quarta-feira, 30 de julho de 2008

As várias utilidades de uma navalha

Qualquer criança sabe o que é kiss, em inglês. Significa beijo. Mas K.I.S.S. também é o nome de um princípio muito curioso, com grandes e amplas aplicações em várias – senão em todas – as áreas do conhecimento e do comportamento. O princípio KISS se resume em: Keep It Simple, Stupid – em português, "Mantenha Isto Simples, Burro”.

Einstein disse, certa vez: "Tudo deve ser feito da forma mais simples possível, mas não mais simples que isso". Antoine de Saint Exupéry, o autor do delicado e profundo romance "O Pequeno Príncipe" também expressou algo maravilhoso em relação a este contexto: "A perfeição não é alcançada quando já não há mais nada para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar".

Um frade franciscano que viveu no século XIV, Guilherme de Ockham foi um grande pensador de seu tempo. Coube a ele a honra de demarcar a virada do pensamento escolástico medieval em direção ao pensamento científico moderno.

Guilherme de Ockham – algumas vezes grafado Occam – nasceu no vilarejo de Ockham, na Inglaterra. Estudou na Universidade de Oxford, onde também lecionou por algum tempo. Foi chamado diante do Papa para prestar contas por suas idéias pouco ortodoxas.

Anos depois foi oficialmente excomungado devido ao seu apoio ao grupo conhecido como "Os Espirituais", a ala extremista da Ordem Franciscana que se opunha à opulência da Igreja. Então, fugiu para a corte do Imperador Ludwig, em Munique, um rival do Papa, onde viveu até sua morte.

Ockham poderia ser classificado como empirista e cético. Empirista por defender a necessidade da experimentação como fonte do conhecimento, em oposição à crença corrente de que o verdadeiro conhecimento só poderia ser obtido pelo uso da razão pura. Cético, na medida em que dizia ser impossível provar a existência de Deus através de qualquer ferramenta racional – embora não fosse por isso um descrente.

Ao pregar a separação entre a religião e a razão, Ockham traçou uma linha divisória entre os assuntos da fé e da razão e permitiu libertar a filosofia, berço comum de todas as ciências, da teologia.

Hoje, o nome de Ockham se encontra imortalizado no famoso argumento de sua autoria conhecido por "Navalha de Ockham", o princípio de que diante de duas teorias que explicam igualmente os fatos observados, a mais simples é a correta. Em outras palavras, se uma explicação simples basta, não há necessidade de buscar outra mais complicada.

E=mc2, entropia, caos, herança genética, etc são princípios científicos mal compreendidos e vulgarizados pela repetição. Assim também Navalha de Ockham se tornou um bordão utilizado indevidamente por leigos e céticos ansiosos demais em descartar explicações incomuns.

Quando se diz que a teoria mais simples é a correta, não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque simplicidade é um critério pessoal e subjetivo. Além disso, a natureza certamente não tem vocação para a simplicidade; apesar de algumas leis fundamentais da física serem expressas de forma surpreendentemente simples – como as leis de Newton – isto não significa que a explicação mais simples seja sempre a correta, ou que seja correta num número maior de vezes.

Na verdade, à medida que nos aprofundamos nos terrenos da física quântica ou da cosmologia, ocorre justamente o contrário e as explicações tornam-se cada vez mais complexas. Por isso é preciso compreender que a Navalha de Ockham não trata de descartar hipóteses só porque são mais difíceis de entender. Sua proposta é que sejam descartadas as hipóteses que, em igualdade de condições com outras, possuem mais suposições ou mais pressupostos, já que quanto mais suposições, maior a chance de que alguma delas esteja errada.


Abraham Shapiro
Coach e consultor especializado em lideranças, equipes de vendas e relacionamento com o cliente. shapiro@shapiro.com.br
HSM On-line, 29/07/2008

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20ª Bienal do Livro de São Paulo tem captação recorde

Com mais de R$ 3,5 milhões em patrocínio, organizadores do evento esperam receber 800 mil visitantes neste ano

Com abertura marcada para dia 14 de agosto, a 20ª Bienal do Livro de São Paulo tem como tema os 200 anos da vinda da família real portuguesa para o Brasil, homenageia os 100 anos de imigração japonesa no Brasil e, ao longo dos seus 11 dias, pretende confirmar a expectativa de ser a maior já realizada na cidade.

