo, burocrático e anacrônico, deveria ser substituído por um modelo gerencial voltado para maior eficiência de seus resultados.

Esse é o ponto central para o professor adjunto da FGV-EAESP, George Avelino, coordenador do inédito Mestrado Profissional em Economia das Políticas Públicas, que está com inscrições abertas. Baseado nas questões emergentes relativas à qualidade do gasto público e ao desenho mais efetivo e eficiente das políticas públicas, o curso tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento nacional.


Para mais informações sobre o curso, acesse o site da FGV.

Em entrevista ao redeGIFE, o professor fala sobre o monitoramento de políticas públicas e sobre porquê os gestores sociais devem se formar para lidar com essas questões.

redeGIFE - Qual é o objetivo do curso?
George Avelino - O objetivo do curso é formar profissionais qualificados, capazes de formular e avaliar políticas públicas, de forma a aumentar a eficiência do setor público. Para cumprir esse objetivo, o curso terá três fontes de inspiração: métodos quantitativos (gerenciamento de dados é hoje uma necessidade na discussão sobre políticas públicas), economia (avaliação de externalidades, relação custo/benefício e outros aspectos que devem orientar a formulação e avaliação de políticas) e ciência política (a necessidade de incorporar as restrições políticas, além das econômicas, é condição fundamental para as propostas bem sucedidas de mudança).

redeGIFE - Pelo fato de ser um curso inédito, quais foram os desafios para promovê-lo?
Avelino - Os desafios são enormes, pois não existe curso similar no Brasil. Além disso, temos de lutar contra vários mitos. Um deles é que os assuntos referentes ao governo são puramente políticos e, portanto, não existe espaço para avaliações técnicas. Não negamos que as decisões do governo são políticas, mas acreditamos que a disputa política possa se dar em um patamar mais elevado se orientada tecnicamente.

redeGIFE - Quem deveria fazer esse curso?
Avelino - Em princípio, o curso interessa a todos aqueles que acreditam que o Estado brasileiro, em seus diferentes níveis - federal, estadual ou municipal - pode ser um agente positivo para promover o desenvolvimento e o crescimento do bem estar da população do país.

Mais especificamente, nós acreditamos que o curso seria especialmente útil para quatro grupos de profissionais: i) profissionais empregados no setor público voltados para formulação e avaliação de políticas públicas, assim como os interessados em ingressar na carreira pública ; ii) representantes de organizações não-governamentais que objetivam influenciar as políticas públicas; iii) profissionais vinculados a agências multilaterais de fomento com foco em políticas públicas, como o BID e o Banco Mundial; e, finalmente, iv) profissionais do setor privado que têm interface freqüente com o setor público.

redeGIFE - Por que é importante para gestores sociais?
Avelino - Este curso é importante para os gestores sociais porque torna sua atividade mais produtiva. Ele vai tornar os gestores capazes de monitorar políticas públicas, avaliar erros e acertos e, se for o caso, propor correções de rumo a tempo de evitar o desperdício do dinheiro público.

As repercussões do curso tendem a ser maiores na área social, pois um outro mito que precisamos combater é que as necessidades desta área são menos técnicas que as de outras, tais como a área econômica. Ora, quase dois terços do gasto do governo é feito na área social; portanto, seria, um contra-senso não dar especial atenção aos problemas da área social. Como disse antes, a área social é uma área onde pequenas mudanças podem ter enormes repercussões.

redeGIFE - No que essa formação por mudar nas gestão pública?
Avelino - O programa está baseado nas questões emergentes relativas à qualidade do gasto público e ao desenho mais efetivo e eficiente das políticas públicas como forma de impulsionar o desenvolvimento nacional. Extraindo aproximadamente 40% do PIB brasileiro, o Estado brasileiro devolve à sociedade serviços públicos e políticas públicas de qualidade abaixo do esperado.

Neste contexto, eleva-se a demanda pela reforma do Estado na qual o modelo atual, visto como anacrônico e burocrático, seja substituído por um modelo gerencial voltado para maior eficiência de seus resultados, uma mudança que já foi bem sucedida em vários países do mundo. redeGIFE - Qual é a diferença fundamental entre o MPEPP e o Master in Public Policy (MPP), criado em várias universidades americanas?
Avelino - A proposta dessa nova área tem como origem os mestrados profissionalizantes similares em universidades dos Estados Unidos. Este mestrado é diferente dos Masters in Public Administration (MPA), criados no início do século XX com o objetivo de ensinar como gerenciar a estrutura e a burocracia das instituições públicas, incluindo orçamento, administração de recursos humanos e controles internos.

O MPEPP se assemelha aos Master in Public Policy (MPP), criados na década de 1960 em várias universidades entre as quais a John F. Kennedy School of Government na Universidade de Harvard e a Goldman School of Public Policy na Universidade da Califórnia em Berkeley. Nesses mestrados, são utilizadas teorias e métodos de várias disciplinas, tais como as já referidas Economia, Ciência Política, Estatística, entre outras; o que permite transferir o foco do curso para a elaboração e análise de políticas públicas.

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Investimentos sociais devem partir de uma visão sistêmica

Rodrigo Zavala
Publicado pelo
redeGife Online em 17/09/07

Há três anos, a cidade mineira de Barroso, com pouco mais de 20 mil habitantes, vive um processo de desenvolvimento sustentável. Capitaneado pela administração pública local e pela empresa suíça Holcim, o Projeto Ortópolis Barroso propõe uma mudança no comportamento de todos os moradores, para a construção de uma comunidade responsável.

