quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Política: Poder e democracia não seguem juntos

O poder e a democracia não seguem de mãos dadas nas organizações internacionais. As mais poderosas são as menos democráticas. Mas, lentamente, isso está mudando. Pode ser democrática uma instituição multilateral que países como Bélgica ou Holanda, com 10 ou 16 milhões de habitantes, respectivamente, têm mais poder do que, por exemplo, a Índia, com 1,1 bilhão? Pode ser democrática uma instituição mundial se os representantes eleitos nas urnas pelos cidadãos de seus Estados-membros apenas são capazes de controlar o que dizem os delegados de seus países em seu nome? Estas perguntas são fundamentais para determinar a legitimidade das instituições internacionais.

As instituições internacionais mais poderosas tendem a exibir as piores credenciais democráticas: a distribuição do poder entre os países é mais desigual e a transparência, e, portanto, o controle democrático, é péssimo. As instituições poderosas não apenas produzem normas, mas também podem forçar os países a respeitá-las. O Conselho de Segurança, principal órgão da Organização das Nações Unidas, tem a faculdade de adotar sanções econômicas e inclusive militares se um país não respeita suas resoluções. Assim, o Conselho ostenta um poder realmente duro, mas o processo de elaboração de normas e sua aplicação se vêem sob influência do veto de seus cinco membros permanentes.

Foi conferido a China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia o poder de bloquear qualquer norma da qual não gostem. Isto significa que países equivalentes a 30% da população mundial guiam o destino do Conselho de Segurança. E como os Estados Unidos foram responsáveis por 13 dos 16 vetos impostos nos últimos 15 anos, pode-se afirmar que 5% da população mundial têm uma influência desproporcional no mais poderoso organismo da ONU.

A Organização Mundial do Comércio também é poderosa. Primeiro porque estabelece muitas normas. O grande acordo mundial de comércio de 1994 continha 26 mil páginas de regras, principalmente sobre o quando deveria ser aberto ou fechado cada país diante dos produtos e serviços do restante. Todos os membros da OMC devem aceitar, mais ou menos, a totalidade das regras impostas pela instituição. E se um membro da organização não respeita essas normas e, por exemplo, aplica tarifas alfandegárias maiores do que o permitido, outro pode apresentar uma demanda contra e uma espécie de tribunal da organização julgará o caso.

O órgão de resolução de disputas demora aproximadamente dois anos para resolver os casos. Ao ganhador é dado o direito de castigar o país que transgrediu as regras mediante uma sanção comercial – normalmente uma tarifa sobre importações – que prejudica o transgressor na mesma medida em que a vítima foi prejudicada. Através deste mecanismo a OMC faz com que os países cumpram suas normas. Isto é bastante excepcional entre as instituições internacionais. Assim, a OMC é poderosa, mas também é pouco democrática? Bem, a distribuição do poder é bastante democrática. É “um país, um voto”, e no mundo real isso não é tão ruim. Naturalmente, não é muito democrático o diminuto Luxemburgo ter tanto poder quanto a China.

Em princípio, seria melhor se os votos fossem baseados na população. Talvez, não deveriam todos ter o mesmo peso político? Mas isso significaria que China e Índia ostentariam 40% dos votos em todas as instituições. Creio que o mundo não está pronto para isso. Agora, o sistema de “um país, um voto” não é tão ruim, porque na prática as grandes nações têm os meios para garantirem que seu voto tenha mais peso do que o dos demais menores. Entretanto, até o último acordo mundial de comércio de 1994, Canadá, Estados Unidos, Japão e União Européia podiam dominar as negociações porque eram muito técnicas e tinham procedimentos muito pouco transparentes. Isso está mudando desde 2003.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional têm poder sobre os países que precisam de seu dinheiro. Os países ricos podem emprestá-lo no mercado privado ou aos seus próprios cidadãos. As, durante muito tempo, a maioria das nações em desenvolvimento que necessitavam de dinheiro não tinham outra opção a não ser recorrer a estas instituições surgidas dos acordos assinados na localidade norte-americana de Bretton Woods, em julho de 1944. Em troca de seus empréstimos, o FMI e o Banco Mundial impuseram regras sobre o que, segundo essas instituições, constituía uma boa política. Se os países não as cumpriam, não recebiam o dinheiro.

A distribuição do poder entre as nações é desigual. Os países ricos, com um sexto da população mundial, tinham 60% dos votos, mas não precisavam das instituições de Bretton Woods. Os países pobres tinham de se arranjar com apenas 40% dos votos. Em abril, 3% dos votos passaram das nações industrializadas para o mundo em desenvolvimento. a situação é diferente em organizações internacionais que estabelecem regras sociais e ambientais do mundo. A governabilidade ecológica consiste em uma serie de Acordos Ambientais Multilaterais (MEA). A governabilidade social se processa mediante convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras sobre direitos humanos.

Contrariamente à OMC, onde os membros devem tolerar todas as normas, os países podem decidir qual MEA ou convenção trabalhista ou de direitos humanos ratificam ou não. E embora ratifiquem um acordo, não há sanções se não os cumpre. Assim as regras sociais e ecológicas do mundo tendem a ser muito brandas. Mas as organizações que as criam e tentam implementá-las funcionam bastante democraticamente. Nas conferencias das partes que regem os MEAs, a cada país corresponde um voto. O mesmo ocorre no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Na OIT, cada país tem quatro votos: dois para o governo, um para os sindicatos e outro para as organizações empresariais.

De fato, desde sua criação em 1919, a OIT trabalha com sócios sociais. Por este motivo é bastante transparente. Com esses sócios tão envolvidos é praticamente impossível fazer algo escondido. Quase todas as reuniões da OIT são abertas. Assim que tanto para os representantes eleitos quanto para o público em geral é fácil saber do que se está tratando ali. O mesmo ocorre com os MEA e o Conselho de Direitos Humanos. Vários funcionários dizem que a OIT e as conversações de direitos humanos dependem da ajuda da sociedade civil para sua implementação.

Por outro lado, FMI e Banco Mundial sempre foram mais reservados: as atas das sessões de seus órgãos dirigentes permanecem envoltas em um manto de segredo durante 10 anos. A OMC também é bastante opaca. Não é tão fácil saber quem diz o que. Seus procedimentos são informais. O Conselho de Segurança é diferente: todos podem saber a posição dos seus membros em cada uma das votações. Basta checar o site da ONU. Mas, geralmente, as instituições mais poderosas são as menos democráticas. IPS/Envolverde

* Este artigo é parte de uma série de quatro notas de John Vandaele, jornalista da revista belga MO* e autor de vários livros sobre globalização. O mais recente, de 2007, é The Silent Death of Neoliberalism (A silenciosa morte do liberalismo).



Por John Vandaele, da IPS
Envolverde, 20/11/08
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Governo vai modificar MP das Filantrópicas após conflito com presidente do Senado

O governo vai modificar a proposta de regulamentação das entidades filantrópicas brasileiras depois que o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), decidiu devolver ao Poder Executivo a MP (medida provisória) que prorroga automaticamente a vigência dos contratos dessas entidades. O Executivo ainda estuda o mecanismo que será utilizado para substituir a MP, mas já definiu que não vai insistir na aprovação da matéria no formato encaminhado ao Congresso.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse nesta quinta-feira que o governo está disposto em retirar do texto a prorrogação automática da vigência dos contratos --que gerou a polêmica em torno da MP.

Uma das alternativas é editar projeto de lei com as modificações ou encaminhar uma nova MP ao Congresso, com diferente conteúdo. Também está em estudo a possibilidade de se colocar em votação, na Câmara, projeto de lei em tramitação na Câmara sobre o mesmo assunto.

