quarta-feira, 28 de maio de 2008

Programa de consumo responsável: 5,5 bilhões de sacolas plásticas a menos

Com a presença do governador José Serra e de outras autoridades, a indústria do plástico e os supermercados de São Paulo vão formalizar nesta segunda, às 14h, o início do Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, que visa a reduzir o consumo de sacolas plásticas no país em 5,5 bilhões de unidades por ano – o equivalente a 30% do total atual de 18 bilhões – no período de 12 meses.

A cerimônia de abertura da Apas 2008, no Expo Center Norte, será palco para a assinatura do termo de implementação da iniciativa conjunta da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, do Instituto Nacional do Plástico (INP) e da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief), que conta com o apoio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

O programa estabelece a produção e distribuição de sacolas plásticas de melhor qualidade, fabricadas de acordo com a norma ABNT 14.937, capazes de acondicionar mais produtos, dispensando o uso sobreposto para evitar que se rompam (pesquisa de observação realizada pela SP Trade em 12 supermercados na cidade de São Paulo revelou que 13% dos consumidores utilizam as sacolinhas em duplicidade e, em 61% dos casos, ocupam menos da metade da sua capacidade). Mais resistentes, as sacolas poderão suportar até 6 quilos e serão identificadas com um Selo de Qualidade.

O projeto piloto será instalado no dia 29 (quinta-feira) em 18 lojas da Grande São Paulo – 14 das redes Pão de Açúcar e Carrefour e 4 de outras bandeiras – e depois espalhado para outras 9 capitais. O programa prevê ainda ações de educação para conscientizar os consumidores a usar apenas o número de embalagens necessário para transportar as compras. Os operadores de caixa e os empacotadores receberão treinamento específico para isso.

Sobre a Plastivida, o INP e a Abief
A Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, fundada em 1994, acumula grande conhecimento em áreas como educação ambiental, responsabilidade social e legislação sobre manejo de resíduos sólidos urbanos, coleta seletiva e reciclagem e vem promovendo a interação entre a sociedade, os governos e as indústrias do setor. A utilização ambientalmente correta do plástico está entre seus principais objetivos.

O Instituto Nacional do Plástico (INP) iniciou suas atividades em 1989 com o propósito de atuar como vertente tecnológica da cadeia produtiva do plástico. Trabalha ainda no sentido de tornar o mercado brasileiro de plásticos mais competitivo no cenário internacional e desenvolve projetos a partir das seguintes frentes de trabalho: Qualidade e Produtividade, Tecnologia, Agronegócio, Qualificação Profissional, Normalização, Imagem do Plástico e Exportação.

A Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), criada em 1977, reúne hoje 166 empresas responsáveis pela produção de diversos tipos de embalagens. Tem como um de seus principais objetivos promover a integração de toda a cadeia produtiva do plástico até a empresa usuária de embalagem. A entidade também fomenta a reciclagem de conhecimentos e a atualização tecnológica e mercadológica das empresas do setor nos âmbitos nacional e internacional.


Envolverde, 28/05/28
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Global Forum apresenta cases de sucesso

Tecnologias limpas, empreendedorismo e tecnologias sociais, governança corporativa e políticas públicas e sustentabilidade são alguns dos temas a serem explorados nos 86 resumos científicos e relatos empresariais a serem apresentados no Global Forum América Latina. O encontro, que acontece em Curitiba, de 18 a 20 de junho, reunirá universidades, empresas, poder público e sociedade civil para repensar o papel da educação para os negócios, com foco na sustentabilidade.

A iniciativa é do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), Unindus – universidade corporativa do Sistema Fiep, Case Western Reserve University (EUA), Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD).

Os trabalhos foram selecionados dentre 120 inscritos, avaliados por doutores de todo o Brasil, selecionados pela FGV. Os resumos estão divididos em doze áreas temáticas: empreendedorismo e tecnologias sociais; eco-eficiência e produção mais limpa; gestão do relacionamento; políticas públicas e sustentabilidade; base da pirâmide; tecnologias limpas; governança corporativa; transformação organizacional; finanças sustentáveis; ética na comunicação e marketing; agronegócio sustentável e mudanças climáticas.