Por trás dos belos discursos, a iniciativa tem uma marca considerada vital para muitos especialistas: possuir uma visão sistêmica não apenas da realidade da qual se quer mudar, mas de todos os processos a serem implementados. “O primeiro objetivo foi mudar cultura de dependência dos moradores da cidade com a Holcim, grande empregadora da região. O desafio era desenvolver a cidade inteira para isso”, argumenta o Prefeito de Barroso, Arnaud Baldonero Napoleão (PSD).

O passo inicial consistiu em fazer um raio-X da cidade e identificar as necessidades imediatas da população. Representantes da sociedade, da Holcim e do poder público desenvolveram um plano operacional com o propósito de garantir o funcionamento do programa.

O Instituto Holcim, por sua vez, encarregou-se de organizar eventos para capacitar a população e as lideranças locais, apresentando os conceitos de desenvolvimento sustentável. “Sempre estive convencido de que o caminho correto é por meio do desenvolvimento de base e da educação, capacitando os membros da comunidade a identificar e administrar problemas e oportunidades e a elaborar um programa de ação”, explica o presidente da Holcim Brasil, Carlos Buhler.

Segundo o economista, Edgar von Buettner, presidente do Instituto Edgar von Buettner de Desenvolvimento Humano, o conceito de visão sistêmica se baseia no organismo humano. “Isto é, não podemos ver as coisas de forma linear, como uma cadeia de causas e efeitos. Mas, de uma forma sistêmica, interdependente, em que cada elemento tem sua função, seu papel”, argumenta.

Assim, em busca de consensos comunitários, foram traçadas as estratégias de ação. Um dos mecanismos propostos e realizados para fazer a interação entre o setor público, a iniciativa privada e a comunidade foi a criação da Associação Ortópolis Barroso (AOB), cujo corpo diretor é composto por pessoas eleitas no voto direto.

Essa entidade é a representação norteadora das ações do programa, responsável pelos “Rs”, nove eixos temáticos chaves que analisam os resultados de tudo que é feito. Para isso, trabalha com diversos temas como Mudança Comportamental, Modelo de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Agronegócio, Econegócio, Gestão Ambiental, Paisagismo, Infra-estrutura e Plano Urbano.

“O resultado de um processo de desenvolvimento local, para ser efetivo, tem de contar com a participação da comunidade, desde a identificação dos problemas até a implementação das ações. Não é o consultor com uma solução preconcebida, que garantirá o sucesso, pois o resultado não será sustentável”, acredita o coordenador de programas do Instituto Holcim.

Novos debates – O caso de Barroso é oportuno nas discussões sobre investimento social privado e sua participação no desenvolvimento sustentável defendido pelas empresas. Para analisar a opinião da comunidade empresarial sobre o tema, o Grupo Ibope entrevistou 537 executivos de 381 grandes empresas brasileiras (veja reportagem).

Por meio das respostas, foi possível detectar paradoxos entre o que se entende como sustentável e o que realmente se faz para chegar a esse fim, principalmente no que se traduz em questões estratégicas. O CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni, responsável pela pesquisa, acredita que se as empresas não entenderem que fazem parte de um sistema, na qual tem responsabilidades e potenciais formas de atuação, o discurso “sustentável” será falacioso.

A Holcim parece entender o recado. Em um segmento que se automatiza cada vez mais, ter muitas pessoas dependentes à cimenteira seria uma tragédia anunciada. Por isso, fomentou-se o crescimento de toda a cidade. Em um processo em que todos podem ser beneficiados, o investimento social foi providencial para a sustentabilidade.

Mesmo assim, há os negativistas, como o fundador e diretor do Institute of Social Sciences de Nova Délhi, George Mathew, que afirma ainda faltar seriedade nas políticas empresariais de responsabilidade social. Ele dá como exemplo a Índia: “Grande parte das empresas parecem estar mais preocupadas em fazer marketing social do que ações de responsabilidade social. Infelizmente, das 140 filiais de multinacionais instaladas no país, ainda são poucas as que estão preocupadas em colaborar para o desenvolvimento sustentável”.

Para o sócio da PricewaterhouseCoopers, celebrado como o "guru da Nova Economia", o americano Andrew Savitz, sustentabilidade não é filantropia. “Hoje, as empresas são cobradas para que promovam a diversidade, ajudem a recuperar o meio ambiente, combatam o trabalho infantil, monitorem a cadeia de suprimentos, promovam a saúde pública, gerem empregos e levem desenvolvimento para as comunidades em que atuam. E, é claro, precisam continuar ganhando dinheiro", explica.

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domingo, 16 de setembro de 2007

Empresas investem em programas estruturados

Patricia Knebel
Publicado pelo
Jornal do Comércio em 14/09/07

A filantropia empresarial, marcada por ações pontuais para apoiar projetos ou entidades assistenciais, começa a dar espaço para programas mais estruturados de responsabilidade social.

Nas grandes empresas, departamentos já atuam especificamente para prospectar e desenvolver projetos conectados com os negócios e alinhados com as demandas da sociedade. Nas pequenas e médias, essa visão também começa a se tornar uma realidade, muitas vezes impulsionada pelos exemplos de sucesso das grandes corporações. "Há um amadurecimento entre as empresas brasileiras em relação à responsabilidade social. E esse é um caminho sem volta", afirma a gerente de assuntos corporativos da Souza Cruz, Simone Veltri.