"A palavra chave para definir essa edição é envolvimento", diz a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Rosely Boschini. "Tanto dos expositores, que serão 350 com 900 selos editoriais, quanto dos patrocinadores que levaram essa edição à captação recorde de R$ 3,5 milhões, passando pelos 46 autores de 30 países que devem comparecer à Bienal", completa a presidente da entidade que promove a Bienal há 40 anos e que estima que o público desta edição deve alcançar 800 mil pessoas.

Volkswagen e Ipiranga apresentam o evento, que tem co-patrocínio do HSBC e do Submarino e apoio da Visa, Anhembi, Prefeitura da Cidade de São Paulo e do Ministério da Cultura. "Sempre buscamos destacar a vocação de São Paulo para as artes e cultura e a posicionar a cidade como o principal centro das economias criativas na América Latina", diz o presidente da Anhembi Turismo, Caio Luiz de Carvalho que calcula que a cidade deverá receber cerca de 160 mil visitantes atraídos pela Bienal.

"Hoje a Bienal de São Paulo é a segunda maior do mundo, só perde para a de Frankfurt", lembra o coordenador da Comissão Organizadora, Oswaldo Siciliano. Segundo dados da CBL relativos a 2006, o faturamento em vendas do setor ficou em torno do R$ 3 bilhões.Criada pela DM9DDB, a campanha deste ano tem como tema "O Livro de Todos", uma iniciativa que começou na internet e que consistia numa proposta de obra coletiva. No final, o Livro de Todos teve mais de uma centena de autores - alguns famosos entre eles - e contabilizou mais de 14 mil visitantes/leitores no site. A veiculação da campanha inclui boa parte da grande mídia impressa, televisiva e digital.


Andréa Ciaffone
Meio & Mensagem, 29/07/08

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Vencedor do Prêmio Inovação em Sustentabilidade levará agricultura familiar sustentável a todo o Brasil

A Agência Mandalla foi criada no ano de 2003, na Paraíba, com o objetivo de difundir um conceito inovador de desenvolvimento por meio da união do saber popular com o saber científico. O Projeto Mandalla tornou-se uma metodologia de desenvolvimento, com a missão de transformar a agricultura familiar em um negócio economicamente rentável, socialmente responsável e ambientalmente sustentável. Baseado no desenho circular de uma mandala, ele permite a um agricultor familiar, com poucos recursos, cultivar vários tipos de frutas, legumes e verduras e ainda criar pequenos animais, sem o uso de agrotóxicos e aproveitando todos os recursos naturais sem desperdício.

Cinco anos e vários prêmios depois - entre eles o Prêmio Inovação em Sustentabilidade, organizado em parceria pelo Instituto Ethos e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) - o conceito e o método da Mandalla já alcançaram municípios em doze Estados brasileiros. Impulsionado pelo Prêmio Inovação, que foi entregue em maio, durante a Conferência Internacional Ethos 2008, o Projeto deve chegar, nos próximos cinco anos, a todos os Estados e a alguns países da América Central e da África, como Moçambique. Nesta entrevista, Willy Pessoa, fundador e presidente do projeto, conta como uma tecnologia de baixo custo pode transformar e melhorar a vida dos brasileiros mais necessitados, não só na zona rural, mas também na periferia das cidades.

