quarta-feira, 20 de junho de 2007

China: Crianças escravizadas, que desenvolvimento é este?

Antoaneta Bezlova, da IPS
Publicado pela revista
Envolverde em 20/06/07

Perturbadores casos de escravidão nos fornos de olarias na China, incluindo meninos e meninas, despertaram novas dúvidas sobre as leis trabalhistas deste país.

O primeiro caso de exploração começou a ser conhecido este mês, quando jornais locais publicaram foto de um grupo de pessoas libertadas após mais de um ano de trabalhos forçados em uma fábrica de tijolo no centro da China. A fotografia, mais impactante ainda porque a imprensa chinesa é supervisionada pelo Estado, mostrava pessoas com ferimentos e queimaduras, claros sinais de má nutrição e expressões aturdidas de falta de fé em sua repentina libertação.

A matéria que acompanhava a foto era ainda mais surpreendente em um país onde o governante Partido Comunista chegou ao poder por seu compromisso de criar um paraíso para os trabalhadores. As 32 pessoas foram enganadas com oferta de trabalho pago, mas uma vez dentro das olarias, na aldeia de Caosheng, província central de Xhanxi, foram obrigadas a trabalhar sob controle de guardas e cães durante 18 horas por dia. Nenhuma recebeu dinheiro durante todo esse tempo e sobreviveram apenas com pão e água.

Quando uma blitz policial as libertou no final do mês passado, descobriu-se que um homem havia sido morto a marteladas; oito pessoas estavam tão traumatizadas que somente conseguiam lembrar seus nomes. Todas apresentavam queimaduras por terem carregado tijolo quente sem proteção. Suas roupas não passavam de farrapos e “a sujeira em seus corpos era tão grande que só saia raspando com uma faca”, informou o Shanxi Evening News. A fábrica de tijolos era operada por um capataz identificado como Heng Tinghan, mas seu proprietário era o filho do presidente do Partido Comunista da região. Segundo moradores da área, essas fábricas ilegais operavam graças a um acordo tácito com a polícia.

A revelação deste caso foi seguida por uma carta aberta que circulou em vários fóruns chineses na Internet na qual se denunciava que pelo menos mil crianças entre 8 e 16 anos foram escravizadas nas fabricas ilegais de tijolos na província de Shanxi. A carta, assinada por 400 pais da província central de Henan, pedia ajuda para uma campanha destinada a resgatar os menores. Os pais afirmavam que os filhos foram forçados a entrar em automóveis em diferentes cidade de Henan, como a capital Zhengzhou, e depois foram vendidos a chefes de fábricas por cerca de 500 yuans (US$ 65) cada um.

No final dos anos 60, o escarpado território da província de Henan foi usado pelos estrategistas de Mao Tse Tung para esconder milhares de fábricas de armas e munições. Muitas desses locais agora abrigam fornos ilegais de tijolos, segundo os pais de Henan, onde crianças seqüestradas trabalham em condições horríveis. “Os lugares onde vivem essas crianças eram piores do que casinhas de cachorro. Não havia camas, dormiam sobre tábuas e as paredes estavam cobertas de excremento. Estávamos mortos de medo pelo que vimos”, contou ao jornal Xinjigbao Chai Wei, um pai de Henan que conseguiu entrar em várias fábricas de tijolo em busca do filho desaparecido.

Chai havia dirigido os esforços de resgate de quase 100 pais que arrecadaram dinheiro para alugar um carro e percorrer as fábricas de tijolos de Shanxi. Sua busca conseguiu resgatar cerca de cem crianças, mas restavam centenas, disse Chai. Seu filho de 17 anos, que desapareceu de Zhengzhou em abril, ainda não foi encontrado. “Não conseguimos nenhuma ajuda da polícia local. Muitos de seus funcionários são pessoas próximas dos donos das fábricas e poderiam alertá-los da chegada de um grupo de busca. Aprendemos a não confiar nos policiais e percorrer as fábricas, uma a uma, por nossa própria conta”, disse Chai. A descoberta de redes provinciais de trabalhos forçados veio a público quando a China se prepara para adotar uma nova lei de trabalho que foi debatida pelos legisladores durante muitos meses.

A nova legislação pretende tomar medias enérgicas contra centros de exploração e os abusos de trabalhadores dando um poder real aos sindicatos controlados pelo Estado, pela primeira vez desde que Pequim introduziu reformas de mercado na década de 80. Nos últimos 10 anos, a economia chinesa cresceu dois dígitos graças ao trabalho de milhões de trabalhadores que produziam mercadorias para a exportação em troca de baixos salários. Mas com o florescer da economia, as disputas trabalhistas se multiplicaram. Cada vez mais trabalhadores se apresentam nos tribunais ou saem às ruas para protestar contra as más condições trabalhistas e atraso no pagamento.