No ano passado, a companhia investiu R$ 190 milhões em ações de responsabilidade social corporativa. São cerca de 30 projetos, divididos entre as áreas de educação, meio ambiente e desenvolvimento social. A empresa participa da 2ª Mostra RS - Responsabilidade Social, que acontece até o próximo sábado, no Praia de Belas Shopping. O evento reúne instituições ligadas à esse tema, órgãos governamentais, ONGs e entidades empresariais.

A responsabilidade social prevê a realização de ações estruturais e sistemáticas, alinhadas com o negócio da empresa. Para Simone, será cada vez mais uma tendência irreversível a adesão a iniciativas que gerem valor na relação das empresas com as comunidades nas quais estão inseridas. "Já foi o tempo em que as empresas achavam que podiam tirar tudo do ambiente sem dar nada em troca", observa. Para ela, sensibilizar as lideranças é ponto-chave para a implementação de projetos de sucesso.

Entre as iniciativas realizadas atualmente pela Souza Cruz está o Responsabilidade Social Aqui Tem, O futuro é agora e Educar. Atuar no segmento fumageiro exige alguns cuidados com a comunicação, tanto na publicidade como em projetos institucionais. "Comercializamos um produto lícito e que passa por todos os critérios de qualidade, mas sabemos que existe um risco associado", diz. Por isso, explica, a empresa opta por se comunicar com adultos - acima de 18 anos.

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Site permite emprestar dinheiro pelo mundo

Publicado pelo InfoOnline em 13/09/07

Um novo serviço na internet pode ajudar a estimular o microcrédito

Estimulado pelo Nobel concedido no ano passado a um homem cujo apelido é "banqueiro dos pobres", o microcrédito a pequenas empresas dos países mais pobres do mundo está florescendo, à medida que as pessoas descobrem que podem operar como um mini Banco Mundial.

E não é preciso ser Bill Gates para participar. Um site de microcrédito permite que pessoas emprestem quantias a partir de 25 dólares a pequenas empresas do Vietnã ao Quênia, e vem atraindo tanto interesse dos potenciais fornecedores de recursos que sua estrutura mal consegue acompanhar a demanda.

A Kiva.org, descrita por seu fundador, Premal Shah, como "o eBay do microcrédito", vem operando há dois anos, mas registrou alta elevada de tráfego depois que Muhammad Yunus, economista de Bangladesh, recebeu o Prêmio Nobel da Paz no ano passado por suas atividades à frente do Grameen Bank.

"Do dia para a noite o volume de tráfego em nosso site quase dobrou", disse Shah sobre o impacto do Nobel. Ele mencionou também que outras citações recentes, como a do ex-presidente Bill Clinton em seu livro "Giving", causaram novas altas de interesse, o que levou o site a procurar uma ampliação no número de empresas interessadas em obter empréstimos, a fim de distribuir todo o dinheiro que se tornou disponível.

O Kiva trabalha com dezenas de grupos de microcrédito que selecionam empresas que precisam de empréstimos - de uma mulher hondurenha que vende cosméticos a uma tecelagem cambojana ou uma oficina mecânica em Gana.

"Estamos oferecendo uma plataforma online para conectar o pessoal que trabalha em campo com microcrédito às pessoas de Des Moines, Iowa, ou alguém em Londres", disse Shah à Reuters.

Segundo ele, o usuário médio fornece recursos a quatro empresas no site, emprestando 25 dólares a cada uma, e até agora o total emprestado foi de 11 milhões de dólares, sempre a juro zero. Ele espera emprestar 100 milhões de dólares nos próximos três anos.

O site exibe fotos e planos de negócios de pessoas que estão em busca de empréstimos com valores que variam de 75 a mais de mil dólares. Em um sistema semelhante ao do setor de comércio online, as organizações de microcrédito são classificadas com base em seu desempenho de pagamento de empréstimos, tempo de operação e montante total obtido.

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sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Seguradoras apostam em apólices para baixa renda

Altamiro Silva Júnior
Publicado pelo
Valor Online em 14/09/07

O novo titular da Superintendência de Seguros Privados, Armando Vergilio: "Não é possível fazer o mercado crescer sem aumentar a base de consumidores"
Foto Silvia Costanti / Valor

Depois do microcrédito, das microtransferências e das microfinanças, a palavra da moda agora é o microsseguro. Ao contrário das apólices tradicionais, estas novas são voltadas especificamente para a baixa renda e devem ajudar o setor a dobrar de tamanho no país nos próximos quatro anos. Armando Vergilio, o novo comandante da Superintendência de Seguros Privados (Susep) tem como meta aumentar a participação do setor de seguros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 3% para 6% até 2011. Para isso, o microsseguro está entre as três prioridades do novo presidente, que inclui ainda a regulamentação do mercado de resseguro e a implementação das novas regras de solvência dentro do modelo de supervisão baseada em risco.

O microsseguro tem um mercado potencial de 100 milhões de pessoas no país, que estão na base da pirâmide de renda. São pessoas das classes C, D e E que possuem renda total de US$ 170 bilhões. Os principais produtos seriam o seguro patrimonial (roubo, propriedades rurais, incêndios), de pessoas (incluindo apólices que protegem contra inadimplência em empréstimos e prestações, além de gastos com educação e até funerais). "É um forma de trazer novos consumidores para o setor", afirma Vergilio. "Não é possível fazer o mercado crescer sem aumentar a base de consumidores", conclui.

