quinta-feira, 31 de maio de 2007

Portal Social abre prazo para inscrição de instituições

Publicado no Rede Gife Online em 28/05/07


Organizações sociais sem fins lucrativos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que possuam registro nos conselhos da Criança e do Adolescente e/ou de Assistência Social de sua cidade, podem se candidatar a uma vaga no Portal Social.

O programa, mantido pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS), da RBS, com apoio do Instituto Nestor de Paula, é uma ferramenta de comunicação com a finalidade de mobilizar pessoas e empresas para apoiar financeiramente organizações que atuam em benefício da sociedade.

Neste segundo processo de seleção (o primeiro foi realizado em setembro/outubro de 2005), os recursos que vierem a ser captados via internet serão destinados ao financiamento de um plano de investimento apresentado pela instituição. Este deverá ter um valor máximo de R$ 20 mil e poderá contemplar o pagamento de recursos humanos, reformas, construção, despesas administrativas, compra de máquinas e equipamentos, material de consumo, entre outros, não tendo mais a obrigatoriedade de estar vinculado à realização de um projeto específico.

Mérito e relevância da área de atuação da instituição, sua capacitação técnica, bem como a vocação para estabelecer parcerias e mobilizar a comunidade, são alguns dos critérios de seleção, além da experiência e idoneidade.

Desde novembro de 2005, quando foi lançado, o Portal Social captou mais de R$ 244 mil via internet, os quais já foram repassados a mais de 120 instituições sociais gaúchas e catarinenses.

Os projetos cadastrados na primeira etapa do Portal Social e que ainda não atingiram sua meta de captação permanecerão buscando contribuições via site até 30 de junho.

A partir da segunda quinzena de julho, os internautas encontrarão um novo catálogo de iniciativas com as quais poderão contribuir. “O foco de apoio passa a ser o das necessidades da instituição como um todo”, explica Alceu Terra Nascimento, gerente executivo da FMSS. O edital com as regras, bem como o respectivo formulário de inscrição estão no http://www.portalsocial.org.br/. O prazo para o envio das informações vai até 1º de junho de 2007, às 12h.

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A forma de remuneração mais eficiente para o captador de recursos

Renata Brunetti
Publicado pela revista IntegrAção



Como professora de captação de recursos, sou constantemente questionada sobre a forma ideal de se remunerar o captador profissional. Parece que passa automaticamente pela cabeça das pessoas, a idéia de remuneração proporcional ao valor a ser captado.

A primeira pergunta que costumo fazer aos alunos dos cursos de especialização em mobilização de recursos é: como são remunerados os demais funcionários da instituição em que trabalham? Normalmente, a resposta é a esperada: um salário fixo, um valor determinado pelas horas trabalhadas e definido também pelo mercado de trabalho. Em seguida, pergunto: por que não remunerar o captador de recursos da mesma forma? A resposta que se segue é quase sempre: se estou precisando de um profissional para captar recursos para minha instituição é porque não tenho recursos! Como vou remunerá-lo, então?

Esses tipos de respostas parecem naturais e justas. Entretanto, tal forma de remuneração é proibida tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Por que o assunto é ainda tão polêmico aqui no Brasil?

Por termos hoje duas posturas antagônicas formalizadas. A primeira e mais antiga segue o determinado pela lei de incentivo à cultura – Lei nº 8.313, também conhecida como Lei Rouanet (1991) –, que autoriza disponibilizar um percentual do custo do projeto para a remuneração de um captador de recursos. Ou seja, a remuneração atrelada ao valor e ao sucesso imediato da captação. A outra postura é a definida pela ABCR (Associação Brasileira de Captação de Recursos), que, ao acompanhar as determinações internacionais, desautoriza que se remunere o profissional de forma comissionada, propondo outras alternativas.

A ABCR, fundada em 1999, pretende não só representar formalmente o captador, mas também profissionalizá-lo regulamentando suas atividades e garantindo uma ética em sua atuação.