O governo descreveu a nova legislação como uma tentativa de melhorar a proteção dos trabalhadores e deter os abusos. Mas não está claro o quanto será efetiva neste vasto país, onde muitos funcionários locais tendem a ignorar ou burlar as diretrizes do governo central. Os defensores dos trabalhadores alegam que os poderes de aplicação da lei serão melhorados somente se Pequim permitir sindicatos independentes. “Sem supervisão ou defesa do poder coletivo da mão-de-obra, as leis e resoluções do governo central não serão respeitadas ou administradas”, afirmou Cai Chongguo, especialista em direitos trabalhistas do China Labour Bulletin, com sede em Hong Kong.

A China já possui uma lei trabalhista e outra sobre proteção dos menores, mas nenhuma delas impediu o escândalo de trabalho forçado em Shanxi, dizia um comentário assinado e publicado domingo pela agência de notícias Sinhua. “A razão para que fossem cometidos delitos tão flagrantes nas fábricas de tijolos de Shanxi é que empresários e funcionários locais trabalhavam em equipe”, acrescentou. O jornal China Youth Daily foi mais longe, qualificando os casos de escravidão de “desgraça vergonhosa”, deixando exposta a negligência dos funcionários no cumprimento de seu dever. “Quando uma lei é debilitada maciçamente em sua implementação a ponto de se converter em um pedaço de papel sem valor, então é necessário repensá-la”, afirmou o jornal.

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Google lança YouTube no Brasil

Peter Sayer - IDG News Service, França
Publicado por
ComputerWorld em 19/06/07

O Google lançou nesta segunda-feira (19/06) a versão brasileira do site de compartilhamento de vídeos YouTube.

A companhia também anunciou versões localizadas do serviço para França, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Espanha e Reino Unido. Por enquanto, os sites localizados utilizam a mesma base que o norte-americano, mas a idéia é personalizar os acervos para cada país. A versão brasileira traz a página principal em português e destaca vídeos no idioma nativo.

Mais da metade do tráfego do site hoje vem de fora dos Estados Unidos e a localização do serviço tem como objetivo gerar receitas a partir dessa audiência."O grande mote do YouTube em 2007 é acesso”, disse um dos fundadores do serviço, Chad Hurley, em uma conferência para imprensa em Paris. A empresa foi vendida em outubro passado ao Google, por 1,65 bilhão de dólares.

“Temos que colocar o YouTube em cada tela, e isso significa dispositivos móveis e a sala. Atualmente ele está restrito ao navegador, ao PC”, ele acrescentou.

Como parte do lançamento, o YouTube já firmou acordos com provedores locais de conteúdo nos países em que deve estrear.

Entre eles estão a inglesa British Broadcasting, a francesa France 24, as espanholas Antena 3 e Cuatro TV, a Rádio e Televisão de Portugal, os clubes europeus Chelsea, Milan, Barcelona e Real Madrid, e ONGs como Greenpeace e Amigos da Terra.

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Procurador pede ratificação de Convenção de Deficientes

Publicado pela Agência Câmara em 20/06/07

O procurador do Ministério Público do Trabalho no Paraná Ricardo Tadeu, que tem deficiência visual, pediu aos parlamentares que interrompam a votação do Estatuto das Pessoas com Deficiência (Projeto de Lei 7699/06), para ratificar a Convenção Internacional das Pessoas com Deficiência, concluída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 5 de junho último.

Segundo ele, se o Brasil aprovar o estatuto antes da convenção, "poderá ficar na contramão dos outros países". Ricardo Tadeu destacou que, se a convenção for aprovada por 3/5 dos parlamentares na Câmara e no Senado, terá força de norma constitucional, garantindo direitos dos deficientes que hoje constam de decretos.

O procurador, que participa do seminário sobre pessoas com deficiência promovido pelas comissões de Seguridade Social e Família; e de Educação e Cultura, fez uma retrospectiva da legislação dos direitos humanos para as minorias. Segundo Tadeu, ela começou a ser implementada em 1950.

Debates regionais

Ao reabrir o seminário, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) ressaltou que já houve muitos avanços em matéria de legislação para pessoas com deficiência, mas ainda há muito a ser feito. Ele afirmou que o objetivo do encontro é iniciar a discussão. Entretanto, segundo ele, depois serão realizados debates regionais para se chegar a um consenso sobre o que é mais necessário para essas pessoas.