O Global Fórum se propõe a ajudar a construir caminhos para que a sustentabilidade seja inserida de forma efetiva nas agendas das organizações. Os resultados desta edição latino-americana serão levados ao Global Fórum mundial, marcado para 2009.
Outras informações sobre o evento e inscrições no site www.globalforum.com.br.

Tecnologias limpas

O trabalho “Águas de chuvas para usos residenciais”, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos destaques na área temática “Tecnologias limpas: Inovação e reposicionamento para a sustentabilidade”. Na avaliação de João Marcelo do Nascimento, responsável pelo projeto, as águas de chuvas são elencadas como possíveis fontes alternativas de abastecimento de água, porém falta a consolidação dos dados que relacionem o tipo de uso pretendido com seu respectivo custo.

Dois países se destacam no design do sistema de coleta e reuso de água de chuva: a Alemanha, que utiliza cisternas e filtros subterrâneos e apresenta soluções mais completas de reciclagem de água de chuva, e a Austrália, mais simples, que utiliza filtros de descida e caixas d'água acima do nível do solo.

A Universidade Federal de Goiânia apresenta o estudo “Reciclagem de Pneus”, que cria uma nova forma de destinação de pneus inservíveis, com o objetivo de evitar o seu descarte no meio ambiente e ao mesmo tempo desenvolver um produto que seja capaz de produzir benefício ambiental.

De acordo com Estevão Julio Walburga Keglevich de Buzin, aluno da universidade e desenvolvedor do projeto, a proposta é uma solução para os problemas das enchentes em grandes cidades. “Os pneus usados na construção das mini-cisternas de drenagem serão aqueles já destinados ao descarte. As mini-cisternas de drenagem serão utilizadas para absorção da água pluvial, podendo ser colocadas em calçadas, parques públicos, jardins, rotatórias, quintais”, explica.

Empreendedorismo e tecnologias sociais

Os trabalhos apresentados na área temática empreendedorismo e tecnologias sociais descrevem o desenvolvimento e uso destas tecnologias, principalmente com atuação em rede.

Um deles dos trabalhos nesta área é o “5 acessos para o fortalecimento e integração do empreendedorismo comunitário”. Desenvolvido pela Associação Aliança Empreendedora, de Curitiba, o trabalho apresenta um processo de integração e fortalecimento em rede de microempreendedores e grupos produtivos comunitários de diversas regiões e realidades mas com necessidades, talentos e ativos comuns e complementares.

De acordo com Rodrigo de Méllom Brito, responsável pelo estudo, o trabalho utiliza uma metodologia integral de apoio, integração e fortalecimento de grupos produtivos comunitários e microempreendedores e de públicos e comunidades de baixa renda, envolvendo uma série de parcerias que venham a focar, integrar e fortalecer 5 pilares estratégicos: acesso a informação e conhecimento, acesso a capital, acesso a mercado, acesso a infra-estrutura e acesso à cidadania. Esses pilares respondem e completam as 5 maiores lacunas e dificuldades responsáveis pelo fracasso dos microempreendimentos no Brasil.

“Esta metodologia vem sendo ano a ano comprovada pelos projetos e resultados gerados de aumento no número de postos de trabalho, produtos criados, canais de venda desenvolvidos e receitas geradas pelos grupos e microempreendedores apoiados”, afirma.


Envolverde/Mercado Ético, 28/05/08
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RSE na Mídia: os jornalistas e o desenvolvimento sustentável

Primeira atividade da Conferência Internacional 2008, do Instituto Ethos, o debate RSE na Mídia levou mais de 250 pessoas ao Grande Auditório do Anhembi. Todos os anos, este é um dos momentos mais importantes para que profissionais de comunicação participem de uma reflexão sobre os rumos do movimento da Responsabilidade Social e como os meios de comunicação estão cobrindo o tema. Houve um crescimento dos espaços dedicados a RSE e sustentabilidade, com a criação de editorias e cadernos especiais, além de haver mais profissionais interessados e capacitados nesta cobertura. Contudo, apesar dos avanços, a compreensão da transversalidade da responsabilidade social ainda é limitada. Também é pouco compreendido como esta pauta agrega valor ao negócio da comunicação.

