segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Investimentos sociais devem partir de uma visão sistêmica

Rodrigo Zavala
Publicado pelo
redeGife Online em 17/09/07

Há três anos, a cidade mineira de Barroso, com pouco mais de 20 mil habitantes, vive um processo de desenvolvimento sustentável. Capitaneado pela administração pública local e pela empresa suíça Holcim, o Projeto Ortópolis Barroso propõe uma mudança no comportamento de todos os moradores, para a construção de uma comunidade responsável.

Por trás dos belos discursos, a iniciativa tem uma marca considerada vital para muitos especialistas: possuir uma visão sistêmica não apenas da realidade da qual se quer mudar, mas de todos os processos a serem implementados. “O primeiro objetivo foi mudar cultura de dependência dos moradores da cidade com a Holcim, grande empregadora da região. O desafio era desenvolver a cidade inteira para isso”, argumenta o Prefeito de Barroso, Arnaud Baldonero Napoleão (PSD).

O passo inicial consistiu em fazer um raio-X da cidade e identificar as necessidades imediatas da população. Representantes da sociedade, da Holcim e do poder público desenvolveram um plano operacional com o propósito de garantir o funcionamento do programa.

O Instituto Holcim, por sua vez, encarregou-se de organizar eventos para capacitar a população e as lideranças locais, apresentando os conceitos de desenvolvimento sustentável. “Sempre estive convencido de que o caminho correto é por meio do desenvolvimento de base e da educação, capacitando os membros da comunidade a identificar e administrar problemas e oportunidades e a elaborar um programa de ação”, explica o presidente da Holcim Brasil, Carlos Buhler.

Segundo o economista, Edgar von Buettner, presidente do Instituto Edgar von Buettner de Desenvolvimento Humano, o conceito de visão sistêmica se baseia no organismo humano. “Isto é, não podemos ver as coisas de forma linear, como uma cadeia de causas e efeitos. Mas, de uma forma sistêmica, interdependente, em que cada elemento tem sua função, seu papel”, argumenta.

Assim, em busca de consensos comunitários, foram traçadas as estratégias de ação. Um dos mecanismos propostos e realizados para fazer a interação entre o setor público, a iniciativa privada e a comunidade foi a criação da Associação Ortópolis Barroso (AOB), cujo corpo diretor é composto por pessoas eleitas no voto direto.

Essa entidade é a representação norteadora das ações do programa, responsável pelos “Rs”, nove eixos temáticos chaves que analisam os resultados de tudo que é feito. Para isso, trabalha com diversos temas como Mudança Comportamental, Modelo de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Agronegócio, Econegócio, Gestão Ambiental, Paisagismo, Infra-estrutura e Plano Urbano.

“O resultado de um processo de desenvolvimento local, para ser efetivo, tem de contar com a participação da comunidade, desde a identificação dos problemas até a implementação das ações. Não é o consultor com uma solução preconcebida, que garantirá o sucesso, pois o resultado não será sustentável”, acredita o coordenador de programas do Instituto Holcim.

Novos debates – O caso de Barroso é oportuno nas discussões sobre investimento social privado e sua participação no desenvolvimento sustentável defendido pelas empresas. Para analisar a opinião da comunidade empresarial sobre o tema, o Grupo Ibope entrevistou 537 executivos de 381 grandes empresas brasileiras (veja reportagem).

Por meio das respostas, foi possível detectar paradoxos entre o que se entende como sustentável e o que realmente se faz para chegar a esse fim, principalmente no que se traduz em questões estratégicas. O CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni, responsável pela pesquisa, acredita que se as empresas não entenderem que fazem parte de um sistema, na qual tem responsabilidades e potenciais formas de atuação, o discurso “sustentável” será falacioso.

A Holcim parece entender o recado. Em um segmento que se automatiza cada vez mais, ter muitas pessoas dependentes à cimenteira seria uma tragédia anunciada. Por isso, fomentou-se o crescimento de toda a cidade. Em um processo em que todos podem ser beneficiados, o investimento social foi providencial para a sustentabilidade.

Mesmo assim, há os negativistas, como o fundador e diretor do Institute of Social Sciences de Nova Délhi, George Mathew, que afirma ainda faltar seriedade nas políticas empresariais de responsabilidade social. Ele dá como exemplo a Índia: “Grande parte das empresas parecem estar mais preocupadas em fazer marketing social do que ações de responsabilidade social. Infelizmente, das 140 filiais de multinacionais instaladas no país, ainda são poucas as que estão preocupadas em colaborar para o desenvolvimento sustentável”.

Para o sócio da PricewaterhouseCoopers, celebrado como o "guru da Nova Economia", o americano Andrew Savitz, sustentabilidade não é filantropia. “Hoje, as empresas são cobradas para que promovam a diversidade, ajudem a recuperar o meio ambiente, combatam o trabalho infantil, monitorem a cadeia de suprimentos, promovam a saúde pública, gerem empregos e levem desenvolvimento para as comunidades em que atuam. E, é claro, precisam continuar ganhando dinheiro", explica.


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