segunda-feira, 23 de julho de 2007

Estatuto da Criança e do Adolescente faz 17 anos

Publicado pelo Portal do Voluntário em julho de 2007

Mais do que uma mudança na legislação, o ECA trouxe ao Brasil uma nova forma de se perceber e respeitar a criança e o adolescente, sem distinção de raça, classe social ou qualquer forma de discriminação, tornando-os sujeitos de direitos. O Estatuto também criou mecanismos de proteção nas áreas de educação, saúde, trabalho e assistência social.

Apesar dos inúmeros projetos ligados a ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda é desconhecido para a maioria das pessoas. O ECA ou Lei 8.069 foi aprovado no dia 13 de julho de 1990, por meio de um movimento da sociedade civil organizada que reivindicou a cidadania de crianças e adolescentes.

O ECA é dividido em dois livros: o Livro I trata das regras para vida, educação, saúde, liberdade, dignidade, convivência familiar, esporte, cultura e lazer, trabalho, prevenção à ameaça e violação de direitos, compreendendo os direitos das crianças desde a gestação e adolescentes até 18 anos. O Livro II, com 181 artigos, enfoca as normas a serem utilizadas para corrigir tais desvios, assim como indicação de acesso ao Estado brasileiro, para garantir esses direitos.

Para garantir que os direitos das crianças e adolescentes sejam respeitados, foi criado o Conselho Tutelar, órgão municipal composto por cinco membros, eleitos pela comunidade, que acompanham os menores e decidem qual a melhor medida de proteção.

Conhecendo o ECA
Muitos órgãos públicos e instituições funcionam como ferramentas de conhecimento e/ou utilização do ECA. Previsto no Estatuto, o Conselho Nacional da Criança e do Adolescente/Conanda tem a finalidade de deliberar e controlar a política de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente no nível federal. Para divulgar e discutir ainda mais o assunto, o Conanda realizará, ao lado da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, entre os dias 3 e 6 de dezembro, em Brasília, a VII Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que, este ano, terá o tema: Concretizar direitos humanos de crianças e adolescentes: investimento obrigatório.

Projeto da Fundação Telefônica e organizado pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração (Ceats), o Portal Pró-menino/Risolidária tem a missão de atingir os profissionais da área de proteção aos direitos da criança e do adolescente com conteúdo sobre o tema. Além da internet, o projeto também organiza capacitação de profissionais da área ou estudantes nos temas ligados ao Estatuto, como o “ECA no Escola da Família”. O Portal Pró-menino também organiza um concurso anual, o Concurso de Causos do ECA, em que histórias exemplares de aplicação do ECA são premiadas.

Assim como o Portal Pró-menino, a Fundação Abrinq também tem a missão de promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania da criança e do adolescente. Todo o trabalho da Fundação, que é uma organização “amiga da criança”, é pautado na Conveção Internacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989), Constituição Federal Brasileira (1988) e Estatuto da Criança e do Adolescente. Atualmente, a Fundação Abrinq beneficia milhões de crianças e adolescentes por meio de seus programas, além da ajuda de muitos parceiros. Conheça melhor o trabalho da Fundação Abrinq na entrevista de Sandra Faria, Superintendente da Fundação.

Garantia de informação
Parceria entre organizações de comunicação que atuam na área, a ANDI, Agência de Notícias dos Direitos da Infância, surgiu em 2000 com o objetivo de investir na formação de uma cultura jornalística que investigue e priorize as questões relativas ao universo infanto-juvenil, sempre sob a ótica dos seus direitos. Em 2005, a Rede ANDI Brasil, em parceria com o Conanda e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, realizou o projeto “Qualificando a mídia em favor dos direitos da criança e do adolescente”, com o intuito de expandir a sensibilidade e compreensão dos comunicadores e orientá-los na abordagem dos temas relacionados ao ECA e os Conselhos Tutelares.

Em 2006, a Rede concentrou sua atuação no projeto “Comunicação para o Desenvolvimento, que reuniu uma série de ações focadas na região do Semi-árido, uma das realidades de maior desafio para a garantia dos direitos da infância e da adolescência dos brasileiros.

