domingo, 16 de novembro de 2008

Casas Bahia, na favela e no Financial Times

Hoje o jornal inglês “Financial Times” traz reportagem sobre a abertura de uma loja da Casas Bahia na favela de Paraisópolis, em São Paulo, no dia 5 último. A rede investiu R$ 2 milhões nela e já programou mais 30 lojas novas para 2009, inclusive mais algumas em favelas. O autor do artigo, Jonathan Wheatley, começa escrevendo que, ao som de Exaltasamba, “centenas de pessoas na frente da loja dançam, pulam e abanam os braços como se não houvesse amanhã”. Aí fiquei pensando no que essa loja vai fazer pela auto-estima de seus consumidores e em como o C.K. Prahalad tem sua razão ao defender a possibilidade de inclusão social (e distribuição de renda) pelo consumo.

Já demos num dos veículos da HSM um estudo de inspiração etnográfica da ESPM-RJ que mostrava esse potencial com declarações de consumidoras, todas empregadas domésticas, sobre a Casas Bahia. É impressionante o impacto da rede varejista em seu target – acompanhem:
* As Casas Bahia pegam você na porta, eles se dedicam mesmo, abrem o coração, pra laçar você ali na hora. Agora na outra loja [omiti o nome, vou chamá-la aqui de “outra loja”] você é que tem que ir lá – êi, êi [como se estivesse tendo que chamar o vendedor]. Acho que as Casas Bahia tem mais dedicação à pessoa. (Lourdes)

* As Casas Bahia são como uma mãe, facilita pra gente. É rápido tirar [comprar] as coisas lá. (Andréia)

* Lá [Casas Bahia] eles facilita demais pra gente, só falta dar as coisas. Em termos de tudo, de dividir, de pagamento. Agora, há pouco tempo mesmo, eu atrasei as prestações da minha geladeira, eles fizeram um acordo excelente prá mim. (Janaína)

* Da outra loja, não gosto, acho que é muito cheio de coisa; pras pessoas comprar, tem que comprovar a renda, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo; nas Casas Bahia já não tem esse problema, você não precisa comprovar renda, é só você dar um telefone pra contato, que você consegue. (Rita)

Em resumo, a Casas Bahia mergulhou ainda mais no seu segmento de mercado, fez uma inovação (um breakthrough!) sem precedentes ao entrar na favela e não se amedrontou com a crise. Está fazendo inclusão social com lucro e, de quebra, ajudando a construir a marca Brasil no exterior. Talvez este artigo do “Financial Times” seja o primeiro do gênero na imprensa internacional depois que o “Guardian” noticiou a fundação, em 2005, da pousada Maze Inn, do jornalista britânico Bob Nadkarni, na favela Tavares Bastos, do Rio. E dessa vez a iniciativa é brasileira e voltada para o público da própria favela. Se update or die é mesmo um paradigma no século 21, a Casas Bahia certamente é da turma do update, mesmo sem ser “cool”. Ou melhor, Casas Bahia, pela ousadia estratégica, é cool, sim!

Update: Vários leitores estão comentando sobre o assassinato de um cliente dentro de uma loja da Casas Bahia, ocorrido esta semana. Admito que não tinha visto a notícia, que é chocante, mas a ênfase do post é na inovação estratégica da empresa e isso não muda com a tragédia. Inclusive não acredito que os consumidores de baixa renda, que seriam potenciais alvos do mesmo preconceito que teria levado o segurança a matar o rapaz, vão deixar de “adorar” a Casas Bahia por conta do episódio. Mas torço para que a Casas Bahia, além de assumir sua responsabilidade no caso, saiba preparar-se melhor para lidar com o complexo universo que ela atende.


Adriana Salles Gomes
Update Or Die, 14/11/08

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Governo aprova certificados de filantropia

O governo concedeu anistia geral e irrestrita às instituições que tentavam renovar seus certificados de filantropia. A Medida Provisória 446, editada na segunda-feira, aprovou todos os processos que estavam pendentes no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), mesmo aqueles que ainda passavam por investigações. A MP também eximiu o CNAS de emitir os Certificados de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas). Eles passarão a ser emitidos pelos ministérios da Educação, da Saúde e do Desenvolvimento Social.

Um dos artigos mais polêmicos da medida, o 39, diz que os pedidos negados pelo conselho, mas cujo parecer tenha sido contestado pelas entidades que o solicitaram - o que ocorre em grande parte dos casos - devem ser considerados aprovados sem nova análise. Outro ponto controverso estipula que recursos apresentados pelo governo federal contra entidades anteriormente certificadas pelo CNAS devem ser anulados.

Em março deste ano, a Operação Fariseu, da Polícia Federal, revelou que funcionários do CNAS tinham ligações com advogados que fraudavam processos de obtenção de certificados. O prejuízo estimado era de 2 bilhões de reais em impostos sonegados.