A coordenadora nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), Izabel Maria Madeira de Loureiro Maior, que também participa do seminário, lembrou que a década atual foi definida pela Organização dos Estados Americanos (OEA) como Década das Américas para Pessoas com Deficiência.

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Conferência defende novos modelos empresariais

Publicado pelo redeGife Online em 18/06/07

Não é por acaso que “sociedade sustentável” tornou-se um tema freqüente nos mais diferentes fóruns e debates do setor privado. A hipercompetitividade global, aliada a crescente demanda socioambiental, tem exigido padrões de governança e sustentabilidade cada vez maiores dos negócios.

As preocupações inerentes a essa discussão tiveram, assim, especial destaque nos debates realizados durante a Conferência Internacional de Empresas e Responsabilidade Social, promovida pelo Instituto Ethos, entre os dias 12 e 15 de junho. Neles, as quase 1300 pessoas participantes puderam dialogar sobre os assuntos que estão em voga como aquecimento global, agronegócios e preservação de recursos naturais – com o foco evidente na responsabilidade dos empresários.

“Essa foi a maior Conferência do Ethos. Muitos empresários vieram para cá para saber o que fazer e como agir diante desse cenário”, comemorou Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. Para ele, “estamos em um processo inexorável de mudança de curso para evitar o desastre”.

A explicação para esse sucesso, no entanto, tem mais a ver a um momento vivido mundialmente do que com um aumento recorde na conscientização empresarial brasileira (por mais que venha em uma crescente nos últimos anos). Segundo Young, neste ano, o mundo se deu conta, por meio da visibilidade dada pela mídia aos resultados dos relatórios internacionais do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), “de que, se nada for feito, o planeta caminhará rumo a dificuldades – senão à inviabilidade – para a presença de vida na Terra”.

Mesmo assim, os especialistas convidados mostraram-se bastante reticentes em relação aos atuais discursos sobre a preocupação empresarial e o desenvolvimento sustentável. Na mesa-redonda que debateu os Avanços da Responsabilidade Social Empresarial nos Cinco Continentes, por exemplo, a diretora do Corporate ResponseAbility, Linda Funnell-Milner, chegou a afirmar que “as empresas precisam ser mais do que uma pintura verde.”

Linda apresentou as dificuldades que as empresas australianas, americanas e européias encontraram para implantar o Pacto Global - iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para o fomento da cidadania corporativa global - e os dez princípios que as empresas assumem quando decidem aderir a ele. Segundo ela, os indicadores simplesmente não são cumpridos. “O ideal é ter movimentos da sociedade civil que o Brasil tem. Lá não temos ações da sociedade civil voltadas para o meio ambiente em grande quantidade, como existem aqui”, disse ela.

Nesse mesmo contexto, o fundador e diretor do Institute of Social Sciences de Nova Délhi, George Mathew, afirmou que ainda falta mais seriedade nas políticas empresariais de RSE, dando como exemplo a Índia. “Grande parte das empresas parecem estar mais preocupadas em fazer marketing social do que ações de responsabilidade social. Infelizmente, das 140 filiais de multinacionais instaladas no país, ainda são poucas as que estão preocupadas em colaborar para o desenvolvimento sustentável”.

A representante do African Institute, Daisy Kambalane, fez coro ao colega indiano e explicou que o principal motivo para isso é a inexistência de qualquer pressão para que o setor privado passe a ter uma atitude baseada na sustentabilidade, e não somente no lucro. Ela argumentou que a situação só mudou na África do Sul quando foi firmado um acordo de conduta entre o governo e as empresas.

Para o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e membro do Conselho do Pacto Global da ONU, Oded Grajew, a responsabilidade social é, em muitos países, confundida com filantropia. No Brasil, essa discussão já evoluiu bastante e a cultura da responsabilidade social está mais evoluída.

“Raras empresas ultrapassam 1% dos lucros em investimentos filantrópicos. E, além disso, mostrar cifras impressiona. Mas, a RSE não pode ser mensurada financeiramente, porque envolve muitos fatores: pagamento de impostos, funcionários legalmente contratados, consumo consciente de forma geral etc”, defendeu.

Globalização

Um dos destaques do evento foi a apresentação da pesquisa Melhorando o Jogo – A Globalização É Sustentável? , realizada pela SustainAbility, que mostra os grandes cenários globais pelos quais Estados, empresas e pessoas deverão transitar daqui para a frente. A apresentação, realizada por Jodie Thorpe, gerente do SustainAbility e responsável pelo Programa para Economias Emergentes, mostrou que o movimento de globalização já responde por 20% do PIB global. Entretanto, como aponta a pesquisa, esse crescimento tem um preço em termos de degradação ambiental.

