segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Fabricantes preparam-se para a era digital

André Borges
Publicado pelo
Valor Online em 27/08/07

Alex Silvério, gerente de produto de áudio e vídeo da LG Eletronics: contato diário com engenheiros na Coréia para colocar aparelhos no mercado no início de 2008
Foto Ricardo Benichio/Valor


Chiadeira não vai ter mais. Daqui a alguns meses, ouvir rádio em lugares inóspitos à transmissão, como a avenida Paulista, será uma prática plenamente possível, tal qual escutar um CD. Essa é uma das promessas do aguardado rádio digital, tecnologia que daqui há dois meses terá seu padrão definido no país, conforme anunciado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, na última semana.

O suspense é dispensável. Ao menos que o mundo vire de ponta-cabeça nos próximos dias, já é dado como certo que o Brasil irá adotar o sistema Iboc (sigla para In-band on-channel), padrão americano de transmissão que pertence ao Ibiquity, um consórcio de empresas dos EUA que inclui nomes como AT&T.

A preferência pelo Iboc é clara. Hoje o sistema é o único que opera em redes AM e FM e permite que a transmissão de sinais digital e analógico seja feita por uma mesma freqüência. Já o sistema europeu DRM (sigla para Digital Radio Mondiale) só funciona em transmissões de ondas curtas, usadas em regiões como a floresta amazônica. Foram feitos testes com o DRM no Brasil. Até as experiências se mostraram limitadas.

O Iboc, por outro lado, já é usado em regime experimental por 16 emissoras de rádio do país. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) apóia o padrão americano. Fornecedores de transmissores e antenas para radiodifusão seguem essa mesma trilha, acompanhados pela voz dos fabricantes de equipamentos de áudio. "O governo já tem todas as condições de tomar uma decisão. Agora trata-se de uma questão de formalidade", diz o presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero. "Todos estão apenas aguardando o momento da largada."

Como o tema ainda está em aberto, os fabricantes do setor procuram medir suas palavras, isso quando não optam pelo silêncio. No dia-a-dia, porém, o assunto vem mexendo com as operações dessas empresas. Na japonesa JVC, que fabrica aparelhos automotivos, a meta é trazer a produção para o Brasil. Hoje a companhia já fabrica na Zona Franca de Manaus, na sede da Panasonic, mas apenas modelos analógicos. Desde o ano passado os japoneses já vendem seus rádios digitais no país, mas a produção está concentrada na Ásia. O obstáculo que a JVC enfrenta é o preço do produto: R$ 1.299,00. "Com a fabricação local esse preço cai no mínimo 30%. Um aparelho poderá custar cerca de R$ 600", comenta o gerente de marketing e planejamento da JVC, Sergio Buch Júnior.

Os coreanos também estão prontos para colocar seus aparelhos no Brasil. "Todos os dias falo sobre isso com engenheiros da nossa matriz", diz o gerente de produto de áudio e vídeo da LG Eletronics, Alex Silvério. A empresa quer ser uma das primeiras a colocar nas lojas um aparelho de som com receptor digital. "Teremos um produto pronto para o mercado ainda no início do ano que vem."

A Samsung, que nos últimos anos não deu lá tanta atenção para sua linha de áudio, também quer fazer dos aparelhos de som uma prioridade. "Uma vez que o governo formalize o padrão, teremos um produto de mercado em no máximo cinco meses", projeta o vice-presidente de novos negócios da Samsung, Benjamin Sicsú.

A empresa já começou a se movimentar. Sua fábrica na Zona Franca, que hoje ocupa uma área de 25 mil metros quadrados, está sendo ampliada e irá dobrar de tamanho. Há seis meses, diz Sicsú, a unidade começou a produzir aparelhos de home theater, mas em breve deve iniciar a fabricação de microsystems. Outro produto que entra na linha de produção são os pequenos tocadores de MP3. "Nos voltaremos para equipamentos de áudio, puramente."

De maneira geral, o mercado quer sentir primeiro qual é o interesse do consumidor em pagar pela nova tecnologia, para então orientar suas ações, diz Slaviero, da Abert. Números do setor dão conta de que atualmente há 200 milhões de aparelhos de rádios em uso no país. Para sensibilizar o usuário, a indústria aposta em benefícios como a melhora na qualidade do som. Com a tecnologia digital, a transmissão FM terá qualidade de CD. O sinal AM passa a ter recepção como a da atual FM. Além disso, os aparelhos poderão receber dados, como pequenas imagens e informações sobre a música que estiver tocando, o cantor, uma propaganda sobre o disco etc.

Mas para que tudo isso ocorra, é preciso que, além dos consumidores, as 3,6 mil emissoras de rádio do país também estejam dispostas a enfiar a mão no bolso. Um transmissor digital, com suas antenas, não sai por menos de R$ 80 mil. Dependendo da sofisticação, a migração pode chegar a R$ 300 mil. "Fora as grandes emissoras, sabemos que muitas não têm condições de fazer um investimento desse", diz Jakson Alexandre Sosa, diretor do grupo RF Telavo, empresa que já exporta equipamentos de transmissão fabricados em Taboão da Serra, em São Paulo. "Nossa expectativa é que o governo ofereça linhas de financiamento para que essas empresas possam investir."

Ao menos no que se refere à propriedade intelectual, as rádios já garantiram um acordo. Os americanos abriram mão da cobrança de royalties para a adoção do padrão Iboc. Os fabricantes de aparelhos receptores, porém, terão que pagar a conta. A expectativa é que o Ibiquity cobre algo em torno de US$ 1 por cada aparelho de som que sair da prateleira com o padrão digital.


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