domingo, 19 de outubro de 2008

Sustentabilidade: cola ética para a crise moral

Empresas e Sustentabilidade foi o tema que encerrou o primeiro dia (16) do evento realizado pelo Instituto Envolverde, discutindo os diferentes enfoques da sustentabilidade na mídia e no mundo.

Já resumindo o clima do dia, o jornalista Adalberto Marcondes recepcionou os participantes do evento lembrando que “a sustentabilidade é a ferramenta capaz de nos assegurar futuros”. E acrescentou “é a cola ética para a crise moral, social e econômica que vive a sociedade”, disse. Uma sociedade, aliás, guiada pela técnica, mas com pouca ética, como pontuou a senadora Marina Silva em sua palestra magna proferida na abertura. Na perspectiva da discussão aberta, o tema do posicionamento sustentável das empresas toma contornos capitais.

Na mesa, a consultora em sustentabilidade empresarial, Flávia Moraes, prega o auto-conhecimento como primeiro passo para aquelas empresas que queiram tomar o caminho da responsabilidade para com a sociedade e o planeta. “A empresa deve representar ela mesma a mudança que queira empreender em seu espaço de ação”, disse Flávia. A ex-diretora de comunicação da Philips tem larga experiência em direcionar empresários para o tema. Suas falas ecoaram em uma mesa eminentemente técnica, mas que tentou questionar os rumos de uma comunicação institucional para essa área.

Antes de alcançarem uma reputação responsável e comunicarem todas as suas ações positivas aos parceiros, é “preciso que as empresas abram um verdadeiro diálogo” entre as partes envolvidas, sejam ONGs, comunidades e outras. “Uma empresa nunca será sustentável se reproduzir a injustiça social reinante na sociedade”, ensina Flávia Moraes. Para além de incorporarem os valores do triple bottom line, uma empresa deve permear suas atitudes pela ética. Ou melhor, antes de tomar o compromisso com ações sustentáveis (e comunicar estas ações!), as lideranças empresariais devem reorganizar seus negócios e trazer para suas lideranças o pacto da mudança de dentro para fora.

Segundo a consultora, ao se perguntarem se de fato seus bens e serviços são relevantes, se o seu investimento na área social visa à construção de um novo paradigma, ou se conseguem de fato ouvir os beneficiários de seus projetos, presidentes e CEOs estarão no caminho de rever conceitos importantes e transformar seus negócios em empresas verdadeiramente orgânicas.

Ao compartilharem das idéias da consultora, Luis Fernando Maia Nery, gerente de Responsabilidade Social e de Comunicação Institucional da Petrobras, e Pablo Barros, coordenador de Comunicação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), também acreditam que o importante processo traz incomensuráveis retornos de credibilidade, confiança e reputação (ou imagem) para a marca e o negócio.

Para ambos, não é mais possível pensar a comunicação empresarial sem pensar em co-responsabilidade de todos para com todos, em um contexto planetário. Hoje, esta comunicação empresarial deve ser participativa e voltada ao conhecimento caso queira ser uma ponte para um relacionamento de confiança de empresas com seus clientes, fornecedores ou parceiros. Nestas idéias, estão a base para um novo posicionamento do negócio. E, até para um novo paradigma de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

No caso da Petrobras, uma das grandes conquistas almejadas é “ser considerada por todos como uma empresa grande e rentável, preferida entre seu público de interesse”. Este sim é um grande valor sustentável, segundo Nery. Alcançá-lo é trabalho que impõe um ritmo inerente a um processo de transformação, onde se criam “valores com riscos minimizados”.

Comunicar esta estratégia com transparência em relatórios de prestação de contas à sociedade é a ponta de uma cadeia de esforços concentrados, onde a evolução de padrões de transparência fez com que empresas como a Petrobras adotassem modelos elaborados de balanço social, caso do G3, do Global Reporting Initiative (GRI).

Seja adotando os princípios de responsabilidade social do Instituto Ethos ou modelos sofisticados de contas sociais, a sustentabilidade em uma empresa já não pode mais ser tratada como uma simples alavanca de imagem corporativa. Mas deve refletir mudanças de paradigmas. Ao menos é o que se espera para um mundo com novos valores.

* A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).