Segundo Antonio Cassio dos Santos, presidente da Mapfre e da FenaPrevi (a federação das empresas de previdência), para distribuir as microapólices, serão precisos novos canais, diferentes dos tradicionais existentes hoje para as rendas mais altas. Cooperativas e redes varejistas (de material de construção, roupas e eletrodomésticos) são os locais ideais. Além disso, ele prevê o aparecimento de microcorretores de seguros.

Segundo estimativas do setor, 93,2% das pessoas dessas faixas de renda na América Latina não têm apólice de seguro. O novo tipo de seguro também tem apoio em Brasília. "O governo tem todo o interesse no desenvolvimento do microsseguro", afirma o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Vergilio, da Susep, prometeu ser ágil para regulamentar o novo tipo de produto.

Ainda dentro do microsseguro, o Brasil foi convidado pela IAIS (a entidade que reúne 180 reguladores mundiais do setor de seguros) para presidir a comissão que vai discutir as perspectivas mundiais para este novo tipo de apólice. Esta comissão tem representantes dos Estados Unidos, Alemanha e França. Em 2009, a reunião mundial da IAIS será no Brasil. Recentemente, técnicos da Susep foram para a Índia estudar o mercado de microsseguros lá, que está em estágio maior de desenvolvimento.

Vergilio promete colocar no início de outubro as novas regras para o mercado de resseguros em audiência pública. A lei final deve ficar pronta no início de dezembro, para vigorar a partir de janeiro. Segundo ele, 80 novas empresas ligadas ao resseguro devem começar a operar no país. Comenta-se que 15 resseguradoras só aguardam as novas regras para operar aqui.

O novo superintendente da Susep se diz preocupado com as novas funções da autarquia, que a partir de janeiro terá que fiscalizar e supervisionar também o mercado ressegurador, antes função do IRB Brasil Re, estatal que tinha o monopólio do mercado. Segundo ele, será preciso reforçar o quadro de funcionários da autarquia.

Já para as regras de solvência, que vão exigir maior capital das empresas na medida em que assumem maior risco, Vergilio mantém a data de 1 de janeiro para o início da vigência, mas admite mudar o prazo final para adequação, que seriam três anos e até os percentuais. Algumas seguradoras argumentam que vão precisar de muitos recursos para se adequarem em um prazo muito pequeno.

"Vamos nos reunir e se elas conseguirem nos convencer, vamos mudar", afirma. Na Susep, Vergilio prometeu atuação "firme, imparcial e equilibrada". Ele fez ontem seu primeiro pronunciamento público à frente da Susep no IV Conseguro (congresso de seguros, resseguros, capitalização e previdencia.

O jornalista viajou a convite do IV Conseguro

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Paullyniwood

Daniela Chiaretti
Publicado pelo
Valor Online em 14/09/07

A secretária de Cultura, Tatiana Quintella, montou um cuidadoso plano para atrair empresas e incentivar os produtores a rodar os filmes na cidade
Fotos Anna Carolina Negri


É coisa de desenho animado. Quem entra em Paulínia, uma das cidades mais ricas de São Paulo, dá de cara com um pórtico de torres medievais habitadas por armaduras. Passado o susto, encontra uma avenida limpa e de mato aparado e, mais à frente, um coreto que parece ornado com rendas em uma pracinha florida. Pode facilmente esbarrar com funcionários de macacão laranja caiando o meio-fio do canteiro central da rua que leva ao centro da cidadela. Lembra a cena das cartas de copas de "Alice no País das Maravilhas" pintando rosas brancas de carmim com medo de ser decapitadas pela rainha - a diferença é que este trio está cantarolando e a rainha, aqui, não é tirana. Trata-se da Replan, a maior refinaria da Petrobras, que faz de Paulínia uma cidade onde o PIB per capita é de R$ 170 mil, comparado aos R$ 15 mil da capital. Só que a dependência siamesa torna o município refém da matriz energética, do preço do petróleo, do aquecimento global, dos rumos da companhia. É por isso que o prefeito Edson Moura, do PMDB, diz estar decidido a encontrar mais uma cesta para colocar os ovos. Ele aposta no cinema.

O que está em curso são investimentos de R$ 450 milhões para tornar Paulínia, a 118 quilômetros da capital e a 15 minutos de Campinas, uma cidade cinematográfica. Dessa soma, mais de R$ 100 milhões são da prefeitura e já estão sendo aplicados e outros R$ 440 milhões devem chegar de uma parceria público-privada, com edital saindo do forno. Por mais bizarra que a idéia pareça para quem jamais ouviu falar de Paulínia, uma construção imponente, alta e branca, em acelerado ritmo de finalização, sugere que algo ali está realmente acontecendo. Há certa ambigüidade arquitetônica no mix de traços contemporâneos e as seis colunas gregas na fachada do Theatro Municipal de Paulínia - assim mesmo, com H -, que será inaugurado no ano que vem.

O prefeito Edson Moura é o nome por trás das grandes obras e quer abrir outro caminho para a cidade: "O petróleo é uma fonte finita"

A obra surpreendente é assinada por Ismael Solé, da Solé & Associados, empresa por trás dos projetos de construção e restauro dos teatros mais importantes do país, que coordenou a metamorfose da Estação Júlio Prestes na Sala São Paulo. O teatro de Paulínia será aberto para sediar o primeiro festival de cinema da cidade. "A referência que o prefeito me trouxe foi do teatro Kodak, de Los Angeles", conta Solé.