Instituto Ethos: Qual o conceito do Projeto Mandalla?
Willy Pessoa: É um processo de desenvolvimento que se dá pelo crescimento de uma mandala, que vai se formando como um corpo. Se você observar tudo o que existe na natureza, nos seres vivos há essa seqüência - células que vão gerar um corpo, um organismo. O indivíduo faz parte do universo da família, que faz parte da comunidade, que faz parte do município, do Estado, do país, até chegar ao planeta Terra, ao sistema solar e finalmente ao universo. O desenho do nosso projeto obedece ao desenho do universo mais próximo do nosso, que é o sistema solar. Contém um centro e nove círculos, que representam o sol e nove planetas. O centro é o sol, responsável pela geração de luz, de energia. No Projeto Mandalla, o centro é o lago, responsável pela geração de energia a partir da água, além da criação de peixes e marrecos. A partir do centro se distribui a energia, em nove círculos alimentados pela água. Em cima do lago há uma pirâmide hexagonal, que chamamos de o berço piramidal, e que sustenta a linha de distribuição da água. Cada Mandalla tem uma área de 50 X 50 metros, ou seja, um quarto de hectare, nos quais estão os quatro elementos: terra, fogo, água e ar.

IE: Quais foram as principais dificuldades na implantação do projeto?
WP: Tivemos muitas dificuldades, no início, porque não tínhamos recursos. Fomos montando o processo, e nesse universo, os prêmios que recebemos são muito importantes. O prêmio do Instituto Ethos nos deixou muito satisfeitos, porque é representativo em termos de empresas e vai de encontro ao nosso ponto, que é auxiliar o campo e educar a cidade.

IE: Como mostrar aos beneficiados a renda que será gerada pela venda da produção da Mandalla? Se a família consome o que produz, não precisa trabalhar fora para comprar comida?
WP: Nós dizemos: primeiro você deve vender a você mesmo - senão vai ter de comprar e gastar dinheiro, e para isso deverá ter um emprego. A alimentação é a base de tudo. Se a família produz o que come, é como se já partisse ganhando 1000 reais, que é o que ela precisa gastar com alimentação. E, depois que se alimentar, vende os excedentes. Nessa venda, cada unidade de produção familiar vai gerar pelo menos seis empregos. Além disso, se está no campo, não precisa pagar aluguel, que seria mais ou menos 300 reais. É como se a família já começasse ganhando 1300 reais.

IE: Qual a influência do Projeto na estrutura social da comunidade?
WP: Hoje, o salário mínimo está muito aquém das necessidades de calorias que precisamos por dia. As pessoas não estão mais produzindo alimentos, estão comendo pouco e por isso estão nas filas dos hospitais - de cada 100 pessoas, 75 não estariam lá se estivessem bem alimentadas e vivendo em boas condições de higiene. Assim, com o Projeto Mandalla, a família passa a produzir sua alimentação e a vender o excedente, criando um enriquecimento na célula familiar. Além disso, com as feiras da produção das Mandallas, o dinheiro fica dentro dos municípios. Isso enriquece o grupo de famílias e os municípios. O PIB vai se criando a partir da família. O PIB não vai subir se as pessoas não entenderem que a célula-base é a família, e depois o município. É preciso transformar o miserável em pobre e o pobre em empreendedor. Os programas sociais são paliativos, clientelistas, pura politicagem. O Brasil é rico em potencial e pobre em conhecimento. E nós trabalhamos a informação para o conhecimento com o potencial que temos. É um processo de empreendedorismo, de aproveitar o capital humano e ambiental para o capital social. Isso nasce a partir da família, da célula produtiva.

IE: Há dificuldades na disseminação do Projeto entre as famílias?
WP: É difícil convencer as comunidades de que é possível produzir e gerar renda com o material disponível, agregando tradições e costumes com avanços tecnológicos. Como explicar que a garrafa PET, que é lixo, pode servir para uma porção de coisas? Na Mandalla a garrafa PET não é lixo, pode ser usada para o plantio de hortaliças. Há uma parceria com escolas para trabalhar esses conceitos com os alunos, para que eles aprendam lições que vão além dos números. São lições para a vida, que também podem levar a uma melhor integração entre as escolas e as famílias. Por exemplo, se o município tem 3000 alunos, e se cada aluno recolher seis garrafas PET, serão 18 mil garrafas. Cada uma apóia dois pés de tomate, então serão 36 mil pés de tomate. Considerando que são 3 quilos de tomate por pé, então serão 100 toneladas de tomate nos quintais! Isso é fazer contas de forma prática. É um processo de coleta de lixo, e que produz 100 toneladas de tomate a cada três ou quatro meses.