"Qualquer das alternativas seria a substituição dessa MP. Mas não será pura e simplesmente a devolução da medida provisória. Se houver novo projeto de lei ou nova medida provisória, essa perde o objeto", afirmou Jucá.

O líder assegurou, no entanto, que o governo vai modificar o ponto mais polêmico do texto --no que diz respeito à aprovação automática dos pedidos de renovação de certificados de filantropia pendentes no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social).

"Existem algumas determinações na MP que foram questionadas porque houve um tratamento a casos diferentes. Deveremos ter um novo tratamento para esse tipo de renovação, que virá em um novo texto", disse Jucá.

Na opinião do governista, Garibaldi adotou um gesto "político" para firmar posição no Congresso. Jucá reconheceu, porém, a necessidade de mudanças na tramitação das medidas provisórias para evitar a paralisia dos trabalhos do Legislativo.

"Queremos evitar o confronto. Temos que fazer mudanças nos ritos e no regimento da Câmara e do Senado no que diz respeito às medidas provisórias", afirmou.

Embate
A polêmica em torno da MP teve início na semana passada, quando o texto chegou ao Congresso. Depois de ouvir de senadores da base governista e da oposição sucessivas críticas ao teor da matéria, Garibaldi decidiu ontem devolvê-la ao Executivo --o que irritou aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

DEM e PSDB batizaram a matéria de "MP da Pilantropia" ao afirmar que a concessão automática dos pedidos de renovação poderá beneficiar entidades com pendências judiciais.

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que a oposição está disposta a apoiar a nova proposta do governo, desde que a concessão automática dos pedidos seja retirada do texto.

"O que mudará é o conteúdo, sem privilegiar a pilantropia. Não podemos é admitir tratamento igual a pilantrópico e às boas entidades. O governo sabia que essa medida provisória era imprópria, o Garibaldi teve foi muita paciência de Jô", disse o democrata.


Gabriela Guerreiro
Folha Online, 20/11/08

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Confira 5 dicas de especialistas para usar o Twitter no mundo dos negócios

Segredo é usar a rede social para ouvir o que os clientes e parceiros têm a dizer e construir um relacionamento com eles

Imagine uma ferramenta de trabalho que permite transmitir informação através de toda a companhia, participar de discussões sobre como as pessoas estão usando seus produtos e saber o que elas pensam a respeito deles? Bem, essa ferramenta se chama Twitter e, apesar de muita gente usá-la no âmbito pessoal, ela também pode ser usada para criar um fluxo de informação com utilidade corporativa.

A idéia aqui é não é criar uma conta no Twitter e sair disparando notícias sobre sua empresa. Na verdade, isso pode trazer problemas. Em vez disso, vá devagar e use a ferramenta para criar uma comunidade com clientes, fornecedores e os funcionários da companhia. Melhor ainda: crie uma estratégia antes de usar o Twitter como uma ferramenta para os negócios.

Para ajudar você montar uma estratégia, nós conversamos com dois dos principais especialistas em termos de Twitter - Laura Fitton, da Pistachio Consulting, e Robert Scoble, da FastCompany.TV. Laura tem mais de 7 mil seguidores e nos últimos anos vem ajudando empresas a desenvolverem estratégias em redes sociais. Scoble, por sua vez, é um dos grandes entusiastas do serviço e tem mais de 40 mil seguidores. Eles trazem cinco dicas do que deve ou não ser feito no Twitter. Veja abaixo:

1) Defina um objetivo
Quais são seus objetivos no Twitter? Falar com pessoas influentes em sua área? Ou comunicar sobre o lançamento de produtos. Isso tudo vai definir as pessoas que devem fazer parte de sua rede. Mais importante: você deve criar um personagem que vai representar sua empresa no mundo virtual. Tentar ser várias coisas ao mesmo tempo pode passar uma imagem falsa.

É por isso que Robert Scoble sugere a criação de "uma conta diferente para diferentes objetivos". "Use uma conta para distribuir notícias, outra para responder aos consumidores e vá criando outras contas de acordo com suas necessidades."

2) Siga as pessoas certas
Tanto Laura Fitton quanto Robert Scoble afirmam que, para usar o Twitter efetivamente, é preciso escutar mais do que falar. "As empresas precisam ler as mensagens", disse Scoble. Por isso é importante procurar pessoas que falem sobre sua companhia ou sobre o mercado em que ela está inserido. Também é importante acompanhar as conversas, antes de começar a dar palpites.

Seguir clientes, fornecedores, colegas e pessoas reconhecidas em sua área não mostra apenas que você está disposto a ouvir - também é um sinal de vale a pena seguir sua identidade no Twitter. Além disso, é possível trocar mensagens diretamente com as pessoas envolvidas, o que ajuda a expandir seu relacionamento e o da empresa.

3) Seja interessante
Além de ouvir seus clientes e parceiros, é preciso usar a ferramenta para enviar mensagens que sejam interessantes, sejam elas notícias sobre sua empresa, dicas sobre como usar seus produtos e até mesmo uma informação divertida. Os usuários do serviço são muito sensíveis a tentativas de manipulação e mensagens parecidas com propagandas são descartadas rapidamente. Mostrar interesse nas atividades dos usuários também é uma forma de ser relevante dentro da rede social.

4) Não fique dentro do Twitter
Uma das coisas que torna a rede social relevante é a possibilidade de interação. "Acho que a questão que o Twitter realmente pergunta às pessoas é: 'O que nós temos em comum?'", disse Laura. Por isso mesmo, as conversas que começam via pequenas mensagens podem se transformar em posts em blogs, álbuns no Flickr e vídeos no YouTube, afirma a consultora. Dessa maneira, as pessoas mostram o que têm em comum e acabam criando laços mais fortes.

5) Use as ferramentas certas
A interface do Twitter pode ser um pouco confusa e não se encaixar em algumas tarefas. Felizmente, uma ampla variedade de ferramentas alternativas para o Twitter foi desenvolvida para quase todas as plataformas. Algumas simplesmente facilitam a realização de tarefas simples como enviar mensagens diretamente, linkar automaticamente a buscas por palavras-chave e ativar ou desativar posts.

Em sua mesa
Tanto Scoble como Fitton concordam que a função embutida de buscas do Twitter é a ferramenta mais importante do microblogging. Usando as opções de busca avançada é possível encontrar tweets com palavras específicas ou frases, escritas por determinados usuários ou em datas específicas. O usuário pode até mesmo assinar qualquer filtro de buscas por RSS.

O programa para desktop TweetDeck vai um passo adiante e permite que o usuário faça múltiplas buscas que são atualizadas em tempo real conforme as palavras-chave forem adicionadas no Twitter. A ferramenta também permite acesso direto a mensagens e respostas do usuário, assim como outra ferramenta popular para desktop chamada Twhirl.

Rodando no Adobe AIR, o TweetDeck e o Twhirl são compatíveis com Mac e Windows. Ambos são alternativas poderosas para o site do Twitter, embora alguns usuários, incluindo Fitton, prefiram usar a home page do Twitter.

Há uma série de extensões do Firefox que permitem que o usuário interaja com o Twitter diretamente de seu browser. Por exemplo, se você vir um web site que deseja compartilhar com seus seguidores, o Shareaholic permite que você o faça em um clique. E o TwitBin coloca o Twitter em sua barra do browser para que ele esteja sempre ao seu alcance.

Outra ferramenta que vale citar é o FriendFeed, um serviço que permite consolidar atualizações de mais de 40 mídias e redes sociais, incluindo Twitter, Digg, YouTube, Facebook, LinkedIn, Delicious e Flickr – e criar discussões.

