sexta-feira, 20 de julho de 2007

Criação cultural sustentável

Por Jorge Felix
Publicado pelo
Valor Online em 20/07/07

Tolila: "Pode haver a co-existência de uma indústria e de uma criação artística. Até porque a criação artística é a base da indústria. A indústria funciona sobre a lógica do mercado, mas precisa da novidade"
Foto: divulgação

A cultura pode ser uma mercadoria valiosa e contribuir de forma significativa para o crescimento econômico de um país. É possível sustentar uma produção artística independente e, em paralelo, uma indústria de massa - sempre prejuízo à criação. O economista francês Paul Tolila viaja o mundo para defender essas teses tão polêmicas. Ou melhor, que provocaram muito debate no passado, mas hoje caminham na direção de um consenso.

Ex-diretor do Departamento de Estudos Socioeconômicos do Ministério da Cultura da França, Tolila é autor de "Cultura e Economia" (Iluminuras, 144 págs., R$ 26). Ele esteve no Brasil para o lançamento de seu livro a convite do Itaú Cultural, no qual participa do Observatório da Cultura. Na entrevista a seguir, ele recomenda um primeiro passo para o crescimento do PIB da cultura brasileira: avaliação mais rigorosa dos resultados das leis de incentivos fiscais.

Valor: As leis de incentivo fiscal são a melhor forma de fomentar a cultura?
Paul Tolila: É sempre dinheiro público. Nós temos na Europa um dispositivo idêntico. Mas a presença do Estado é forte. Há um bom orçamento e o governo pode investir diretamente. O modelo espanhol é um pouco diferente. É meio a meio. Globalmente falando, a grande questão que se coloca é qual é o montante de investimento que vai para a cultura? O que se faz de forma direta pelo governo e de forma indireta? Quais são as necessidades para o setor cultural se desenvolver economicamente? É por isso que a questão da economia desse setor é tão importante.

Valor: Como evitar que os recursos das leis de incentivo sejam destinados apenas aos artistas com um melhor retorno de marketing para as empresas?
Tolila: Essa é uma questão crucial da política pública. Há um risco de reduzir a ajuda do Estado à renovação cultural. É o problema de equilibrar a subvenção. Eu acho - veja bem, acho - que essa política de leis de incentivo carece de um dispositivo de avaliação permanente. Essa política é muito executada como um dispositivo administrativo, apenas. É concedida burocraticamente. Basta haver conformidade no dossiê dos documentos apresentados ao ministério. Falta objetivo. Falta saber qual é a visão que tem da cultura para não ficar apenas concedendo o benefício a todos e deixando os produtores disputar as verbas da iniciativa privada. É uma forma burocrática demais. Não quero fazer uma crítica abstrata. Mas, pelo que entendi, no Brasil ocorre assim. Talvez tenha entendido errado.

Valor: Falta um objetivo?
Tolila: Poderia dizer: 50% dos recursos vão para jovens artistas. Seria brutal. Mas seria mais claro. Poder-se-ia também dar condições para artistas jovens ou sem condições de montar seu projeto para apresentá-lo ao ministério e fazer depois uma avaliação. O problema é que essas políticas de incentivo nunca são avaliadas em seus resultados. Damos a autorização, as pessoas vão captar o patrocínio na iniciativa privada e há a renúncia fiscal. Todos ficam contentes. Mas qual é o efeito para o conjunto da sociedade? Para o processo cultural? Para a economia da cultura? Para os novos criadores? Ninguém sabe. Não se pode renunciar os impostos para uma política que é apenas a administração de processos, dossiês. E para avaliar é necessário ter, antes, um objetivo claro.

Valor: Na sua visão, o Estado cumpre apenas parte da missão?
Tolila: Esse é um perigo das leis de incentivo: o governo se vê cumprindo o seu papel. Ele dá a permissão para captar e não verifica o que ocorre depois. No entanto, o mais importante para a cultura é o que ocorre depois. A avaliação, é bom que se lembre, é uma premissa de todas as economias modernas, mesmo as mais liberais. Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha. A avaliação é uma "cultura de informação" válida para o governo, a iniciativa privada e os profissionais da cultura. É um feedback para a administração da política cultural e decisiva para a modernização do processo.

Valor: Em outros países, a estratégia das leis de incentivo tem um bom resultado?
Tolila: Em todos os países que adotam leis de incentivo há objetivo definido. E avaliação constante dos resultados. É bom dizer também que em todos há uma forma mista: leis de renúncia fiscal e recursos públicos diretos. Sem isso, os administradores públicos não poderiam ser cobrados quanto a resultados.

