terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Por que planos estratégicos não saem do papel?

Paulo Cury *

"Estratégia sem ação é um sonho; ação sem estratégia é um pesadelo", diz um antigo provérbio japonês.

Todos sabem que o mundo dos negócios está cada vez mais complexo e que fatores como a globalização, a hipercompetição e a multisegmentação dos públicos-alvo, só reforçam essa complexidade. Nos dias de hoje, ter um plano estratégico é a peça- chave para lidar com esse grau de complexidade, além de ser um diferencial competitivo e permitir que os recursos, quase sempre escassos, sejam alocados de forma adequada.

Qualquer executivo sênior competente acredita na importância de ter um plano estratégico, pois ele estabelece para onde a empresa deve seguir e o que deve ser feito para alcançar seus objetivos, a médio e longo prazos.

Para isso, as empresas investem recursos, reúnem seus principais executivos em inúmeras discussões, em hotéis e "retiros", para elaborar o plano que será a base do seu negócio para os anos futuros.

Ao final do trabalho, discursos são realizados e assinaturas são coletadas dos participantes, com o intuito de reforçar o compromisso de todos com o plano desenhado. Porém, a realidade é que grande parte dos planos estratégicos morre, ou melhor, aproximadamente, 75% não saem do papel.

Você deve estar se perguntando: por que isso acontece? Como algo tão importante como o plano estratégico, que tem o apoio de altos executivos, não se torna realidade?
Uma análise mais aprofundada dos motivos pelo quais os planos estratégicos não saem do papel demonstra que existem cinco fatores principais que contribuem para que isso ocorra:

Não gerar o "buy-in" da organização - comumente as empresas deixam de fora das discussões estratégicas os "middle-managers"; e esse grupo é responsável por fazer as coisas acontecerem no dia-a-dia das organizações. E como não são convocados a participar do desenho da estratégia, não têm como colocar em prática algo que não conhecem ou não entendem o racional. Além disso, a maioria das empresas comunica de forma inadequada para a organização, os macroobjetivos do plano fazendo que seus colaboradores não estejam alinhados na mesma direção.

Acreditar que implementar um plano estratégico é uma tarefa simples - essa é uma visão enviesada e um tanto perigosa; pois a implementação de um plano estratégico é muito complexa, pois lida, ao mesmo tempo, com duas variáveis de grande impacto nas organizações: promover mudanças e construir o futuro. E quanto maior a empresa, mais difícil é fazer com que os colaboradores, no meio das dificuldades e correria do dia-a-dia, percebam a importância de mudar e construir um futuro, que muitas vezes é bem diferente da realidade atual e pouco entendido em um primeiro momento.

Não avaliar o impacto financeiro no negócio com a implementação do plano estratégico - é fundamental deixar claro ao desenhar o plano, quais são os resultados esperados com a efetivação da estratégia e, qual será o impacto nos indicadores-chave do negócio. Isso faz com que o plano tenha maior aderência com a realidade da empresa e não seja simplesmente um exercício de futurologia descolado da realidade.

Não criar um time específico para implementar o plano - a maior parte das empresas coloca a implementação do plano, como mais uma tarefa diária dos executivos (que já tem inúmeras outras coisas para se preocuparem) e isso é um grande erro. É fundamental criar um time de executivos que dedicará 100% do seu tempo para a efetivação do plano, e que, a avaliação e a remuneração variável desse grupo, estejam atreladas ao sucesso dessa implementação.

Distanciamento do CEO da implementação do plano estratégico. É comum o principal executivo da empresa participar de toda estruturação do plano e depois "desaparecer" no andamento do processo. A estratégia da empresa é a base do seu negócio e o executivo número um da organização deve acompanhar de perto um processo de tal magnitude.

Ter um plano estratégico sólido, consistente com a realidade, é uma poderosa arma competitiva. Ela possibilita que os recursos do seu negócio sejam alocados de forma mais eficiente e concentra esforços em uma única direção. Entretanto, um plano que não sai do papel não gera resultados para as empresas e valor para os seus acionistas... É um exemplo típico de um dinheiro mal gasto.

* Presidente da Condere Consultoria

Gazeta Mercantil
Publicado pelo Projeto Envolverde em 22/02/08


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