Twitter para viagem
Finalmente, é possível levar consigo seu Twitter mesmo longe de seu computador usando uma série de ferramentas para smartphones. Há uma dúzia de aplicativos do microblogging para iPhone, mas o que chama mais atenção - e é o favorito de Scoble - é o Twinkle, que inclui uma função de localização para identificar usuários mais próximos. Ele está disponível na App Store.

No BlackBerry, o TwitterBerry é o delivery do Twitter. Os fãs do Twitter também recomendam o TinyTwitter para Windows Mobile e celulares que rodam em Java (incluindo o BlackBerry), além do MoTwit para o Treo.


Logan Kugler,
Editor da Computerworld, em Framingham
IDG Now, 20/11/08

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Tom Jones canta nas ruas de Londres para arrecadar dinheiro

Jones fez um show para arrecadar dinheiro para uma associação de luta contra o câncer
Foto Joe Cavaretta/AP


O cantor britânico de soul Tom Jones surpreendeu nesta quarta-feira os pedestres londrinos, que puderam vê-lo cantar às margens do Tâmisa, pedindo dinheiro. O galês deu um show inesperado, em frente ao Royal Festival Hall, para arrecadar dinheiro para uma associação de luta contra o câncer, comprovou um repórter da AFP.

O intérprete de "Sex Bomb" entusiasmou o público, que fotografou o ídolo, sem parar, com seus telefones celulares. Várias mulheres acompanharam Jones quando ele cantou "It's not unusual", tocando apenas uma guitarra acústica. "Estávamos passando, quando ouvi essa música e falei para mim mesma que parecia Tom Jones. Ele foi muito amável, nada pretensioso", comentou June, uma das fãs.

No final do curto, mas memorável show, Tom Jones disse às pessoas que havia conseguido 500 libras (600 euros), agradeceu-lhes e foi embora, cercado por seus seguranças.


da France Press, em Londres
Folha Online, 19/11/08

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Planejamento estratégico - “inteligência empresarial”

O neurofisiologista - William Calvin, da University of Washington School of Medicine - tem uma hipótese: inteligência tem a ver com a capacidade de antecipar. Planejar cursos de ação até então inéditos, ensaiando-os dentro da cabeça antes de agir.” Inteligência é a capacidade que você exercita quando abre a geladeira e pensa no que terá de sair para comprar para poder preparar um jantar, a partir das sobras do almoço. Quando inventa uma ordem nova a partir de coisas com as quais nunca tinha se deparado."

Essa capacidade de antecipar pode ter se originado no passado distante na necessidade de coordenar movimentos de arremesso: se você se alimenta de coelhos, e há poucos deles por aí, é bom que se torne muito competente em acertá-los quando vê um. Ou você aprende a arremessar com precisão ou morre.

Movimentos desse tipo,uma vez executados, não podem ser modificados - você tem de simulá-los precisamente dentro da cabeça antes de pratica-los. Essa pode ter sido uma “inteligência rudimentar” (uma proto-inteligência) que estaria na raiz de outra arma poderosa dos humanos: a linguagem. Sem linguagem seríamos pouco mais inteligentes que um chimpanzé.

Às vezes diz-se que o cérebro é um ”computador de bordo”, não pela maneira como funciona, mas pelo que faz. Para nós, interessados em performance empresarial, o aspecto mais interessante do que ele faz é simular o mundo, criando modelos, através do equivalente a um software de realidade virtual que “roda nele”.

Toda espécie que tem um sistema nervoso, usa-o para construir um mundo seu, particular, que é permanentemente atualizado pelas informações que os sentidos captam. Para construir seu mundo, cada espécie usa a informação mais útil para AGIR nesse mundo.

A maneira de entendermos “inteligência”, para mim, nada tem a ver com esse amontoado de tolices que povoam a literatura empresarial, e que se limitam ou a nos exortar - (“seja mais mais inteligente”; “torne-se um líder”) - ou a constatar: (“estamos na era da inteligência; só a empresa inteligente sobreviverá”). E daí?

Nossa fonte de inspiração tem a ver com a arte de visualizar futuros sob pena de não deixarmos descendentes. Chamam isso de planejamento estratégico.


Clemente Nóbrega
Idéias e Inovação, 18/11/08

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Marketing no varejo precisa mudar a essência

Falar de marketing no varejo é um assunto extremamente interessante e curioso. Mesmo porque o papel do marketing neste segmento, sempre foi focado em como atrair o consumidor ao seu ponto de venda, mostrando a relação custo/benefício e, a partir dela, extraindo o potencial da venda, por meio do preço final.

Na verdade, o marketing no varejo em sua essência deve mudar. Se olharmos para o comportamento do consumidor, percebe-se claramente que a evolução do nível de exigência quanto à qualidade do serviço e a percepção do todo, é superior a capacidade de acompanhá-las e assimilá-las.

Em termos de conceito de marketing no varejo, fica claro que precisamos de mudança. A maioria dos profissionais que trabalham na área encontra-se perplexa com o reposicionamento do conceito. As indicações são de que o marketing e a estratégia passarão a ser um único conceito, gradualmente extinguindo-se as áreas destinadas a cada um.

O objetivo destas mudanças está em uma reordenação dos negócios para a idéia de que o cliente será o patrão do varejo. O marketing deverá ser a filosofia do negócio varejista. O varejo deverá adotar um conceito de orientação de mercado, buscando a fidelização do cliente e o entendimento da qualidade do serviço prestado ao consumidor final.

No modelo tradicional de marketing sempre houve uma separação entre a venda e a pós-venda, com a pós-venda normalmente relacionada a um plano inferior, definido pela ação dos departamentos de reclamações ou de garantia. A relação existente entre marketing de relacionamento e de serviços é muito forte. Marketing de relacionamento não seria apenas mandar malas diretas regularmente para o cliente ou ter um serviço de pós-venda eficiente.

Faz-se necessário conhecer na ponta o seu nível de serviço, no que tange a qualidade do atendimento, a qualidade do produto oferecido, o ambiente e sua atratividade. E a partir definir toda estratégia corporativa da empresa Varejista.

Em função disso, o conceito de Cliente Oculto torna-se fundamental para área de Marketing, como controle perene da qualidade do serviço. Os produtos finais gerados devem ser motivos de estudo não só pela área, mais pela empresa como um todo, fazendo parte da estratégia corporativa.

O que é o cliente oculto?
É uma técnica de pesquisa interativa utilizada para monitorar o atendimento como um todo (serviço, atratividade ambiente, produto, etc..) ao cliente sob o ponto de vista do consumidor final, utilizando pesquisadores terceirizados e treinados, que irão atuar como clientes.

Este serviço permite obter qual a percepção do cliente nas diversas situações de consumo do dia-a-dia, utilizando um breve roteiro de avaliação e profissionais experientes que atuarão como consumidores.

Sua aplicação é principalmente tática e operacional, pois parte dos valores e quesitos mais importantes sob a ótica do consumidor final, diferente das conhecidas Pesquisas de Satisfação onde sua característica estratégica foca os quesitos que as empresas desejam estudar nos consumidores.

Permite à área executar:
1. Treinamentos em: técnicas de vendas, habilidades interpessoais, conhecimento de produtos etc.;
2. Fazer feedback para membros da equipe buscando evolução nas itens avaliados insatisfatoriamente;
3. Ajustar campanhas de vendas e ações de marketing identificando pontos falhos sob o ponto de vista do cliente;
4. Padronização ou nivelamento de: pessoal, processos, atendimento, estrutura, recursos de trabalho etc.;
5. Melhoria de atendimento por meio das informações disponibilizadas pelo serviço;
6. Promover engajamento organizacional orientado a clientes.

Façamos desta pratica o passo inicial para a grande mudança conceitual do marketing no varejo.