No debate realizado no Anhembi estiveram presentes representantes de meios de comunicação e da academia, moderados pelo diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Empresarial, Paulo Nassar. Uma das vertentes abordadas pelos palestrantes foi a responsabilidade social das empresas de comunicação com seus públicos internos e não apenas em relação aos leitores. O diretor do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, apontou as políticas de recursos humanos das grandes empresas de comunicação como um fator importante para a compreensão da RSE pelas empresas. Para ele, as empresas de comunicação não estão implementando políticas internas de responsabilidade social, o que torna difícil fazer com que as redações se aventurem nesta pauta. Esta opinião é compartilhada por Paulo Nassar, para quem as empresas de comunicação atuais ainda vivem em um modelo de gestão do século passado.

O grupo de debatedores era formado por Ramonet, Julio Moreno, ex executivo do Grupo Estado e atualmente coordenador de jornalismo da TV Cultura, Ingrid Bejerman, professora de jornalismo internacional da Universidade de Concórdia, no Canadá e Pollyana Ferrari, professora de jornalismo digital da PUC/SP. Para este grupo, moderado por Paulo Nassar, a cobertura da mídia sobre RSE ainda enfrenta obstáculos de compreensão do tema. Repórteres e editores ainda buscam a pauta fácil, baseada na tragédia e no espetáculo, sem uma reflexão dos impactos das ações em outras áreas do conhecimento. “O jornalista que escreve em economia não faz a ligação de suas pauta com os temas que estão na página de geral”, disse Pollyana Ferrari. Um exemplo é a cobertura da indústria automobilística, que mostra o sucesso das vendas, mas não constrói o vínculo com o modelo de transporte urbano e o trânsito das metrópoles.

Para a professora Ingrid Bejerman existe a necessidade de preparar os profissionais de imprensa para uma abordagem transversal das pautas. Ela acredita que parte do esforço para levar os temas da sustentabilidade para a mídia é do jornalista, que deve fazer um movimento pessoal nesta direção. “A qualificação do jornalista não é papel apenas das empresas, isto é um patrimônio pessoal que agrega valor e credibilidade ao seu trabalho”, disse. Ingrid também fez uma reflexão sobre as condicionantes de pautas supostamente impostas por empresas ou anunciantes. “O jornalista é um intelectual e deve ter a capacidade de fazer suas próprias opções. Se um profissional está seguro do conteúdo e da ética de seu trabalho, deve fazer valer sua opinião”, afirma.

Esta linha também foi apoiada pelo coordenador de jornalismo da TV Cultura, Julio Moreno, para quem o jornalismo vive de boas histórias e de bons profissionais. “O trabalho jornalístico de qualidade é a matéria prima das empresas de comunicação”, diz Julio. Ele também mostrou que algumas mídias estão criando espaços para a cobertura de RSE, que na TV Cultura tem programas como o Repórter Eco e o Balanço Social, além de incorporar as pautas da sustentabilidade em seus telejornais diários. “Tv e as novas tecnologias, como a Internet, são espaços privilegiados da pauta especializada”, disse Julio Moreno. Estas novas tecnologias também são apontadas por Pollyana Ferrari como um espaço privilegiado, com muita interatividade, onde o leitor não é apenas um “sujeito passivo”, mas um interlocutor da notícia. “A notícia hoje é quase como as músicas em MP3, todo mundo baixa, lê e ouve o que quer, em uma valorizaçãodo assunto e do autor”, diz Pollyana. Por esta facilidade em obter informação por fontes múltiplas é que o papel do jornalista se torna mais relevante, explica Ingrid Bejerman, para quem as mídias alternativas cumprem um papel central no debate quando se trata de pautas inovadoras. “Os jornalistas devem estimular o pensamento, o raciocínio crítico e a manter viva a veia da investigação”, explica.

