quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sustentabilidade cai nas graças dos investidores

Ao adotar critérios para análise de riscos socioambientais, mercado financeiro estimula adoção de práticas sustentáveis pelas empresas

A sustentabilidade tem sido um parâmetro cada dia mais utilizado por investidores na hora de escolher empresas, principalmente em segmentos conservadores que buscam segurança e constância no retorno. Socialmente responsável, ético, verde ou sustentável são algumas denominações atribuídas ao processo de investimento que considera as conseqüências socioambientais, tanto positivas quanto negativas, em um contexto de rigorosa análise financeira.

Para Jean Philippe Leroy, diretor de relações com o mercado do Bradesco, a sustentabilidade é uma tendência irreversível no mercado financeiro. “Os investidores, influenciados até pela recessão nos Estados Unidos, estão analisando as empresas com mais critério. No lugar de fazerem investimento exacerbado no curto prazo passaram a considerar também os benefícios de uma gestão baseada na sustentabilidade, porque entendem que isso gera valor e assegura a perenidade do negócio”, ressalta.

Segundo a pesquisa “Investors Opinion Survey” da McKinsey & Co. (2000), em parceria com o Banco Mundial, os investidores estariam dispostos a pagar entre 18% e 28% a mais por ações de empresas que adotam melhores práticas de administração e transparência.

Outros números mais recentes confirmam o interesse dos investidores em fundos socialmente responsáveis. De acordo com a associação Social Invest, o montante destinado a esses fundos atingiu US$ 2,290 bilhões.
Ao contrário do que possa parecer, o interesse do mercado financeiro por empresas responsáveis não é recente. Começou na década de 60 a partir da criação dos primeiros fundos dessa categoria, como o Trillium e o Pax, nos Estados Unidos. Eles excluíam empresas de armas, fumo, bebidas, assim como de petróleo e mineração, setores considerados de alto de impacto para o meio ambiente.

Nas décadas de 1980 e 1990, esses fundos passaram a incluir, entre outros, setores promissores como os de energia eólica e solar, reciclagem e biotecnologia e informática.

A partir de 2000, os fundos de investimento socialmente voltaram-se às melhores práticas sociais e ambientais nos diferentes setores empresariais. São exemplos dessa categoria o Storebrand (Noruega) e o Ethical (ABN-Real, no Brasil).


Índices de sustentabilidade
Composto por ações de companhias com reconhecido compromisso com a responsabilidade socioambiental, os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as que são vistas como mais prósperas por causa dessa característica e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial.

Nesse campo, a Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em 1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios índices, como são os casos da de Londres, que criou o FTSE4Good (Footsiefor good), em 2001, a de Johanesburgo, com o JSE (2003), e a Bovespa, com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em 2005.

A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias líderes na prática desse conceito em cada um dos 58 segmentos, a partir de uma avaliação sistemática dos fatores econômicos, ambientais e sociais de longo prazo.

Estratégias de combate às mudanças climáticas, eficiência energética, desenvolvimento do capital humano, gestão do conhecimento, relacionamento com stakeholders e governança corporativa são alguns dos quesitos avaliados. Há ainda outros específicos conforme o segmento de atuação da empresa.

O Índice Dow Jones de Sustentabilidade tem registrado um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital Index (MSCI) oferece um 15,6% por ano. Uma evidência numérica de que ser sustentável faz bem para o negócio no Novo Mercado.


A experiência brasileira
Segundo Rogério Marques, supervisor de assistência ao mercado da Bovespa, a criação do ISE surgiu de uma demanda natural do mercado brasileiro. “Em 2003, a Bolsa de Valores de São Paulo foi procurada por representantes do mercado e administradores de recursos que sugeriram a criação do índice para medir o desempenho de uma carteira de empresas que tinham uma postura responsável. Eles acreditavam que o mercado nacional, a exemplo do internacional, já estava maduro o suficiente para ter um indicador capaz de avaliar o desempenho das ações de empresas com essas características e compará-lo com as demais companhias participantes do Ibovespa”, afirma Marques.

Esse índice nasceu, portanto, para atender a um grupo de investidores em ascensão, preocupado com o retorno do seu investimento no longo prazo. “Existem dois tipos de investidores. O pragmático, que compra ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acredita que elas têm mais chances de permanecer produtivas pelas próximas décadas, sofrendo menos passivos judiciais com ações ambientais, trabalhistas e sociais. E o investidor engajado, que está disposto a pagar um valor maior pela ação de empresas que privilegiam os três pilares de sustentabilidade. Em ambos os casos, o ISE serve de parâmetro para a uma escolha criteriosa de empresas”, ressalta Marques.