Claudio Landsberg
Diretor comercial da RGIS Brasil (http://www.rgisinv.com/)
Newsletter HSM Online, 19/11/0819/11/08

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Crise muda consumo das classes C/D

Estrelas do novo ambiente de consumo criado no país, a partir da oferta de crédito mais generosa nos últimos cinco anos, as classes C/D estão em estado de alerta com os cenários desenhados pela crise econômica global. A constatação vem da pesquisa "Retrato da crise, as classes C/D em estado de alerta", coordenada pela McCann Erickson no Brasil, Panamá, México, Honduras, Costa Rica e Colômbia.

Foram ouvidas, no último mês de outubro, pelo instituto Data Popular 1.720 pessoas nesses países, das quais 618 entrevistas foram realizadas no Brasil nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Sob a supervisão do executivo Aloisio Pinto, vice-presidente de planejamento da agência, o trabalho analisou por telefone o perfil de famílias no País com rendas médias mensais variáveis de R$ 607 a R$ 1.213 (classe D) e R$ 1.214 à R$ 3.033 (classe C), equivalente a 54% da população brasileira e 45% dos ganhos desses núcleos de consumo.

O estudo observa que mais de 70% dos consumidores das classes C/D planejam "migrar de ponto-de-venda, banir produtos e usá-los menos vezes". Os deslocamentos de casa para os PDVs, em busca de preços menores, deixarão de ser praticados por 60% dos entrevistados. O lazer, vaidade e as chamadas tentações como vestuário, uso de cartão de crédito e celular serão cortados por mais de 50%.

"As tentações estão na marca do pênalti", sintetizou Aloisio Pinto. "O que sinaliza novos hábitos? O consumidor emergente da era do acesso ao crédito fácil será substituído por um comprador C/D muito criterioso, conscientizado e que precisa se sentir muito bem antes de realizar uma compra", prosseguiu Pinto, lembrando que a "avant première" dos novos hábitos que vão surgir com a crise econômica global será o Natal. "O Natal dessa crise tem festa e mais lembranças do que presentes, férias melhor pensadas e muita renegociação. Os números mostram que 63% das
pessoas mudarão sua forma de presentear e 55% vão reinventar seu descanso. Passada a euforia, ficam as contas: para 80% replanejar as dívidas está na pauta. Resumindo, a surpresa desse Natal pode chegar em janeiro".

As soluções, para 80% das respostas, passam por embalagens econômicas, menor preço e informação para não errar na compra. Para Aloisio Pinto, isso significa que a publicidade deve levar em consideração aspectos mais relacionados aos benefícios dos produtos, serviços e marcas do que enfatizar preço. "O pessoal deve saber que com um Omo mais barato garante uma Coca-Cola", comparou. "Em resumo destaco que mais do que crise, existe uma expectativa de crise; novos hábitos estão sendo definidos a partir dessa expectativa; 2009 será, portanto, um ano para revisitar posturas e atitudes; as classes C/D começaram esse processo; vão sair dele como um segmento mais maduro e sofisticado; e as empresas, assim como a comunicação, deverão se adaptar a isso", enumerou.

Humor
O humor da crise revela que 85% da população C/D acredita que "a vida está regular para boa", 58% têm o sentimento de estabilidade, 80% consideram que o País está igual para pior e 74% vêem o futuro com otimismo. As questões propostas pelos pesquisadores até então não
faziam referência à crise. Porém, quando o questionamento quis saber o sentimento em relação à crise econômica internacional, 75% revelaram que estão muito preocupados com o cenário. Para 90% o Brasil vai ser afetado. Mas os brasileiros acreditam que os efeitos durarão cerca de seis meses, enquanto nos demais países pesquisados o prazo se estende para dois anos. O estudo aponta que 88% das classes C/D têm certeza de que suas famílias não passarão incólumes à crise, nesse caso com temor de redução de consumo na ordem de 36% e de desemprego em 26%.

"Para quem a família será muito afetada, a expectativa de aumento dos preços reforça o sentimento de que perderão seu poder de compra", explicou Aloisio Pinto. "Mesmo entre os que consideram que sua família nada sofrerá com a crise, pensa-se que o desemprego trará o perigo de deixar o nome sujo na praça", ele acrescentou, enfatizando que 24% das menções de "nada sofrerão com a crise" têm a ver "com a falta de capacidade de honrar contas e dívidas".

Mídia
O espaço dedicado pela mídia à cobertura da crise também ajuda a impregnar nas classes C/D a visão de que ela vai bater à sua porta a qualquer momento. O reflexo é que 61% da amostra planeja aditar planos e projetos. 75%, identificados pela pesquisa como os mais preocupados,
vão postergar investimentos e compras. "Esse núcleo vai liderar o comportamento da crise", disse Aloisio Pinto, comparando a crise ao perfil de uma senhora interiorana. "A crise tem marcado sotaque caipira porque no interior ela é mais imediata. Para 47% dos interioranos a vida já está pior do que em relação a 36% dos moradores das capitais. O Brasil do agronegócio já vem sentindo o baque da menor demanda mundial por commodities.

A pesquisa "Retrato da crise" também revela que 63% das mulheres estão "muito preocupadas" com o cenário econômico global contra 49% da ala masculina. Para 40% das mulheres a crise será "forte no seio da família". O olhar feminino sobre o momento revela três perfis: os "Deus nos acuda" (os mais alarmados), os "Eu me viro" (que acreditam que no País do jeitinho tudo pode dar certo), e "Os sussa" (não estão nem aí para o que está acontecendo). Para 75% das mulheres, "reduzir e controlar custos" é prioridade. Outras ações profiláticas são: diminuir endividamento, conseguir segundo emprego e adiar realização de compras planejadas.


Paulo Macedo
Fonte: Propmark
Newsletter HSM Online, 19/11/08

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Trip divulga os Transformadores de 2008

Marcos Palmeira, Jair Ribeiro e Hermano Vianna estão entre os eleitos em 12 categorias

Em cerimônia realizada nesta terça-feira, 18, no Auditório do Ibirapuera em São Paulo, foram divulgados os nomes dos 12 vencedores do Prêmio Transformadores, da Editora Trip. O objetivo do prêmio é homenagear pessoas que se destacam à frente de questões que realmente fazem diferença no nosso dia-a-dia.

O evento teve o patrocínio de O Boticário e foi apoiado por Suzano Papel e Celulose, Almap BBDO, Epson, Tuca, O Estado de S. Paulo, Rádio Eldorado e Gol Linhas Aéreas Inteligentes. Os vencedores, eleitos entre 37 finalistas, foram:
Acolhimento - Jô Clemente (fundador da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais ? APAE)
Alimentação - Marcos Palmeira (ator e cultivador orgânico)
Biosfera - Frans Krajcberg (artista plástico e defensor da natureza)
Sono - Monja Coen
Corpo - José Hermógenes de Andrade Filho (Professor de Ioga)
Liberdade - Antonio Carlos Gomes da Costa (criador da Fundação Antonio Carlos e Maria José Gomes da Costa de educação)
Saber - Jair Ribeiro (idealizador da Casa do Saber e fundador da ONG Parceiros da Educação)
Conexão - Marcelo Araújo (Diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo)
Desprendimento - José Junior (fundador do grupo culturalAfroReggae)
Diversidade - Hermano Vianna (antropólago e coordenador do site colaborativo Overmundo)
Teto - Denis Mizne (Diretor-executivo do Instituto Sou da Paz)
Trabalho - Myrna Domit (Participou da Força de Paz da ONU no Haiti e armou projetos educativos nas favelas do país, como o cinema móvel)


Meio & Mensagem Online, 19/11/08

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Viva e Deixe Viver firma parceria com Y&R e Film Planet

Oscip, agência e produtora se unem em prol de documentário que contará os 11 anos da história da instituição comandada por Valdir Cimino e traçará um paralelo com o desenvolvimento das políticas de humanização hospitalar no País

A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Viva e Deixe Viver, comandada por Valdir Cimino, firmou parceria com a Y&R e com a produtora Film Planet e deve realizar, no próximo ano, um documentário que abordará seus 11 anos de existência em paralelo com o desenvolvimento das políticas de humanização hospitalar no País. O trabalho da Oscip tem como objetivo minimizar o impacto da internação hospitalar de crianças e adolescentes por meio de contadores de histórias e outros projetos de entretenimento que, desse modo, promovem a humanização das relações entre médicos e pacientes e tornam o tratamento desses jovens menos invasivo.