Criada em 1996, a Rebidia, Rede Brasileira de Informação e Documentação sobre Infância e Adolescência, é um instrumento a serviço de todos os interessados no assunto, com ênfase especial nos conselheiros e formuladores de políticas públicas, operadores e gerentes de projeto para o setor. Trata-se de um sistema descentralizado de documentação e informação sobre infância e adolescência, gerenciado por uma rede de organizações não-governamentais. O objetivo é a criação de múltiplos canais de acesso à informação e documentação, bem como promover a capacitação, por meio de um processo de educação contínua, dos seus usuários.

Não bata, eduque!
Em 2005, a Rede Não Bata, Eduque foi criada no Brasil com o objetivo de erradicar a prática dos castigos físicos e humilhantes contra as crianças. Neste ano, o trabalho se intensificou e foi lançada uma Campanha Nacional, onde uma série de materiais de sensibilização e educativos como vídeos, anúncios, spots de rádio e folders serão veiculados para incentivar os pais e responsáveis a refletir sobre suas atitudes e mostrar as conseqüências que os castigos físicos e humilhantes trazem para as crianças, família e sociedade.

A campanha tem a apresentadora Xuxa Meneghel como sua porta-vez. A sua fundação, a Fundação Xuxa Meneghel, é uma das organizações sociais que integram a Rede Não Bata, Eduque. Além dela, a ANDI, a Comunicarte, o Fórum Nacional DCA, a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, a Fundação Abrinq, o Projeto Proteger, o Promundo e o Save the Children Suécia também fazem parte dessa iniciativa.» Entenda mais sobre Conselho Tutelar» Telefones e endereços úteis» O importante trabalho dos Conselhos Tutelares

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Os caminhos do dinheiro usado em iniciativas sociais

Rita Monte
Publicado pelo
Mapa do 3º Setor

“Hoje a única área de financiamento do ‘Terceiro Setor’ em franca expansão é a venda de produtos e serviços”. Se você é gestor de uma organização ou projeto social, já deve ter pensado nessa frase. Quem a diz é Fernando Rossetti, secretário-geral do Gife, ao falar sobre a origem do dinheiro que financia ações do campo social – de onde vem ou de onde deveria vir? Não sem crítica, Rossetti apresenta um cenário de mercado para a sociedade civil e o chamado “Terceiro Setor”, ao enxergar “um momento darwinista para o setor: as ONGs mais fortes sobreviverão, e elas necessariamente são as profissionalizadas. Para uma organização sem fins lucrativos sobreviver, ela é obrigada a ter um plano de negócios, se não ela vai quebrar. A sociedade civil transformou-se em um mercado – costumo dizer, ironicamente, que é um mercado do bem”, completa Rossetti.

O panorama colocado carrega o desenrolar da sociedade civil organizada no Brasil, trazendo um conceito cada vez mais presente entre dirigentes de organizações sociais e financiadores: a auto-sustentabilidade. Em um movimento de fragilização do modelo tradicional de financiamento do campo social, que colocava fora da organização as principais fontes de recursos, a criação de projetos de geração de renda parece surgir como “a” solução para a sobrevivência das organizações sem fins lucrativos – ou, como diz a lei civil, com fins não econômicos, como frisa Francisco Galdino, superintendente da organização mineira Fundação Projeto Sorria, “porque lucro temos que ter, para ser revertido para a própria organização”.

Fazendo um paralelo com o desenvolvimento do campo social no país desde a década de 90 – especialmente tocante às fontes de recursos –, Galdino conta a história da Fundação Projeto Sorria, organização que presta serviço gratuito de prevenção e ortodontia a crianças de zero a 7 anos, tendo atendido mais de 7 mil crianças e suas famílias e que, em 16 anos de existência na cidade de Ouro Preto, transformou sua visão sobre a dependência com relação a financiadores. Galdino começa:

“O maior financiador, por anos, foi o Poder Público local, que subvencionava a Fundação com um valor mensal destinado a cobrir não só o custo do Projeto Sorria, mas o próprio custeio institucional – temos a despesa mensal de R$ 60 mil para pagar o salário de 43 funcionários e manter 8 unidades de atendimento de boa qualidade. Com o tempo, avaliamos que a Prefeitura alterava a política de ‘doar’ de acordo com o ponto de vista do governante: ficamos dependentes dessa situação – a subvenção chegou a ser da ordem de 60% do nosso orçamento. E isso não podia mais continuar.
Em 2007, começamos a mudar o pensamento: conversamos com a Prefeitura, mostrando que a ONG presta serviço. Como a Fundação cumpre seu dever social realizando ações para a comunidade, nada mais justo que receber dinheiro por isso. Então, definimos valores para essas ações (valores, claro, abaixo dos praticados pelas iniciativas privadas) e fizemos um contrato administrativo de prestação de serviço. Prestamos um trabalho e recebemos por ele”, relata Galdino.

