segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Maguito Vilela assume cargo no BB sem aval de minoritário no conselho

Graziella Valenti
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

A eleição do novo integrante da diretoria executiva do Banco do Brasil (BB), Luiz Alberto Maguito Vilela, gerou divergência no conselho de administração da instituição. O político goiano membro do diretório nacional do PMDB, partido da base aliada do governo, foi rejeitado pelos conselheiros representantes dos acionistas minoritários do banco. Mas a indicação teve maioria de votos, três contra dois.

Bacharel em direito pela Faculdade de Anápolis, o ex-senador e ex-governador de Goiás foi indicado para assumir a vice-presidência de governo do BB, desmembramento da vice-presidência de agronegócios, criada na mesma reunião de conselho que o elegeu. Os representantes dos minoritários no conselho do BB também foram contra essa proposta. A reunião ocorreu em 13 de julho e a ata do encontro está disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Os representantes dos minoritários do banco são indicados pela Previ, caixa de previdência dos funcionários do próprio BB. Consultada, a fundação respondeu que não recomenda o voto dos conselheiros e que tal prática iria contra os princípios da boa governança corporativa. "Eles têm autonomia e independência para votar da forma que acharem melhor."

As manifestações contrárias foram de Francisco da Costa e Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e do economista Carlos Augusto Vidotto. Consultado, Costa e Silva argumentou que é preciso experiência em instituições financeiras para ser administrador de banco, o que o político não possui. Vidotto disse não concordar com a indicação, mas sem detalhar sua opinião.

Os votos favoráveis a Maguito vieram de Bernard Appy, presidente do conselho de administração do BB, de Antônio Francisco de Lima Neto, vice-presidente do conselho e presidente do banco, e de Tarcísio José Massote de Godoy

O pleito do PMDB por cargos públicos neste segundo mandato do PT no governo federal se intensificou e foi alvo de debate público. Após perder a eleição para o governo de Goiás, Maguito Vilela passou a ser um dos possíveis contempláveis, apesar de sua relação com os petistas ser instável. Na campanha de 2006, rejeitou as sugestões do PT para vice na disputa estadual.

A indicação e eleição, pelo controlador, de administrador inapto tecnicamente é considerada abuso de poder pela Lei das Sociedades por Ações, em seu artigo 117. O próprio BB destaca, em seu estatuto social, a importância de experiência na administração financeira para a diretoria executiva.

No entanto, o mesmo estatuto permite a eleição de pessoas que tenham exercido, nos últimos cinco anos, cargo de administração pública por, pelo menos, dois anos. Cabe destacar que a ocupação de Maguito Vilela em cargo no executivo, como governador em Goiás, terminou há nove anos, em 1998. Até a disputa estadual do ano passado, exercia o cargo de senador no legislativo nacional.

No dia anterior à reunião que elegeu o político, foi aprovada em assembléia de acionistas a extensão do corpo diretor do banco. O total de vice-presidentes permitidos aumentou de sete para nove e a soma de diretores subiu de 22 para 26. No dia seguinte, no encontro do conselho de administração, foram criadas a vice-presidência de cartões e novos negócios de varejo e quatro diretorias, além da vice-presidência de governo.

O BB respondeu ao Valor, por meio de sua assessoria de imprensa, que a criação da área de governo visa fortalecer esse segmento, cuja importância vem crescendo. De acordo com o banco, os negócios com o poder público responderam por 12% do lucro líquido de R$ 2,5 bilhões, obtidos no primeiro semestre. O político não foi localizado para comentar o assunto.

A área de Maguito Vilela compreende o relacionamento institucional e comercial do BB com os poderes executivo, legislativo e judiciário do país. Nela, estão inclusas as contas bancárias de nove Estados da federação, serviços eletrônicos de licitações públicas, cartões corporativos dos Estados, administração de fundos garantidores de carteiras de Parcerias Público-Privadas (PPP) e mais de R$ 5 bilhões em previdência fechada.