Veja, 12/11/08

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Modonna vai construir escola na África

A cantora Madonna anunciou nesta sexta-feira que vai abrir uma escola para meninas em Malaui, na África. A cantora afirma que o projeto dará "oportunidade a jovens mulheres de todo o Malaui de se tornarem pessoas melhores" e pede colaboração. "Espero que vocês entendam minha urgência. Cada doação contribui para essas meninas alcançarem seu potencial completo. E cada dólar fará diferença", diz a cantora.

Segundo o site oficial do projeto, milhões de meninas não têm oportunidades e cerca de 14,5% das jovens entre 15 e 24 anos são soropositivas. A apresentadora de televisão Oprah Winfrey inaugurou, em 2007, uma escola na África do Sul para meninas de famílias pobres.


Veja Online, 14/11/08

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Amazon começa a vender online laptops da OLPC

Usuários vão comprar dois XO por 400 dólares a partir de 17/11. Um deles será doado

A organização não-governamental OLPC (One Laptop Per Child) confirmou que dará início às vendas do laptop XO pela Amazon.com na próxima segunda-feira (17/11). O acordo havia sido anunciado em setembro.

O laptop educacional da OLPC será vendido da seguinte forma: o consumidor doa 400 dólares por dois notebooks e um deles será entregue a uma criança de algum país em desenvolvimento.

Apenas a versão com o sistema operacional Linux estará disponível na loja online, disse o vice-presidente de engenharia de software da OLPC Jim Gettys.

Por enquanto o XO será vendido pela Amazon apenas nos Estados Unidos. A ONG está em negociação para que a venda ocorra também para outros países.

Na segunda-feira (10/11) a Microsoft anunciou que o governo da Colômbia começou a implementar o laptop da OLPC em escolas do país com o intuito de fazer as crianças se interessarem mais por computadores e se envolverem menos com o grupo rebelde FARC.

Destinado a crianças de países em desenvolvimento, o laptops tem sido bem recebido por sua inovação em hardware e design favorável ao meio ambiente. Ele vem com 1 GB de armazenamento interno, 256 MB de memória RAM, tela LCD de 7,5 polegadas e suporte a conexão wireless.

A OLPC já anunciou uma nova versão do XO, que incluirá um teclado sensível ao toque e duas telas touchscreen. Este modelo deve chegar ao mercado apenas em 2010.


IDG News Service, EUA
Computerworld, 12/11/08

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Da eficácia à grandeza

Stephen Covey: usamos o mapa da Era Industrial na Era do Conhecimento
Foto Tachibana Zen / Lola Studio


Conhecido como a maior autoridade em desempenho humano da atualidade, Stephen Covey, autor de O Oitavo Hábito, abriu o último dia da ExpoManagement 2008 falando da liderança na Era do Conhecimento para um público de cerca de 1.000 pessoas.

Segundo o co-fundador da Franklin Covey, empresa especializada em habilidades de gestão, ainda usamos o mapa da Era Industrial, o que não contribui em nada para que as pessoas persigam as metas das organizações. “É preciso coragem para questionar as premissas subjacentes à era passada”, afirmou.

Por “mapa”, Covey quer dizer “paradigmas”. Para ele, o mapa deve ser uma função de leis naturais e não de nossos conceitos. “Quem governa são os princípios”, diz. Então, é preciso termos humildade para ser governados pela generosidade, pela gentileza e pelo respeito ao outro, pois o trabalhador não é mais uma “despesa” nos demonstrativos financeiros, mas alguém que pensa.

No entanto, se ainda utilizamos o mapa da Era Industrial, baseado em comando e controle, não somos líderes adequados. “Quanto mais controle se exerce, mais passividade você terá embaixo, o que justifica mais controle, o que leva as pessoas a viciarem na urgência, o que justifica mais controle de novo”, explica o especialista.

“Se vocês perguntarem à sua equipe qual o propósito da sua empresa, obterão respostas diversas, porque as pessoas não estão conectadas às metas estratégicas”, aposta Covey. Para ele, parte disso é devido ao fato de a cultura das organizações ser voltada a tratar mais do urgente do que do que é importante. Concentrando-se no urgente, as pessoas realizam um trabalho falso.

Para Covey, as organizações precisam de um centro moral que transmita claramente a visão, os valores e os objetivos da empresa. Ele alerta: “O que você é, o seu caráter, comunica-se de modo muito mais eloqüente do que o que você faz”.

Enquanto na Era Industrial a liderança dependia de autoridade formal, na Era do Conhecimento a autoridade é moral, isto é, vem de baixo para cima. “Gandhi não tinha autoridade formal e, no entanto, libertou a Índia, pois o povo lhe deu autoridade para isso”, exemplifica Covey.

O palestrante destacou os quatro imperativos dos grandes líderes: esclarecer o propósito, inspirar confiança, alinhar os sistemas e liberar talentos. Se cada membro da equipe atuar com base em seus talentos –“deixar falar a sua voz”– as pessoas se complementarão umas às outras e a necessidade de controle já não imperará. Para o professor, supervisão é um conceito obsoleto.