Valor: Como traçar uma estratégia de produzir cultura com a lógica mercantil e preservar a arte?
Tolila: Nós vivemos efetivamente numa espécie de contradição potencial entre o nível de mercado de massa e a criação cultural. Mas acredito que a verdadeira produção artística pode sobreviver, desde que a cultura se torne verdadeiramente uma preocupação do país. Não somente discurso. Uma verdadeira preocupação, insisto. Isso quer dizer que o governo, assim como a iniciativa privada, se preocupam com essa questão. Porque a indústria cultural, a grande, a grande mesmo, não tem necessidade de financiamento do Estado. Mas a criação cultural, sim. Ela precisa de financiamento porque ela não é rentável. Assim como a pesquisa. A pesquisa não é rentável agora, será em 5, 10, 15 anos. O ritmo do capital financeiro não suporta esse tempo. É a mesma coisa também da educação. Logo estamos falando de um processo longo, um investimento no qual o industrial capitalista exerce mal o seu papel. É essencial que as instituições sejam capazes de ver a questão a longo prazo, seja o governo ou o setor privado.

Valor: Assim teria espaço para as duas formas de produção?
Tolila: Pode haver a co-existência de uma indústria e de uma criação artística. Até porque a criação artística é a base da indústria. A indústria funciona sobre a lógica do mercado, evidentemente. Mas ela precisa da novidade. Veja os grandes grupos, como Sony, Warner, que são alimentados por pequenas empresas muito criativas. Empresas minúsculas sem a pujança financeira que, no entanto, têm criatividade, se interessam pela criação, trabalham em nichos de mercado e não para o mercado mundial. Então as grandes ficam olhando. Quando descobrem um talento, elas integram, compram a empresa pequena, etc. É assim que a grande, apesar de tudo, participa da diversificação cultural. Não é sempre um instrumento que desqualifica a produção artística. Ela também, muitas vezes, permite que o artista se exprima de maneira ampla, global.

Valor: Como fazer para políticos, governos e profissionais pensar a economia da cultura?
Tolila: O problema é que a economia da cultura carece sempre, em muitos países, de uma organização do setor - tanto administrativa quanto profissional. Falta também uma capacitação de infra-estrutura. Faltam economistas que analisem a cultura, faltam sociólogos. Isso impede enxergar a cultura de outra maneira.

Valor: No Brasil, governos costumam escolher artistas para administrar a cultura. Isso é bom?
Tolila: Freqüentemente, o empenho pessoal em uma atividade não é a certeza de uma boa gestão. É bom dizer que não é uma particularidade do Brasil. Há sucesso, mas há muito fracasso. Podemos nos questionar se não existe aí muita ilusão. Não diria demagogia. Mas ilusão mesmo de acreditar que por ser artista se torna capaz de administrar o setor. Não tem sido sempre o caso.

Valor: A arte tem um espaço nos investimentos do mundo capitalista de hoje?
Tolila: Há duas economias no setor cultural. Uma economia dos espetáculos, de dança, de teatro, da música, do patrimônio. As atividades clássicas. De outro lado, desenvolveu-se a indústria cultural, em que os mercados são atualmente mundiais. Destaca-se aí uma dominação americana. Essa economia tem todas as características da economia clássica, do business. Não só isso. Ela chegou a um nível de desenvolvimento tal que hoje conquistou um papel estratégico.

Valor: É um produto de exportação.
Tolila: Claro. É preciso saber que a exportação dos produtos culturais é o primeiro item da pauta dos Estados Unidos, antes de aviões, carros, agricultura e armas. Logo, a indústria cultural representa hoje um precioso papel no jogo de competição mundial. Nesse momento de dominação americana, há um jogo mais pesado para aqueles que querem defender sua cultura nacional. Como sobreviver e continuar a criar, quando a difusão massiva do modelo cultural é aquele difundido a partir dos Estados Unidos?

Valor: A indústria, então, pode competir, mas a arte é sempre obrigada a se adaptar...
Tolila: Conversei outro dia com estudantes africanos que me contavam a história de um cantor. Ele produzia de forma independente e foi contratado por uma gravadora, aí seus versos se tornaram mais curtos, o ritmo mudou. Os artistas são obrigados a se adaptar a uma formatação que a indústria impõe. É como o design dos carros. Muda ao mesmo tempo em todo o planeta. O desafio é fazer que, dentro dessa industrialização, exista uma política pública capaz de fazer uma produção cultural competitiva no mundo globalizado.

Valor: Como?
Tolila: No México, decidiram juntar pequenas empresas para receber aporte financeiro governamental. O cinema mexicano foi muito importante nos anos 1950 e estava morrendo porque os tratados de livre comércio assinados com os americanos provocaram uma invasão e o cinema americano passou como um rolo compressor sobre a produção nacional. Então, a questão se colocou: o que fazer para revitalizar o cinema mexicano? Não sei se ocorre o mesmo com o cinema brasileiro.

Valor: A cultura sofre mais nesse processo de resistência à globalização?
Tolila: Necessariamente se deve repensar a cultura, porque temos efetivamente uma dominação econômica por intermédio da economia da cultura. Não se pode é ver mecanicamente como apenas "é preciso resistir a". Mas a verdadeira questão, a mais conseqüente, é "como resistir a?". Com qual política? É preciso olhar as margens de manobra, examinar em qual setor é possível agir mais. Resistir não é uma tarefa fácil.