No levantamento, foram evidenciados sete pontos relevantes como diretrizes de ação das empresas em compasso com as diretivas para ser sustentável:
1 – Planeje para o Inesperado. A flexibilidade em cadeias de valor, plataformas tecnológicas e políticas de trabalho são fatores de eficácia.
2 – Encontre o Verdadeiro Sul. Não subestime a importância das economias emergentes. Há regiões e cidades onde o desenvolvimento é mais rápido.
3 – Não Espere os Bons Chegarem na Frente. Mesmo os melhores podem ser atingidos por escândalos e crises. O importante é a capacidade de criar valor.
4 – Colabore com o Sistema Imunológico da Terra. Faça parte das soluções nas crises ambientais e sociais. Sirva como fonte de inteligência e criatividade.
5 – Pense em Oportunidades e Inovações. Repense as questões ambientais e sociais não como riscos, mas como grandes oportunidades.
6 – Supere-se. A escala dos desafios é muito grande e exige abordagens radicais. Líderes precisam sair de sua zona de conforto para encontrar novos modelos, novos parceiros e novas soluções.
7 – Faça Política. A agenda agora é política. É preciso se envolver e assumir posições.

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Boletim sobre Marco Legal – Todas as dicussões sobre terceiro setor em Brasília, em breve

Publicado no site do Gife

Uma das grandes novidades do Projeto Marco Legal e Políticas Públicas – desenvolvido pelo GIFE com o apoio da Fundação Ford – para o biênio 2005-2007 foi a inclusão de um novo eixo de atuação: o de mobilização política. Assim, ao lado das atividades de produção de informações e conhecimento (primeiro eixo) e de articulação da redeGIFE e outros atores sociais (segundo eixo), o projeto passou também a atuar diretamente junto ao Congresso Nacional e ao Executivo federal, afim de acompanhar e influenciar a formulação e aprovação de projetos-de-lei e políticas públicas que contribuam para o aprimoramento do terceiro setor no Brasil.

Para tanto, o GIFE estabeleceu uma parceria com a Ágere – Cooperação em Advocacy, uma organização não-governamental sediada na própria capital federal e especializada na negociação em favor de políticas públicas eqüitativas e democráticas. Um dos produtos dessa parceria será um boletim a ser lançado em breve, que pretende ser um instrumento para compartilhar informações e identificar oportunidades de relevância para o terceiro setor no âmbito do Congresso Nacional e do Executivo federal, contemplando não apenas ações diretamente voltadas ao setor, mas também a algumas de suas principais áreas de atuação (cultura, educação e meio ambiente).

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A imprensa abre um olho para a sustentabilidade

Luciano Martins Costa
Publicado pelo Observatório da Imprensa em 19/6/07


A participação de jornalistas com elevadas responsabilidades em suas empresas no debate "Responsabilidade social na mídia: pauta e gestão", que inaugurou a Conferência Internacional 2007 – Empresas e Responsabilidade Social, do Instituto Ethos, abriu uma janela interessante para a observação do atual estado da mídia. Como se sabe, a imprensa alojada nos meios tradicionais, como jornais, revistas, rádio e televisão, vive um momento de grandes mudanças, com oportunidades e riscos trazidos pelas novas tecnologias, pela globalização e por novos hábitos de leitores que desafiam a capacidade de inovação de jornalistas e gestores.

A pergunta de Ricardo Young, diretor-executivo do Instituto Ethos, sobre se os jornalistas estariam "com o olhar afinado e ouvidos treinados para identificar os temas relativos à sustentabilidade" foi claramente respondido pelos participantes – Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha; Caco de Paula, diretor do Núcleo de Turismo e coordenador do projeto Planeta Sustentável da Editora Abril; Albert Alcouloumbre, diretor de Planejamento e Projetos Sociais da Central Globo de Comunicação; e Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado: não.

A imprensa, de modo geral, não consegue ainda produzir uma abordagem capaz de identificar e relacionar os temas da sustentabilidade ao veio principal das notícias e opiniões.

Relação comprovada
O debate fechou uma série de encontros promovidos pela Rede Ethos de Jornalistas, nos quais os representantes da mídia se mostraram surpresos com o amadurecimento que o tema já alcançou em outros setores com os quais os jornalistas têm muita familiaridade. Como um resumo das discussões anteriores, a mesa-redonda realizada na conferência do Ethos deverá produzir grandes mudanças na forma como a imprensa aborda o movimento global pela renovação da economia, dos hábitos de consumo e das políticas públicas – pois é disso, afinal, que trata a sustentabilidade.