A Lei Rouanet foi uma inovação no que diz respeito aos incentivos fiscais, uma vez que possibilita que empresas invistam diretamente em projetos culturais. Trata-se de uma idéia interessante e de grande impacto na área cultural brasileira, embora não se perceba ainda uma mudança significativa no comprometimento das empresas em continuarem investindo. Poderíamos nos perguntar se esse relacionamento estratégico – investimento versus dedução de imposto – garantiria um maior envolvimento entre as partes. Uma empresa que investe seus próprios recursos percebe logo as vantagens de ver sua marca associada a atividades culturais. Com boas experiências, poderá continuar a investir em cultura no país, mesmo que o incentivo fiscal venha a ser extinto. A percepção do setor é que se os incentivos deixarem de existir, provavelmente o valor investido também cairá.

No que diz respeito à remuneração dos captadores de recursos, a Lei deixa claro: "Nenhuma aplicação de recursos poderá ser feita por meio de qualquer tipo de intermediação. Todavia, a contratação de serviços necessários à elaboração de projetos para obtenção de doação, patrocínio ou investimento, bem como a captação de recursos ou a sua execução por pessoa jurídica de natureza cultural não configura intermediação”. Ela foi, porém, reformulada no decorrer dos anos. Na primeira versão, constava que deveria ser pago ao captador 10% sobre qualquer valor captado. Hoje, esse percentual foi revisto e se reduz proporcionalmente ao aumento do valor captado.

Já a ABCR segue as determinações internacionais que não autorizam uma remuneração vinculada ao valor captado. Essa proibição não se apóia em valores morais e, sim, em resultados práticos obtidos.

O que se aponta, entre outras coisas, é o enfraquecimento do argumento do captador no ato de captar, caso seu interesse pessoal fale mais alto do que a causa pela qual está lutando.

A ABCR fez modificações em seu código de ética no que diz respeito a remuneração do captador para ajustar as determinações internacionais – com seus argumentos importantes – à realidade das instituições brasileiras, quando apresentam a dificuldade real em financiar uma área de captação de recursos.

A primeira versão, o código de ética da ABCR previa: "Trabalhar em troca de remuneração pré-estipulada e não aceitar comissionamento – trabalhando por um salário ou honorários, e não em troca de comissão ou remuneração condicionada a resultados. Pode-se aceitar uma retribuição baseada em desempenho, por exemplo, em bônus, quando estes estejam de acordo com as práticas seguidas pelas próprias organizações. Não deve ser aceita retribuição baseada em porcentagem sobre os fundos filantrópicos obtidos".

Já a segunda versão sugere que: "o captador de recursos deve receber pelo seu trabalho apenas remuneração pré-estabelecida – não aceitando, sob nenhuma justificativa, o comissionamento baseado em resultados obtidos; e atuando em troca de um salário ou de honorários fixos definidos em contrato; eventual remuneração variável, a título de premiação por desempenho, poderá ser aceita em forma de bônus, desde que tal prática seja uma política de remuneração da organização para a qual trabalha e estenda-se a funcionários de diferentes áreas”.

Penso que, aos poucos, a captação de recursos motivada pela remuneração percentual, principalmente nos casos ligados a projetos de organizações sem fins lucrativos e de utilidade pública, deveria ser revista. Essa forma de remuneração ainda presente no Brasil deveria ser analisada, como ocorreu nos demais países, sob a ótica de eficiência de resultados.

Para colaborar com o esclarecimento dessa polêmica tão presente, seguem alguns argumentos que podem justificar a importância de não vincular a remuneração do captador de recursos ao valor do projeto. Tais argumentos foram desenvolvidos por uma escola norte-americana de captação de recursos – The Fund Raising School, Center of Philantropy, Indiana University.

1. A captação de recursos é um processo longo. Inicia-se com a preparação da instituição para tal. Antes de “sair” para captar recursos, a instituição precisa ter muita clareza de sua missão, seus objetivos e suas metas. Precisa conhecer também suas necessidades e priorizá-las. Enfim, será necessário dedicar algum tempo a um processo que envolve muitas pessoas e que não se capta nenhum recurso. Como remunerar o captador nessa fase? E os demais envolvidos, quanto devem receber por esse trabalho?

2. Mesmo no momento de negociação, o captador conta com a colaboração de outras pessoas. Normalmente, nessas horas, está acompanhado de um diretor e/ou um voluntário. Faria sentido “ratear” a comissão do captador? Quanto caberia do valor captado a cada uma dessas pessoas?