O banco não quis comentar a indicação. "Não há gestão individual no BB. Aqui tudo é colegiado", informou. Porém, a instituição diz que ele tem muito a contribuir com a experiência de ex-administrador público na conquista de participação de mercado nessa área, alvo de acirradas disputas no setor financeiro.

Questionada sobre o tema, a assessoria de comunicação da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal afirma que a avaliação da capacidade dos indicados vêm em primeiro lugar na análise "criteriosa" a que são submetidos. Segundo a secretaria, Maguito Vilela "reúne todas as condições técnicas e políticas para ocupar o cargo".

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Nordeste puxa a alta de vendas de perfumes neste ano

Ana Paula Grabois
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

O Nordeste, tradicional consumidor de perfumes e colônias e que vem tendo a renda ampliada por programas públicos de transferência de recursos como o Bolsa-Família, puxa o ritmo de alta das vendas de perfumes neste ano.

O Grupo Suissa, fabricante da tradicional colônia Alfazema Suissa, é um exemplo do sucesso do segmento no mercado nordestino. O grupo concentra 65% de suas vendas no Nordeste e prevê crescer 25% nas vendas em 2007. O grupo, cuja fábrica está localizada em Nova Iguaçu (RJ), é líder de vendas em perfumaria em supermercados e farmácias na região e inaugurou entre o ano passado e este ano centros de distribuição em Feira de Santana (BA), Recife e Fortaleza.

Edison Arnaud, um dos sócios do grupo, diz que os planos agora incluem a instalação de uma segunda fábrica em Feira de Santana (BA). "Além do Bolsa Família, que aumentou o consumo, o Nordeste passou a ter um maior desenvolvimento econômico, com a entrada de diversas empresas", afirmou.

A pequena Kanitz, antiga fábrica de sabonetes, também aposta suas fichas nas colônias destinadas ao mercado nordestino. O dono da empresa, Celso Dantas, calcula que o Nordeste puxará a alta de 20% do faturamento neste ano. A região foi responsável por 35% das vendas da Kanitz em 2006, mas a participação em 2007 deve chegar a 45%. "A renda está em alta e a economia interna está aquecida, com inflação baixa. Isso tudo favorece a expansão das vendas", diz Dantas. Os projetos da Kanitz para o Nordeste abrangem a ampliação da estrutura de vendas, com mais funcionários nos pontos de vendas.

A Natura, líder na venda de perfumes e colônias na região, tem perspectivas ainda melhores para os próximos anos. "As classes C e D, que ainda continuam a comprar bens duráveis, passarão daqui a pouco a usar a renda extra nos bens não-duráveis, como os perfumes", disse Eduardo Costa, diretor de marketing da empresa, especializada em venda direta.

"A penetração do perfume no Nordeste é muito maior em comparação às outras regiões e está relacionada a questões culturais. Por causa do clima mais quente, se toma mais banho", disse. Observou que o aumento do consumo de perfumaria nos últimos anos tem se dado de uma forma generalizada entre as diferentes faixas de renda, mas tem sido puxado pelas classes de renda mais baixa.

A rede O Boticário tem na Nordeste 50% do faturamento em perfumes e colônias. "O consumo de perfumaria no Nordeste é o maior do país, principalmente nas colônias com concentração menor. É uma região em que o cheiro é muito valorizado", diz a gerente Tatiana Ponce. A participação de mercado do Boticário no Nordeste é de cerca de 15%, segundo a associação do setor. Na lista dos cinco produtos mais vendidos pela empresa, está a colônia Free, voltada ao consumidor da região, que responde por 90% das vendas nacionais do produto. No segundo bimestre a receita da empresa subiu 23% - acima da média de 15% de todo o mercado de perfumes.

"O Nordeste se firma como uma região de desenvolvimento e como as condições sócio-econômicas do Brasil estão melhorando, há um impacto nos nossos negócios", disse Tatiana.

O faturamento dos fabricantes de perfumes e colônias deve crescer 20% neste ano no Brasil e alcançar R$ 2,8 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Seu presidente, João Carlos Basilio, também vê o Nordeste como principal responsável pela expansão do consumo nacional. "Em todas as categorias de consumo de produtos pessoais e de cosméticos, o Nordeste está crescendo mais que a média nacional. Está havendo uma injeção de renda naquela região", disse Basilio.