Todo em cedro rosa, o Theatro de Paulínia tem mesmo cara de festa de Oscar: os detalhes da acústica estão sendo meticulosamente cuidados, o pórtico grego atua como logotipo gigante e faz contraponto às formas contemporâneas, os equipamentos são de última geração e muitos vêm de fora. São 11 mil metros quadrados e 1.250 lugares, 400 metros quadrados de palco, estacionamento para 500 carros. "É um projeto instigante que dará maturidade cultural àquela comunidade, além de opção de emprego e renda", diz o arquiteto. E em 16 meses, quando terminar o mandato do prefeito? "Depende do modelo de gestão que se fizer lá. Se for um sistema público-privado, não se interrompe mais."

O Theatro de Paulínia sugere romper o fluxo tradicional em que os jovens da cidade se deslocam para Campinas em busca de lazer. Paulínia é fofa, mas a primeira danceteria acaba de ser aberta e a vida noturna é siberiana. Não tem nem um restaurante japonês para acalmar paladares estrelados. O maior hotel da cidade, o Íbis, com cem apartamentos, está permanentemente lotado só com a demanda dos executivos do pólo petroquímico. A idéia é que num futuro muito próximo a matriz venha à colônia e a gente de Campinas se desloque para Paulínia.

Se depender de boas intenções, não faltarão oportunidades. O teatro poderá exibir a estréia nacional do próximo filme de Fernando Meirelles, "Blindness", uma adaptação de "Ensaio sobre a Cegueira", do português José Saramago, com Julianne Moore e Gael García Bernal no elenco. "Vou brigar com os produtores para que a estréia brasileira aconteça no teatro de Paulínia", promete Meirelles. Mas, afinal, o que é que esta cidadezinha de 65 mil habitantes tem?

Antes de tudo, bastante dinheiro. A quantidade de concessionárias de carros, lojas de material de construção e lava-rápido que se vêem pela cidade indicam que por ali o dinheiro circula e Paulínia cresce. A arrecadação municipal bate em R$ 550 milhões ao ano - o repasse estadual do ICMS representa 80% dessa soma, 90% desembolsados pela Refinaria do Planalto, a Replan. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Paulínia, o termômetro social das Nações Unidas, era 0,847 em 2000, o que projetou a cidade para o 13º lugar no ranking entre os 644 municípios do Estado, e em 42º considerando-se todas as cidades brasileiras. Entre 1991 e 2000, Paulínia melhorou seus indicadores de saúde, educação e renda. Não é pouco para um lugar que até 1964 era só mais um bairro de Campinas.

O prefeito enumera os louros paulinienses: o hospital municipal oferece até tomografia e ressonância e evidentemente é procurado por moradores de Campinas, Hortolândia, Sumaré, Cosmópolis - o que o tornou saturado e exigirá ampliação e reforma de R$ 37 milhões. No centro oftalmológico e odontológico, os pacientes aguardam a vez sentados, sem filas. Os universitários de Paulínia que estudam em outra cidade têm transporte gratuito até a faculdade e fizeram gratuitamente o cursinho pré-vestibular, no sistema Anglo, oferecido pelo município. São cinco mil os servidores públicos na cidade e é fácil entender a razão: o menor salário, de servente, é de R$ 2.300 por seis horas de trabalho. No ano passado, o salário-base das professoras da rede foi reajustado em 79%.

Com tudo aparentemente bem encaminhado, chegou a vez da cultura. O prefeito, baiano de origem, está no terceiro mandato - eleito com mais de 70% dos votos - e chegou à cidade para trabalhar na instalação da refinaria. Paulínia tinha cinco mil habitantes. A Replan foi aberta em 1972 e funcionou como um ímã para o setor - estão lá, uma atrás da outra, a Texaco, a Rhodia, a Liquigás, a Syngenta, a Ultragás e outros nomes vigorosos. Dois raminhos de algodão gravados no brasão da cidade parecem ser o que restou do antigo cultivo da época pré-Replan. Plantações de café, arroz e cana agora são tímidas.

Com o vigor da receita industrial e confesso pendor para grandes obras ("Sou o maior empreiteiro de calçadas do país"), Moura já ergueu pontes, construiu um sambódromo e concha acústica, instalou semáforos que falam, treinou os chefes da guarda metropolitana "na Swat". Até o muro do cemitério central foi reformado. A nova prefeitura, bem em frente do teatro, é uma megaconstrução de vidros azuis, 17 mil quadrados e R$ 53 milhões de investimento, que recebe os visitantes com cascata na fachada e passagem subterrânea para as celebridades que quiserem entrar ou sair do teatro fugindo da muvuca.

É verdade que algumas idéias de Moura se foram com o vento. "Eu tinha o projeto de fazer um parque temático na cidade", conta o prefeito, lembrando o fim do segundo mandato, quando quis trazer o Hopi Hari para Paulínia. Mas seu sucessor não quis saber da coisa e o parque de diversões foi para Campinas. A idéia de dar outra vocação à cidade persistiu. "O petróleo é uma fonte finita, começa-se a migrar para as energias renováveis", preocupa-se Moura. "Tínhamos que investir rápido na área de entretenimento e turismo. Aí veio a idéia da cidade cinematográfica." Bingo. Como um efeito colateral do aquecimento global, Paulínia pode virar uma espécie de Paullyniwood.