Valor: Quais seriam suas recomendações para o Brasil?
Tolila: Falta um pensamento estratégico, industrial, alianças que possam constituir uma indústria brasileira forte. Talvez européias, latino-americanas, mas em face da hegemonia americana é preciso pensar uma rede, uma articulação. Essa é uma reflexão rara no setor cultural. Deveria ser o princípio para a parceria público-privada. Se vale para outros setores, infra-estrutura, por exemplo, vale para a cultura. Eu defendo isso em meu livro: o trabalho de uma inteligência econômica para a questão cultural. Pode-se fazer uma ação conjunta dos Ministérios da Fazenda, da Cultura e das Relações Exteriores e o setor privado. É preciso que todos se sentem para refletir qual é a estratégia cultural capaz de colaborar para o crescimento econômico.

Valor: De que forma, nesta visita, sentiu os efeitos concretos da falta dessa estratégia?
Tolila: Não existe, por exemplo, um grande circuito de galerias de arte nas cidades brasileiras. São muito poucas. Isso é espantoso. Supreendente. É um problema da organização do mercado de arte. Isso me parece ter um efeito, às vezes, tanto econômico como na forma de criação. Isso é uma observação que fiz porque fui também ao Rio e tentei fazer um passeio por alguma área de galerias e não existe, não existe um bairro que as reúna. Você vai a Paris, à Cidade do México, a Londres, a Nova York e há um bairro inteiro especializado em arte. É extremamente importante para o turismo.

Valor: Como constituir um setor cultural rentável em um país com carências na educação?
Tolila: Se a educação não é prioridade, o país terá problema. Compromete a formação da cidadania e competitividade da pessoa no mercado de trabalho globalizado, porque a economia moderna é cada vez mais sustentada pela capacidade de inovação. São as soluções originais que valem mais. A educação e a cultura são os setores em que o retorno do investimento de um país na questão de inovação é certo, garantido. No México houve uma percepção estratégica. Não sei se existe essa percepção aqui.

Mais...

Usinas de SP buscam uma melhor gestão socioambiental

Mônica Scaramuzzo e Bettina Barros
Publicado pelo
Valor Online 20/07/2007

As usinas paulistas estão se estruturando para criar uma gestão socioambiental para o setor sucroalcooleiro. Coincidência ou não, o movimento ocorre num momento em que o mercado internacional amplia exigências e privilegia a aquisição de matérias-primas de empresas que adotam políticas de sustentabilidade.

O Valor ouviu quatro grandes grupos de alimentos e bebidas - Nestlé, Unilever, Coca Cola e Ambev - que estão entre os principais consumidores de açúcar do país. Consultadas, todos informaram que possuem políticas de sustentabilidade e que excluem fornecedores que não estão de acordo com o compromisso ético de suas matrizes. Juntas, essas quatro companhias consomem aproximadamente 2 milhões de toneladas de açúcar anualmente, cerca de 20% do volume total do consumo do país (em torno de 10 milhões).

Exceções no mercado, essas empresas fazem parte de um movimento que deverá crescer no país. E as usinas paulistas começam a se estruturar. Em 2001, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) contratou a consultora Iza Barbosa para uma "mudança de gestão" para o setor inteiro, na qual a responsabilidade social e ambiental das usinas - que por décadas estiveram associadas a desrespeitos humanos e ambientais - ganhasse a mesma prioridade de outros assuntos das empresas. "Praticamente todas as usinas tinham projetos neste sentido, mas não havia como mensurá-los", diz. Até 2003, quase nenhuma das 102 empresas associadas à entidade fazia balanço social de suas empresas. "Hoje praticamente todas fazem [97 das 102]", afirma a consultora.

"Procuramos ter o retorno dessas ações. Não adianta dizer que a gente faz só porque é bonito", afirma Silvio Nicoletti, superintendente do centro de serviços administrativos da Usina São Manoel, instalada na cidade paulista de São Manoel e considerada referência em modelo socioambiental no setor. O grupo investe há quatro anos cerca de 400 mil em projetos nessa área. "Tomamos essa decisão imaginando que no futuro o mercado exigiria da gente um selo verde".

Na prática, já está acontecendo. Segundo Nicoletti, grandes clientes da empresa já vinculam contratos a essas normas. "A Coca-Cola, por exemplo, só compra com essa condição". Mas é uma condicionalidade restrita ainda às multinacionais, que seguem diretrizes impostas pela matriz no exterior . "Nenhuma empresa nacional já nos fez esse pedido".

"Ainda não há movimento nacional neste sentido. Há conversas", confirma Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, especializada em açúcar e álcool.

É o sinal amarelo vindo de países importadores que já preocupa o setor. Aproximadamente dois terços da produção de açúcar do Brasil é exportada.

Após o primeiro passo de mapear a cadeia produtiva e realizar balanço social das empresas, a Unica, em parceria com o Banco Mundial e o Instituto Ethos, trabalha em um projeto que deverá abranger todos os quase 5 mil fornecedores das usinas, desde os de cana até os de insumos e equipamentos. "Precisamos conscientizar toda a cadeia", diz Iza. "Não adianta a usina seguir o programa e um dos seus fornecedores não se adequar. A usina responde por toda a cadeia".