Com 32 empresas de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$ 927 bilhões, o ISE representa 39,6% da capitalização da Bovespa. A sua média de crescimento nos últimos dois anos é equivalente à do Ibovespa. No período de novembro de 2005 a janeiro de 2008, o Ibovespa demonstrou uma evolução de 96,77% enquanto o ISE fechou com alta de 90,04%. Questionado se essa evolução sugeriria uma futura vantagem comparativa das companhias listadas no ISE para as demais, Marques considerou prematuro fazer afirmações absolutas. “Devido ao pouco tempo de existência do ISE, essas análises ainda não podem ser conclusivas”, afirma.


O impacto nas empresas
Os índices de sustentabilidade funcionam como uma espécie de “selo de qualidade”. Ao integrá-los, as empresas são reconhecidas pelo mercado pela responsabilidade social corporativa e sustentabilidade com que atuam no longo prazo.

Segundo Djalma Bastos, presidente da Cemig, empresa listada no Dow Jones, esse reconhecimento mundial facilita a prospecção de novos negócios e parcerias. “Outro ponto importante é a possibilidade de ampliação do acesso a um crescente mercado dirigido aos investidores de longo prazo, que prezam pela responsabilidade ambiental e social na gestão dos negócios. Adicionalmente, a Cemig pode se beneficiar da menor volatilidade no preço de suas ações, sendo bem classificada pelo mercado investidor, o que permite a captação de financiamentos com custos de capital mais baixos e, conseqüentemente, a agregação de valor aos investimentos dos acionistas”, afirma Bastos.

Primeira companhia latino-americana do setor de energia a integrar o Dow Jones de Sustentabilidade desde que ele foi criado em 1999, a Cemig está, portanto, entre as empresas mais sustentáveis do mundo. Nos últimos cinco anos, o seu valor de mercado aumentou quatro vezes, passando de R$ 4 bilhões (2002) para R$ 16 bilhões (2007).

Para o superintendente de relações com investidores do Itaú, Geraldo Soares, integrar índices de sustentabilidade gera um impacto positivo na estrutura interna da empresa na medida em que, para atender às exigências estipuladas pela nova condição, ela passa a agir e pensar de forma integrada. “Os questionários são tão complexos e amplos que acabam envolvendo vários departamentos. Assim cria-se um espaço para discussão do conceito e desenvolve-se uma cultura de sustentabilidade na companhia”, ressalta.

O Itaú também faz parte Índice Dow Jones de sustentabilidade desde a sua criação em 1999. “A empresa pode ser muito boa social e ambientalmente, mas precisa gerar valor para o acionista”, afirma Soares. E a sustentabilidade –segundo ele – ao integrar a gestão dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, contribui para isso, na medida em que diminui os riscos do negócio. “Uma empresa não tem capacidade de sozinha escolher os melhores caminhos. Isso só é possível a partir do diálogo com diferentes stakeholders”, ressalta.


Resultados falam por si
De acordo com os entrevistados de Idéia Socioambiental, a adaptação das empresas às exigências de ingresso e permanência nos índices de sustentabilidade contribuiu para criar as condições para gestão dos ativos intangíveis. Na Petrobras, por exemplo, eles são classificados em quatro tipos de capital: humano, organizacional, de relacionamento e de domínio tecnológico.

Para a empresa, a gestão dos ativos intangíveis teve papel fundamental na criação de valor, no diferencial competitivo e na conquista de resultados no longo prazo. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado da Petrobras cresceu 148%. A incorporação da sustentabilidade na estratégia do negócio também teve impacto significativo na reputação da empresa. Em 2007, a companhia energética saltou da 83ª para a 8ª posição no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da Petrobras nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE amplia o acesso a um mercado potencial de investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis, avaliado pela ONU em mais de US$ 4 trilhões.

O Bradesco também integra, desde 2005, o Dow Jones de Sustentabilidade e o ISE da Bovespa. Apesar de o banco não dispor de nenhum instrumento específico para aferição do valor que a sustentabilidade adiciona ao negócio, Leroy atribui parte da boa performance dos últimos anos à incorporação desse conceito às práticas da organização. Em 2007, o Bradesco superou pela primeira vez os R$ 100 bilhões em valor de mercado. Para se ter uma idéia, em 2003, o banco era negociado a 1,7 vezes do seu valor patrimonial. Quatro anos depois, passou a 13,5 vezes.