"O documentário vai trazer muita história de contador, de médicos, pacientes, mas também falará da lei, porque humanização da saúde é lei e não pode ser esquecida", defende Cimino. As cidades de São Paulo, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Ribeirão Preto, Fortaleza, Marília e Brasília, onde o grupo realiza seu trabalho de humanização, servirão de locação para as gravações.

A Y&R está em fase de pré-produção interna de um material de apresentação que, em breve, Marcos Quintela e sua equipe devem começar a levar a clientes e convidá-los a investir na causa e beneficiar-se pela Lei Rouanet. "Esse projeto é de total importância. Temos um foco totalmente voltado à propaganda e isso nos permite olhar com muito carinho para o projeto", defende Quintela. A Film Planet dará todo o apoio de produção ao filme, que será dirigido pela diretora Gabriela Cassaro, que já atuou ao lado de Flavia em outros projetos.

Conscientizar o mercado
Outro objetivo importante que a Viva pretende alcançar com a parceria é a conscientização dos profissionais do mercado publicitário, já que eles ajudam a decidir em que projetos seus clientes investirão, inclusive projetos de produção audiovisual. "Acreditamos muito que esse público influi na decisão, já que eles estão dentro das empresas", diz Luciana Bernardo, presidente da associação fundada por Cimino.


Eduardo Duarte Zanelato
Meio & Mensagem Online, 19/11/08

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Mercado questiona proibição da publicidade infantil

Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) reuniu nesta quarta-feira, 19, dirigentes do setor e irá encaminhar documento ao Congresso Nacional contrário à aprovação do projeto de lei 5921/2001; bancada do PSDB sinaliza apoio

Representantes do setor de licenciamento, brinquedos e publicações infantis, além de advogados especializados em propriedade intelectual, se reuniram nesta quarta-feira, 19, para deliberar sobre ações práticas que visam evitar a aprovação do projeto de lei (PL) 5921/2001, dos deputados Maria do Carmo Lara (PT/MG) e Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR), que propõe a proibição da publicidade de produtos destinados ao público infantil.

O PL foi aprovado pela Comissão de Defesa do Consumidor em 9 de julho, mas ainda não tem data para ir a plenário. Dentre os principais pontos do PL estão a proibição de qualquer tipo de publicidade e de comunicação mercadológica dirigida ao público infantil, em qualquer horário e mídia, seja ela de produtos ou serviços relacionados à infância.

O evento, promovido pela Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) no auditório da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), na cidade de São Paulo, resultará num documento em defesa dos setores envolvidos e contra a aprovação do projeto de lei que será entregue aos autores e aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.

"Enquanto a crise econômica assola o mundo, o legislativo, ao invés de procurar soluções, está querendo coibir a publicidade infantil. Essa é uma lei espúria que irá obrigar a indústria a reduzir a produção e os postos de trabalho. Nem embalagens coloridas poderemos ter. Vamos nos blindar, não podemos deixar isso acontecer", diz Sebastião Bonfá, presidente da Abral.

Um dos componentes da mesa de debates, André Magalhães Pinto, secretário parlamentar e assessor especial do deputado federal José Aníbal (PSDB/SP), se prontificou a levar as demandas do mercado à bancada do PSDB em Brasília. "O Bonfá irá me passar um briefing e a intenção é fazer uma blindagem contra o projeto de lei na Câmara. Vamos atuar para derrubá-lo", afirma Magalhães Pinto.

Na opinião de Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), este é mais um exemplo de projetos exóticos do congresso brasileiro. "Existem projetos para mudar a correnteza e o curso de rios e para dessalgar a água do mar brasileiro. O projeto não vai passar, mas tem um rito, isso vai demorar. CNI, Abert, Abrinq e mais algumas entidades estão capitaneando esse processo. Agora a Abral vai se juntar ao grupo", destaca, lembrando que a próxima reunião dessa equipe será em fevereiro.

Também participaram da mesa Arnaldo Rabelo (autor do livro Marketing Infantil e especialista em marketing de produtos infantis), Cecília Manara (advogada especialista em propriedade intelectual), Monica de Sousa (diretora comercial da Mauricio de Sousa Produções), Ricardo Sayon (presidente da rede de lojas Ri Happy), José Eduardo Severo Martins (presidente da Panini Brasil), Glenn Migliaccio (diretor de licenciamento da ITC) e Edson Pinto (advogado e tributarista).


Fernando Murad
Meio & Mensagem Online, 19/11/08

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É possível uma empresa social?

O super-executivo Jefrey Immelt e o economista bengalês Muhamad Yunus têm pouco em comum a não ser talvez a firme crença em suas idéias sobre empresas sustentáveis. Há duas semanas, em Nova Yorque, o CEO da General Eletric contagiou uma platéia de 1200 executivos com o seu entusiasmo pelas corporações e negócios verdes. Na semana passada, o presidente do Grameen Bank, prêmio Nobel de 2006, esteve no Brasil onde fez a sua habitual pregação sobre o microcrédito e o conceito de empresa social.

Em visita ao País, para o lançamento do seu livro “Um mundo sem pobreza”, palestras públicas e encontros privados com políticos e empresários, Yunus defendeu, com a serenidade costumeira, uma tese que, para muitos, se apóia em preceitos contraditórios: a de que o mundo precisa de “social business”, isto é, de companhias cuja prioridade não seja lucro e dividendos, mas benefícios sociais para pessoas de baixa renda. Vale reforçar, de partida: ele não está se referindo a uma organização de terceiro setor muito menos ao festejado conceito de negócios na base da pirâmide, cunhado pelo indiano G. K. Prahalad, segundo o qual as empresas podem ajudar mais na erradicação da pobreza se direcionarem seus produtos e serviços para um contingente de quatro bilhões de pessoas de classes C e D, com renda anual de até U$ 1,5 mil.

Yunus tem sido um crítico contumaz do BOP, como ficou conhecido o modelo sugerido por Prahalad. Para o criador do Grameen Bank (banco da aldeia), tratar os pobres como mera oportunidade de negócios só faria manter as desigualdades sociais e a engrenagem de um capitalismo perverso. Empresa social é - segundo ele - uma organização voltada para causas. Nela, os acionistas não estão preocupados com bottom line e admitem a idéia de apenas recuperar o dinheiro investido. Os resultados financeiros - sim, persegui-los é importante! - são integralmente revertidos na melhoria de um produto ou serviço com claro apelo social e também na expansão do seu “mercado” local.

Na Wall Street, pós ou pré-crise do subprime, modelos como este são tratados com ironia e desdém, e gente da estirpe de Yunus, como poetas sonhadores. De lado qualquer licença poética, o fato é que, há quatro anos, Yunus convenceu Franck Riboud, CEO da francesa Danone, a fundar, com o Grameen Bank, a primeira empresa social de Bangladesh, um país com 150 milhões de habitantes e uma renda per capita menor que US$ 4 por dia.