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Bancos inovam para atrair novos usuários de cartões

Altamiro Silva Júnior
Publicado pelo Valor Online em 27/08/07

Fernando Chacon, diretor de marketing de cartões do Itaú: "A concorrência está muito acirrada e a indústria investe fortemente para buscar o consumidor"
Foto Marisa Cauduro/Valor


Se você pedir um cartão de crédito no Itaú, ganha um DVD ou R$ 100. Se for no Citi, vai poder parcelar a fatura em até 30 vezes e ainda comprar e receber ingressos de shows e teatros em casa. Já o Banco Real lançou um cartão só para adolescentes e outro que permite o controle de gastos domésticos, com limites estabelecidos diariamente.

Exemplos como estes não faltam no mundo dos cartões de crédito. O setor é um dos mais crescem no país, com taxas de expansão acima de 20% há cinco anos consecutivos. Em 2007, os plásticos devem superar 90 milhões de unidades e movimentar R$ 182 bilhões em recursos. Calcula-se que serão feitas 2,4 bilhões de transações somente com os cartões de crédito, segundo estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

A cada dia, novos produtos e serviços são lançados no mercado para fisgar o consumidor, seja das classes de mais alta renda até os menos endinheirados. Um dos bancos com estratégia mais agressiva é o Itaú. Além de dar um DVD ou R$ 100 em crédito para quem pedir um cartão e fizer uma compra de qualquer valor, o banco foi ainda mais longe. Em outra promoção, dará prêmios instantâneos no momento em que o cliente usa o cartão do banco. Se tiver sorte, o banco paga a compra feita pelo portador. O Itaú promete 5 mil prêmios como este e ainda um de R$ 400 mil, no final do ano.

"A concorrência está muito acirrada e a indústria investe fortemente para buscar o consumidor", afirma Fernando Chacon, diretor de marketing de cartões do Itaú. O banco, diz o executivo, busca não só crescer sua base, hoje em 13,6 milhões de plásticos, mas também quer aumentar a ativação dos cartões já emitidos (83%), incentivando o seu uso no dia-a-dia.

O Citi, que comprou a marca Credicard do Itaú no ano passado, resolveu apostar no público jovem e descolado para crescer no mercado de cartões. O banco lançou na semana passada, o Citi Max, um cartão com serviços e características que antes só estavam disponíveis nos plásticos mais sofisticados do banco, informa Cintia Yamamoto, da área de cartões do banco.

O cartão é voltado para quem gosta de cinema, teatro e shows. Para cada R$ 1,5 mil gastos em três meses, o cliente recebe um par de ingressos para cinema. O valor da fatura pode ser parcelada em até 30 vezes. Nos outros produtos da casa, o máximo era em até 18 vezes. O cartão terá a bandeira Visa ou MasterCard e as cores azul, roxa ou preta.

Desde que ficou com a marca Credicard, o Citi aumentou sua base em um milhão de cartões. Hoje, conta com 5,3 milhões de unidades. O Citi Max já nasce com 11 mil plásticos emitidos. Eles foram vendidos na fase inicial do lançamento do cartão, que não contou com publicidade. Cintia não fala em números de cartões, mas diz que a meta é que em 2008, do total de cartões vendidos pelo banco, 20% sejam deste novo plástico.

Já o Banco Real aposta em cartões diferentes, voltados para públicos específicos. Lançou recentemente um cartão para adolescentes. O objetivo é ser o primeiro contato dos adolescentes com este mercado. Agora, está lançando o "Cartão Controle Doméstico". O banco diz que é o primeiro plástico do mundo que permite ao cliente distribuir cartões de crédito a terceiros - como empregada, motorista e caseiro - para a realização dos gastos domésticos, como compras em supermercados e padarias.