Fernando Rossetti expande esse cenário e atesta as mudanças nas relações sociedade civil/Estado no Brasil que, atualmente, permitem contratos desse tipo: “de 1990 para cá, essas relações se transformaram: hoje o Estado se relaciona financeiramente com a sociedade civil associando-se ao ‘Terceiro Setor’ na execução de políticas públicas, como o caso do Comunidade Solidária, do Fome Zero”, explica.

Além de ter oportunidade de mudar a qualidade da relação com seu principal financiador – a Prefeitura de Ouro Preto –, a Fundação Projeto Sorria investiu em um negócio próprio. Galdino continua:

“Quando detectamos que as empresas também mudaram sua política de financiamento – passaram de doações para aproveitamento dos incentivos fiscais destinados a projetos específicos –, ficamos alertas. No fim de 2005 começamos a pensar em algo que a Fundação pudesse fazer para ser auto-sustentável. Diante dessa situação de vulnerabilidade frente aos financiadores – estávamos sempre nas mãos de alguém para continuar nossas atividades –, fomos premiados por um empresário local com a idéia de montar um negócio: produção e venda de produtos de higiene pessoal e cosméticos. A idéia era boa: os sabonetes são produto de alto valor agregado, vendem bem em uma cidade turística, têm o potencial de levar o nome de Ouro Preto para fora, sem falar que quando o produto é feito por uma ONG, as portas se abrem.... Fizemos um plano de negócio que prevê tudo, até exportações para a Europa, realizamos campanha publicitária (desenvolvemos um selo para indivíduos e empresas consumidoras – chamamos nossos consumidores de “parceiros”) e mostramos para o comércio e para as indústrias locais que aquele produto não almeja o lucro para as pessoas da Fundação, mas que reverte para o sustento da própria organização. Na fábrica geramos 7 empregos diretos, mais 3 a 4 estágios em acordo de cooperação técnica com Universidade Federal de Ouro Preto – alunos e professores da faculdade de Farmácia são os responsáveis pelo controle de qualidade de nossos produtos. Em até 4 anos, a idéia é sermos auto-sustentáveis, embora não veja que apenas nosso projeto de geração de renda seja o responsável por nos manter – mas ele será a principal fonte”, finaliza Galdino.

A Fundação Projeto Sorria é um bom exemplo de organização que almeja e caminha para um lugar de maior auto-sustentabilidade. Mas o que implica ser uma organização auto-sustentável? Haveria sombras nessa condição? Daniela Nascimento Fainberg, fundadora do Instituto GerAção e coordenadora do Programa Nova Geração, voltado ao desenvolvimento pessoal e social de jovens privilegiados, traz alguns elementos que podem passar despercebidos no debate, e pondera:

“Não acredito que toda organização da sociedade civil deva ser auto-sustentável, se auto-sustentabilidade significar desnecessidade de recursos externos. Nesse sentido de gerar os próprios recursos, acredito que a organização deve depender de outros recursos, inclusive dos externos: se a organização existe na sociedade, se sua causa é de fato importante, então não só ela deve contribuir para que sua missão seja cumprida. Cabe à organização mostrar a relevância de seu trabalho para que a sociedade possa cobrá-la. A participação de diversos atores no orçamento da organização, além de ser financeiramente saudável e importante, é essencial para aproximar esses sujeitos da organização e viabilizar a própria participação desses atores na sociedade. Além do que, auto-sustentabilidade muitas vezes pode se tornar um isolamento. E aí surge uma outra questão: a não-colaboração entre as organizações sociais. Isso pode advir de uma ‘concorrência’ pelos mesmos recursos, mas uma organização social deveria pensar em qual sua relevância para aquilo que lhe é único, e não seguir a linha do ‘quanto mais organizações sociais no Brasil, melhor’: uma organização pode estar duplicando o trabalho de outra”, acredita Daniela.