Durante almoço em Paris, Riboud confessou que desejava encontrar formas inovadoras de estender a missão da companhia de contribuir para a saúde de mais pessoas, especialmente das mais carentes. Yunus, por sua vez, viu na fala do executivo uma oportunidade para turbinar sua luta contra a desnutrição no país. Reunida a fome com a vontade de comer, nasceu, seis meses depois, a Grameen Danone Foods - uma pequena fábrica localizada em Bogra, no Norte de Bangladesh, produtora do Shoktidoi, um iogurte fortalecido com vitaminas e sais minerais.

Para financiar uma experiência tão inovadora, a empresa acabou criando, em 2006, um fundo de investimentos chamado Danone Comunities. E hoje já trabalha a implantação de modelo semelhante na Indonésia e na África do Sul. Toda a cadeia produtiva do Shoktidoi observa os princípios da sustentabilidade: mecanismos de ecoeficiência instalados, pouca tecnologia para gerar mais empregos na região, compras feitas de pequenos agricultores locais clientes do Grameen Bank e distribuição por conta de mulheres da rede estabelecida pelo banco.

O desafio de Yunus com a Danone Foods é, a rigor, e guardadas as monumentais diferenças em dólares, o mesmo de Immelt com a sua linha Ecoimagination: a viabilidade econômica. Para muitos de seus produtos verdes, a GE está enfrentando o desafio de abrir mercados novos, com baixa escala e alto custo de desenvolvimento. Como objetiva lucro, no entanto, a companhia aposta que cada vez mais clientes pagarão pela inovação. Alto investimento para alta recompensa financeira.

No caso da empresa social de Bangladesh, recai um desafio de outra ordem: oferecer um bom produto a preço bastante acessível para pessoas de baixíssima renda. Os sócios da Danone Foods prevêem que a fábrica deverá equilibrar entradas e saídas apenas daqui a dois anos, quando puder ocupar toda a sua capacidade produtiva. Alto investimento para alta recompensa social.

Evidentemente, experiências como a de Yunus ainda são vistas como alternativas, até porque confrontam a lógica vigente da rentabilidade de curto prazo. Não há nenhum sinal no horizonte mais próximo de que as empresas venham a aceitar a idéia de substituir a recompensa financeira pelo dividendo social aos seus investimentos. De qualquer modo, é bom para o mundo que as empresas sociais existam e em número cada vez maior, ainda que como símbolos de um ativismo generoso e solidário, expressões da missão institucional de empresas que pretendem deixar o mundo melhor para futuras gerações. Coexistindo com as empresas convencionais elas não nos farão esquecer nunca de que o melhor lucro é aquele que está a serviço do desenvolvimento, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas. Não custa sonhar que, um dia, Yunus convença Immelt a criar uma empresa social.


Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental
Publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor da consultoria Idéia Sustentável. ricardo@ideiasustentavel.com.br
Envolverde, 20/11/08
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Uma nova medida para o progresso

Com o abalo causado pela crise econômica mundial, decorrente de um modelo de crescimento explorado há décadas, olhar o desenvolvimento a partir de uma nova perspectiva passou a ser uma atitude necessária para a sobrevivência financeira de países e empresas. Nesse contexto, o velho PIB começa a perder espaço para índices alternativos que compreendem não apenas questões econômico-financeiras, mas também sociais e ambientais. Hoje já se tem a experiência de um FIB (Índice de Felicidade Interna Bruta) e até de um RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano).

Segundo Michael Pennock, coordenador das Nações Unidas para o desenvolvimento do FIB no Butão e coordenador da colaboração internacional para a implantação do índice, repensar o modelo econômico predominante é inevitável neste momento de grandes dúvidas. “A crise realmente abalou esse modelo no qual tudo o que importa é a geração de riqueza. Se essa produção excessiva gerou bolhas financeiras e afundou é porque há algo errado com o que criamos”, avaliou Pennock, durante encontro de sustentabilidade, realizado na última semana de outubro, no Banco Real.

De acordo Karma Dasho Ura, membro da comissão do FIB do Ministério de Planejamento do Butão, muitas vezes a disputa entre setores e a diferença entre as diversas estruturas existentes impossibilitam a composição de um índice que englobe a sociedade como um todo, revelando o estado geral da população e suas expectativas. Indicadores como o PIB, além de não serem abrangentes o suficiente - destaca Ura - apresentam deficiências como a falta de índices quantitativos, a não mensuração do capital natural, humano e social, e a indiferença às desigualdades sociais.

Segundo Pennock, dados dos últimos anos indicam que o crescimento dos países não foi acompanhado pela satisfação geral de seus habitantes, o que contradiz a idéia de que prosperidade econômica está associada à felicidade, e evidenciam a relação frágil entre os dois aspectos.

Progresso coletivo
Para suprir as lacunas do PIB, novos indicadores têm sido criados considerando a opinião de pessoas e organizações da sociedade civil na concepção de políticas públicas.

Um exemplo é o Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), que aposta em uma estrutura unificada e integra padrões subjetivos em seu cálculo. Criado há cerca de 30 anos, no Butão, o FIB recebeu forte influência da espiritualidade local e da integração comunitária em sua concepção. A experiência de sucesso nesse pequeno país, localizado entre a China e a Índia, vem estimulando outras nações a repensar os seus próprios valores.

De acordo com Susan Andrews, coordenadora do FIB no Brasil, para superar momentos de crise é necessário que as comunidades globais estejam unidas na busca de um ideal de colaboração. Do contrário, podem enfrentar grandes riscos. “Vários estudos sobre civilizações em crise indicam que dois fatores são fundamentais para superar essa situação: a visão de liderança e a cooperação popular. Acredito que os países que perderam a sua vitalidade comunitária terão sérios prejuízos”, aponta a coordenadora.

Segundo Rinzin Dorje, chefe de planejamento da comissão do FIB no Butão, o estimulo à integração da sociedade é uma ação básica para a disseminação de novos indicadores. “Os princípios da interdependência são muito importantes e tiveram grande influência no contexto do FIB. Não basta apenas falar sobre felicidade, mas sobre compartilhar valores”, ressalta Dorje.

Outro método de avaliação inovador, que está sendo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH). O PNUD pretende elaborar um documento útil para a tomada de decisões e a gestão de diversos setores, uma espécie de instrumento para suscitar a discussão dos temas que mais afetam a vida dos brasileiros.

Um dos objetivos do RDH consiste em superar a chamada cultura de gabinete que persiste no Brasil, segundo a qual todas as decisões são tomadas por poucos indivíduos – que, na maioria das vezes, não compreendem de forma ampla os problemas das comunidades.

“O que estamos tentando com o relatório é passar a idéia de que o desenvolvimento precisa de informação, comunicação e uma estratégia para estimular o debate público. O desenvolvimento humano precisa de uma direção normativa, que tem a ver com valores considerados importantes pelas pessoas”, avalia Flávio Comim, coordenador do RDH PNUD.

No último dia 10 de novembro, realizou-se a primeira audiência pública do programa Brasil Ponto a Ponto para a elaboração do relatório. Entre novembro e dezembro, ocorrerão encontros semelhantes em outras regiões, incluindo as principais capitais e os dez municípios com o pior de IDH do País.

Por meio de consulta pública, a equipe do RDH elegerá um tema que dará origem a várias publicações. Com o intuito de estimular a discussão brasileira sobre como se pode melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o material abordará desde um diagnóstico geral até as possíveis soluções para a questão selecionada.

O papel do setor privado
O envolvimento das corporações com a qualidade de vida da comunidade é uma questão diretamente relacionada ao desempenho dos negócios. De acordo com Pennock, as finanças e a satisfação geral são aspectos que geram impactos recíprocos. “As condições econômicas obviamente afetam o bem-estar coletivo. Por outro lado, o bem-estar impacta a economia porque pessoas mais felizes, que se sentem bem, são muito mais produtivas, criativas e trabalham melhor do que as outras”, destaca o coordenador.