Investimento socialmente responsável no Brasil
2000 - Primeiro serviço de pesquisa ISR em mercado emergente - Unibanco
2001 - Primeiro fundo ISR em mercados emergentes – Banco Real – Fundo Ethical
2004 - Itaú lança Fundo ItaúExcelência Social
2005 - Bovespa lança Índice de Sustentabilidade Empresarial
2005 - Banco do Brasil, HSBC, Bradesco, Safra e Unibanco lançam fundos espelhados no ISE.
2007 - Elaboração do Principle for Responsible Investing por investidores com apoio da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Pacto Global das Nações Unidas



Por Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 18/06/08

Mais...

Brasil na roda da fortuna

A onda de novos milionários criada pelo ritmo alucinante de aberturas de capital de empresas no ano passado não será a única a aquecer o setor de private bank no país. Uma nova geração de empreendedores está a caminho de conquistar seu primeiro milhão. Esse é um processo que atiça os private banks mundiais e aumenta o interesse pelo Brasil. Essa nova leva de endinheirados, de executivos bem-sucedidos, na faixa dos seus 50 anos, disputa um lugar ao sol com jovens empreendedores de sucesso, e deve fazer com que o Brasil supere o México no campeonato latino-americano de fortunas.

A perspectiva para lá de positiva para o setor de private bank faz parte de um relatório elaborado pelo banco inglês Barclays, que avalia que o Brasil caminha no sentido de ter o maior número de milionários da América Latina, superando, inclusive, o México. De acordo com o levantamento do Barclays, o número de milionários no Brasil com mais de US$ 1 milhão deve chegar a 675 mil em 2017 - maior quantidade entre emergentes como China, Índia e Rússia, os chamados Brics. Segundo o relatório, o número de milionários brasileiros hoje é "desprezível" pelo banco inglês, mas números da consultoria Boston Consulting Group estimavam um total de 190 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão em 2007. Sendo assim, o número de milionários no país pode triplicar num prazo de dez anos.

Vale lembrar que esses valores levam em conta recursos livres para aplicação, ativos mantidos direta ou indiretamente como investimento, depósitos em dinheiro, fundos de curto prazo, recursos internos (onshore) e externos (offshore). "Até 2017, o Brasil será domicílio do maior número de milionários na América Latina superando o México, que hoje tem mais milionários", diz o estudo.

A riqueza no Brasil historicamente esteve concentrada nas mãos de um número reduzido de ricas famílias industriais, mas a atividade empresarial está se tornando mais importante, ressalta o estudo. "Os brasileiros são naturalmente empreendedores e é possível ver um aumento no setor empresarial", diz o relatório.

O que fará o país se consolidar como um dos principais mercados para o setor de private banking e "family office" (escritórios de gestão de grandes fortunas) é o processo de reconstrução da indústria de base brasileira, avalia René Werner, especialista em governança familiar e desenvolvimento societário. "O Brasil está num momento em que uma nova geração de empreendedores, na faixa dos 50 anos, se destaca e cujas empresas se inserem num contexto de companhias globais competindo de igual para igual."

O aumento no número de milionários tem feito o setor de private banking no Brasil crescer de 25% a 30% nos últimos anos. No ano passado, o segmento foi extremamente beneficiado pela avalanche de dinheiro decorrente do forte movimento de aberturas de capital. Agora, a maior leva deve vir dos executivos que exercem cargos de chefia.

Com a economia crescendo, os bônus dos executivos também devem ficar maiores e mesmo os salário podem melhorar, trazendo mais dinheiro para este setor, diz Lywal Salles, diretor executivo do Banco Itaú e responsável pelo private bank da instituição. "Entre os emergentes, o Brasil é onde há expectativa de crescimento maior", diz ele, lembrando que, nos Estados Unidos, maior mercado de milionários, o crescimento desse segmento deve ser menos por conta do desaquecimento econômico. "Na Europa e na Ásia, os mercados também já foram mapeados", afirma Salles. "Sobram os emergentes e o Brasil se destaca."

Na próxima década, os Brics deverão ter o mais significante ganho em termos de riqueza entre 50 países. "O mais importante desenvolvimento na próxima década, de acordo com nossa pesquisa, é a rápida escalada da riqueza doméstica nos principais mercados emergentes de China, Índia, Rússia e Brasil." Pelas projeções do Barclays, o Brasil, que é o 15º colocado entre os mais ricos, deverá pular para 12º em 2017. Não por acaso, alguns bancos estrangeiros de peso, como o Goldman Sachs, estão se voltando para o Brasil.

