domingo, 1 de março de 2009

Campanha antibaixaria na televisão perde ibope

A apresentadora Sônia Abrão, da Rede TV!, que entrevistou ao vivo o sequestrador da estudante Eloá Pimentel, ficou, em 2008, em quinto lugar no ranking da baixaria na TV, da Câmara dos Deputados. E daí? Alguém ficou sabendo?
Foto Caio Guatelli/Folha Imagem


Lançada em 2002, a campanha "Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania" já fez muito barulho ao divulgar listas de programas considerados de baixo nível e pressionar seus anunciantes. Hoje tem pouca visibilidade e não causa mais a mesma preocupação às TVs.

Acabou também a ONG TVer, fundada em 1997 por Marta Suplicy e outros profissionais de psicologia, comunicação e educação, que ganhou holofotes ao bradar contra a baixa qualidade televisiva. Será que a TV brasileira passou a ser inatacável ou as pessoas simplesmente não estão mais interessadas em discuti-la?

Nenhuma das hipóteses, para o sociólogo Laurindo Lalo Leal, professor da USP e um dos fundadores da TVer. Ele apresenta na TV Brasil e TV Câmara o programa "Ver TV", que acaba de completar três anos e trata de temas como "sexo na TV", "o negro é maltratado na TV?" e "o uso que os grupos fazem das concessões".

"De fato, houve um certo refluxo na publicidade dos movimentos pela qualidade e controle da TV, mas eles continuam. Nesses três anos do programa 'Ver TV', observei que a sociedade segue crítica em relação à televisão e gosta de falar sobre seu conteúdo", afirma.

Em sua opinião, o movimento, antes concentrado no barulho que as ONGs faziam, foi, após essa pressão inicial, absorvido pelo governo, Congresso e o Ministério Público (MP). "Com isso, passamos a resultados práticos, como a nova classificação indicativa, que obriga as TVs a colocar um selo com a idade recomendada para os programas, o projeto de lei que restringe propaganda infantis e ações do MP, como as que tiraram do ar Gugu e João Kléber."

Ele também acredita que a programação da TV sofreu uma "melhora sutil" em relação à baixaria. "Mas ela é concentrada na programação nacional. Nos Estados, especialmente os do Nordeste, a TV é uma barbárie. E já existem movimentos regionais importantes contra essa baixaria", afirma Leal.

A antropóloga Esther Hamburger, chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP, afirma que "a TV perdeu espaço no debate público, com a queda de audiência e o crescimento do acesso à internet, especialmente pelo público jovem". "A TV não traz novidades e perdeu a capacidade de provocação. Isso não significa que a programação melhorou, mas que não tem tanta repercussão", declara.

Para ela, "o cinema da retomada hoje tem mais visibilidade". "Filmes como "Tropa de Elite" e "Ônibus 174" trouxeram à tona o tema da violência, e a TV veio a reboque. Nos anos 80, era a televisão quem puxava as discussões no país. Hoje ela continua a ser muito consumida, mas não está mais ocupando esse espaço", avalia.

Em sua opinião, "a mobilização da sociedade contra a baixaria, alguns anos atrás, surtiu efeito, e as TVs hoje têm mais cuidado com o que exibem". "Mas elas não precisam ficar mornas por isso. Podem ser provocativas sem baixaria."

Diante da queda "sutil" da baixaria, a campanha antibaixaria da Câmara discute como recuperar a visibilidade, conta Ricardo Moretzsohn, representante do Conselho Federal de Psicologia no movimento.

"O ranking da baixaria continua a ser o DNA da campanha, mas ela hoje se insere em outros debates, por exemplo o da publicidade para crianças, a de bebidas alcoólicas e a Conferência Nacional de Comunicação, anunciada por Lula para este ano, que discutirá a legislação da radiodifusão." São assuntos, diz Moretzsohn, com "menos apelo direto". "Baixaria todo mundo quer discutir".




Laura Mattos
Folha de S.Paulo, 01/03/09

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