O debate RSE na Mídia, já tradicional nas Conferências do Instituto Ethos, reuniu na platéia alguns dos mais importantes nomes da cobertura de RSE na imprensa brasileira. Amélia Gonzalez, que edita o caderno Razão Social, de O Globo, disse que a mídia ainda precisa avançar muito em relação ao estímulo ao leitor e à reflexão em relação à sustentabilidade. Para ela este espaço proporcionado pelo Ethos é um momento importante e que deve ser aproveitado para construir uma ponte entre a mídia e as empresas que estão na vanguarda do movimento.

A gaúcha Silvia Marcuzzo, que escreve para diversos veículos como free lancer, e é repórter da EcoAgência, de Porto Alegre, acredita que a pauta da responsabilidade social somente vai ganhar mais espaço na imprensa a partir de um convencimento dos editores e dos donos das empresa. “São poucas famílias”, disse. Esta é também a opinião de diversos jornalistas presentes ao debate. Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos, que fez o encerramento do debate, destacou a importância da mídia como aliada na transformação dos paradigmas de produção e consumo necessários para a construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico e social. “A informação é a chave para a transformação”, concluiu.

Adalberto Wodianer Marcondes
Agência Envolverde, 28/05/08
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Seu dinheiro está trabalhando para quem?

Veja como o destino de suas aplicações também diz respeito ao consumo consciente

Você é um consumidor consciente e, por isso, se preocupa com os impactos causados pelos seus atos diários de consumo. Quando faz suas compras procura sempre privilegiar as empresas social e ambientalmente mais responsáveis. Faz um bom uso do seu dinheiro e gasta naquilo que realmente é necessário para a sua vida. Além disso, pensa no futuro, e coloca seus excedentes financeiros em fundos de aplicação disponíveis no mercado.

Mas você já se perguntou para onde vai o seu dinheiro quando ele é aplicado? Você tem idéia sobre onde o banco ou a instituição financeira efetivamente coloca as suas economias para render?

Pois é, cada vez um número maior de pessoas está se fazendo essas perguntas e buscando direcionar seus investimentos de acordo com critérios que vão além dos estritamente financeiros, ou seja, da garantia e da rentabilidade. Elas querem que suas economias sirvam também para financiar operações de empresas que buscam agir com responsabilidade social e ambiental.

Para atender às demandas desses investidores, surgiu o mercado de finanças “socialmente responsáveis”, ou seja fundos que garantem ao investidor que seu dinheiro será destinado exclusivamente para apoiar empresas que procuram a sustentabilidade ou nos quais, parte dos rendimentos é direcionada para organizações que trabalham em prol da sustentabilidade.


Ações Sustentáveis
Para apoiar os investidores brasileiros que tem uma preocupação com a sustentabilidade foi criado o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Criado em dezembro de 2005 pela Bovespa, o ISE é composto por um conjunto de empresas selecionadas com base em critérios ligados ao desenvolvimento sustentável e à responsabilidade ética das corporações.

As empresas incluídas no ISE são aquelas que apresentam o melhor desempenho do ponto de vista do Triple Botton Line (TBL), isto é, envolvendo elementos ambientais, sociais e econômico-financeiros. Aos princípios do TBL, foram adicionados outros três indicadores: governança corporativa, características gerais e natureza do produto.

A metodologia do ISE foi desenvolvida pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (Gvces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP). Com base nos critérios do ISE, está hoje selecionado um conjunto de 40 ações de 32 empresas. “Ali estão listadas as empresas que se destacaram nas respostas e, atenderam aos critérios estabelecidos pelo índice”, esclarece Roberta Simonetti, Coordenadora Executiva do ISE e Coordenadora do Programa de Sustentabilidade Empresarial da GVCes. “Fazer parte do ISE demonstra a preocupação e busca pela sustentabilidade”, complementa Roberta.