O titular controla os limites de cada um diariamente, por telefone ou internet. A fatura discrimina os gastos de cada portador. O cartão não pode ser usado para saques, pois é em formato "míni". Pesquisas feitas pelo banco descobriram que 20% das compras pagas em supermercados são feitas por terceiros em nome de alguém. Por isso, o banco resolveu apostar neste nicho. A meta é vender 50 mil cartões até o final do ano.

"Criatividade", destaca o superintendente executivo de cartões do Real, Mario Mello, é uma das palavras de ordem para crescer no segmento. "Estamos sempre buscando reinventar a relação das pessoas com o dinheiro e estimular o uso do cartão", afirma. O Real tem base de 10 milhões de plástico, dos quais 3 milhões são de crédito. Só os cartões "míni" somam mais de 600 mil.

Já o Banco do Brasil, com 16 milhões de cartões na praça, aposta em parcerias com redes de varejo para ganhar espaço no mercado. As 27 parcerias fechadas desde outubro do ano passado resultaram em 745 mil cartões emitidos. O BB tem parceiros como Dicico, loja de material de construção, a companhia aérea Gol e a livraria Saraiva. Com isso, o banco tem atraído não-clientes para a sua base.

Segundo José Maria Rabelo, vice-presidente do banco, esta estratégia não se esgotou, apesar da forte concorrência com outras instituições, como Itaú ou Bradesco. "Estamos desenhando novos modelos de negócios para atrair outros parceiros", destaca.

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Empresa aproveita CO2 do álcool e atrai investidor

Bettina Barros
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

Uma empresa novata do Paraná está atraindo a atenção de investidores externos pelo ineditismo de sua operação. Instalada há três anos em São Carlos do Ivaí, no norte do Estado, ela utiliza o CO2 liberado na produção do álcool para fabricar bicarbonato de sódio.

Sem equivalente no mundo, o projeto industrial estudado há dez anos e desenvolvido pela Raudi, do empresário paulista Ricardo Audi, fechou neste mês contrato com o ABN AMRO de Londres para a venda de futuros créditos de carbono. Até 2012, a empresa, que prevê fechar 2007 com faturamento de R$ 36 milhões, deverá engordar o caixa com pouco mais de 1 milhão.

A operação com o banco só foi possível porque a empresa criou uma forma limpa de produzir bicarbonato de sódio, a resposta química para a mistura de CO2, água, vapor e outros componentes.

Convencionalmente, o CO2 é obtido através da queima de combustíveis fósseis - que poluem o ambiente. O que a Raudi fez foi capturar o gás liberado no processo de fermentação do álcool e pelas caldeiras e transportá-lo para a fábrica. Em vez de "fabricar" o CO2, aproveitou aquele que seria, de qualquer forma, jogado na atmosfera. No jargão industrial, a Raudi encontrou uma nova "rota" de produção. "O CO2 é um subproduto da cana ainda muito desperdiçado", diz Audi.

O negócio começou a sair do papel em 2002, quando a empresa fincou pé no terreno de 60 mil metros cedido pela Coopcana, a Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana. A produção começou dois anos depois.

Da usina da cooperativa, que estima produzir nesta safra 150 milhões de litros de álcool (um volume considerável para o mercado), saem três dutos. Um com água, outro com vapor e um terceiro com CO2. De modo geral, 150 milhões de litros de álcool liberam 120 mil toneladas de CO2. Com isso, é possível produzir 120 mil toneladas de sais por ano.

"Hoje, trabalhamos só com 30 mil toneladas do CO2 gerado. Mas estamos crescendo. Em 2011, a expectativa é aproveitar 50%", afirma Audi. Sem citar números, ele lembra que todo o investimento realizado em pesquisa e na fábrica são próprios.

Após estudar vários segmentos, o empresário viu no setor sucroalcooleiro a oportunidade de agregar maior valor a um produto. "Para cada 100 toneladas de cana, 93 são jogadas fora. É o campeão em subprodutos", diz ele. Dois chamaram especialmente a sua atenção: biomassa (palha e bagaço de cana) e CO2.