No caso mais recente em São Paulo, o Ministério Público do Trabalho autuou a Usina Renascença, em Ibirarema, por manter trabalhadores em condições degradantes. Os cortadores de cana trabalhavam para um fornecedor terceirizado. A exemplo da Renascença, outras usinas paulistas e de outros Estados foram autuadas pelo mesmo motivo.

As ações da Unica, no entanto, deverão extrapolar os limites do Estado, na medida em que novas unidades de companhias paulistas são abertas sobretudo na região central do país. "Não temos interesse em transformar São Paulo em um nicho diferenciado de usinas. O comprador pensa em açúcar do Brasil, não em açúcar de São Paulo. Por isso, é importante que as demais regiões sigam o nosso exemplo", diz ela. Já iniciativas avançadas neste mesmo sentido no Nordeste.

Mais...

A vida começa aos 60

Danilo Fariello e Catherine Vieira
Publicado pelo
Valor Online 20/07/07

"No dia seguinte ninguém morreu." Assim começa o romance "Intermitências da Morte", de José Saramago, que trata da súbita ausência de óbitos em determinada cidade e das absurdas conseqüências do desaparecimento da Indesejada no cotidiano. No mundo real, a Malfadada não pendurou a foice, mas parece cada vez mais preguiçosa. A expectativa de vida mundial cresceu mais nos últimos 50 anos do que nos cinco milênios anteriores. Os centenários já não são raros nos países desenvolvidos e muitos chegam à terceira idade com saúde e dinheiro para continuar a fazer diferença no mundo. Assim como na fábula do Nobel de literatura, uma revolução acontece à medida que as pessoas passam mais tempo neste mundo. Do ponto de vista econômico, governos têm de lidar com novas questões na saúde, na previdência e nas relações de trabalho. Empresas ganham um novo nicho com um exército de idosos que se forma. E as pessoas, já com idade avançada ou jovens ainda, devem estar preparadas para viver cerca de 20 anos mais do que os seus avós.

Essa revolução se dá, agora, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, onde a longevidade já atinge níveis mais elevados. Multiplicam-se consultorias de marketing e negócios que oferecem estudos sobre os mercados denominados 50+ ou 60+. Lemas como "transforme o grisalho em dourado" ou o irônico "viva até os cem, ou morra tentando" tomam conta da mídia nessas regiões. Os países mais desenvolvidos enfrentam o envelhecimento dos chamados baby boomers, pessoas que nasceram após o término da Segunda Guerra, em 1945, e agora chegam à terceira idade. Pululam produtos e serviços para esse público, como o cranky.com, um site de busca cuja relevância das respostas é a idade do internauta. Os mesmos executivos por trás do cranky, de Boston, criaram o eons.com, uma espécie de Orkut para cabeças brancas ou tingidas.

Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a parcela da população acima de 65 anos crescerá em média 80% nas sete maiores economias industrializadas até 2050, quase 90% na Rússia, e ainda mais rápido no Brasil, China e Índia. Aqui, o número de pessoas com mais de 65 anos passaria de 5,4% no ano 2000 para 19,2% em 2050. Entre as grandes economias emergentes, apenas a Índia terá idade média abaixo de 40 anos nas próximas décadas, segundo estudo da OCDE produzido no ano passado.

Fatalmente, todos os setores econômicos são afetados pelo aumento da longevidade, inclusive o de entretenimento. Percebe-se essa influência, por exemplo, na produção de filmes cujo foco é o vigor das experiências na velhice, como nos casos de "Elsa e Fred", "Alguém Tem que Ceder" e o nacional "O Maior Amor do Mundo", descoberto por José Wilker na maturidade. Músicos sexagenários, como Bob Dylan e Paul McCartney, voltam com força às paradas de maior sucesso, inclusive no iPod. As novas tecnologias não assustam os mais velhos, como se poderia imaginar: nos Estados Unidos, nada menos que 94% dos boomers (aqueles que nasceram de 1945 a 1955) têm internet em casa.

Como nas culturas indígenas e orientais, o mercado passa a tratar a velhice como sinal de sabedoria, mas, notadamente, de bolso cheio. No ano passado, uma conferência do Hay Market que levou o nome de "Older, richer, wiser" (mais velhos, ricos e espertos) reuniu grupos de mídia, financeiros, de varejo e, principalmente, de lazer, para discutir como explorar melhor esse público representado por números bem estimulantes: 70% dos cruzeiros são freqüentados por pessoas com mais de 50 anos, a mesma faixa em que se vendem 60% dos carros de luxo e 55% dos cosméticos. "O desafio do século XXI é lidar com esse novo mercado", diz Richard Jones, diretor global de previdência complementar do HSBC, que participou do evento do Hay Market.