O número máximo de ações a serem incluídas no ISE não deverá superar 40. “O objetivo dessa medida é a de aprimorar a qualidade do índice, pois mesmo que uma empresa esteja de acordo com os critérios do ISE, ela poderá ser descartada por outra que apresente uma avaliação superior” informa Rogério Marques, Supervisor de Assistência ao Mercado da Bovespa.

Segundo Marques o ISE já representa um grande atrativo, “principalmente para o investidor que pensa em longo prazo e gosta de apostar em empresas com selo verde pela maior probabilidade de retorno da aplicação e também para aqueles, que não querem ser sócios de uma companhia que polui o meio ambiente", afirma. .

Existem fundos de investimento que escolhem investir exclusivamente em ações listadas no ISE. Desta forma, dão ao investidor a garantia de que estará usando seu dinheiro para investir a favor da sustentabilidade, apoiando empresas e grupos empresariais comprometidos com o cuidado social e ambiental, em adição à preocupação com os retornos financeiros.

Outros fundos comparam o seu desempenho com o das ações que compõe o ISE. Desta forma, comparam o desempenho do conjunto de ações escolhido para compor o fundo com o desempenho das ações que compõe o ISE. É uma maneira do investidor ter um elemento de comparação para a sua decisão de investimento social e ambientalmente responsável.

Bancos oferecem opções para todos os bolsos
Em adição aos fundos que investem em ações listadas no ISE, alguns bancos criaram fundos de investimentos com critérios sociais e ambientais além do retorno financeiro.

No Brasil e na América Latina, o Banco Real ABN Amro, parceiro pioneiro do Instituto Akatu, foi o pioneiro ao criar o primeiro fundo de ações composto exclusivamente de empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, o Fundo Ethical, criado em 2001. Hoje o Ethical é o segundo maior fundo de ações do banco e representa 20% do total aplicado no segmento de fundos socialmente responsáveis.

Outro exemplo de fundo de investimentos em ações é o do Banco Itaú, parceiro pioneiro do Instituto Akatu, que possui o Fundo Itaú de Excelência Social. Os recursos são aplicados em ações de empresas que possuem práticas que evidenciam responsabilidades sociais diferenciadas, que englobam Governança Corporativa (grau de transparência e segurança na divulgação de informações sobre a empresa e a responsabilidade dos acionistas controladores perante os minoritários), Práticas Sociais (políticas socialmente responsáveis com respeito aos empregados, consumidores, fornecedores e comunidade) e de Gestão Ambiental (políticas e práticas que evidenciam esforços da empresa em proteger e preservar o meio ambiente).

Nele, metade da taxa de administração cobrada dos aplicadores é destinada para ONGs da área de educação, incluindo de educação ambiental. Em janeiro último, o Itaú anunciou a liberação de 3,3 milhões de reais para financiamento de projetos das organizações participantes do fundo. A aplicação mínima do Fundo Itaú de Excelência Social é de R$ 500,00 e o investidor vai obter seus ganhos de acordo com a valorização das ações de empresas participantes do fundo. “O Itaú está sempre atento às possibilidades de lançamento de novos produtos como o Excelência Social”, informa Flavio Pires, superintendente de Investidores Institucionais do Banco Itaú, sobre o futuro dos fundos sócio ambientais do banco.

Uma modalidade de aplicação mais diretamente ligada à conservação ambiental é o título de capitalização oferecido pelo Bradesco, parceiro mantenedor do Akatu. O Pé Quente Bradesco Amazonas Sustentável destina parte do valor arrecadado à Fundação Amazonas Sustentável, que desenvolve programas e projetos de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável no Estado do Amazonas. Com aplicações mensais de R$ 20, o investidor, além de contribuir para a conservação da maior floresta tropical do mundo ainda concorre a prêmios pela Loteria Federal e ao final do plano recebe o dinheiro de sua aplicação atualizado pela TR.