Alguns dos especialistas presentes consideraram positiva – como um ato de coragem – a presença de dirigentes da mídia brasileira diante de cerca de 1.300 protagonistas de movimentos sociais e ambientais de várias partes do mundo. E pela primeira vez, desde que o Ethos iniciou seu esforço para buscar um engajamento mais efetivo da imprensa, seus representantes calçaram as "sandálias da humildade" – como dizem os comediantes da televisão – e assumiram a tarefa de se informar a respeito.

A despeito de algumas tentativas de "enrolar" a platéia – atitude insensata, a se considerar o alto grau de especialização da maioria dos presentes – o que se viu pode dar algumas pistas sobre outras deficiências da imprensa, fartamente apontadas neste Observatório e em outras instâncias de análise da mídia nacional.

Uma delas, talvez a mais evidente: embora todas as pesquisas indiquem grande expectativa dos leitores quanto a uma maior capacidade de jornais e revistas para melhor representar a realidade, oferecendo análises mais profundas e maior interconexão entre as notícias, a mídia impressa segue tratando com superficialidade e de forma fragmentada a questão mais premente da humanidade. Da mesma forma como quebra e recorta o noticiário sobre escândalos, sobre economia e sobre a precariedade da nossa democracia, a imprensa picota o tema sustentabilidade, dificultando a compreensão e o necessário e urgente engajamento de cidadãos, empresas e instituições públicas na busca de um modelo sustentável de desenvolvimento.

A questão ambiental vem separada do desafio das desigualdades sociais, que também aparece dissociado do ideal econômico adotado pela imprensa em geral, da mesma forma como, na editoria de Política, a absoluta evidência da incompatibilidade entre o comportamento do presidente do Senado e as honras do cargo vem regularmente apartada – como fato isolado – da impossibilidade de se esperar uma reforma institucional capitaneada pelos mesmos indivíduos que se beneficiam do atual sistema.

É a mesma deficiência demonstrada quando a imprensa foge da comprovada relação entre a falta de segurança e a ineficiência policial e o gangsterismo que caracteriza os "empreendedores" dos bingos e das máquinas de aposta viciadas que infestam os botecos e até farmácias das comunidades pobres.

Problema global
Qualquer repórter que percorrer as ruas onde se instalam os grandes bingos ouvirá de comerciantes que os "seguranças" ligados a casas de jogo, em associação com policiais, vendem proteção ao preço médio de 300 reais por mês. O mesmo repórter pode comprovar a proliferação das casas de prostituição nas redondezas dos bingos, todas tendo como associados ocultos ou às claras agentes do Estado – em alguns casos, com direito a proteção de viatura policial na porta.

Se a imprensa não consegue enxergar essas mazelas tão descaradas, e depende, para produzir notícias, do vazamento das informações obtidas por meio de grampeamento de telefones, como esperar que venha a entender ou sequer se encorajar a encarar o que realmente significa a questão da sustentabilidade, que, em última instância, nos remete a uma discussão sobre o futuro do capitalismo?

Se a imprensa ainda faz hierarquias de escândalos, conforme a filiação partidária do implicado, como esperar que encontre, afinal, a abordagem sistêmica que se exige para a representação do estado do mundo?

No absoluto deserto de líderes em que vaga o país, com as antigas forças de pressão esvaziadas pelo retrocesso conservador da igreja católica e o corporativismo em que degeneraram as organizações da sociedade civil que empurraram o movimento pela redemocratização, é hora de a imprensa assumir um papel mais decisivo nas mudanças de que o Brasil necessita.

O problema ambiental é global, mas a corrupção e as mazelas sociais são coisa nossa. A imprensa tem todas as condições para identificar os protagonistas adequados e com eles desenhar um projeto de país, para atacar amplamente todos esses problemas. Ao descobrir a importância da questão da sustentabilidade, como o amplo guarda-chuva sob o qual devem se abrigar os projetos de interesse nacional – seja o combate à corrupção, seja o combate à miséria –, os dirigentes das empresas de comunicação incorporam também a responsabilidade de descer do muro.

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Mistérios do PIB, idéias para pauta

Rolf Kuntz
Publicado pelo Observatório da Imprensa em 19/6/2007

Que diabo está havendo com a indústria? O Brasil está virando, mesmo, uma "economia de serviços", como as do mundo rico, ou os números do PIB mostram só uma caricatura de modernidade? Estas são algumas perguntas óbvias, motivadas pela divulgação das contas nacionais, na última quarta-feira (13/6). Os jornais apenas começaram a cuidar dessa pauta. Quem quiser cumpri-la ainda terá muito trabalho, mas o resultado valerá a pena.