Para a gestora, sustentabilidade e auto-sustentabilidade têm um significado mais amplo que o que tende a se colocar num contexto de mercado (concorrência por recursos, enxugamento de fontes, desenvolvimento de negócios próprios). Para ela, “sustentabilidade não diz respeito apenas à dimensão da sustentação financeira de uma organização, mas também à capacidade de desenvolvimento e revisão constante de seu projeto institucional. É uma combinação da capacidade da organização social de obter receitas ‘próprias’ com a de acessar fontes de financiamento públicas, privadas e não-governamentais nacionais e internacionais. Ao falar em auto-sustentabilidade, também, entramos em uma discussão anterior sobre qual é a função da organização: ao identificá-la, podemos enxergar se um negócio próprio cabe ou não”, comenta. Seguindo essa linha de raciocínio, Daniela inclui na construção da sustentabilidade o fator da qualidade das relações com financiadores externos e o que isso pode dizer sobre o potencial de transformação da realidade social. E muda o lugar de onde enxerga a sustentabilidade das organizações sociais, agora falando a partir de uma distância, promovida por ambos os lados, entre doador e organização beneficiária. Daniela pontua:

“Muitas vezes vejo no novo doador impaciência e até uma certa arrogância (por estar na lógica do mercado, com muito mais ferramentas, com modelos eficientes de gestão, querendo resultados rápidos etc). Mas, também, vejo uma certa desconfiança legítima. Afinal, quem acredita as organizações da sociedade civil? Há iniciativas isoladas e louváveis, como o Mapa do Terceiro Setor do CETS, o Prêmio Bem Eficiente, mas, em geral, falta credibilidade das ONGs frente à população – e por quê frente ao doador isso seria diferente? Por essa razão vejo nas organizações sociais um papel de educar esse doador, mas parece que esse lado ainda é frágil. Ouço muito a fala ‘quero uma relação mais duradoura com o financiador, para fazermos juntos’, mas o que a organização faz para isso? Pede recursos, apresenta relatórios e resultados e, de vez em quando, aparece no escritório do doador? “, provoca Daniela. E arremata:

“Esse lado de educar o doador é muito novo. Muitas vezes o doador não quer, mas também, muitas vezes, quem não quer esse papel é a própria organização beneficiada. Para mim, se quisermos realmente transformar algo, a grande chave está na relação da organização beneficiária com o doador, e vice-versa. Do lado do doador, se só pensar em resultados a curto prazo e quantitativos, não se muda o status quo de ninguém. E do lado da organização social, ela deve ter essa leitura: ‘o que eu dou em troca desse recurso? O doador faz isso porque é bonzinho?’. Se queremos que a realidade realmente mude, devem haver esforços conjuntos da organização com seus doadores e com outras organizações semelhantes tanto no sentido de gerar credibilidade para o trabalho realizado (pensando em modos de monitorar, em que tipos de resultados querem, em como o trabalho pode ser mais bem realizado) como no sentido de impactar melhor a realidade trabalhada. Por que se for para manter o que temos....”, finaliza, reticente.

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Universidades brasileiras investem no Second Life

Stela Campos
Publicado pelo
Valor Online em 23/07/07

Mais de 100 instituições de ensino já estão funcionando no Second Life, ambiente virtual tridimensional na internet onde as pessoas criam suas representações visuais e vivem simulações da vida real online. E não se trata apenas de escolas novatas, capitaneadas por jovens empreendedores acostumados ao convívio em 3D. Estão neste novo mundo de " faz de conta", que já recebe investimentos e promove negócios de verdade, nomes consagrados como Harvard, Berkeley, Oxford, Insead, entre muitas outras. Agora, as escolas brasileiras também começam a ingressar nessa aventura "high tech" com a ambição de recriar o modelo de aprendizagem tradicional.

As primeiras a fincarem suas bandeiras nesse universo virtual foram a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Universidade Anhembi Morumbi. O Senac entre em cena oferecendo seus primeiros cursos a partir do próximo dia 27. Já a Universidade de São Paulo e a PUC-SP anunciam para agosto um plano ousado. O lançamento do primeiro espaço público no Second Life. A Cidade do Conhecimento 2.0 reunirá projetos educacionais, ambientais, culturais e empreendimentos tecnológicos.