3. É sabido e comprovado que a ferramenta de maior sucesso em uma negociação de parceria é a “causa”. O que poderia acontecer se, no momento da negociação, o interesse pessoal do captador em sua remuneração transparecesse? Não estaríamos assim correndo o risco de ter os argumentos enfraquecidos e a transparência da relação comprometida?

Sugere-se, assim, que o captador tenha um ganho fixo, quer seja por hora, quer por projeto. Nunca vinculado ao valor captado.

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Transparência no relacionamento com as empresas

Jamile Chequer
Publicado pela Agência Ibase em 25/05/2007

O Ibase acaba de finalizar a redação do Código Interno de Relações com Empresas. O documento é uma antiga intenção da instituição que há muito trabalha com o tema da responsabilidade social das empresas.

O código foi acordado, principalmente olhando o futuro e a possibilidade de estabelecer parcerias políticas entre Ibase e algumas empresas. Ainda que essa não seja uma relação preferencial da instituição, ela pode acontecer. “Por isso, o código é fundamental, por ser um código de conduta”, diz o diretor geral do Ibase, Cândido Grzybowski.

Ele também faz parte do esforço institucional de se tornar cada vez mais transparente. Para a diretora Dulce Pandolfi, “é fundamental para uma instituição como o Ibase, que procura pautar sua atividade pela transparência e tem como objetivo interferir no debate público, ter um código público de relacionamento com as empresas".

Por ser uma organização com fins públicos – que utiliza recursos públicos nacionais e internacionais– e com posicionamentos políticos em que externa a necessidade da construção da democracia, do combate as desigualdades e estimula a participação cidadã, o Ibase quer deixar claro quais são os seus critérios para se relacionar com as empresas. O código de relações vai dar segurança a partir de princípios muito bem estabelecidos. “Foi por isso que declaramos não nos relacionarmos com empresas que tenham trabalho escravo ou que produzam armas, por exemplo. Elas são uma contradição aos princípios do Ibase”, afirma o diretor João Sucupira.

O Ibase nasceu em um segmento em que as empresas são vistas mais como parte do problema do que como parte da solução. O fato de a instituição ter esse código, que abre a possibilidade de relações com empresas, não significa que essa visão tenha mudado totalmente. Mas que o Ibase acredita que o norte das empresas devem ser os bens e serviços que produz para a sociedade e não o lucro. “É isso que nos leva a aceitar que temos relações a fazer, alguns pontos em comum, como o de construir sociedades mais justas”, diz Cândido.

Claro que não há como ter controle sobre todas as cadeias produtivas. “O código é sobre o conhecido, não somos uma instituição de investigação. Mas deixamos claro que, uma vez sabido que certa empresa com a qual nos relacionamos, por exemplo, tem trabalho infantil etc, nos damos o direito de romper nossas relações, porque não concordamos e não vamos corroborar com isso”, alerta Cândido.

Para ele, o código é um ganho institucional que significa uma expressão do amadurecimento de uma cultura política. “Ele tenta transformar os princípios e valores que defendemos em uma norma de conduta prática, operacional." “Considero o código um avanço, assim como foi a publicação do nosso balanço social. Estamos mostrando publicamente que temos princípios para nos relacionar com empresas”, finaliza João Sucupira

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Projeto social torna-se movimento estadual articulado

Rodrigo Zavala
Publicado no Rede Gife Online em 28/05/07

Na última semana, entre os dias 24 e 25 de maio, o VII Seminário Pró-Conselho reuniu mais de 2 mil pessoas de todo o país em Belo Horizonte (MG), em busca do fortalecimento dos conselhos estaduais e municipais pelos direitos da criança e do adolescente.

Entre conferências, palestras, painéis e mesas-redondas, o evento tornou-se um diálogo em torno de uma preocupação comum: como melhorar a gestão desses conselhos, para torná-los não apenas responsáveis pelos Fundos da Infância e Adolescência, mas protagonistas das políticas públicas para essa população.

Independentemente do viés formativo do seminário, um ponto fundamental para o seu êxito se deve a articulação alcançada pelo programa responsável por sua elaboração, o Pró- Conselho. Criado há oito anos por meio de uma parceria entre o Instituto Telemig Celular e a Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais, a iniciativa enfrentou alguns revezes quando o instituto deixou de financiar a empreitada no final do ano passado. “Estamos reavaliando os projetos apoiados pela empresa, revendo prioridades”, explicou o coordenador do instituto, Fernando Elias, durante o evento.