A primeira providência foi nomear como secretária de Cultura a administradora Tatiana Stefani Quintella. Ela trabalhou na Warner Bros. e na Columbia Tristar/Sony Pictures, é apaixonada por cinema, muito bem relacionada e se entusiasmou com a idéia de tocar o projeto de Paulínia. Tatiana abriu logo várias frentes e contratou o crítico de cinema Rubens Ewald Filho como consultor. Seria algo nos moldes do Festival de Gramado ou uma reencarnação dos célebres estúdios da Vera Cruz? "Este projeto não tem nada a ver com a Vera Cruz, que era um estúdio à moda antiga de Hollywood", esclarece Ewald. O festival é só uma das peças desse ambicioso tabuleiro. "Nunca houve nada no Brasil como Paulínia, um pólo com dinheiro para produzir e, ao mesmo tempo, dando condições para que filmes sejam rodados na cidade."

Tatiana assumiu a pasta da Cultura em abril de 2006 e dois meses depois nascia o "Paulínia - Magia do Cinema" com um layout impressionante que engloba museu, escola, quatro estúdios, leis de incentivo, escritórios para produtoras, mostra e festival de cinema anuais, visa a atrair empresas de equipamentos, serviços e turismo e, principalmente, conquistar produções para que rodem na cidade. A inspiração vem de Alicante, na Espanha, onde investiram quase US$ 400 milhões em uma empreitada parecida.

Algumas das peças mágicas de Paulínia já estão prontas e funcionando. É o caso da Film Commission, uma estrutura que pretende seguir os passos das maiores do mundo, em que o produtor de um filme ou de um comercial de TV se senta em uma cadeira de diretor e vai pesquisando o que a cidade tem: quem fornece o melhor pastel, onde tem uma cachoeira, uma ruína de fazenda, uma atmosfera mais urbana, um jatinho, um gato chinês. O banco de dados da Film Commission já tem 600 nomes de fornecedores e possíveis figurantes. "Veio gente inscrever até o cachorro", brinca Tatiana.

Todas as salas, dos arquivos às reservadas aos atores, têm placas em português, inglês e espanhol, revelando as intenções do projeto. Na recepção, um filme informa que a indústria cinematográfica é um setor com faturamento global de US$ 119 bilhões e que deve crescer 7% ao ano entre 2005 e 2009. No Brasil foram R$ 77,5 milhões de receitas em 2005, com 51 novas produções. "A maioria dos filmes americanos é feita hoje no Canadá e na Austrália", diz Tatiana. "Aonde vai a produção, vai muito dinheiro e muita gente junto."

Um troféu dourado, em pedestal negro, brilha num canto. É a Menina de Ouro, o Oscar de Paulínia desenhado pelo escultor costa-riquenho José Bernardo Salazar - o pedestal negro remete ao petróleo, o dourado à riqueza da cidade e a jovem forma feminina à própria Paulínia. Fotos dos atores Ney Latorraca, Lima Duarte e José de Abreu e dos diretores Fernando Meirelles e Bruno Barreto mostram cenas em que eles recebem a estatueta ou moldam as mãos em cimento. Sim, Paulínia terá sua calçada da fama. As placas ficarão ao lado do teatro e do Museu da Imaginação, um centro interativo e lúdico, com a história da televisão e do cinema brasileiros, que está sendo criado por Marcello Dantas. É dele o mais visitado museu de São Paulo, o da Língua Portuguesa, na Estação da Luz. O museu de Paulínia ocupará o espaço térreo da antiga prefeitura. Acima dele, 13 salas serão alugadas como escritórios às produtoras.

À porta da Film Commission, um tapete vermelho e um charmoso trailer branco conferem glamour cinematográfico ao espaço, uma área de 147,5 mil metros quadrados onde há também um shopping, a escola e, espera-se, logo surgirão o museu e os estúdios. A área total destinada ao entretenimento inclui a nova prefeitura, o teatro, o sambódromo. Ali, acredita o prefeito, logo se construirão também hotéis.

No ano passado, Paulínia sediou a filmagem de "Topografia de um Desnudo", de Teresa Aguiar, que relata uma história cruel do Rio dos anos 1960. "Rodaram nas ruínas de uma fazenda de café, a Santa Terezinha, e não tinha banheiro para os atores", lembra-se Tatiana. Foi aí que a prefeitura encomendou o trailer e um motorhome.

A poucos metros da Film Commission está a Escola Magia do Cinema, já funcionando com aulas ministradas por professores do Senac e da Fundação Getúlio Vargas. São cursos diversos e gratuitos (só a matrícula, R$ 50, é cobrada), de assistente de diretor e cenografia a figurino e maquiagem, iluminação e operador de câmera, roteiro e, evidentemente, o curso mais disputado, de ator. Abriu as portas e o que se viu foi uma corrida do ouro: 1.740 inscrições para 440 vagas. As salas são bem fornidas de computadores e retroprojetores, espelhos e perucas. Do lado de fora, um painel fotovoltaico de ? 30 mil foi doado por uma empresa italiana e indica que 60% do consumo energético da escola virá do Sol.