Mas o bicarbonato de sódio "verde" foi também uma oportunidade de mercado. Utilizado em uma gama sem fim de produtos - de pasta de dente, alimentos e ração a fármacos -, o bicarbonato é altamente consumido no país. Sinal disso é que, apesar da pequena produção, a Raudi tem um portfólio de 650 clientes como nomes como Sadia, Perdigão, Bertin, J. Macedo, diz Audi.

Além do bicarbonato, a empresa também produz cloreto de amônio e bicarbonato de amônio. Com a receita dos créditos de carbono, espera crescer e diversificar. Em 2008, deverão ser lançadas a produção de carbonato de cálcio - utilizado em papel, por exemplo - e soda cáustica.

A metodologia para obter os créditos de carbono, aprovada pela ONU, foi desenvolvida pelo filho, Ricardo Audi Junior. "Estamos mostrando para o mundo químico que é possível fazer isso de forma ambientalmente e economicamente viável", diz Junior.

Até 2012, a fábrica em São Carlos do Ivaí deverá emitir 132,5 mil toneladas de CO2 - cada tonelada equivale a um crédito.

O empresário paulista ventila também outros passos, mais ambiciosos. Em maio, a Raudi fechou sociedade com a PML e CC Machinery, da holding alemã MPC Capital, criando a Bioref.

A nova empresa estuda começar a construir ainda este ano uma unidade em Paranavaí, para produção de etanol, metanol à base de bagaço e palha e sais. Segundo Audi, até 2011 a planta deve estar em operação. O investimento é expressivo: pode chegar a US$ 420 milhões.

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Seae amplia atuação e analisa desde tarifas bancárias a inflação setorial

Arnaldo Galvão
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

Nelson Barbosa: debate sobre agências reguladoras está "muito ideológico"
Foto Ruy Baron/ Valor


Os bancos substituíram os ganhos inflacionários pela elevação das tarifas cobradas dos clientes. A afirmação é do secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Sua equipe está, junto com técnicos do Banco Central, apoiando a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara para verificar se há abuso nas tarifas bancárias. Esse é um dos principais trabalhos que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae). "Os bancos substituíram as transferências inflacionárias pelas tarifas na composição das receitas", disse Barbosa, em entrevista ao Valor.

Além de analisar as tarifas bancárias, a secretaria comandada por Barbosa também está desenvolvendo um acompanhamento setorial da inflação para subsidiar o ministro Guido Mantega no Conselho Monetário Nacional (CMN) e prepara um estudo sobre a relação entre as tarifas de importação e as políticas públicas de desenvolvimento industrial.

Além das atribuições à frente da Seae, Nelson Barbosa, que foi assessor econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha presidencial, é hoje o principal formulador de política econômica do Ministério da Fazenda. A seguir, os principais temas que estão sendo analisados no momento pela Seae.

Tarifas bancárias
A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara criou um grupo de trabalho para analisar o assunto. Participam o Ministério da Fazenda e o Banco Central. A primeira reunião já foi realizada para planejar os trabalhos. Será uma análise descritiva para subsidiar o grupo e, eventualmente, apresentar propostas legislativas. O objetivo é detalhar como as tarifas estão distribuídas pelos bancos e o que elas representam no balanço das instituições financeiras. "Os bancos substituíram as transferências inflacionárias pelas tarifas na composição das receitas", comentou Barbosa. A Seae está analisando os números coletados pelo Banco Central para saber se há abuso ou se existe um padrão. O principal trabalho é organizar e sistematizar a base de informações públicas sobre tarifas bancárias e também comparar com o que existe em outros países.

Inflação setorial
A Seae está desenvolvendo um sistema de acompanhamento setorial da inflação para subsidiar o ministro Guido Mantega em suas análises. O acompanhamento macroeconômico é feito pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o que envolve juros, câmbio e crescimento. Como a inflação é uma média de vários preços que têm dinâmicas diferentes, o objetivo desse trabalho é criar uma análise setorial. Nesse aspecto, Barbosa ressalta que o setor de prestação de serviços é importante, principalmente aluguel e os segmentos de serviços pessoais. Como o mercado de serviços têm grande concorrência, a análise não se adapta ao que a Seae fazia. Nos casos de energia elétrica, telecomunicações, saúde e TV a cabo, já havia um acompanhamento. Mas outros tipos de serviço têm dinâmica diferente da dos mercados regulados. Nesse aspecto, a Seae verifica mais a evolução de preços para subsidiar a análise de inflação. Como o ministro Mantega integra o Conselho Monetário Nacional (CMN), que fixa a meta de inflação, precisa de um acompanhamento mais detalhado da dinâmica dos preços e não apenas do agregado.