Há quem diga que ainda é cedo para prever a revolução que um ambiente em 3D como o Second Life pode ocasionar ao ensino. Mas, sem dúvida, algumas mudanças já estão em curso. Para Solange Giardino, coordenadora de informática na educação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ensino em ambientes tridimencionais já representa um avanço em relação ao que é usualmente oferecido no ensino online. "O fato de você se ver presente na sala de aula com seu avatar (representação humana criada pelo usuário) e poder interagir com os colegas e professores, colabora para um maior envolvimento dos alunos", acredita. Como em outros cursos na internet, nas aulas no Second Life existe o bate-papo e a correção imediata dos exercícios. "A vantagem é que tudo pode ser gravado ou fotografado", diz Solange.

Mas as possibilidades de inovação no aprendizado em ambientes virtuais hoje ainda são limitadas. "No futuro, o aluno que quiser saber sobre a Primeira Guerra Mundial poderá se teletransportar para uma trincheira e interagir com os personagens da História", diz Cesar Taurion, gerente de novas tecnologias da IBM. "Por enquanto, os cursos ainda simulam a maneira tradicional de ensinar, pois o sistema não é tão sofisticado", diz. "Mas não devemos subestimar o que virá no longo prazo". Sua empresa foi uma das primeiras a comprar "terras" no Second Life na época de seu lançamento em 2003, mas hoje está reticente quanto ao progresso dos negócios nessa plataforma. "Estamos num processo de aprendizado sobre essas novas possibilidades. Quando a internet começou em 1994 também não sabíamos onde iríamos chegar."

Fazer uma réplica das salas de aula tradicionais no Second Life é perder a parte mais divertida do novo ambiente virtual. "É preciso transformar o conteúdo e a narrativa, não fazer uma mímica do mundo real", diz Gilson Schwartz, diretor da Cidade do Conhecimento da USP. "Imagine poder ensinar cidadania fazendo com que os alunos experimentem viver um dia como negros ou como outras minorias", diz. "É preciso explorar esse salto cognitivo que é a representação digital".


Para quem ainda não se aventurou pelo Second Life, a experiência se assemelha a uma participação em um jogo em 3D. Pode ser fascinante ou traumatizante, dependendo do grau de familiaridade do usuário com as ferramentas usadas em programas de relacionamento pela internet como Orkut ou MySpace. Tornar-se um avatar é bem simples para quem costuma jogar no computador. Os menos habituados a esse universo podem apanhar um bocado, principalmente para aprender a usar os comandos que o "teletransportarão" para os campi virtuais das universidades. Uma forma simples de acessá-los é clicar direto nos links localizados nos sites das próprias escolas.

Em muitas escolas do Second Life, como Harvard, o avatar tem a possibilidade de passear virtualmente pela réplica do prédio da universidade. Pelo campus, acessa quadros que o redirecionam para páginas específicas no site da escola. A possibilidade de frequentar ambientes muito próximos da realidade, intangíveis no dia-a-dia, acaba sendo um atrativo a mais para as mais de 8 milhões de pessoas que já ingressaram, pelo menos uma vez, no Second Life desde seu lançamento em 2003. Seu criador, o americano Philip Rosedale, hoje comanda a Linden Lab, empresa criada para administrar o site, que movimentou em junho, US$ 6,8 milhões. A versão em português do Second Life foi lançada no país há pouco mais de três meses e estima-se que já tenha sido utilizada por 300 mil pessoas.

A Universidade Mackenzie está apostando nesse fascínio dos brasileiros por sites de relacionamentos que se assemelham ao mundo real para atrair futuros alunos. Até o fim do ano, deve lançar uma réplica virtual do prédio da escola localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo. O projeto será dos próprios alunos. Desde que criou seus primeiros espaços no Second Life, em abril, nas chamadas ilhas Alpahville e Copacabana, a universidade já recebeu 15 mil visitantes. Num primeiro momento, ela disponibiliza para os usuários vídeos e displays com orientações sobre profissões e um painel onde ex-alunos são direcionados para uma página onde poderão encontrar antigos colegas.

No futuro, o Mackenzie pretende oferecer aulas, mas antes está investindo na preparação dos professores. Cerca de 200 dos 400 docentes da instituição deverão ser treinados nos próximos meses. "Não é um ambiente nativo para eles", lembra José Augusto Pereira Brito, gerente de TI do Mackenzie. O vice-reitor Pedro Ronzelli Jr. acredita que a investida no Second Life ajudará a escola no quesito inovação. "Buscamos a renovação da nossa marca", diz.