Os jornais tentaram, nas edições de quinta e sexta-feira, debulhar os números divulgados pelo IBGE, examinando o Produto Interno Bruto de várias perspectivas. Para começar, deram ênfase ao dado mais vistoso – o "crescimento" de 4,3% em relação ao PIB do primeiro trimestre de 2006. A palavra crescimento, nesse caso, pode ser enganadora.

Como os períodos são descontínuos, seria mais correto afirmar que o PIB de janeiro a março de 2007 foi 4,3% maior que o de um ano antes. O ritmo de produção no trimestre inicial deste ano poderia estar estagnado ou até em queda. Ainda assim, poderia ser maior que o de janeiro a março do ano passado, por causa da expansão ocorrida entre os dois períodos.

O próprio IBGE comete essa impropriedade, com freqüência, ao divulgar seus levantamentos. Mas o assunto não é tão misterioso. Um septuagenário pode ser 15% mais alto do que era aos 15 anos, mas isso não é sinal de que esteja crescendo ou tenha crescido recentemente. O mais provável é que tenha começado a encolher.

A tendência de curto prazo é indicada mais claramente, no caso do PIB trimestral, pela comparação com o período imediatamente anterior, descontada a variação sazonal. Essa variação foi de 0,8%. Projetada para quatro trimestres, aponta uma expansão de apenas 3,25%. Há boas indicações de que tenha ocorrido uma aceleração no segundo trimestre e essa, por enquanto, é a melhor notícia.

Em perspectiva

Alguns economistas também mostraram otimismo diante da evolução do investimento bruto. Desta vez, disse um deles, o crescimento da economia é mais firme do que noutros episódios dos últimos anos. Faz parte da cobertura, tanto dos jornais quanto dos meios eletrônicos, a reprodução de opiniões de especialistas. Mas não custa fazer uns cálculos simples por conta própria. Uns poucos tiveram esse trabalho.

A taxa de investimento, no primeiro trimestre deste ano, ficou em 17,2% do PIB, praticamente igual à de um ano antes. É uma taxa ridícula, quando comparada com a de outros emergentes ou mesmo com a observada no Brasil na fase do chamado "milagre", no final dos anos 1960 e em boa parte dos 1970, quando a formação bruta de capital fixo andou pelos 24% e até mais.

Jornais, rádios e TVs também chamaram a atenção para um dado complementar, não explicitado no material divulgado pelo IBGE: o investimento na infra-estrutura continua emperrado. Projetos de hidrelétricas, centrais térmicas, estradas e terminais portuários continuam no papel, ou na imaginação, porque faltam licenças ambientais, garantia de abastecimento de gás e regras para as parcerias público-privadas. O problema, nesses casos, não é a escassez de capital, mas a indefinição política.

O ataque a uma questão das mais importantes, a composição setorial do PIB, demorou um pouco mais. No primeiro trimestre, a indústria de transformação produziu apenas 2,8% mais do que um ano antes. Em todas as demais comparações, o resultado da indústria foi pífio. Qual o problema? Não se trata, obviamente, apenas de uma perda de peso na composição do PIB, mas de uma redução do dinamismo do próprio setor.

O Estado de S.Paulo saiu com um primeiro ataque à questão no domingo (17/6), sob o título "Indústria cresce abaixo do PIB desde 2004". A escolha de um período razoavelmente longo, três anos, foi uma idéia interessante. Falta dizer mais sobre o assunto, mas a matéria foi um bom esforço inicial para pôr o assunto em perspectiva. A Folha de S.Paulo, também no domingo, tratou de um aspecto restrito da questão, mas também relevante: "Indústria de ponta perde espaço no país".

O peso dos serviços

Matérias como essas podem fazer a diferença numa cobertura. Mais que isso, podem fazer a diferença entre a cobertura dos jornais e a dos meios mais velozes, como a TV, o rádio e a agência de noticiário online.

No caso, esse tipo de matéria pode contribuir para uma avaliação mais precisa da natureza do crescimento econômico. Durante décadas, a indústria foi o motor principal da economia brasileira, não só por seu dinamismo, mas também por ser um dos pólos mais importantes de mudança tecnológica e a maior fonte de empregos de qualidade – formais, produtivos, com os melhores salários médios e com padrões mais altos de segurança.

Esse quadro foi parcialmente mudado pela terceirização, que jogou para os serviços parte dos empregos proporcionados até os anos 1980 pela indústria. Mas falta uma noção mais clara do que mudou no setor industrial e no de serviços. Este é muito amplo e muito diversificado em termos tecnológicos.

Maior peso estatístico na formação do PIB não é sinônimo de maior dinamismo, nem de modernização mais veloz que a do setor industrial. Também não significa, necessariamente, criação de empregos de maior qualidade. O contrário, segundo as aparências, é o mais provável. Excluída a área financeira, o que representa, no Brasil, o setor serviços em termos de tecnologia, dinamismo e criação de empregos de qualidade? Quais as suas conexões com a indústria de transformação e com o agronegócio?