Ações focadas na preservação de locais de trabalho, voltadas para a saúde dos funcionários e das comunidades, constituem importantes ativos intangíveis. As parcerias com empresas, segundo Comim, são imprescindíveis no processo de formulação e expansão dos novos conceitos. “O setor sempre ousa, é um laboratório de idéias, faz projetos que muitas vezes governos não realizam por falta de condições. Devido a esse elemento de inovação, as companhias representam uma parceria fundamental”.

Além disso, a governança corporativa também tem se mostrado um aspecto central nesse cenário. De acordo com os pressupostos do índice de Felicidade Interna Bruta, lideranças de todos os setores devem buscar o bem-estar geral por meio da promoção dos direitos humanos e da equidade social. O equilíbrio entre aspectos como trabalho, lazer, educação e um padrão de vida mais igualitário gera melhores profissionais e líderes de negócios.

Para Pennock, cabe às empresas oferecer apoio aos seus funcionários e às suas comunidades. “As corporações podem olhar para a criação de políticas e programas que dêem suporte aos empregados e à sociedade, promovendo a satisfação geral”, destaca.

Repensando o modelo econômico
Para Karma Ura, da comissão do FIB no Butão, o atual desafio para aqueles que buscam a implementação de novos índices está em expandir os conceitos para outras regiões, de modo que a combinação entre valores externos e internos - com o respeito a todas as opiniões - possa se revelar a medida ideal para o progresso. Essa necessidade de encontrar um modelo econômico alternativo focado em pessoas já mobiliza diversos setores.

Segundo Susan, o trabalho do FIB no Brasil, já em andamento, será desafiador. No entanto, os resultados obtidos até agora mostram um interesse crescente na organização de um novo pensamento. “Muitas pessoas, prefeituras e empresas estão interessadas na novidade. O velho paradigma de consumo, competição e materialismo não serve mais para um planeta em processo de autodestruição, que precisa de algo novo. Pelo progresso do FIB no Brasil, acredito que o País possa ser o segundo do mundo a implementar o medidor.”, ressalta a coordenadora. O próximo passo do programa será sua aplicação em uma prefeitura e uma empresa para a formulação de um case completo nos próximos seis meses.

Na opinião de Comim, coordenador do RDH, o processo de comunicação é uma etapa fundamental para a elaboração do relatório e dos indicadores do programa. Por meio de uma campanha informativa eficiente, o RDH pretende disseminar uma nova consciência participativa. “É claro que vamos encontrar dificuldades. Alguns vão dizer: ‘por que sair de casa para colaborar com um relatório? Não faz diferença nenhuma’. Mas é exatamente esse o desafio: mostrar que o RDH pode ser um instrumento para transformar idéias dos indivíduos e, posteriormente, tornar prático o conhecimento”, diz.

A próxima etapa do projeto, após sua publicação -enfatiza Comim- será encontrar formas de traduzir a linguagem acadêmica para que qualquer indivíduo tenha acesso aos resultados.

Preceitos básicos para o bem-estar segundo o FIB:
Acesso à cultura
Proteção ambiental
Vitalidade comunitária
Boa saúde
Educação de qualidade
Boa governança
Bom padrão de vida econômico
Gestão equilibrada do tempo

Etapas do Relatório de Desenvolvimento Humano:
1º caderno - Experiência de consulta pública, com as diversas opiniões obtidas durante as audiências pelo Brasil.
2º caderno - Diagnóstico do problema
3º caderno - Agenda positiva, propondo a reflexão sobre soluções para a questão selecionada.
4º caderno - Apresentação de Indicadores com o objetivo de estimular uma discussão brasileira sobre como melhorar o IDH.


Cristina Tavelin, para a revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 20/11/08
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Consumidor ajudará a definir tema do Relatório de Desenvolvimento Humano

Clientes de Natura e TIM podem responder a questionário para indicar assunto do Relatório de Desenvolvimento Humano sobre o Brasil.

O PNUD firmou uma parceria com as empresas Natura (cosméticos) e TIM (telefonia celular) para que elas pesquisem com os consumidores qual tema eles gostariam de ver abordado no próximo RHD (Relatório de Desenvolvimento Humano) do Brasil. A expectativa é que 36 milhões de pessoas respondam a questionários e mensagens de celular sobre o que é preciso mudar no país para melhorar a vida da população.

A pesquisa faz parte de um levantamento maior sobre o tema, que inclui cinco audiências públicas — em São Paulo (já realizada), Belém, Brasília, Porto Alegre a João Pessoa —, coleta de opiniões de internautas no site do PNUD e no Portal do Voluntário, envio de informações pela comunidade acadêmica e pesquisa com moradores de municípios de baixo IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). Os resultados da consulta e o tema escolhido devem ser divulgados em abril.

“Para promover desenvolvimento é necessário envolver as pessoas nas discussões e na construção dos direitos humanos”, afirma o coordenador do RDH Brasil, Flávio Comim. “A idéia é pensar em um novo modelo de relatório, melhorado e aperfeiçoado, que seja mais fácil das pessoas entenderem”.

As campanhas da TIM e da Natura devem começar entre fevereiro e março. A Natura vai repassar questionários para as revendedoras dos produtos, que irão entregá-los para as consumidoras. A pergunta é: “O que é preciso mudar no Brasil para sua vida dar uma melhorada? E para mudar de verdade?”. A expectativa é que 1 milhão de questionários sejam respondidos.

A TIM deve enviar 35 milhões de mensagens de celular (torpedo) com essas mesmas perguntas. As respostas serão compiladas pela empresa e enviadas para o PNUD. A Caixa Econômica Federal e os Correios também são parceiros, mas ainda não está definido como as instituições colaborarão com a pesquisa.

Audiências Públicas
A primeira das audiências públicas aconteceu em São Paulo, em 10 de novembro. O evento reuniu 85 representantes de órgãos públicos, organizações não-governamentais, empresas e centros comunitários. Eles debateram temas como educação, desigualdade, ineficiência de leis e acesso de deficientes físicos e mentais.

A próxima audiência acontecerá em 26 de novembro, em Belém, seguida pela edição do Distrito Federal, dia 27. Em dezembro acontecem as duas últimas reuniões: em Porto Alegre, dia 10 e em João Pessoa, dia 15.

O levantamento de opiniões inclui também pesquisas com moradores dos dez municípios de mais de mais baixo IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, uma adaptação do IDH aos indicadores regionais brasileiros). Um consultor do PNUD e um fotógrafo começaram as viagens em 16 de novembro. As imagens da pesquisa serão publicadas no relatório.

Responda à enquete do Pnud
Quais são os maiores desafios do Brasil? - http://www.pnud.org.br/rdhbrasil2009/


Sarah Fernandes, do Pnud
Envolverde, 19/11/08
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Garibaldi surpreende ao devolver MP das filantrópicas ao Executivo

Garibaldi: governistas questionam amparo legal da devolução
Foto Alan Marques/Folha Imagem


Numa atitude inédita, que provocou irritação dos governistas e aplausos da oposição, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) - que também preside o Congresso Nacional -, decidiu ontem devolver à Presidência da República a medida provisória 446, mais conhecida como a "MP das Filantrópicas".

A MP atribui aos ministérios da Saúde, Educação e Desenvolvimento Social a função de conceder ou não os Certificados de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas), função até então exercida pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Também aprova todos os pedidos de renovação de certificados de filantropia pendentes no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), inclusive das instituições investigadas por fraudes.

