quinta-feira, 19 de junho de 2008

Brasil na roda da fortuna

A onda de novos milionários criada pelo ritmo alucinante de aberturas de capital de empresas no ano passado não será a única a aquecer o setor de private bank no país. Uma nova geração de empreendedores está a caminho de conquistar seu primeiro milhão. Esse é um processo que atiça os private banks mundiais e aumenta o interesse pelo Brasil. Essa nova leva de endinheirados, de executivos bem-sucedidos, na faixa dos seus 50 anos, disputa um lugar ao sol com jovens empreendedores de sucesso, e deve fazer com que o Brasil supere o México no campeonato latino-americano de fortunas.

A perspectiva para lá de positiva para o setor de private bank faz parte de um relatório elaborado pelo banco inglês Barclays, que avalia que o Brasil caminha no sentido de ter o maior número de milionários da América Latina, superando, inclusive, o México. De acordo com o levantamento do Barclays, o número de milionários no Brasil com mais de US$ 1 milhão deve chegar a 675 mil em 2017 - maior quantidade entre emergentes como China, Índia e Rússia, os chamados Brics. Segundo o relatório, o número de milionários brasileiros hoje é "desprezível" pelo banco inglês, mas números da consultoria Boston Consulting Group estimavam um total de 190 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão em 2007. Sendo assim, o número de milionários no país pode triplicar num prazo de dez anos.

Vale lembrar que esses valores levam em conta recursos livres para aplicação, ativos mantidos direta ou indiretamente como investimento, depósitos em dinheiro, fundos de curto prazo, recursos internos (onshore) e externos (offshore). "Até 2017, o Brasil será domicílio do maior número de milionários na América Latina superando o México, que hoje tem mais milionários", diz o estudo.

A riqueza no Brasil historicamente esteve concentrada nas mãos de um número reduzido de ricas famílias industriais, mas a atividade empresarial está se tornando mais importante, ressalta o estudo. "Os brasileiros são naturalmente empreendedores e é possível ver um aumento no setor empresarial", diz o relatório.

O que fará o país se consolidar como um dos principais mercados para o setor de private banking e "family office" (escritórios de gestão de grandes fortunas) é o processo de reconstrução da indústria de base brasileira, avalia René Werner, especialista em governança familiar e desenvolvimento societário. "O Brasil está num momento em que uma nova geração de empreendedores, na faixa dos 50 anos, se destaca e cujas empresas se inserem num contexto de companhias globais competindo de igual para igual."

O aumento no número de milionários tem feito o setor de private banking no Brasil crescer de 25% a 30% nos últimos anos. No ano passado, o segmento foi extremamente beneficiado pela avalanche de dinheiro decorrente do forte movimento de aberturas de capital. Agora, a maior leva deve vir dos executivos que exercem cargos de chefia.

Com a economia crescendo, os bônus dos executivos também devem ficar maiores e mesmo os salário podem melhorar, trazendo mais dinheiro para este setor, diz Lywal Salles, diretor executivo do Banco Itaú e responsável pelo private bank da instituição. "Entre os emergentes, o Brasil é onde há expectativa de crescimento maior", diz ele, lembrando que, nos Estados Unidos, maior mercado de milionários, o crescimento desse segmento deve ser menos por conta do desaquecimento econômico. "Na Europa e na Ásia, os mercados também já foram mapeados", afirma Salles. "Sobram os emergentes e o Brasil se destaca."

Na próxima década, os Brics deverão ter o mais significante ganho em termos de riqueza entre 50 países. "O mais importante desenvolvimento na próxima década, de acordo com nossa pesquisa, é a rápida escalada da riqueza doméstica nos principais mercados emergentes de China, Índia, Rússia e Brasil." Pelas projeções do Barclays, o Brasil, que é o 15º colocado entre os mais ricos, deverá pular para 12º em 2017. Não por acaso, alguns bancos estrangeiros de peso, como o Goldman Sachs, estão se voltando para o Brasil.

Entre os Brics, o ambiente econômico e estrutural favorece mais o Brasil, pois o país já conta com uma democracia consolidada, ao contrário de Rússia e Índia que ainda têm problemas nesse sentido, diz Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking. Além disso, pontua o executivo, a estrutura social permite a elevação por classe social conforme a acumulação de riqueza, o que não acontece na Índia, onde o sistema de castas não permite mobilidade. "Sem falar que o Brasil é conhecido por contar com bons profissionais, o que nos dá também uma vantagem competitiva."

Apesar do menor número de empresas vindo à bolsa, a atividade de fusões e aquisições continua aquecida, trazendo mais recursos para o país e, indiretamente, para o setor de private bank, lembra Helena McDonnel, diretora do private bank do HSBC no Brasil. Vários private equities - fundos que compram participação em empresas - estão vindo para o país e isso traz muita riqueza para cá, diz a executiva. "O potencial de crescimento na China é alto, mas não é um movimento que acontecerá agora", acrescenta Helena. "Já a Índia, já teve uma fase de grande criação de riqueza e o Brasil, portanto, se mostra o caminho mais rápido de crescimento do setor."


Por Luciana Monteiro, de São Paulo
18/06/08


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