São questões trabalhosas, mas vale a pena enfrentá-las.

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Stakeholders – Como interagir com tantos públicos diferentes

Andrea Goldschmidt*
Publicado pela revista Integração

Todo plano de negócios e, conseqüentemente, o plano de captação de recursos, deve começar pela compreensão do mercado em que a organização atua: conhecer em detalhes o mercado onde desenvolvemos nossa atividade social é fundamental para que seja possível tomar as decisões mais acertadas.

A análise do mercado passa por uma série de etapas, entre elas:
1. Identificação do público alvo;
2. Identificação das necessidades e desejos do público alvo;
3. Determinação do potencial de mercado;
4. Identificação dos “concorrentes” (no terceiro setor é mais comum o termo “organizações congêneres”, já que as organizações não concorrem para dominar o mercado, mas trabalham juntas na solução dos problemas sociais existentes);
5. Análise dos pontos fortes e fracos de cada uma das organizações congêneres (“concorrentes”);
6. Determinação dos produtos que trarão maior satisfação para as necessidades dos clientes e que preencherão “lacunas” de mercado (levando em consideração as características dos concorrentes e do mercado).

O objetivo deste texto é abordar os 3 primeiros itens: identificação do público alvo, identificação das suas necessidades e desejos, e determinação do potencial do mercado.

Identificação do público alvo

Quando pensamos em uma empresa qualquer, o público alvo é visto, de maneira simplificada, como o consumidor dos produtos e serviços daquela empresa.

Dentro do conceito de Responsabilidade Social Empresarial que vem sendo desenvolvido pelas empresas, no entanto, o público alvo deixa de ser apenas o consumidor e passa a englobar um número muito maior de pessoas e empresas. São os chamados stakeholders.

O termo “stakeholders” foi criado para designar todas as pessoas ou empresas que, de alguma maneira, são influenciadas pelas ações de uma organização.

Interna e externamente podemos pensar em vários grupos de pessoas que podem ser influenciados pelo trabalho de uma ONG:
. Beneficiários diretos, familiares, colegas de escola ou de trabalho dos beneficiários;
. Empresas situadas próximas ao local de desenvolvimento das atividades e /ou próximas ao local de residência dos beneficiários;
. Funcionários, voluntários e Conselheiros;
. Empresas parceiras e seus funcionários;
. Doadores;
. Fornecedores e seus funcionários;
. Governos locais;
. Outras organizações do terceiro setor que prestam serviços complementares ao da sua ONG.

Quem é, então, o público-alvo de uma ONG?

A melhor resposta, apesar de muito ousada, é: TODOS OS GRUPOS IDENTIFICADOS ACIMA.

São grupos muito diferentes, com perfis bastante diferentes e, certamente, com necessidades e desejos bastante diferentes em relação aos serviços prestados pela organização. Conciliar estas diferenças de interesses não é tarefa fácil!

Se os atendidos não estiverem satisfeitos, haverá problemas com o trabalho social. Se a comunidade do entorno não estiver satisfeita, poderá boicotar seu trabalho. Se os financiadores não estiverem satisfeitos, haverá problemas na captação de recursos e no estabelecimento de parcerias duradouras.

Desta forma, torna-se necessário, não apenas identificar cada um destes públicos-alvo, mas também identificar quais são suas necessidades e seus desejos e verificar como podemos atendê-los da melhor maneira possível.

Identificação das necessidades

O que faz com que cada uma das pessoas listadas acima tenham interesse no trabalho que a organização desenvolve? O que é importante na escolha da organização à qual irão se associar? O que esperam ter como retorno? Como irão medir o “desempenho” das organizações selecionadas?

Como são públicos diferentes, com interesses diferentes e necessidades diferentes, torna-se necessário pensar em cada um deles separadamente. Desta forma, cada uma destas questões deverá ser respondida para cada um dos grupos listados acima.

Existem basicamente 3 formas de descobrir quais são as necessidades e os desejos dos stakeholders:

1. Pense como ele – coloque-se no lugar daquela pessoa ou empresa e tente entender como é o seu comportamento e o seu processo de decisão. Se você fosse um beneficiário, que atividades gostaria que fossem desenvolvidas? Em que horário? Com que finalidade? Se você fosse um líder comunitário, o que esperaria da parceria com uma ONG? Se você fosse uma empresa financiadora, que tipo de projetos gostaria de apoiar? Que contrapartidas esperaria em troca? Como gostaria de receber a prestação de contas?

