sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Biblioteca Nacional adapta-se à era da web

Muniz Sodré, presidente da Fundação Biblioteca Nacional: integração digital com as maiores bibliotecas do mundo
Foto Silvia Costanti/Valor



O cofre da Biblioteca Nacional (BN) do Rio de Janeiro, lugar onde estão guardadas as principais raridades da memória nacional, já não tem mais espaço para um incômodo equipamento que, de uns tempo para cá, passou a entulhar a disputada sala de segurança. Nas prateleiras, estão empilhados mais de 200 discos rígidos (HDs), o componente de computador usado para armazenar os dados digitais.

O alojamento de luxo não foi uma exigência despropositada do pessoal de informática, explica Angela Monteiro Bettencourt, coordenadora de informação bibliográfica da BN. Naqueles discos, diz Angela, estão guardadas cópias de obras raras, como a "Coleção D. Thereza Christina Maria", o conjunto de 23 mil fotos que fazia parte da biblioteca particular do imperador D. Pedro II.

Iniciado em 2003, o projeto de digitalização de obras é uma das iniciativas mais ambiciosas da BN, hoje a sétima maior biblioteca do mundo. A evolução dessa empreitada, porém, passa agora por uma etapa de reorganização.

A biblioteca ainda não conta com um "data center", o centro de dados usado para armazenar, de forma segura, o conteúdo que seu laboratório digital tem gerado. Hoje, tudo é gravado em computadores comuns, que depois têm seus HDs retirados e guardados no cofre. O problema é que esse conteúdo não pára de crescer.

Atualmente, a Biblioteca Nacional Digital reúne 1 milhão de imagens digitalizadas, o que equivale a 5 terabytes de informação. "Um mapa digitalizado que colocamos no site tem apenas 70 kilobytes de tamanho, só que esse mesmo arquivo guardado em alta resolução tem cerca de 300 megabytes."

A montagem do centro de dados é o próximo passo da BN. A instituição já elaborou uma proposta e a entregou para o Fundo Nacional de Cultura (FNC), controlado pelo Ministério da Cultura. No ano passado, a verba da instituição foi de cerca de R$ 330 mil.

O plano da instituição é ter dois centros de dados, um deles para cópias de segurança. Cada estrutura foi avaliada em cerca de R$ 400 mil. "Com esse data center, teríamos capacidade suficiente para mais 5 anos de trabalho."

Por enquanto, a maior parte dos documentos digitalizados pela biblioteca é constituída de fotos e gravuras raras. De livros, apenas 250 obras passaram pelo processo porque a entidade não conta com um scanner profissional dedicado especificamente a essa tarefa. O equipamento, que custa cerca de US$ 120 mil, também está no pacote proposto.

O objetivo é criar o que Muniz Sodré, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, chama de "repositório da memória digital brasileira". Paralelamente, a BN também faz parte do programa da Unesco, que trabalha na criação de uma grande biblioteca mundial, disponível via internet. Por enquanto, diz Sodré, a iniciativa - lançada pela Biblioteca do Congresso dos EUA em 2005 - só está disponível para a Biblioteca de Alexandria, no Egito. "Daqui a seis meses, todo o conteúdo estará disponível internacionalmente."

Em 2006, a BN chegou a ser procurada pelo Google, que estava interessado em digitalizar seu acervo. A parceria, no entanto, não foi formalizada, e a instituição decidiu tocar seus projetos por conta própria. "Eles queriam que nós assumíssemos uma série de questões ligadas à propriedade intelectual; achei melhor descartar a proposta", afirma Sodré.

Segundo Rodrigo Velloso, diretor de desenvolvimento de negócios do Google, o que atrapalhou as negociações "foram questões políticas, e não de ordem legal".

O programa "Google Books Search" funciona como uma central de busca de livros digitais. Obras protegidas por direitos autorais são exibidos parcialmente, conforme acordo fechado com editoras e autores. Atualmente, o Google tem parceria com 29 bibliotecas de grande porte no mundo. Nenhuma delas está na América Latina. "Nosso critério de escolha é o tamanho do acervo. A Biblioteca Nacional seria a única da região que justificaria montar uma estrutura local de digitalização de conteúdo", diz Velloso.