O lado negativo do envelhecimento da população recai, principalmente, nas costas dos governos. Até 2050, a Europa terá apenas dois trabalhadores para cada aposentado, proporção que hoje é de quatro para um, segundo o estudo "Can Europe afford to grow old?", elaborado pela Comissão Européia de Assuntos Econômicos e Financeiros, publicado no site do Fundo Monetário Internacional (FMI). O estudo aponta riscos para o crescimento econômico europeu no futuro por conta do encolhimento e envelhecimento da população.

Para os autores desse texto, os gastos relacionados à idade da população (incluindo previdência, entre outros) crescerão entre 3% e 4% do PIB até 2050 nos países europeus, o que equivaleria a um aumento de 10% no tamanho do setor governamental. Enquanto atualmente há 35 pessoas acima de 65 anos para cada 100 trabalhadores, em 2050 serão 72 pessoas. Não é necessário chegar perto de uma calculadora para imaginar que faltarão recursos para financiar a aposentadoria de tantos idosos no futuro, se todos se aposentarem aos 65 anos.

Chefe do programa de envelhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o brasileiro Alexandre Kalache alerta que está em curso uma enorme mudança de paradigmas, provocada pelo aumento da longevidade, acompanhado de uma redução das taxas de fecundidade. "Até o início dos anos 2000, esse quadro ainda não estava tão claro", lembra ele, apontando que o fenômeno é recente e vai exigir também uma mudança profunda nos costumes. "Tolstói disse que o envelhecimento foi a coisa mais súbita que lhe aconteceu, mas a verdade é que não existe nada mais previsível. Então, é preciso ter sabedoria para se preparar", diz.

Kalache lembra também que os dados de longevidade refletem a expectativa de vida média ao nascer, mas o detalhe mais importante é a expectativa de sobrevida, ou seja, o número estimado de anos excedentes em relação a uma certa média, que tem mudado com o passar do tempo. "Uma mulher, na França, com 60 anos, por exemplo, ainda deve viver mais 30", explica. Contudo, na época em que essa geração de sexagenários nasceu, chegar aos 90 era algo quase impensável. Hoje, esse é o nível médio. "As mulheres são mais longevas e, por essa lógica, o natural seria que se casassem com homens mais novos", brinca Kalache, ao contrário do que se imagina ser mais "normal".

Mas o que as francesas têm a ver com as brasileiras? É simples. Segundo os especialistas, as classes A e B no Brasil tendem a estar muito mais alinhadas com as projeções de longevidade dos países mais desenvolvidos do que a média dos brasileiros. O poder aquisitivo, portanto, também é um fator que tem efeitos sobre a expectativa de viver mais. Moradores de um prédio de luxo de São Paulo tendem a ter 14 anos mais de expectativa de vida do que os habitantes de uma favela do mesmo bairro. "É triste, inaceitável, que essa revolução da longevidade não alcance todos da mesma forma", lamenta Kalache. No Japão, por exemplo, a expectativa de vida ao nascer das mulheres já é superior a 85 anos. Em Serra Leoa, é 34 anos, evidência de que a pobreza é fator determinante da longevidade.

Nos Estados Unidos, o percentual do tempo da vida adulta que as pessoas passam aposentadas saltou de 18% em 1950 para cerca de 30% hoje em dia e a tendência é de crescimento ainda por muito tempo. "No mundo, o número total de pessoas com mais de 80 anos passará dos atuais 88 milhões para 404 milhões no ano 2050. É o subgrupo da população que mais rapidamente aumentará neste 45 anos", diz Kalache. Daí a importância de se conscientizar toda a sociedade para essa nova realidade.

De olho nesses muitos vovôs e vovós, empresas já se reestruturam para atender a uma nova demanda, avalia Robert W. Fogel, Nobel de Economia em 1993 e pesquisador de questões ligadas à longevidade (ver pág.9). Para os idosos conectados, por exemplo, a Vodafone deu início à moda dos telefones básicos, distribuindo o celular A101K, da Kyocera, um aparelho sem visor, sem internet e sem nenhum daqueles brinquedinhos que encantam tanta gente, mas que podem deixar os idosos perdidos. Além de não ter tela, os números do aparelho celular são grandes, para quem já tem a visão debilitada. A indústria automobilística tem adaptado os ângulos das portas, aumenta a potência dos faróis e faz bancos mais macios, entre outros pormenores pensados para corpos mais cansados. O mesmo ocorre com o design de mobiliário e eletrodomésticos.

Estudo encomendado pela Unilever, com abrangência internacional, Brasil incluído, mostrou no ano passado que nove entre dez mulheres acima dos 50 anos acreditam estar melhor do que suas mães na mesma idade e 89% delas se consideram "muito novas para se sentirem velhas". Além disso, 91% opinaram que anúncios publicitários deveriam representar a realidade etária das consumidoras de forma mais realista. Outras grandes empresas de produtos de higiene pessoal e cosméticos têm dirigido esforços constantes de marketing para jovens senhoras.