Garibaldi anunciou sua decisão no embalo de vários discursos de oposicionistas contra o excesso de MPs e contra o mérito da MP das Filantrópicas. Consideram que a MP concede anistia a entidades irregulares. Segundo o pemedebista, a medida contém inúmeros problemas e não poderia ser votada da forma como está. Afirmou estar amparado no artigo 48 do regimento interno, que atribui ao presidente da Casa, entre outras coisas, "impugnar as preposições que lhes pareçam contrárias à Constituição, às leis, ou a este Regimento, devolvendo-as ao seu autor".

A tramitação da MP, no entanto, não foi suspensa, porque, assim que Garibaldi anunciou sua decisão, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentou recurso ao plenário da Casa. Cabe, agora, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) emitir parecer, posteriormente submetido ao plenário.

Para Jucá, a decisão foi "precipitada", porque o governo já tinha admitido a possibilidade de "ajustar" o texto. Para Aloizio Mercadante (PT-SP), o ato de Garibaldi foi "totalmente intempestivo e sem amparo legal". Mercadante protestou contra a decisão, alegando que apenas o plenário da Câmara e o do Senado podem rejeitar uma MP.

Argumentou que o presidente pode realmente devolver esse instrumento jurídico, mas no ato do recebimento, antes do início da tramitação - o que ocorreu em 7 de novembro. "O presidente acolheu a MP, que tem força de lei. Constituiu uma comissão mista para examiná-la e abriu prazo até 16 de novembro para emendas. O prazo de tramitação na comissão só terminaria no dia 23. E no dia 19, de forma intempestiva, ele interfere no processo legislativo e interrompe a tramitação? É o caos", disse Mercadante.

O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), classificou o gesto do pemedebista como "factóide", adotado como resposta política à pressão da oposição. Uma única MP foi devolvida à Presidência da República e assim mesmo o ato foi revisto. O fato ocorreu em 1989, sob a gestão de José Sarney na Presidência da República. O presidente do Senado era Nelson Carneiro (PMDB-RJ), mas quem estava no exercício da função era o vice, José Ignácio Ferreira (ES).

Ele não acolheu uma MP editada por Sarney que extingüia o Grupo Executivo de Transportes e outras estatais, além de acabar com funções comissionadas. Carneiro, no entanto, reviu a decisão ao reassumir a Presidência. O ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti chegou a ameaçar devolver medidas provisórias que não respeitassem o princípio de relevância e urgência, queixando-se do permanente trancamento da pauta de votações por causa dessas propostas - com prazo de tramitação vencido, elas passam a ser prioridade e nada mais pode ser votado até seu exame.

O ministro José Múcio Monteiro afirmou, depois da reunião da coordenação de governo, que o Executivo não editará uma nova medida provisória ou encaminhará projeto de lei ao Congresso para substituir a MP. Múcio classificou a ação do presidente do Senado como um gesto político, inusitado, para o qual o governo não estava preparado: "Agora cabe ao Senado encontrar uma solução para as milhares de entidades filantrópicas que estavam atendidas na MP. Medidas provisórias são aprovadas ou rejeitadas, mas são colocadas em votação. Editar MPs é um preceito constitucional. O que o presidente Garibaldi fez não está previsto em nenhum regimento". (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)


Raquel Ulhôa, de Brasília
Valor Online, 20/11/08

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Renúncia fiscal do governo vai crescer a R$ 100 bi em 2009

Segundo o economista Amir Khair, parte das desonerações fiscais é constitucional e a outra parte, voluntária, e deve servir para estimular o desenvolvimento econômico do País

As renúncias fiscais do governo federal devem chegar a R$ 100 bilhões em 2009 - cerca de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor representa um crescimento de 34% em relação aos R$ 76 bilhões previstos para este ano (2,77% do PIB). Tal avanço nas isenções ocorre no momento em que o governo articula medidas para evitar uma desaceleração brusca no setor produtivo e tenta manter as metas fixadas em sua política industrial. A renúncia inclui: presunções creditícias, isenções, anistias, reduções de alíquotas, deduções ou abatimentos e adiamentos de obrigações de natureza tributária.

"No quadro atual de crise financeira que se instala, preservar a renda por meio de desoneração indireta de tributos é importante, mas o peso do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) é mais danoso. Deveria ter uma pressão para os governadores fazerem o mesmo", diz o economista Amir Kahir.

De acordo com dados do Demonstrativo dos Gastos Governamentais Indiretos de Natureza, elaborado pela Receita Federal do Brasil (RFB), nominalmente, a previsão feita de renúncia para 2008 representa um crescimento na ordem de 44,2% em relação ao ano anterior e uma participação em 16,5% das receitas administradas pela entidade.

"Esse valor poderia até ser melhorado na medida em que houvesse mais fiscalização nas entidades sem fins lucrativos [isentas de tributação]", diz o economista Amir Khair. Segundo ele, parte das desonerações fiscais é constitucional e a outra parte, voluntária, e deve servir para estimular o desenvolvimento econômico do País.

Para 2008, o que mais fortemente contribui sobre as isenções, foi o alargamento da base tributária do Simples Nacional, regime especial de tributação destinado às micro e pequenas empresas.

Com a extensão do benefício para mais empresas, o Simples torna-se a principal renúncia do governo federal, responsável por 25,7% (R$ 19,5 bilhões) do total de desonerações concedidas. "O Simples é uma boa política porque ao mesmo tempo que simplifica a vida das empresas tem um peso forte em renúncia", afirma o economista.

O regime especial das micro e pequenas empresas não foi o único colaborador para o resultado. Seguindo os benefícios concedidos às micro e pequenas empresas, aparecem aqueles destinados à Zona Franca de Manaus, de R$ 11,1 bilhões (14,6%) ; das entidades sem fins lucrativos, em R$ 8,9 bilhões (11,72%); os rendimentos isentos e não tributáveis, de R$ 5,8 bilhões (7,67%) e a agricultura e agroindústria, de R$ 5,2 bilhões (6,96%). Outros gastos tributários tiveram uma relevância significativa no volume de recursos que o governo concedeu para esse ano

Entre as previsões realizadas pela Receita, no entanto, nem todos os gastos tributários podem ser identificados. Em 2008, o total de 15 renúncias não foi estimado, entre elas a dos incentivos dados por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) e fica também fora do cálculo da Receita o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV digital (PATVD).

A concentração dos gastos tributários (80%), está em cinco funções orçamentárias de governo, são elas: comércio e serviço, com 29,2%, indústria, com 19,8%, trabalho com 11,9%, saúde com 11,7% e agricultura com 9 %; os 20% restantes estão diluídos nas demais funções.

Próximo ano
Para 2009, a estimativa em renúncias representa um crescimento de 34,05% em relação a esse ano e 18,8% das receitas administradas pela Receita Federal. Entre os fatores que mais contribuem para essa previsão, destaca-se as alterações na legislação relativas aos benefícios destinados ao Desenvolvimento da Informática, ao Programa de Inclusão Digital - "Computador para Todos", aos Medicamentos, às Operações de Crédito com fins Habitacionais e os destinados à Termoeletricidade, acréscimos verificados em função da política governamental de inclusão social.

De um ano para o outro, a concentração de incentivos do governo repete-se: 82% do valor estão nas mesas cinco funções orçamentárias: Comércio e Serviço, com 31,6%, Indústria, com 20,4%, Saúde, com 12,3%, Trabalho, com 9,39%, e Agricultura com 8,2%; os 18% restantes estão distribuídas nas demais funções.

A renuncia fiscal do Regime Geral de Previdência Social, orçada separadamente para o próximo ano, está estimada em R$ 17, 9 bilhões, representando 0,56 do PIB e 8,64% da arrecadação previdenciária.


Patrícia Acioli
DCI, 19/11/08

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