sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Responsabilidade socioambiental de bancos está abaixo do propagandeado

Publicado pela Envolverde em 14/02/08

Avaliação realizada pelo Idec demonstra que o consumidor ainda passa por problemas básicos junto aos bancos, como a não entrega de contrato e o não acompanhamento de suas reclamações

Em sua terceira pesquisa sobre responsabilidade social de empresas - as outras duas foram sobre camisetas de algodão e margarinas e achocolatados -, o Idec avaliou o discurso dos oito maiores bancos de atuação nacional (com mais de 1 milhão de clientes, exceto os estaduais) e o resultado não surpreendeu: os melhores colocados (ABN Amro Real e Bradesco), obtiveram apenas a classificação "regular"; os piores (Santander e Unibanco), ficaram pouco acima da pior classificação, "péssimo", no limiar da nota "ruim"; já no bloco intermediário, na faixa "ruim", estão, pela ordem, Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica e HSBC (veja gráfico em http://www.idec.org.br/imagens/grafico_rse_bancos.gif).

Apesar de estar presente na propaganda e até em produtos do setor financeiro, a parte decisiva onde a responsabilidade social é realmente exercida, na relação com os consumidores, continua mal.

O estudo*, com 69 questões, avalia também a atuação dos bancos em relação aos trabalhadores e ao meio ambiente. Juntamente com o bloco de questões Consumidores (que representou 40% da nota final), Trabalhadores e Meio Ambiente (com 30% da nota cada) compuseram as notas utilizadas na pontuação.

Se considerarmos a pontuação por cada bloco de questões (confira tabela em http://www.idec.org.br/arquivos/tabela_rse_bancos.pdf), os resultados são os seguintes: no primeiro bloco, Trabalhadores, o mais bem avaliado foi o Itaú, enquanto o pior foi o Unibanco; já no bloco Meio Ambiente, a melhor colocação ficou com o ABN Amro, e a pior, com o Santander; no bloco Consumidores, cuja avaliação também se baseou em resultados de cinco pesquisas de campo, já publicadas na Revista do Idec ao longo de 2007, o melhor colocado foi o Banco do Brasil, e os piores, Unibanco, Santander, HSBC e Itaú.

O estudo, exceto na parte referente aos Consumidores, se baseou na resposta das próprias instituições, de modo que não cabem críticas dos bancos às suas notas finais, alegando que o Idec não considerou tais políticas ou produtos e serviços.

Por ser a primeira pesquisa do Idec sobre o tema, junto ao setor financeiro, é possível prever que os critérios para as próximas avaliações serão ainda mais rígidos.

Para desenvolver o estudo, o Idec contou com a colaboração de algumas instituições parceiras, como Amigos da Terra, Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), DIEESE, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Centro de Pesquisa de Empresas Multinacionais da Holanda (SOMO), entre outras. Para a próxima avaliação, o Idec pretende desenvolver um trabalho ainda mais sistematizado com essas instituições.

* Íntegra do estudo: http://www.idec.org.br/arquivos/RSE_bancos_RelatorioFinal.pdf

(Envolverde/ IDEC)

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Em falta, sucata fica mais cara para indústria

Samantha Maia
Publicado pelo
Valor Online em 15/02/08


Gabriella Michelucci, gerente regional da Klabin, em São Paulo: empresa reduziu uso de aparas de papel no ano passado depois que o preço aumentou 70%
Foto Anna Carolina Negri /Valor


A reutilização de materiais recicláveis - alumínio, papel, vidro e plástico - começou como uma atividade marginal na economia. Hoje, contudo, a sucata ganhou uma importância para a indústria que não parece compatível com a informalidade dos catadores de papelão e de latinhas de cerveja que circulam pelas cidades. Com a falta de uma coleta eficiente e a entrada de novos compradores, a indisponibilidade de materiais recicláveis no mercado nacional tem inflacionado os preços e desafiado as empresas que já incorporaram o uso de matéria-prima reciclada à produção, seja pela economia de custo com energia, seja pela maior oferta de fornecedores.