2. Observe-o – Que atributos o serviço deve transmitir para atender às necessidades de cada grupo de stakeholders? O que eles parecem observar quando estão diante de uma situação de decisão? Que fatores ajudam ou dificultam para conseguir seu apoio ou participação?

3. Pergunte a ele – Após ter se colocado no lugar do outro e ter observado seu processo de decisão, você ainda pode procurar pelas pessoas e perguntar a elas o que precisa saber. Isso pode ajudar a confirmar as conclusões a que você chegou anteriormente ou complementar as informações necessárias para a definição de qual é o serviço que melhor irá satisfazer aos desejos e às necessidades do seu público-alvo.

Entender as necessidades de um beneficiário pode aumentar significativamente o número de inscritos nos seus programas e ajudar a reduzir o índice de evasão. Entender as necessidades dos financiadores pode facilitar consideravelmente a formação de parcerias e a busca por recursos para sustentabilidade financeira do programa.

Determinação do potencial de mercado

Após terminada a etapa de identificação das necessidades de cada um dos grupos de interesse, o próximo passo é avaliar se o serviço que oferecemos está adequado à expectativas dos nossos stakeholders.

Em alguns casos, pode ser necessário efetuar ajustes para melhorar a adequação do nosso trabalho às expectativas das pessoas que queremos ter como parceiras. Em outros casos, isso pode não ser necessário.

Às vezes a adequação não é possível em função de alguma limitação que temos. Nestes casos, é importante ter clareza de como isso irá impactar as parcerias que desenvolvemos.

Uma vez que tenhamos clareza do que os parceiros querem e do que podemos oferecer, podemos iniciar a etapa de determinação do potencial do mercado. O principal objetivo é avaliar QUANTAS pessoas ou empresas têm potencial para se tornarem nossas parceiras.

Para ilustrar esta situação, vamos imaginar que nossa organização trabalhe com jovens de baixa renda, de 15 a 21 anos de idade, residentes na cidade de Florianópolis, que estejam cursando o ensino médio, com interesse em participar de cursos profissionalizantes de computação gráfica de segunda a sexta-feira, no período da tarde e que têm como principal objetivo conseguir uma nova colocação profissional.

Com todas estas informações em mãos, não será difícil calcularmos quantos jovens existem neste município que atendem às exigências acima e, se pudermos configurar um curso que se adeque a estas necessidades, teremos certeza de que haverá alunos suficientes para preencher todas as vagas.

O mesmo vale para o plano de captação de recursos. Uma vez feita a lista dos possíveis parceiros, podemos começar a buscar informações sobre o que pensam sobre investimento social e o que esperam das parcerias que realizam. Com esta informação, podemos avaliar se a nossa proposta de parceria atende a estas necessidades e, conseqüentemente, não será difícil medirmos quantas são as empresas com bom potencial de se tornarem nossas parceiras na condução de um projeto social qualquer.

Conclusões

Para cada grupo de pessoas com as quais interage, a organização deve desenvolver ações diferentes e linhas de comunicação diferentes. Isso é trabalhoso, sem dúvida, mas pode garantir o sucesso do seu negócio e a continuidade das parcerias desenvolvidas por um prazo mais longo, uma vez que todos os envolvidos sentem-se satisfeitos com o que recebem da organização.
As necessidades e expectativas de cada um destes grupos variam e é importante que cada um deles sinta que suas necessidades e expectativas estão sendo satisfeitas.

Desta forma, é preciso dividir estas pessoas em grupos através dos quais seja possível identificar características de comportamento comuns e características de comportamentos divergentes.
Algumas características são facilmente diferenciadas, mas existem outras mais difíceis de classificar. Para criar estas segmentações, podemos usar vários métodos diferentes – colocando-nos em seu lugar, observando seu comportamento ou perguntando diretamente a eles o que esperam.

Uma vez feitas as classificações, devemos verificar como podemos adequar nossos serviços para atender da melhor maneira possível às expectativas apresentadas. Quanto maior for a possibilidade de ajuste dos serviços prestados às necessidades do público alvo, maior será a garantia de sucesso do trabalho que a organização desenvolve.

Finalmente, tendo um grande conhecimento do mercado, poderemos medir qual é a demanda que existe de cada um dos stakeholders pelos serviços que prestamos e poderemos avaliar qual é o potencial do mercado onde estamos atuando.

* Andrea Goldschmidt é administradora de empresas pela EAESP- FGV e atua como captadora de recursos desde 1999. Também é professora de Marketing e Captação de Recursos na ESPM e na FACAMP e colaboradora do Centro de Estudos do Terceiro Setor (CETS FGV/EAESP).

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