Tarifas de importação
Está sendo feito um estudo da estrutura tarifária brasileira. A Seae vai identificar quais são os setores protegidos e os efeitos econômicos. É uma consolidação do que a secretaria já faz isoladamente. O objetivo é ver a questão de uma maneira global e verificar se faz sentido com as demais políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. Esse trabalho está sendo conduzido em parceria com a Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda. Até o fim do ano vai ser concluído um diagnóstico sob a perspectiva da produção e do desenvolvimento industrial.


Agências reguladoras
O governo está conduzindo o tema por meio da Casa Civil. O que prevalece é que a formulação das políticas deve ficar com o Executivo e as agências devem se concentrar mais na regulação, fiscalização e defesa do consumidor e, ao mesmo tempo, cuidar de políticas que possam atrair investidores privados. Para Barbosa, o dilema do regulador é encontrar o ponto de equilíbrio entre os interesses de consumidores e investidores. Se pender para o consumidor, corre o risco de desestimular o capital, o que encarece o serviço. Se beneficiar muito os investidores, perdem os consumidores. "O debate está muito ideológico, mas a Seae fica com a parte técnica", avisa. Segundo o secretário, a contribuição da Seae limita-se a sugerir como melhorar a qualidade da comunicação entre o Executivo e as agências. Dar muito poder às agências, na sua visão, também é desequilibrado. Ele diz que o modelo liberal reflete uma visão por meio da qual o mercado resolve tudo, mas inúmeros trabalhos econômicos já mostraram falhas de mercado, como, por exemplo, captura das agências por interesses corporativos, monopólios naturais e informação assimétrica. "Nos mantemos à distância do debate político. Criticam muito o governo olhando só o lado do investidor. Não é bem assim. A discussão está enviesada e restrita", alerta Barbosa.

Aviação
O ministro da Fazenda participa do Conselho de Aviação Civil (Conac), mas está fora do grupo de trabalho que vai propor a reforma da malha aérea. Apesar disso, questões de regulação serão abordadas e, oportunamente, a Seae vai contribuir.

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Fabricantes preparam-se para a era digital

André Borges
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

Alex Silvério, gerente de produto de áudio e vídeo da LG Eletronics: contato diário com engenheiros na Coréia para colocar aparelhos no mercado no início de 2008
Foto Ricardo Benichio/Valor


Chiadeira não vai ter mais. Daqui a alguns meses, ouvir rádio em lugares inóspitos à transmissão, como a avenida Paulista, será uma prática plenamente possível, tal qual escutar um CD. Essa é uma das promessas do aguardado rádio digital, tecnologia que daqui há dois meses terá seu padrão definido no país, conforme anunciado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, na última semana.

O suspense é dispensável. Ao menos que o mundo vire de ponta-cabeça nos próximos dias, já é dado como certo que o Brasil irá adotar o sistema Iboc (sigla para In-band on-channel), padrão americano de transmissão que pertence ao Ibiquity, um consórcio de empresas dos EUA que inclui nomes como AT&T.

A preferência pelo Iboc é clara. Hoje o sistema é o único que opera em redes AM e FM e permite que a transmissão de sinais digital e analógico seja feita por uma mesma freqüência. Já o sistema europeu DRM (sigla para Digital Radio Mondiale) só funciona em transmissões de ondas curtas, usadas em regiões como a floresta amazônica. Foram feitos testes com o DRM no Brasil. Até as experiências se mostraram limitadas.