Entre os Brics, o ambiente econômico e estrutural favorece mais o Brasil, pois o país já conta com uma democracia consolidada, ao contrário de Rússia e Índia que ainda têm problemas nesse sentido, diz Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking. Além disso, pontua o executivo, a estrutura social permite a elevação por classe social conforme a acumulação de riqueza, o que não acontece na Índia, onde o sistema de castas não permite mobilidade. "Sem falar que o Brasil é conhecido por contar com bons profissionais, o que nos dá também uma vantagem competitiva."

Apesar do menor número de empresas vindo à bolsa, a atividade de fusões e aquisições continua aquecida, trazendo mais recursos para o país e, indiretamente, para o setor de private bank, lembra Helena McDonnel, diretora do private bank do HSBC no Brasil. Vários private equities - fundos que compram participação em empresas - estão vindo para o país e isso traz muita riqueza para cá, diz a executiva. "O potencial de crescimento na China é alto, mas não é um movimento que acontecerá agora", acrescenta Helena. "Já a Índia, já teve uma fase de grande criação de riqueza e o Brasil, portanto, se mostra o caminho mais rápido de crescimento do setor."


Por Luciana Monteiro, de São Paulo
18/06/08

Mais...

Milionários trazem de volta investimentos do exterior

O passado de incertezas políticas e econômicas, assim como a longa história de hiperinflação, fizeram com que muitos brasileiros mantivessem seus recursos no exterior. Mais recentemente, a melhora econômica e estabilidade política têm encorajado muitos desses endinheirados a voltar suas atenções para o mercado doméstico, ressalta o relatório do Barclays sobre milionários.

O advogado Léo Rosenbaum, do escritório Rosenbaum Advocacia, confirma essa tendência. Ele conta a história de um investidor de alta renda que, diante de melhores oportunidades de investimento no país, resolveu trazer de volta US$ 15 milhões que estavam no exterior, não-declarados. "Ele disse que nunca imaginou que traria de volta o dinheiro e que preferia pagar o imposto para aproveitar as oportunidades daqui", diz o advogado.

Há um movimento no sentido de os investidores aproveitarem as oportunidades presentes no mercado brasileiro, principalmente na renda fixa, diz Helena McDonnel, diretora do private bank do HSBC no Brasil. Ela lembra que a proporção de investimentos de brasileiros no exterior é menor do que a de argentinos fora do país. Números da consultoria Boston Consulting Group mostram que, no Brasil, 54% dos ativos dos milionários estão offshore e os outros 46% onshore. Já na Argentina, a proporção é de 68% de investimentos no exterior e, no México, é de 68%, mesmo percentual da Venezuela.

O relatório do Barclays destaca ainda que nos últimos anos, os brasileiros ricos têm investido pesadamente em imóveis. "O 'boom' do mercado imobiliário é liderado por uma classe média emergente com aspirações de comprar a casa própria", diz o relatório. O estudo afirma ainda que o crescimento da economia de mercado, juntamente com a globalização, mudanças tecnológicas e demográficas e o crescimento da demanda por commodities, tem contribuído para uma criação em massa de riqueza em muitos países.

Para Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking, a acumulação de riqueza a partir de agora deverá vir principalmente de executivos e com a valorização dos ativos. "Tem muita gente da classe média que tem se tornado milionário com o retorno de seus investimentos ou por ter participação nos lucros das companhias em que atuam", diz. No ano passado, a área private do Safdié registrou crescimento na faixa de 70% e, para este, a expectativa é de 35%.

Segundo o relatório do Barclays, quando a riqueza é dividida entre a parte financeiras e a não-financeira (como obras de arte, por exemplo), os Estados Unidos lideram nos dois quesitos hoje e isso deve se manter nos próximos 10 anos. Atualmente, diz o relatório, há 16,6 milhões de ricos locais cuja riqueza supera U$ 1 milhão. A previsão é de que esse número suba para 29,7 milhões em 2017. "Nenhum outro país no mundo irá chegar perto desse crescimento em termos absolutos", diz o estudo. Na próxima década, os EUA também verão o número de milionários locais com mais de US$ 5 milhões crescer de 1,4 milhão para 3,5 milhões.


Por Luciana Monteiro, de São Paulo
Valor Online, 18/06/08

Mais...



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br