Dos quatro recicláveis, o papel é o único que ainda possui uma vantagem de preço significativa em relação à matéria-prima original, a fibra de celulose. Mesmo assim, em março e abril do ano passado, a Klabin reduziu a participação das aparas de papel nos seus produtos devido à alta de 70% do valor do material, resultado do desequilíbrio entre oferta e demanda. Faltou lixo para atender ao aumento da produção, e o preço da caixa de papelão - o produto final - cresceu em média 17,6%, segundo levantamento da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

A Klabin não informa o quanto compra de aparas, mas a empresa possui capacidade para reciclar 380 mil toneladas de papel por ano. "A apara é resultado final da produção e matéria-prima ao mesmo tempo. Quando a produção cresce, a indústria busca mais matéria-prima e falta aparas, pois a produção antes era menor", diz Gabriella Michelucci, gerente regional da Klabin.

Por conta de outras vantagens, como a maior variedade de fornecedores e a redução do uso de energia, o preço mais alto da sucata ainda não afetou o interesse das empresas em reciclar. Muitas delas têm buscado matéria-prima fora do país, como no caso dos setores de papel e alumínio. No ano passado, a importação de aparas aumentou 115% em relação a 2006. Foram 28 mil toneladas de papel para reciclar entrando no país para cobrir o déficit causado pela ausência de coleta seletiva frente a 13 mil toneladas em 2006. Hoje, o índice de reciclagem de papel no país está em 45%.

Mesmo para quem usa alumínio (que alcança níveis de reciclagem em torno de 95% ), falta material. A produção de latas cresceu 14% em 2007, ano em que também surgiu um novo consumidor da sucata, a indústria de pó de alumínio para uso como combustível. Como conseqüência, a latinha passou por períodos de alta do preço, chegando a custar R$ 4,6 mil a tonelada no começo de 2007, frente a R$ 3,25 mil hoje, segundo Henio de Nicola, coordenador da Comissão de Reciclagem da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

O aumento da importação em 2007 ajudou a amenizar a pressão inflacionária de demanda. São recicladas por ano cerca de 140 mil toneladas de latinhas de alumínio. Em 2007, as importações do material chegaram a 104 mil toneladas, quase o dobro de 2006, quando entraram no país 55 mil toneladas. Esse movimento, somado ao maior consumo de latas no verão, derrubou os preços da sucata em 30%, e hoje ele representa 84% do valor pago pelo alumínio primário.

Não é uma diferença representativa, segundo Marcelo Almeida, gerente de planejamento e comercialização de metal da Novelis, fabricante de chapas de alumínio. A diminuição de 95% do uso de energia que o alumínio reciclado permite, porém, é o fator decisivo na hora de escolher entre uma matéria-prima e outra. "Desde que o preço seja equivalente, preferimos comprar a sucata ao alumínio primário", diz.

A empresa compra 50% das latinhas coletadas no país e importa mais um tanto para completar a sua capacidade de reciclar 115 mil toneladas de alumínio por ano. Sem o uso de latinhas, ela precisaria ampliar sua geração própria de energia, que hoje alimenta 60% de seu consumo.

O vidro reciclado também é usado como forma de diminuir a dependência energética das empresas. A cada 10% de caco reciclado, reduz-se em média 4% o consumo de energia nos fornos. A Companhia Industrial de Vidros (CIV) compra 5 mil toneladas por mês de cacos em todo o Nordeste, o que representa 50% da produção. Seu objetivo é chegar a 100%. "Mas nem sempre conseguimos manter o número já atingido, por falta de material", diz Wilson Cohls, consultor da empresa.