A comunicação está entre as fronteiras mais polêmicas no trato do aumento da longevidade e do envelhecimento da população. Atualmente, muitos temem, por exemplo, que ao anunciar que um automóvel é perfeitamente adaptado para um idoso sejam perdidas mais vendas do carro para jovens do que conquistados clientes da terceira idade. No entanto, atentos ao potencial de consumo desses consumidores, vários setores econômicos abandonaram preconceitos antigos, frente ao potencial de retorno ao focar os mais idosos. Uma revista, com o sugestivo nome de "Elixir", e um programa de televisão em rede de grande audiência foram lançados na Europa para falar exclusivamente aos boomers. Sinal de que há empresas suficientemente interessadas em ajudar a sustentar com patrocínios e anúncios publicitários esses veículos nos países mais ricos.

A boa notícia para as pessoas em conseqüência disso, diz Kalache, da OMS, é que nunca foi tão bom envelhecer nos países mais desenvolvidos. "Há novidades da medicina, mais serviços e uma nova consciência da sociedade", avalia ele. Segundo dados apresentados por Kalache, estima-se que o aumento da expectativa de vida tenha adicionado cerca de US$ 70 trilhões à economia americana desde 1970. Um setor que vem sendo fortemente impactado por essa avalanche de consumo é o de refeições fora de casa. Na Europa, pessoas com mais de 50 anos comem fora entre 4 e 5 vezes por semana.

O bairro de Copacabana, um dos que mais concentra idosos no mundo todo, acabou se tornando inspiração para o projeto Cidades Amigas dos Idosos, da OMS, que começou no bairro carioca. O objetivo é reunir informações úteis para uso de pessoas de mais idade. Os primeiros resultados serão publicados em 1 de outubro, Dia Internacional dos Idosos. O guia das cidades amigas dos idosos será lançado simultanemente em Londres e em Genebra. O lançamento da versão em português está previsto para 8 de outubro.

Assim como governos e empresas estão atentos à questão do envelhecimento, pessoas se preocupam com sua sobrevivência no futuro. Olhando para os sistemas públicos de previdência, muitos já percebem que a corda poderá se romper do lado mais fraco, ou seja, poderá faltar dinheiro para financiar o futuro de uma multidão de aposentados. Pesquisa do HSBC com clientes do banco em todo o mundo revelou que, no ano passado, 43% dos entrevistados acreditavam que os indivíduos devem arcar com a maior parte dos custos financeiros de sua aposentadoria, enquanto apenas 30% pensam que essa responsabilidade cabe ao governo.

No Brasil, o relativamente novo mercado de previdência privada dispara em velocidade impressionante. Atualmente, é investida em planos privados uma quantia superior a R$ 110 bilhões, valor que não chegava a R$ 30 bilhões há quatro anos. "Os brasileiros já tomaram consciência de que o sistema público não conseguirá oferecer todas as necessidades que terão na aposentadoria", diz Renato Russo, vice-presidente de Previdência da SulAmérica

Por enquanto, o INSS é a principal fonte de renda dos brasileiros de mais idade. Pesquisa recente com mais de 3,7 mil pessoas, sendo dois terços de idosos, da Fundação Perseu Abramo (FPA), patrocinada pelo Sesc, revelou que 22% dos idosos com mais de 60 anos ainda fazem parte da População Economicamente Ativa (PEA). Gustavo Venturi, coordenador do levantamento, diz que a maioria dos idosos tem como principal fonte de renda a aposentadoria e ajudam financeiramente as famílias. Segundo a pesquisa, 91% dos idosos contribuem de alguma forma para a renda familiar, sendo a aposentadoria ou pensão a fonte de renda mais freqüente.

Como as fontes de renda da maior parte dos idosos são a aposentadoria ou a pensão, as famílias se apóiam na certeza da virtual infinitude desses recursos. "Ocorre que, por conta do elevado índice de emprego informal ou desemprego, a aposentadoria acaba sendo a única renda certa de muitas famílias", diz Venturi.

Como a longevidade aumenta e os aposentados vivem mais, os recursos para a aposentadoria deveriam vir cada vez mais de poupanças individuais, afirma Indermit Gill, consultor econômico do Banco Mundial, em texto publicado no site da instituição. Contudo, a própria América Latina, alvo principal do estudo que Gill realizou, já viu nas últimas duas décadas doze países levarem do Estado para a iniciativa privada a responsabilidade pela previdência, com sucesso bastante questionável. Na região - onde o sistema público já entrou em colapso antes de a população envelhecer de forma mais crítica -, as estratégias privadas não serviram para incluir mais pessoas na cobertura de sistemas de previdência. Eram caras demais para muitos, especialmente os mais pobres, a contribuição destinada a contas particulares e as taxas cobradas pelas instituições. Além disso, os custos de transição eram elevados e os planos não se mostraram blindados contra problemas macroeconômicos que ocorreram.