No entanto, o que poderia parecer um fim para muitas iniciativas, o envolvimento de diversos atores e setores (governamental e privado) tornou possível a manutenção do Pró-Conselho com uma bandeira única: a criança e o adolescente são prioridades absolutas para o desenvolvimento social e econômico. “É uma transição importante, em que uma iniciativa deixa de ser um programa empresarial e passa a se tornar um movimento de toda a sociedade”, enfatizou Antonio Carlos Gomes da Costa, um dos convidados mais incensados do seminário.

Nesse sentido, o evento foi, ao mesmo tempo, promotor e exemplo para os conselheiros, representantes de organizações não-govenamentais e administradores públicos, presentes nos dois dias de atividades. Afinal, sob o tema Conselhos articulados para o desenvolvimento, os participantes observaram os frutos reais do alinhamento efetivo entre setores da sociedade.

“Estiveram representados os 27 Estados da federação. Isso mostra o seminário como um movimento nacional para tornar os conselhos co-responsáveis de políticas que garantam os direitos da infância”, afirmou a coordenadora da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerias, Marilene Cruz.

Segundo ela, o sucesso do evento também está ligado à participação de representantes de conselhos municipais de Saúde e Educação, fundamentais para a construção de políticas de benefício integral à infância. “Precisamos parar de disputar fatias do orçamento e construir diálogos convergentes. Isso não significa perder identidade, mas elaborar uma agenda comum”.

Embora seja sensível apontar a articulação social como responsável pelo evento, é importante ressaltar que ele foi possível por meio do patrocínio de empresas, fundações e institutos, como a Fundação Itaú Social, o Instituto C&A, a Nokia e a Petrobras. “O que se busca é a qualificação do trabalho técnico dos gestores desses conselhos”, explicou a coordenadora do Instituto C&A, Cristiane Felix, ao falar sobre o apoio de sua organização.

Críticas – As discussões sobre a atuação dos conselhos estaduais e municipais pelos direitos da criança e do adolescente não foram apenas edificantes. Nas conferências e mesas redondas, os palestrantes deixaram claro, alguns em críticas veladas, que ainda há muito a ser feito.

Segundo a presidente do Child Watch Internacional no Brasil, Irene Rizzini, persiste no país uma confusão de papéis entre os setores público e privado, em que os equívocos são evidentes. “A política centralizadora e totalitária modelada historicamente por uma elite não protege o cidadão mais pobre. Exemplo disso é a idéia de menor, na qual você diferencia as crianças com seus direitos assegurados (da tal elite) e as que vivem em situação de risco. Estas últimas são as consideradas menores, abandonadas. E os conselheiros ainda persistem nessas idéias”.

Ainda mais grave são os dados apontados pelo promotor de Ministério Público de Justiça de Minas Gerais, Márcio Rogério. Ao comentar pesquisas oficiais sobre a eficácia dos conselhos pelo Brasil, ele afirmou que 80% deles não têm qualquer diagnóstico sobre as demandas locais. “Os conselheiros não têm as informações mais básicas sobre a sua missão elementar “, criticou.

Nessa óptica, é oportuno pensar se, nestas condições, os conselhos têm realmente a qualificação necessária para não apenas orientar o destino dos Fundos da Infância e Adolescência, mas de ser protagonistas das políticas públicas para essa população.”Muitos dos conselhos têm pouca efetividade deliberativa. Equivocadamente, apenas encaminham documentos, sem qualquer participação nas políticas locais”, concluiu Leonardo Avritzer.

De acordo com o representante da Fundação Avina para a região Sudeste da Fundação Avina, Marcus Fuchs, antes gestor do Instituto Telemig, os conselheiros não estão preparados para lidar com a diversidade dos problemas a serem enfrentados. Ele explicou que as políticas públicas são homogêneas e não diferenciam as peculiaridades regionais.”Os conselhos perpetuam isso ao não entender as diferenças entre as demandas entre as crianças que vivem em zonas rurais ou urbanas. O mesmo ocorre em comunidades indígenas e quilombolas.”

As críticas apontadas pelos especialistas tornaram-se, na opinião dos participantes, uma provocação positiva. “Temos uma responsabilidade muito clara e o apoio é mais do que necessário para apresentarmos com clareza e transparência nossas ações”, afirmou um dos representantes do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Porto Alegre, Gilberto Lisboa, no primeiro dia de atividades do seminário.