IE: Como esse projeto influencia nas cidades?
WP: Educar a cidade para consumir e capacitar o campo para produzir - esta intersecção é a linha mestra do projeto. A Mandalla pode alimentar dez famílias urbanas, portanto é necessário educar a cidade para consumir. No entanto, o importante é chegar ao foco das periferias, porque se tudo for vendido no centro, vai beneficiar as pessoas que têm dinheiro. É possível vender os produtos das Mandallas pela metade do preço do mercado, e com isso ajudar também as famílias urbanas pobres, que não têm muito dinheiro para comprar comida. No limite, diminuem a marginalização, as doenças, e tudo isso se reflete na economia local.

IE: Como você vê o conceito do desenvolvimento local?
WP: Desenvolvimento local não existe porque é um processo egoísta, concentrado. É preciso desenvolver o município vizinho também, deve ser o todo pela parte e a parte pelo todo, fazendo parte do conjunto. Não podemos concentrar a riqueza e a oportunidade em uma célula determinada, pois isso complica o corpo todo. Se não trabalhar o vizinho, ele vem para a periferia, e assim crescem as favelas. Nesse sentido, o município cresce, mas não se desenvolve.

IE: Quais os desafios para o futuro?
WP: Estamos trabalhando a difusão da Mandalla virtual, para dinamizar capacitadores com um processo de informação pela internet. Também há o projeto Mandalla Júnior, pois os jovens são a base. Estamos implantando um processo de gerenciamento a partir dos próprios jovens, que estudam na escola técnica e vão aos finais de semana até o município, recebendo uma bolsa que cobre esses gastos. Quando terminam o curso técnico, fazem um estágio de quatro meses na sede do projeto. Os que ficam aprendem a entender o conjunto, se reúnem a cada semana com o coordenador, planejam o que melhorar. É uma capacitação prática do potencial que trazem da escola, com as tradições, a cultura e o processo de mudança.


Betina Sarue, para o Instituto Ethos
Envolverde, 30/07/08
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Fibra processada de garrafa PET dá origem a edredons

A fabricação de edredons utilizando fios de Polietileno Tereftalato (material das garrafas PET) reciclado como matéria-prima está beneficiando a comunidade do Morro Santana, Região Leste. (fotos) O projeto é resultado de uma parceria entre Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local (SMGL), Comitê de entidades no combate a fome e pela vida (COEP/RS), Banco Regional do Extremo Sul (BRDE), Banco do Vestuário da Fiergs, Transportadora Giulian e Maxitex Indústria Têxtil Ltda. (veja vídeo)

Proporcionando trabalho e renda para pessoas da região, a iniciativa tem a participação de 15 mulheres que executam o trabalho desde quarta-feira, 23 de julho. Os resultados já motivam o grupo a iniciar a produção de outros produtos como almofadas, travesseiros e bolsas. "São fabricados objetos úteis e que serão vendidos por um preço bastante acessível, contribuindo, assim, para a geração de renda à comunidade, que é o objetivo principal da iniciativa", explica Robson Rosa Lhul, agente de governança da Região Leste da Capital.

Reciclagem
Beneficiado por uma iniciativa ímpar no país, que é a fabricação de fios têxteis (fios ecológicos) a partir das garrafas de refrigerante, o grupo de mães do Morro Santana agrega mais um diferencial ao trabalho por elas realizado: a reciclagem. A técnica começa com a lavagem das garrafas e, após serem processadas, as fibras são extraídas.

Com uma maciez e um poder de aquecimento tão grande quanto a lã natural, o resultado final do ciclo de reaproveitamento do plástico das garrafas de refrigerante, que mal descartadas poderiam entupir bueiros ou poluir os riachos da cidade, é dar oportunidade de trabalho para pessoas de baixa renda. "Através de um trabalho conjunto, onde a comunidade é a grande beneficiada, com o apoio de lideranças locais, somado à consciência ecológica de suas parceiras, pode-se vislumbrar um futuro mais limpo e cidadão para a grande vilã do meio-ambiente: a garrafa PET", comemora Lhul.


Site da Prefeitua de Porto Alegre, 20/07/08

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