A dificuldade em obter sucata faz com que o índice de reciclagem de vidro esteja estagnado em 45% há três anos. Hoje a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) estima que até 50% do vidro para reciclagem vem das indústrias de envase e não da coleta. Diferente dos demais materiais, o preço do vidro não varia conforme a demanda e por isso não funciona como alavanca para a coleta. Ele é calculado com base nos valores dos componentes do vidro, como a areia e o calcário. Atualmente, a tonelada da sucata custa R$ 150.

A volatilidade dos preços de recicláveis como o papel e o plástico exige das empresas estratégias para conseguir margens em que os preços do produto final não sejam afetados. O valor da sucata de papel, por exemplo, sofre variações de até 100% durante um ano. Hoje ele está no período de baixa, por volta de R$ 350 e R$ 400 a tonelada. Na alta de 2007, o preço da tonelada quase chegou aos R$ 600.

Desde o segundo semestre do ano passado o preço da garrafa PET não é mais competitivo em relação à resina virgem. Em dois anos, ela deixou de ser quase metade do preço do produto original para ficar equivalente. O fardo de PET limpas e prensadas é vendido hoje a R$ 1,2 mil por tonelada, frente a R$ 700 em 2006. Mesmo o preço não sendo o mais atrativo, a resina reciclada continua como a opção preferida de muitas empresas. Motivo? A maior disponibilidade de fornecedores. São cerca de 70 recicladores, produzindo 194 mil toneladas/ano de resina a partir das garrafas PET, frente a apenas um produtor nacional de resina virgem, a M&G - com produção de 450 mil toneladas da matéria-prima por ano.

Para manter 100% da produção com matéria-prima reciclada, a Unnafibras, fabricante de fibra de poliéster para tecidos a partir de garrafas PET, recorre à compra da sucata em todo o país. São 2,5 mil toneladas de garrafas por mês vindas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Estados do Nordeste. O frete encarece o quilo em cerca de R$ 0,20, valor, que segundo José Trevisan Júnior, diretor da Unnafibras, compensa para manter o ritmo de reciclagem.

A saída encontrada pela Unnafibras para lidar com a instabilidade da oferta e de preço da PET foi investir no estoque de até três meses. "Nunca faltou sucata, mas temos de olhar com antecedência, porque comprar o lixo é diferente de comprar de um produtor, que tem garantias, previsibilidade", diz Trevisan Júnior. Em 1996, quando a Unnafibras iniciou suas operações, apenas 20% da matéria-prima derivava da reciclagem de garrafas PET. Hoje, a empresa não cogita recorrer ao uso de resina virgem. "A PET nos dá autonomia das grandes corporações, por isso damos tanta importância à coleta, onde há espaço para crescer."

São recicladas hoje 51% das PETs fabricadas no país. O que tem impedido esse índice de crescer com mais força é a falta de coleta. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), as recicladoras trabalham com 40% de ociosidade, e diferente do papel, a sucata de PET não pode ser importada.

A situação preocupa, porque a concorrência para a compra do material deve se acirrar em breve. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem até o dia 11 de maio para liberar o uso da resina reciclada na produção de embalagens de alimento. Até agora, ela é usada apenas pela indústria têxtil e de produção de fibras para vassoura e cordas, por exemplo.

A possibilidade de lidar com mais fornecedores e variar o material usado como matéria-prima também é uma ferramenta importante da indústria de papel higiênico. O preço da fibra de celulose e das aparas são flutuantes e dependendo do momento, utiliza-se mais uma do que outra na fabricação das versões de folha simples. "Essa flexibilidade dá margens de competitividade", diz Pedro Coletta, diretor de supply chain da Kimberly-Clark Brasil.

A empresa compra de 2 mil a 5 mil toneladas de aparas por mês, e, segundo o diretor, como o mercado inteiro hoje utiliza a sucata, não dá mais para abrir mão do recurso. "Já utilizamos bem menos aparas na nossa produção, mas num momento em que todas as empresas usavam menos. Hoje o cenário é diferente", diz.

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