Para os investidores mais conservadores, que não querem investir em fundos de ações, existem outras alternativas, aplicações em renda fixa, por exemplo. Mais focado na área social, o Banco do Brasil possui o fundo BB Referenciado DI Social 200. Como o próprio nome revela, o fundo exige uma aplicação inicial de R$ 200,00. Metade, 50% da taxa de administração do fundo, é destinada a programas sociais por meio da Fundação Banco do Brasil. Em 2006, o Banco do Brasil investiu R$ 1,4 milhão, proveniente desse fundo, na geração de trabalho e renda em comunidades carentes.

O Unibanco, parceiro mantenedor do Instituto Akatu, possui dois fundos voltados ao apoio a 11 entidades e projetos sociais dedicados à educação de crianças e adolescentes. Um deles é o Unibanco Private Social, fundo de renda fixa no qual o investidor tem a garantia de receber o mesmo rendimento da poupança, doando a diferença, que gira em torno de 40% do CDI, ao programa. O Unibanco contribui com a taxa de administração. Já no Unibanco Multigestor Social II - uma carteira multimercado -, o investidor não contribui diretamente. Ele recebe cerca de 100% do CDI em suas aplicações, e o banco contribui com a taxa de administração.

Estes são apenas alguns exemplos de possibilidades de investimentos com preocupações sociais e ambientais disponíveis no mercado. Caso você não seja correntista dos bancos citados, vale a pena conversar com o gerente do seu banco. Talvez ele tenha sugestões interessantes. “Esse mercado ainda é muito novo e incipiente, mas até pelo posicionamento e preocupação das empresas com o tema, ele tende a crescer no futuro” afirma Flavio Pires, superintendente do Itaú. O volume das aplicações nesse segmento está em torno de 0,8% do total dos capitais investidos em fundos de ações. Quanto aos rendimentos, eles ficam, em geral, próximos aos das aplicações convencionais.

Mas o setor promete pelo que se vê em mercados mais maduros. O Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da Bolsa de Valores de Nova York, é um indicador que permite avaliar essa geração de valor. O índice lista ações de um grupo de empresas do mundo todo que possuem solidez financeira e uma postura de responsabilidade ambiental e social. Seu desempenho tem sido consistentemente melhor que o registrado pelo Índice Geral Dow Jones. De 1993 a 2004, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade teve valorização de 177% enquanto o índice geral Dow Jones teve 134% no mesmo período, segundo dados do Sustainability Index (www.sustainability-index.com).

O melhor argumento para a disseminação do investimento social e ambientalmente responsável, segundo especialistas, é mostrar que a busca da sustentabilidade vai gerar mais lucro para a empresa, maior retorno para os acionistas e bônus mais generosos para os gestores.

Fique atento ao dinheiro que fica parado na conta corrente
Mas ainda resta uma última questão: às vezes, uma certa quantia fica parada na conta corrente sem render nada para o correntista. “O dinheiro das contas correntes permanece no caixa comum do banco até a sua utilização”, esclarece Flavio Pires, do Itaú, informando sobre uma regra que vigora em todas as instituições financeiras. Estando na caixa comum, ele será gerido, e aplicado, pelo banco. Esse é um outro caso em que você não saberá para qual finalidade seu dinheiro estará sendo usado ou quais atividades estarão sendo financiadas por ele. Portanto, pense na possibilidade de aplicar esse valor nos fundos descritos acima ou até mesmo na caderneta de poupança. Como os recursos da poupança são destinados ao financiamento da casa própria para a população brasileira, pode-se afirmar que você já estará fazendo uma aplicação digna de um consumidor consciente.

Conheça o ISE
O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) é composto por ações emitidas por empresas que apresentam alto grau de comprometimento com a sustentabilidade e a responsabilidade social e ambiental.

As 137 empresas responsáveis pelas 150 principais ações negociadas na bolsa paulista recebem um extenso questionário com 150 perguntas que abrangem questões ligadas às dimensões econômico-financeiras, sociais e ambientais , cujas respostas são então avaliadas a partir de quatro conjuntos de critérios: Políticas (indicadores de comprometimento); Gestão (planos, programas, metas e monitoramento); Desempenho (indicadores de performance); e Cumprimento Legal (cumprimento de normas nas áreas ambiental, trabalhista, de concorrência, junto ao consumidor entre outras).