Nos corredores, painéis estampando Marylin Monroe, James Dean, Carmen Miranda e Oscarito buscam dar inspiração aos novos talentos. "Eu me inscrevi, mas desta vez não fui aceito. Vou tentar de novo", diz Valdir Aparecido da Silva, 22 anos, atendente do Íbis. Valdir nasceu em Campinas, estuda teatro em Paulínia e vai para Campinas quando quer encontrar os amigos num boteco. "Não vejo a hora de o teatro inaugurar para estrear nossa peça", afirma. "Este pólo vai ser muito bom", festeja, ao lado do recepcionista do mesmo hotel, que não ouviu falar ainda dessa história de cinema em Paulínia.

Deve ter passado ao largo das duas edições da mostra de cinema, a primeira em 2006, que durou 26 dias, exibiu mais de 60 filmes no centro de eventos e registrou 56 mil espectadores. A deste ano - o ingresso era um saquinho de pipoca -, foi vista por 58 mil pessoas. Compareceram Reynaldo Gianecchini e Taís Araújo, Lázaro Ramos e Deborah Secco, além dos pais de Luciano e Zezé di Camargo. "A mostra é voltada para a população sem recursos, para criar uma cultura de cinema na cidade", explica Tatiana.

Embora seja uma das coroas da região batizada de Califórnia Brasileira, Paulínia tem, naturalmente, "população sem recursos". Muitos vêm de fora. Nas ruínas da Fazenda Santa Terezinha, as casinhas estão todas ocupadas. A atmosfera é de ambiente rural, com cabras andando por ali, a poucos quilômetros das grandes rodovias que levam à capital e ao aeroporto de Viracopos. A pernambucana Isabel Maria da Silva, 70 anos em novembro, 20 filhos ("Criou-se dez", diz), 35 netos e 8 bisnetos, vive por lá há poucos meses. "Faz seis anos que meu marido faleceu. Ele teve problema de próstata e aqui tinha todo benefício da gente de Paulínia. Todo tipo de medicina, até dentista", conta Isabel, ladeada pelos netos Fabio e Fabiano, que ela cria desde que a filha morreu "de dieta".

Isabel espera a chuva, "porque as sementes de abóbora estão lá dentro" e aponta para a casinha do terreno da prefeitura. "Sei que fiz coisa errada quando a gente invadiu e agora estamos na mão daquele Pai Celestial. Mas é que quando a gente fica com necessidade tem que ir para um pau que tenha sombra." A sombra de Paulínia parece ser das mais generosas. Os 65 mil habitantes da cidade contam com 21 ambulâncias; Campinas, com perto de um milhão de habitantes, tem 14.

Um estudo encomendado pela Secretaria de Cultura de Paulínia à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a Fipe, de São Paulo, dá diagnóstico auspicioso sobre o impacto da instalação de um pólo cinematográfico na economia da cidade. Pelo estudo, cada R$ 1 mil gasto por produção cinematográfica no município produziria renda de R$ 521 e emprego de 32 pessoas por ano. Como o projeto tem potencial para atrair turistas, os benefícios podem ser amplificados. Mas, aí, os analistas da Fipe fazem um alerta: "É crucial que projetos de hotelaria sejam objeto de atenção por parte do setor privado local e da administração municipal." Por enquanto, as celebridades que vêm conhecer o projeto se hospedam em um resort cinco-estrelas de Campinas.

O prefeito Edson Moura se antecipa aos buracos que podem fazer água à magia do cinema pauliniense. Para atrair investidores em hotéis e serviços, ele pretende dar isenção, em dez anos, de 100% do IPTU, o imposto territorial urbano, e de 50% do ISS, a taxa sobre serviços. Também doará áreas. "Já temos candidatos para dois hotéis aqui" - aponta para as proximidades do teatro. A intenção é também contemplar empresas de audiovisual que quiserem produzir, por exemplo, projetores ou DVDs.

O pólo de cinema de Paulínia é um polvo de muitos tentáculos. Estão previstos quatro estúdios, que terão 1.200, 900 e 600 metros quadrados para grandes produções e pequenos comerciais. Devem ser bancados pela PPP, assim como o museu. Para arredondar o projeto, foram elaboradas duas leis de fomento. Uma delas é o Fundo Municipal de Cultura e a outra prevê incentivos fiscais nos impostos municipais. Dessa forma, podem existir R$ 5 milhões em caixa para selecionar e investir na produção de filmes. A contrapartida prevê que cada obra patrocinada pelo poder público tenha pelo menos dez estagiários formados pela escola, 50% de figurantes residentes na cidade e que a produção gaste 40% do que recebeu em Paulínia.

Recentemente ocorreu a primeira seleção e nove trabalhos foram contemplados. Um dos filmes é "Budapeste", baseado no livro homônimo de Chico Buarque. Outro será a refilmagem de "O Menino da Porteira", com o cantor Daniel. Um terceiro, "Vida Invertida", é de Silvio Tendler e José de Abreu. O filme de Meirelles também está na lista.

O diretor é um entusiasta do pólo de Paulínia. "O que me impressiona nesse projeto é que é consistente e pensa o cinema como indústria, integrado à vida da cidade", diz Meirelles. "Não é apenas aquela gavetinha destinada à promoção da cultura." Outro empolgado é o ator José de Abreu. "Contrataram gente boa, fizeram tudo direito, acho que é um negócio que pode multiplicar", opina. Abreu é de Santa Rita do Passa Quatro, conhece a região e se lembra bem de quando Paulínia era uma cidade sem nenhum atrativo. "Agora parece uma mini-Brasília. Todo mundo que chega lá leva o maior susto." Em Paulínia ele imagina erguer uma aldeia judaica russa, de 1800, para o filme "Vida Invertida".