Seja a poupança para a aposentadoria pública ou privada, compulsória ou não, o cenário atual indica algumas tendências praticamente inevitáveis. Os trabalhadores terão de começar a poupar mais cedo e por mais tempo e deverão trabalhar também por mais tempo, até a aposentadoria. A pesquisa do HSBC aponta que, com a vulgarização do debate a respeito dos déficits da previdência, muitos já adquiriram essa consciência. Segundo o levantamento, quase dois terços dos entrevistados em 2006 declararam a opção ou capacidade do indivíduo como primeiro critério a se observar quando chega a hora de decidir sobre a aposentadoria, inclusive pela impossibilidade física de continuar a trabalhar.

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo/Sesc vai na mesma direção. "A maioria não se considera idosa", diz Venturi. Vê-se a terceira idade como um conjunto de problemas que ainda não se percebe na própria vida. Segundo a pesquisa, as pessoas levaram o conceito de terceira idade para além dos 71 anos, 11 além do comum até pouco tempo atrás. "Os idosos têm muitos desejos e planos, como hobbies, lazer, trabalho, até mesmo o estudo, já que metade deles, no Brasil, são analfabetos funcionais", diz Venturi. Então, trabalhar por mais tempo pode ser simplesmente um meio de se manter fisicamente ativo e saudável, como mostrou a pesquisa do HSBC.

Mais...

Florestas em pé, para quê?

Gustavo Faleiros
Publicado pelo
Valor Online em 20/07/2007

Já se faz algum controle florestal, mas não o suficiente para impedir o desmatamento que cria desertos como os já observados em partes de Rondônia
Foto Rodrigo Baleia / Folha Imagem

O combate ao desmatamento de florestas nativas ganhou dimensão política e econômica nunca antes alcançada, graças, em grande medida, à intensificação do debate sobre mudanças climáticas. Com isso, começam a delinear-se perspectivas para o financiamento internacional da preservação de recursos verdes e de todo seu conteúdo de biodiversidade. Persistem, porém, obstáculos à concretização das melhores expectativas a esse respeito, no Brasil, por razões também relacionadas à qualidade da percepção, ultrapassada, que aqui se tem de relações entre uso controlado de recursos naturais e crescimento econômico.

No último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) se reconhece, com grau elevado de certeza, que as emissões causadas por mudanças no uso da terra, ou seja, desmatamentos e queimadas, respondem por até 20% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. É a segunda maior contribuição após o setor de energia. Verificou-se ainda que o modo mais barato de fazer um corte drástico na poluição atmosférica seria evitar a perda de florestas tropicais.

O Banco Mundial dá os primeiros passos para criar um mecanismo internacional de financiamento para países com grandes porções de floresta preservada: vai colocar dinheiro em atividades econômicas que mantenham as árvores de pé e calculará quanto carbono deixará de ser emitido ao se evitar a queima da vegetação. Assim, será possível gerar créditos que serão vendidos a países e empresas que precisam reduzir seus gases estufa. A idéia está em fase preliminar, mas o banco já anunciou que terá US$ 200 milhões para projetos-piloto até 2014.

A criação de instrumentos internacionais de controle sobre as florestas nativas é discutida há algum tempo. Esperava-se que, assim como foram instituídas nas Nações Unidas as convenções para lidar com o clima e a biodiversidade, houvesse um fórum específico para cuidar de questões florestais. O projeto esbarrou na resistência dos países em desenvolvimento (entre eles, o Brasil) em submeter seus recursos naturais a controle internacional. A questão de soberania ainda pesa, mas o aquecimento global abriu as portas para que as nações ricas em biodiversidade sejam instadas a preservá-la. E, assim como durante toda a década de 1990 o crédito internacional esteve atrelado à estabilidade econômica e ao combate à inflação, não é exagero dizer que se caminha para a concessão de financiamentos internacionais condicionados à estabilidade ambiental com controle do desmatamento.

O pesquisador da Universidade de Oxford Andrew Mitchell explica que, além da questão do clima, os países devem discutir como recompensar os serviços providos por ecossistemas preservados. As chuvas de zonas agrícolas estão ligadas à transpiração das áreas com florestas tropicais e por isso a produção deve sustentar a conservação. "Devemos olhar não apenas o clima, mas todo o sistema, e o papel importante que as florestas desempenham."

A idéia de dar maior valor financeiro a ecossistemas preservados tem atraído a atenção de políticos brasileiros. Eduardo Braga (PMDB), governador do Amazonas, foi o precursor no país e seu discurso está sempre pontuado pela retórica do "desmatamento zero". Braga lançou recentemente o Bolsa-Floresta, no qual se propõe pagar até US$ 500 por ano para pequenos proprietários que não derrubarem suas florestas. A disposição de organismos internacionais para financiar idéias como essa interessou também o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS). Sempre criticado por liderar o Estado com os mais altos índices de destruição da floresta amazônica, Maggi, um dos maiores produtores de soja do país, defende a idéia de que não se derrube nem mais uma árvore sequer. Para isso, diz, os produtores devem ser recompensados financeiramente.