O Iboc, por outro lado, já é usado em regime experimental por 16 emissoras de rádio do país. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) apóia o padrão americano. Fornecedores de transmissores e antenas para radiodifusão seguem essa mesma trilha, acompanhados pela voz dos fabricantes de equipamentos de áudio. "O governo já tem todas as condições de tomar uma decisão. Agora trata-se de uma questão de formalidade", diz o presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero. "Todos estão apenas aguardando o momento da largada."

Como o tema ainda está em aberto, os fabricantes do setor procuram medir suas palavras, isso quando não optam pelo silêncio. No dia-a-dia, porém, o assunto vem mexendo com as operações dessas empresas. Na japonesa JVC, que fabrica aparelhos automotivos, a meta é trazer a produção para o Brasil. Hoje a companhia já fabrica na Zona Franca de Manaus, na sede da Panasonic, mas apenas modelos analógicos. Desde o ano passado os japoneses já vendem seus rádios digitais no país, mas a produção está concentrada na Ásia. O obstáculo que a JVC enfrenta é o preço do produto: R$ 1.299,00. "Com a fabricação local esse preço cai no mínimo 30%. Um aparelho poderá custar cerca de R$ 600", comenta o gerente de marketing e planejamento da JVC, Sergio Buch Júnior.

Os coreanos também estão prontos para colocar seus aparelhos no Brasil. "Todos os dias falo sobre isso com engenheiros da nossa matriz", diz o gerente de produto de áudio e vídeo da LG Eletronics, Alex Silvério. A empresa quer ser uma das primeiras a colocar nas lojas um aparelho de som com receptor digital. "Teremos um produto pronto para o mercado ainda no início do ano que vem."

A Samsung, que nos últimos anos não deu lá tanta atenção para sua linha de áudio, também quer fazer dos aparelhos de som uma prioridade. "Uma vez que o governo formalize o padrão, teremos um produto de mercado em no máximo cinco meses", projeta o vice-presidente de novos negócios da Samsung, Benjamin Sicsú.

A empresa já começou a se movimentar. Sua fábrica na Zona Franca, que hoje ocupa uma área de 25 mil metros quadrados, está sendo ampliada e irá dobrar de tamanho. Há seis meses, diz Sicsú, a unidade começou a produzir aparelhos de home theater, mas em breve deve iniciar a fabricação de microsystems. Outro produto que entra na linha de produção são os pequenos tocadores de MP3. "Nos voltaremos para equipamentos de áudio, puramente."

De maneira geral, o mercado quer sentir primeiro qual é o interesse do consumidor em pagar pela nova tecnologia, para então orientar suas ações, diz Slaviero, da Abert. Números do setor dão conta de que atualmente há 200 milhões de aparelhos de rádios em uso no país. Para sensibilizar o usuário, a indústria aposta em benefícios como a melhora na qualidade do som. Com a tecnologia digital, a transmissão FM terá qualidade de CD. O sinal AM passa a ter recepção como a da atual FM. Além disso, os aparelhos poderão receber dados, como pequenas imagens e informações sobre a música que estiver tocando, o cantor, uma propaganda sobre o disco etc.

Mas para que tudo isso ocorra, é preciso que, além dos consumidores, as 3,6 mil emissoras de rádio do país também estejam dispostas a enfiar a mão no bolso. Um transmissor digital, com suas antenas, não sai por menos de R$ 80 mil. Dependendo da sofisticação, a migração pode chegar a R$ 300 mil. "Fora as grandes emissoras, sabemos que muitas não têm condições de fazer um investimento desse", diz Jakson Alexandre Sosa, diretor do grupo RF Telavo, empresa que já exporta equipamentos de transmissão fabricados em Taboão da Serra, em São Paulo. "Nossa expectativa é que o governo ofereça linhas de financiamento para que essas empresas possam investir."

Ao menos no que se refere à propriedade intelectual, as rádios já garantiram um acordo. Os americanos abriram mão da cobrança de royalties para a adoção do padrão Iboc. Os fabricantes de aparelhos receptores, porém, terão que pagar a conta. A expectativa é que o Ibiquity cobre algo em torno de US$ 1 por cada aparelho de som que sair da prateleira com o padrão digital.

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