Para Yaccoff Sarkovas, diretor geral da Significa, agência de publicidade especializada em "atitude de marca", o Second Life deve contribuir para a renovação da imagem de instituições de ensino mais tradicionais. "Elas podem atingir um público novo, agregar valor de inovação à sua marca, mas se isso virar um default esse predicado se perderá", alerta o publicitário.

A Anhembi Morumbi investiu R$ 50 mil para ingressar no Second Life. Assim como o Mackenzie, aposta primeiro na divulgação de sua marca para depois começar a ministrar cursos. O campus virtual foi lançado em maio e já foi visitado por 18 mil avatares. No fim de agosto, a universidade deve começar uma nova fase, onde utilizará o espaço como plataforma de apoio para os alunos dos cursos de moda e design digital lançarem seus projetos. "Será uma espécie de incubadora virtual", explica Maysa Simões, diretora de marketing da Anhembi Morumbi. O próximo passo será disponibilizar os cursos de extensão de curta duração. "A ferramenta de ensino em 3D é sedutora e atraente, mas temos que desenvolver o lado pedagógico", diz Maysa. A universidade já oferece cursos online desde 2002.

O Senac também oferece ensino online desde 2001. Nesse tempo, teve 5 mil alunos. Diferente das outras universidades, a instituição já entrará no Second Life oferecendo três cursos: "Integração do photoshop ao Second Life", "Criação de objetos no Second Life básico" e "Criação de objetos no Second Life avançado". "Usaremos a mesma proposta pedagógica", explica Regina Helena Ribeiro, coordenadora do núcleo de educação à distância do Senac São Paulo. Para quem prefere se inteirar sobre o assunto no mundo real, o Senac também oferecerá os cursos presenciais: "Desvendando o Second Life" e "Criando interfaces 3D no Second Life". Até o fim do ano, está nos planos do Senac lançar também o Centro Universitário Senac, que oferecerá atividades para os estudantes no Second Life. "Nosso olhar é educacional e sabemos que se trata de um ambiente potencial de aprendizagem", diz Regina.

Na área de ensino executivo, uma adesão recente ao Second Life foi do renomado Instituto de Empresa, da Espanha, que ocupa sempre as primeiras colocações nos principais rankings de MBA globais. A intenção do IE é transferir para a nova plataforma, a habilidade desenvolvida nos cursos oferecidos a distância, nos últimos seis anos. Nesse período, o IE formou 1800 estudantes no seu programa de educação executiva online. No Second Life, disponibilizará o mestrado em telecomunicações e em negócios digitais. Ele não conta o investimento feito na empreitada, mas diz que uma ilha custa, em média, US$ 1,7 mil e o custo de manutenção mensal é de US$ 295. "A média de idade dos usuários está entre 18 a 30 anos de idade, um público bem interessante para nós", justifica Carlos Saldaña, diretor de a marketing da escola de negócios espanhola. "O Second Life é uma parte natural da evolução da nossa educação online".

"A primeira reforma agrária digital"

A Cidade do Conhecimento 2.0, cujo lançamento está previsto para o dia 28 de agosto, será uma espécie de "condomínio" público capitaneado pela Universidade de São Paulo (USP) dentro do Second Life. O objetivo é abrigar projetos inovadores na área educacional, social, ambiental e de empreendedorismo tecnológico.

A inciativa é dos mesmos criadores da Cidade do Conhecimento da USP, campus virtual criado há sete anos para aproximar o mundo acadêmico e escolar das empresas, ONGs e governo, através de cursos de capacitação e pesquisas. "Faremos a primeira reforma agrária digital privada do mundo", diz Gilson Schwartz, diretor da Cidade do Conhecimento da USP.

O espaço no Second Life foi cedido pelos administradores da plataforma no país, o IG e a Kaizen Games. A intenção é atrair instituições de ensino, ONGs e empresas privadas para esse território, livre de impostos. "Não existe limite para a formação dessa rede. O tamanho dependerá da mobilização, do impacto e da aceitação dessa grande parceria público privada".

A área educacional já conta com a USP e a PUC São Paulo. O objetivo é conseguir outras adesões de instituições até o lançamento. No novo espaço virtual serão oferecidas oficinas dirigidas ao ensino fundamental até especializações.