O intempestivo pessimismo, assim, foi acompanhado pelo discurso formativo, que apontou possibilidades de diálogo. “A gestão participativa é o caminho mais saudável para qualquer democracia. O futuro dos conselhos é substituir as secretarias de Assistência Social, Educação, ou mesmo Saúde. São eles que conhecem realmente as demandas locais, identificadas junto à comunidade”, argumentou o membro da executiva nacional do Fórum Brasil do Orçamento e coordenador do Instituto Cultiva, Rudá Ricci.

Entre as idéias apresentadas pelo especialista, está a criação de uma fundação nacional de apoio aos conselhos de direitos da criança e do adolescente. “Trata-se de uma assessoria nacional, somada a uma à implementação de um fundo comum (extraído do FIA), envolvendo ONGs e conselhos, para a formação de uma rede”, expôs.

Marilene Cruz, o grande destaque do evento, deixou claro que o programa Pró-Conselho passará por uma reformulação estrutural, na qual provavelmente mudará até de nome. “Mas o compromisso estimular a criação de conselhos e qualificar conselheiros será o eixo principal de nosso trabalho. Esse é o caminho para efetivar o movimento nacional pela garantia dos direitos da criança e do adolescente e o objetivo deste evento”, mensurou.

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Pacto mostra sucesso de articulação social

Rodrigo Zavala
Publicado no Rede Gife Online em 21/05/07

Nas comemorações de dois anos do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, seus organizadores mostraram resultados positivos da iniciativa, como a visibilidade alcançada intersetorialmente e o aumento de empresas e organizações engajadas. No entanto, eles alegam que o maior motivo para celebrar é a eficiência conquistada pelo trabalho conjunto de diferentes atores, que possibilitou sistemáticos êxitos.

Lançado no dia 19 de maio de 2005, em Brasília, o pacto é promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e pela ONG Repórter Brasil. Foram essas três organizações que iniciaram um trabalho de conscientização social, que hoje conta com a adesão de mais de 100 empresas nacionais e estrangeiras, além de entidades de classe do setor empresarial. Todas se comprometeram a não mais adquirir produtos de empresas que, comprovadamente, se utilizam de mão-de-obra escrava.

A idéia é simples. O pacto segue a chamada “lista suja” do trabalho escravo no Brasil, um cadastro público que informa as empresas flagradas em atos ilícitos, atualizada semestralmente pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Com base nesse rol de criminosos, bancos públicos e privados, governos locais e federal bloqueiam recursos que possam financiar essas atividades, tal como grandes varejistas se negam a distribuir seus produtos.

“É um estrangulamento comercial e financeiro dessas empresas, para que elas simplesmente sigam a lei. E seguir a lei, nesse caso, é respeitar a dignidade humana”, afirma a coordenadora do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da OIT no Brasil, Patrícia Audi. Segundo ela, a lista ainda colabora ao informar os consumidores, para que não apenas deixem de comprar os produtos, mas também pressionem outras empresas a fazer o mesmo. É uma questão de responsabilidade social das empresas, enfim.

As principais atividades econômicas em que foram resgatados os escravos contemporâneos brasileiros são: pecuária de corte (com 62% dos casos), seguidas por carvão (12%), algodão (5,2%) e soja (4,7). “Foram libertados, no ano passado, 3729 trabalhadores só no setor bovino. Eles não são os vaqueiros, mas aqueles que cuidam da manutenção do pasto e, pior, da abertura de florestas, em práticas ilegais, para o aumento desse pasto”, explica o coordenador geral da ONG Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, responsável pelo levantamento.

Embora o pacto não seja responsável pela as apreensões ou investigações, mas sim o Ministério Público, o bloqueio de investimentos a essas empresas tem surtido um efeito real: a diminuição do número de trabalhadores escravos. Afinal, segundo procurador do Ministério Público do Trabalho, Luis Camargo de Mello, um fazendeiro flagrado pode abrir uma nova empresa e novamente burlar a lei, enquanto enfrenta o processo de seu antigo empreendimento.