Mais aplausos vêm do ator Paulo Betti, que é de Rafard, outro município ali perto, e foi um dos fundadores do curso de teatro da Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas. "É uma região rica em possibilidades, com fartura de locações", registra. Ele desconhece algo do gênero no país, "com film commission, leis de incentivo, estúdios, escola, teatro maravilhoso e a aproximação do cinema com a TV". Betti só espera que "tudo isso não dure apenas o tempo de um mandato, que seja só investimento em prédio."

E os inimigos, dizem o quê? Quem telefona para a Câmara dos Vereadores de Paulínia e pede por algum nome do Partido dos Trabalhadores escuta logo da telefonista: "Aqui não tem oposição, só situação." As maiores farpas ao prefeito vêm de uma pequena organização não-governamental, a Associação de Moradores e Amigos de Paulínia, a AMA-Paulínia, fundada em 2005. "Ninguém tem nada contra a cultura. O que questionamos é a falta de prioridades e a utilização do dinheiro público em projetos gigantescos", critica o clínico-geral Marcos Aurélio Teixeira, presidente do Conselho de Administração da entidade.

Na sua curta trajetória, a AMA-Paulínia abriu uma série de ações contra a gestão de Moura. A primeira delas sugere indícios de fraudes na licitação da cobertura de quadras poliesportivas. Seguem-se outras, todas ainda no Ministério Público, que vão da suspeita de enriquecimento ilícito a asfalto superfaturado ou acusações de nepotismo no poder público. "As escolas estão sucateadas, o hospital municipal, que era uma referência na região, hoje não dá conta do atendimento, temos déficit de creches. Aqui se distribuem seis mil cestas básicas, quando a média geral, para uma cidade como Paulínia, é de 500 ou 600."

Carolina Bordignon, secretária de Recursos da prefeitura, apresenta seus números. Neles, o que se vê é que Paulínia paga o preço de ter mais recursos do que as cidades vizinhas. Só no primeiro trimestre de 2007, o atendimento hospitalar registrou 1.300 internações e o pronto-socorro executou 78,6 mil atendimentos. Foram 131 mil exames realizados no hospital e no pronto-socorro. É como se toda a cidade tivesse se sentido muito mal nos primeiros meses do ano. A obrigação legal exige que os municípios invistam 15% do que arrecadam na saúde e 25% na educação. "Em 2006, Paulínia lançou 28,8% da arrecadação em educação, fatia que deve crescer para 32% este ano", promete Carolina. A parcela da saúde foi de 15,4% em 2006 e saltará para 22% em 2007.

A atual polêmica da AMA-Paulínia com Moura tem a ver com o projeto do prefeito batizado Manto de Cristal. Trata-se de uma pirâmide que lembra as astecas, de 22 metros de altura e que pretende cobrir alguns prédios históricos, como a centenária igreja São Bento. A justificativa da prefeitura é a preservação do patrimônio, a cereja do bolo da revitalização do centro histórico. Para os opositores, trata-se de uma aberração. Por ora, a AMA-Paulínia conseguiu embargar a obra. Quem caminha pelo centro da cidade percebe que não há fiação à vista, a iluminação pública vem das românticas lanternas amareladas, a pavimentação é exemplar - à exceção de um pequeno trecho de uns 100 metros, exatamente à frente da igrejinha, a parte sob embargo.

"Tudo aqui é gigantesco. O que se gasta por mês com ônibus de transporte escolar para levar os alunos à escola daria para construir uma unidade para 800 estudantes", calcula o médico. "Não vou dizer que não existem idéias interessantes, mas o que não tem é prioridade", prossegue. "A gente fica até chateado, é chacota da região. Moradores de outros municípios perguntam: você vem daquela cidade que tem um faraó que quer fazer a pirâmide?" Para Teixeira, a vocação de Paulínia é industrial. "A Petrobras já fala em energia, não mais só em petróleo. Temos que acompanhar essa tendência."

Os executivos da Replan preferem não comentar a gestão de Moura ou a criação do pólo cinematográfico. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa dá apenas informes institucionais. A Replan é a maior unidade do sistema Petrobras. Em capacidade de processamento de petróleo são 57,2 mil metros cúbicos por dia que saem dali. Emprega duas mil pessoas e responde por 20% de todo o refino de petróleo do país. Em 2006, arrecadou R$ 11,3 bilhões em impostos. No horizonte, anuncia investimentos para reduzir a poluição e se adequar a normas ambientais mais rigorosas e próximas a padrões internacionais. A intenção é investir R$ 2,7 bilhões até 2010 na produção de diesel e gasolina com menores teores de enxofre. Nas contas da empresa, em três anos, uma frota de dois mil ônibus abastecida por diesel mais limpo terá emissão de enxofre equivalente a 200 ônibus. O mesmo deve ocorrer com as emissões da frota de caminhões.

Há 35 anos, quando a Replan começou a operar em Paulínia, Cubatão, na Serra do Mar, ganhou fama mundial pelas desgraças provocadas por uma tenebrosa e descuidada poluição industrial. Paulínia poderia ter seguido o mesmo caminho. Embora tenha seu histórico de passivo ambiental, a cidadezinha parece ter tido outra sorte. O curioso é que a terra que pode virar referência cinematográfica nacional não tem uma única sala de cinema há quase dez anos. Não por isso. Paulínia pode virar a cidade dos tapetes vermelhos.

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