Com poucas exceções, a maioria dos países promoveu notável destruição da vegetação nativa durante os ciclos de prosperidade. No Brasil, mesmo os ciclos econômicos pré-industriais foram calcados na destruição da Mata Atlântica. Hoje, são os países pobres que mais desmatam, como se vê no relatório bianual "O Estado das Florestas no Mundo", da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), publicado em março. Entre 2000 e 2005, o planeta perdeu 7,3 milhões de hectares de florestas.

A África responde por 55% do desmatamento mundial. O Brasil é o país que, isoladamente, mais destrói florestas em todo o mundo. Entretanto, registra-se na Europa um crescimento de 7% nas áreas florestadas, desde 1990. Na América do Norte, o panorama não chega a ser de crescimento, mas de estabilidade. Nos últimos 15 anos, americanos e canadenses reflorestaram vegetação no mesmo ritmo em que suprimiram.

Portanto, pode ser equivocada a concepção, largamente difundida no debate ambiental - e muito cara ao governo Lula - de que riqueza e progresso estão associados a danos ao ambiente. Diz Giuseppe Topa, especialista em florestas do Banco Mundial, que na bacia do Congo, região com as maiores extensões de floresta tropical após a do rio Amazonas, o desmatamento e a pobreza estão intimimamente ligados. Lá, as pessoas esgotam os recursos naturais e se tornam cada vez mais miseráveis.

Em alguns países da Ásia, o crescimento econômico incentivou investimentos na recuperação e conservação de florestas. O Oriente distante, que exclui a Rússia e os países árabes, teve aumento de 1,6% das áreas com floresta entre 2000 e 2005. Isso ocorreu graças à China, país com as mais altas taxas de crescimento econômico no globo, que planta 4 milhões de hectares de árvores todos os anos.

Nos últimos dois anos, a taxa de desmatamento na Amazônia caiu pela metade, de 2,6 milhões de hectares/ano para algo como 1,3 milhão de hectares. Mas o quê não se sabe ainda é se essa queda tem relação com políticas públicas do governo Lula, que colocou a Polícia Federal no encalço de madeireiras ilegais, ou reflete a queda no preço de commodities agrícolas, que teria reduzido o ímpeto da ocupação de terras por fazendas de soja e gado.

De toda forma, parece haver um movimento relativamente forte de valorização dos ativos da floresta nativa brasileira. Para além da retórica do desmatamento zero, há grupos de pesquisadores, principalmente na Embrapa, empenhados em verificar como se pode aumentar a produtividade agrícola de áreas que já estejam desmatadas, para não se avançar em zonas preservadas. Ao mesmo tempo, o governo federal, através de concessões públicas para a exploração florestal, tenta legalizar a produção de madeira e outros bens florestais. O mesmo modelo está sendo reproduzido no Pará, no Acre e outros Estados.

Criar uma economia florestal forte é uma saída para conservar as florestas, gerar desenvolvimento regional e contribuir para o controle do aquecimento global. A tese foi defendida recentemente, em entrevista ao Valor, pelo pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). "Nós, a SBPC, a Academia Brasileira de Ciências e vários cientistas estamos propondo verdadeira revolução científica e tecnológica na Amazônia, que desenvolva as bases empresariais, sociais e econômicas de uma economia baseada no valor da biodiversidade", afirmou Nobre.

O combate ao aquecimento global traz uma boa oportunidade para se aumentar o valor econômico das florestas. No xadrez das negociações internacionais da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, países desenvolvidos mostram-se razoavelmente dispostos a financiar nações emergentes, como o Brasil, que se disponham a coibir a degradação de regiões preservadas. No entanto, a maior dificuldade está em como arquitetar um sistema no qual os países que recebam recursos possam comprovar que estão realmente barrando a degradação. Isso exigiria investimentos em monitoramento e fiscalização.

"Transparência é peça-chave no combate ao desmatamento", argumenta Mike Packer, diretor da Globe International, organização que promove encontros entre parlamentares do G8 com representantes das economias emergentes, como Brasil, China e Índia. A Globe está elaborando propostas para aumentar a governança sobre as atividades florestais nos países em desenvolvimento. Isso inclui desde a criação de mapas com todas as áreas cobertas com vegetação nativa até estabelecer políticas de acompanhamento das taxas de desflorestamento, algo que já ocorre na Amazônia brasileira, mas está longe de se tornar realidade em países africanos.

Aumentar o controle e transparência, embora essencial para concretizar um mecanismo internacional de financiamento para a conservação de florestas nativas, ainda gera resistências em boa parte dos diplomatas do governo Lula. Nas negociações do novo acordo para o combate às mudanças climáticas, que substituirá o Tratado de Kyoto em 2013, a diplomacia brasileira não quer ver a comunidade internacional determinando quais serão os limites para a degradação em solo nacional. Conter o desmatamento, afinal, significa interferir na questão agrícola e fundiária em nível doméstico. Sem metas claras, mesmo que não sejam ambiciosas como o desmatamento zero, será difícil ver dinheiro saindo dos países ricos.

Mais...



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br