“Há inúmeros casos em que o empresário, por meio de liminares, consegue retirar seu nome da lista suja e, durante alguns meses, tenta financiamento. Sem os critérios e comportamentos trazidos pelo pacto, ele possivelmente conseguiria”, afirma. Nessas situações, os signatários podem seguir uma espécie de histórico, que os mantenha informados das alterações na lista, inviabilizando possíveis burlas.

Um dos exemplos vem do Mato Grosso, um dos Estados que mais apresentam casos de trabalho escravo – perdendo apenas para o Pará, nos levantamentos da ONG Repórter Brasil. É a experiência do Grupo Amaggi, que, por meio da Fundação André Amaggi, de Souza, não apenas segue a lista, como faz um levantamento socioambiental de seus fornecedores.

Com 18% de participação no mercado de Mato Grosso, o grupo conseguiu baixar de 14% para 1% os casos de compras oriundas de fornecedores suspeitos. “Sem auditoria não há negociação. Capacitamos nossos funcionários para fazê-las, pois muitos fazendeiros usam disfarces para distribuir seus produtos, como substituir o CNPJ, por exemplo”, lembra a coordenadora de desenvolvimento social da fundação, Juliana Lopes.

A experiência do Grupo Amaggi tem o mérito também de persuadir os fazendeiros a mudar suas práticas. Embora não os ajude financeiramente, tenta dar suporte para que eles sigam a lei. Isto é, mostram que, se estiverem quites com a justiça, obterão mais benefícios do que embargos. Afinal, eles não precisam ser instruídos, como se confirma pelo curioso dado trazido pelo senador José Neri, que faz parte da Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo do Senado – vinculada à Comissão de Direitos Humanos –, nascida pós o pacto. Por meio dos relatórios elaborados pela instância, o perfil dos empresários que praticam o crime não é de iletrados, desinformados ou ignorantes; pelo contrário. “São pessoas instruídas, com apoio jurídico. Isso explica porque conseguem liminares para voltarem a receber recursos. Trata-se de uma chaga social que envergonha o país internacionalmente”, discursa.

Segundo o senador, está em discussão um Projeto de Lei que prevê a expropriação das terras de fazendeiros flagrados cometendo o delito. A iniciativa, se não prova, pelo menos evidencia um grau de comprometimento do legislativo sobre a questão.

Mesmo assim, ainda há muito a ser feito, como denuncia o frei Xavier Plassat, que há mais de uma década constata as piores transgressões. Como coordenador da Comissão Pastoral da Terra, ele tem acesso ao número de denúncias anuais, em torno de 250. “Existe uma necessidade real de fiscalização. Basta ver que há um número muito maior de casos do que de cadastrados na lista. Os produtores sempre encontram brechas e apenas um envolvimento de todos poderá evitá-las”, crê.

Para secretário-executivo do Instituto Ethos, Caio Magri, a luta contra o trabalho escravo no país não é apenas uma questão humanista. Trata-se também da idoneidade do setor privado brasileiro, não apenas internamente – com consumidores mais conscientes sobre a origem dos produtos –, mas em acordos internacionais. Afinal, perde-se confiabilidade no mercado quando a origem dos produtos é duvidosa. Basta lembrar do achincalhamento público que sofreu a empresa de artigos esportivos Nike, em 2002, , quando seus fornecedores foram denunciados por maltratar empregados e usar mão-de-obra escrava e infantil em países asiáticos.

Em uma época em que a responsabilidade social deixa de ser altruísmo ou diferencial empresarial – no que tange a valores e ética universais - para se tornar as bases de um mundo sustentável, o respeito a “dignidade humana”, nas palavras de Patrícia Audi, da OIT, é o consenso mais evidente.

De acordo com dados da OIT, os trabalhadores aliciados para o trabalho escravo são, em sua grande maioria, homens com idade entre 21 e 40 anos, analfabetos ou com pouquíssimos anos de instrução. A vulnerabilidade desses trabalhadores, a maioria provenientes de estados com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) deve-se, principalmente, à falta de oportunidade de geração de emprego e renda que permitam a sobrevivência de suas famílias, lembra Patrícia.

“Embora o Brasil tenha avançado muito na repressão e combate a esse crime são necessárias ainda medidas de prevenção e informação àquelas comunidades vulneráveis que correm o risco de terem seus trabalhadores aliciados e traficados para serem explorados como escravos principalmente em fazendas Região Norte”, argumenta.

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