Isabel Gnaccarini, especial para a Envolverde
Foto Clóvis Fabiano
Agência Envolverde, 18/10/08
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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Desenvolvimento: Crise reduz assistência ao desenvolvimento

Consultado sobre o futuro da desfinanciada agenda de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas diante da crise econômica, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon , recordou os US$ 16 bilhões para combater a fome prometidos no mês passado por chefes de Estado e de governo. Ban evitou uma resposta direta quando foi perguntado se algum doador já havia entregue sua parte. Limitou-se a expressar confiança de que, mesmo em tempos difíceis, os líderes mundiais estão comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os jornalistas recordaram que um funcionário da União Européia alertou – isso em setembro – que os doadores que reafirmam seus compromissos simplesmente estão mentindo.

Devido à gravidade da situação e seu possível impacto sobre as atividades de desenvolvimento dão ONU, sua Assembléia-Geral convocou uma sessão especial para examinar a crise financeira, no próximo dia 24. Anwarul Karim Chowdhury, ex-subsecretário-geral das Nações Unidas encarregado dos países menos adiantados, disse que a atual crise financeira mundial causará “uma importante redução” da campanha para cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio antes de 2015, prazo estabelecido pela comunidade internacional. “Será quase impossível para qualquer dos governos dos países industrializados – os tradicionais doadores – sequer manter o atual nível de assistência oficial ao desenvolvimento, para não falar em aumento”, acrescentou, ressaltando que isso também debilitará a capacidade de ação das organizações dedicadas ao financiamento do desenvolvimento.

Consultado se a atual crise afetará as atividades de desenvolvimento da ONU, Chowdhury disse à IPS: “Sim. Acredito que muito brevemente”. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, definidos em 2000 pela Assembléia Geral, incluem reduzir à metade a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome em relação aos índices de 1990; garantir a educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade materna e infantil; combater a Aids, a malária e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento.

A iminente conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento, no final deste mês no Qatar, enfrentará “um sério desafio na obtenção de um resultado que valha a pena” para os países do Sul. As piores vítimas serão os 49 países menos adiantados, os mais pobres do mundo pobre, porque, ao contrário de outras nações em desenvolvimento, são os menos atraentes para investimentos estrangeiros diretos, lembrou Chowdhury.

Anuradha Mittal, diretora-executiva do Instituto Oackland, que fez vários estudos sobre comércio internacional e desenvolvimento, disse à IPS que a capacidade da ONU para realizar essas atividades já estava afetada porque os países ricos não cumpriram suas promessas. Inclusive antes da crise financeira a credibilidade do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) caiu, pois ainda não cumpriram seu compromisso de duplicar a ajuda à África feito em 2005. de fato, entre 2005 e 2006, a assistência geral à África aumentou apenas 2%, excluindo as operações de cancelamento da dívida, disse Mittal.

Mas, excluindo estas operações financeiras da assistência a todos os países que a recebem, a quantia, na realidade, caiu 2%, acrescentou Mittal. “Devido à evidente falta de vontade e compromisso político, não será surpresa para ninguém que as nações ricas usem a crise financeira, causada por seus próprios erros e pela falta de mecanismos reguladores efetivos para Wall Street, para não cumprirem seus compromissos”, afirmou esta especialista. “Entretanto, os respingos de sua crise financeira fora de suas fronteiras terão impacto em comunidades e na qualidade de vida dos trabalhadores pobres de todo o mundo”, alertou Mittal.

As cotas dos países para o funcionamento da ONU são de caráter obrigatório. Mas, as contribuições para agências como os fundos das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e para a População (UNFPA) e para o Programa para o Desenvolvimento (Pnud) são voluntários. A grande parte do orçamento desses organismos procede dos Estados Unidos, do Japão e de países da Europa ocidental. Se a crise financeira persistir, como todos os sinais indicam, na conferência do Qatar a maioria dos doadores reduzirá suas contribuições argumentando que seus países sofre uma recessão.

A crise financeira é, “sem dúvida alguma” extremamente séria, disse à IPS James Paul, diretor-executivo do centro de estudos sobre desenvolvimento Global Policy Fórum. Paul prevê que alguns países irão à bancarrota, como já aconteceu com grandes companhias. “Poderemos ver no futuro uma enorme desordem social, econômica e política”, alertou.


Thalif Deen, da IPS
Envolverde, 18/10/08
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