Na área de empreendedorismo tecnológico, a Cidade do Conhecimento 2.0 servirá como incubadora de pequenas e micro empresas. "A idéia é adaptar a tecnologia do venture capital, do financiamento à inovação, para a área sócio educacional ambiental", diz o diretor.

As empresas privadas que apoiarem o projeto, segundo Schwartz, se beneficiarão pela associação de sua imagem à inovação e à responsabilidade social. "Outro vantagem será poder contar no futuro com mais pessoas saindo da USP capacitadas no uso de mídias digitais", acredita. Isso será possível, segundo ele, porque o acesso à capacitação será mais simples do que o tradicional via vestibular. "É o capital social, intelectual e tecnológico se mobilizando para construir o intangível, uma cidadania feita de troca de conhecimento", diz.

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Vídeos de Argentina, Brasil, Colômbia, México e Peru vencem concurso de documentários do BID sobre exclusão social

Publicado pela Agência de Meios em 22/07/07

O Banco Interamericano de Desenvolvimento anunciou que cineastas da Argentina, do Brasil, da Colômbia, do México e do Peru venceram o concurso de documentários sobre exclusão social, tema do principal relatório do Departamento de Pesquisa do BID neste ano.

Os vídeos foram selecionados por um júri formado por especialistas do BID e cineastas independentes, entre mais de 120 obras de 15 países da América Latina e do Caribe inscritas no concurso “As Faces da Exclusão”.

Os documentários ajudarão a ilustrar vários aspectos da próxima edição do Relatório sobre Progresso Econômico e Social na América Latina e no Caribe (IPES 2008) do Departamento de Pesquisa do BID, que será apresentado em setembro próximo.


A cada ano o IPES se dedica a um tema específico relacionado com o desenvolvimento, buscando promover um debate mais profundo sobre o assunto em países membros do BID. Edições anteriores abordaram questões como dívida, competitividade, instituições e processos políticos e mercados de trabalho.

"O tema central do IPES 2008 será a exclusão, um fenômeno social, econômico e político que impede o acesso de milhões de pessoas e grupos inteiros a meios e oportunidades para progredir em uma economia de mercado”, declarou o coordenador do relatório, Gustavo Marquez Mosconi.
Para atingir um público mais diversificado do que aquele normalmente atraído por um relatório econômico tradicional, o Departamento de Pesquisa do BID solicitou aos cineastas que apresentassem vídeos sobre diferentes aspectos da exclusão na América Latina e no Caribe.

"Naturalmente, os pontos de vista apresentados nos filmes são os dos autores e não refletem a posição oficial do BID”, acrescentou Marquez Mosconi. "Mas os vídeos têm a virtude de mostrar os excluídos não como meras estatísticas, mas sim como agentes reais de ações para tentar modificar seus padrões de vida”.

Os prêmios nas diferentes categorias do concurso foram concedidos aos seguintes cineastas:

Falta de acesso a serviços essenciais
Vencedor: "Prestes Maia", de Bianca Suyama, Brasil
Menção Honrosa: "Saúde entre os Matsinguengas do Baixo Urubamba " de Henry Pilares Frisancho, Peru

Falta de acesso a instituições
Vencedor: "A miragem de uma redenção", de Carlos Andres Grisales Tabares, Colômbia
Menção Honrosa: "Posseiros", de Caio Chatagnier, Brasil

Falta de documentos de identificação
Vencedor: "Gaspar", de Caio Chatagnier, Brasil
Exclusão dos mercados de trabalho
Vencedor: "Circo Urbano, Cidade do México", de Jalil Rashid Graniel Espinosa, México
Menção Honrosa: "Jorge", de Pedro Jimenez, México

Sistemas alternativos de representação social e política
Vencedor: "Espelhos", de Lucrecia Mastrangelo, Argentina
Menção Honrosa: "Vamos pela Rua", de Ariana Chediak Roquim, Brasil

Substitutos da ordem social estabelecida
Vencedor: "Ladeira Abaixo", de Silvia Patricia Arispe Bazan, Peru
Menção Honrosa: "El Ceibo", de Andres Esteban Dunayevich, Argentina

Os prêmios serão entregues nos próximos meses, em cerimônias a serem realizadas nas Representações do BID nos países dos cineastas.

Os documentários podem ser vistos na página da Internet criada para o concurso “As Faces da Exclusão”.

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