Na Era do Conhecimento, a cultura é responsável pelos resultados, isto é, as pessoas se auto-administram e todo mundo deve prestar contas a todo mundo. “As sessões de feedback chefe-funcionário tradicionais são coisa do passado”, afirma Covey. “O maior desinfetante da organização é a informação transparente”.

Ele diz que, quando as pessoas se comunicam permanentemente e de modo transparente, os que não querem se adaptar à nova onda não duram. “Até o chefe pode ser demitido”, avisa.

O poder da cultura é a maior força que existe. “É a idéia por trás do Grameen Bank, e vocês assistiram ao Muhammad Yunus aqui ontem. A inadimplência é zero, porque o controle está com os próprios tomadores de empréstimos”, recorda o palestrante.

A Grandeza

Para Covey, os quatro elementos da grandeza são o desempenho superior constante, a cultura vitoriosa de pessoas talentosas, os clientes e os parceiros leais e a contribuição distintiva da organização, como é o trabalho da entidade japonesa Feed the Children. Covey contou que ela se dedica a tirar da desnutrição crianças do mundo todo e capacitá-las a conseguir seu alimento no futuro.

Os resultados organizacionais são função do tripé formado pela grandeza pessoal (os talentos), a organizacional (foco e execução) e a liderança. O professor afirma que a chave para isso não é o comportamento, mas o mapa, as premissas e os modelos mentais.


Portal HSM On-line, 12/11/08

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Desenvolvimento Local, no local!

Minha maratona em torno de temas socioambientais em diversas partes do Brasil me trouxe agora a Cuiabá, onde está acontecendo a Expo Brasil, Desenvolvimento Local. É a 7ª edição do evento que tem três dias e centenas de atividades acontecendo paralelas com quase 9 mil inscritos. Ontem no espaço Central de Eventos do Pantanal, havia muita gente. Não saberia dizer quantas pessoas, mas muito mais do que tenho visto em eventos para discutir desenvolvimento sustentável em qualquer outro local do Brasil. Entre os patrocinadores, um é o de sempre, a Petrobras. Mas tem outros, como Sebrae, Banco do Nordeste, Furnas, Eletronorte e Banco da Amazônia.

Independente de quem está pagando, o evento me pegou de surpresa. Minha fala, às 17 horas de um dia que começou para os participantes às 7h30 da manhã, e sobre um tema mais técnico (Desafios Socioambientais no Brasil e o Papel da Comunicação) tinha certamente mais de 250 pessoas na sala, que ficaram até o final e ainda participaram de uma sessão de perguntas ( http://www.expobrasil.org.br/?q=pt-br/node/161 ). Muita gente interessada, gente que está trabalhando para criar alternativas de desenvolvimento local em lugares que a gente da cidade grande muitas vezes nunca ouviu nem falar.

Numa conversa com um jornalista da equipe da organização, que gravou uma entrevista comigo, falávamos sobre a importância de um evento como este. Pensei com meus botões sobre o papel dos eventos? O que eles devem representar para os participantes em termos de oferta de informação e interlocução? Tenho visto muitos eventos que são realizados em grandes centros do Sul/Sudeste com uma proposta de levar informação e conhecimento ao grande público. Recentemente a Envolverde mesmo realizou o Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, com a presença de 42 palestrantes e um nível de debates realmente muito elevado. Mas quantas pessoas foram? O auditório do Hotel Jaraguá no centro de São Paulo comportava 320 pessoas. Na média estavam cerca de 200 todo o tempo. Muitos lugares desocupados. E a opção de fazer em São Paulo era justamente para facilita o acesso das pessoas.

Em Cuiabá o evento é fora do eixo Sul/Sudeste, está lotado e tem salas onde depois de começar as palestras não pode entrar mais gente porque se esgotaram os lugares. Quem são estas pessoas ávidas por conhecimento e troca de informações? São pessoas que estão efetivamente trabalhando pelo desenvolvimento local em seus locais. Que precisam olhar em volta e ver que não estão sozinhas, que tem mais gente fazendo a mesma coisa, só que em outros locais. É gente buscando força em seus iguais. Estar na vanguarda é muito solitário. Quase não se vê ninguém à frente e do lado. A maioria está lá atrás.

Diante disso preciso fazer uma outra reflexão e mudar de idéia. No ano passado, em Porto Alegre, durante o II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, defendo que a terceira edição fosse em Brasília em 2009. Os argumento eram os de praxe: mais público, estar perto do poder, facilidades de logística e organização. Eu estava errado. Venceu a proposta por Cuiabá. Hoje estou convencido de que fazer o III Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental em Cuiabá é uma grande idéia e uma forma de buscar mais integração entre a prática do jornalismo e a prática do desenvolvimento sustentável. Um dia os escritórios da Avenida Paulista vão entrar na luta pela sustentabilidade para valer, além do marketing e dos discursos. Enquanto isso vamos mostrar mais sobre desenvolvimento local e sustentável de verdade.

Saiba mais sobre a Expo Brasil em: www.expobrasil.org.br


Adalberto Wodianer Marcondes
Blog da Envolverde, 13/11/08

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