Nas estantes da BN há mais de 9,5 milhões de itens, dos quais 1,7 milhão são livros e 200 mil obras de domínio público, cujos autores já faleceram há mais de 70 anos. Entre as raridades estão 19 edições do periódico "O Espelho", que trazem textos diversos de Machado de Assis, publicados em 1859. A partir da próxima semana, o material poderá ser lido pela internet, no site da BN. E o usuário poderá, inclusive, fazer buscas por palavras.


André Borges, de São Paulo
Valor Online, 03/10/08

Mais...

BNDES pode ter acesso a R$ 6 bi adicionais do FAT

Conselho deliberativo do fundo, no entanto, não quer que recursos financiem grandes empresas

Num momento em que o governo revira as gavetas à procura de dinheiro para manter abertas as linhas de crédito dos bancos oficiais, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pode ser uma resposta. Existem R$ 6 bilhões em recursos que ainda não foram repassados.

O dinheiro está no chamado extramercado, ou seja, aplicado no Banco do Brasil, onde rende conforme a variação da taxa básica de juros, a Selic (atualmente em 13,75% ao ano).

O problema é que o Conselho Deliberativo do FAT (Codefat) não quer que os recursos sejam usados para financiar grandes empresas, segundo informou um de seus integrantes.

Foi por essa razão que o colegiado já rejeitou, no início do ano, proposta para ampliar os repasses ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Avalia-se que o banco "empresta a quem não precisa". Por exemplo: a Vale do Rio Doce tem uma linha de crédito aberta no banco e obtém recursos do BNDES sem sequer apresentar projetos, segundo o integrante do Codefat.

O BNDES é, porém, prioridade do governo na estratégia de preservar o ciclo de crescimento econômico e manter o nível de investimentos. Segundo o conselheiro do FAT, o BNDES poderá ter acesso a recursos adicionais se, por exemplo, expandir o programa Cartão BNDES, que tem limite de até R$ 300 mil e taxas de juros na casa de 1% ao mês, para micro, pequenas e médias empresas.

O Codefat também estaria disposto a ampliar o crédito à agricultura, outra área considerada crítica. Porém, seria para atender à agricultura familiar. O Conselho já negou pedidos da área econômica de fornecer recursos para financiar capital de giro do agronegócio. Empréstimos às micro e pequenas empresas do Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger) também poderiam receber mais dinheiro do FAT.

Desde a piora da crise, porém, nenhum pedido de recursos adicionais chegou ao Conselho. O conselheiro acredita que as propostas deverão chegar após as eleições. O FAT repassa automaticamente ao BNDES 40% da arrecadação do PIS/Pasep. De janeiro a agosto, os repasses somaram R$ 84,8 bilhões, valor 10,5% superior ao repassado em igual período de 2007. Além disso, o banco recebeu mais R$ 24,8 bilhões em empréstimos da parcela administrada pelo Codefat.

Rombo
Embora as contas do FAT estejam no azul, devendo apresentar este ano superávit de R$ 2,7 bilhões, o crescimento das despesas com os principais programas, o abono salarial e o seguro-desemprego, deverá levar o fundo a apresentar déficit em 2010, segundo projeção do Codefat. Hoje, as contas do FAT só ficam superavitárias por causa dos juros recebidos pelos empréstimos.

A situação das contas do FAT chamou a atenção do TCU, que emitiu acórdão no mês passado exigindo providências. Circula na área econômica uma carta assinada pelo presidente do Codefat, Luiz Fernando Emediato, propondo medidas para combater o rombo.

Uma delas é liberar o PIS/Pasep da Desvinculação de Receitas da União (DRU). A DRU é um mecanismo pelo qual 20% das receitas arrecadadas para fins específicos - como é o caso do PIS/Pasep, destinado a programas de apoio ao trabalhador - são desvinculadas e entregues ao Tesouro Nacional para serem gastos como o Ministério da Fazenda julgar mais adequado. Só neste ano, R$ 6 bilhões de recursos que seriam do FAT foram para a DRU. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, levantou esse debate no início do ano, mas recebeu forte resistência do ministro da Fazenda, Guido Mantega.


Lu Aiko Otta
O Estado de São Paulo, 03/10/08

Mais...



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br