O conjunto das ações que compõe o índice é revisado anualmente com base nos procedimentos e critérios para a escolha de cada ação a ser incluída no ISE:

Critérios de inclusão
1. Ser uma das 150 ações com maior índice de negociabilidade apurados nos doze meses anteriores à reavaliação.
2. Ter sido negociada em pelo menos 50% dos pregões ocorridos nos doze meses anteriores à formação da carteira;
3. Atender aos critérios de sustentabilidade apurados no questionário preenchido anualmente.

Critérios de exclusão
1. Se a empresa emissora entrar em regime de recuperação judicial ou falência.
2. No caso de uma oferta pública resultar em retirada de circulação de uma parcela significativa de ações da empresa do mercado.
3. Se algum fato alterar significativamente os níveis de sustentabilidade e responsabilidade social da empresa (caberá ao Conselho do ISE avaliar sobre sua exclusão).
4. Se a empresa não atender aos critérios de sustentabilidade apurados no questionário.


Redação Akatu
Envolverde, 28/05/08
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Comércio-África: A China cada vez mais próxima

Brasil e Portugal, dois dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) com capacidade para grandes investimentos no exterior, decidiram consolidar uma solução pragmática e transitar pela cooperação em lugar da competição com a China na África de língua portuguesa. Nesta linha de ação, mais de 300 empresários e representantes de instituições de promoção da CPLP e empresários chineses decidiram continuar a exploração das oportunidades de negócios entre o gigante asiático e os países de língua portuguesa de todo o mundo, um universo de oito países com 235 milhões de habitantes.

O IV Encontro para a Cooperação Econômica e Comercial reunirá entre hoje e sexta-feira em Cidade da Praia, capital da ex-colônia-arquipélago portuguesa de Cabo Verde, na África ocidental, os expoentes pioneiros das relações entre China e os membros da CPLP, protocolo criado em outubro de 2003 em Macau. A presença de uma delegação autônoma de empresários de Macau tem especial importância para as relações entre China e CPLP (Brasil Angola, Cabo Verde, Guinébissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), devido ao papel central desempenhado pelo ex-enclave português, que hoje conta com um estatuto autônomo de Pequim. A este fato se une a sintonia entre os países-membros da CPLP e Macau, administrado por Portugal entre 1557 e 1999 e que é considerado uma “relíquia étnica” de língua portuguesa na Ásia.

A reunião denominada “Cabo Verde como Plataforma para Comércio e Serviços” tem o propósito de “facilitar o contato entre pequenas e medias empresas, para identificar segmentos de mercado e intensificar as relações comerciais”, disse à agência portuguesa Lusa Alexandre Fontes, presidente de Cabo Verde Investimentos. Em termos semelhantes, em declarações à mesma agência, o subsecretário do “Fórum Macau”, Manuel Rosa, explicou que, aproveitando as características do ex-enclave luso, “decidiu-se criar mecanismos que favoreçam as relações comerciais com a China”, verificando-se que depois destas reuniões o comércio cresce. Rosa destacou que constituía “uma grande vantagem econômica” negociar com Brasil ou China, sendo que Cabo Verde pode servir de trampolim de comércio destes países e dos europeus com todo o continente africano.

O otimismo também primou no administrador da Agência Portuguesa para Investimentos e Comércio Exterior (AICEP), Renato Homen, ao afirmar que “Portugal pode ser uma espécie de plataforma entre continentes”. Recordou que esse país, além de suas relações privilegiadas com Macau, desde sua localização na Europa está em boa posição para transações com a África, os Estados Unidos e o Brasil. Segundo Fontes, China e Portugal têm “interesses complementares”, já que oferecem “produtos diferentes”, e Cabo Verde pode servir “para colocar esses produtos na costa ocidental africana”.

O presidente da Cabo Verde Investimentos também destacou a importância das grandes delegações das principais instituições da área dos três maiores países de língua portuguesa do mundo: Agência Brasileira de Promoções e Exportações, Câmara de Comércio e Indústria de Angola e Instituto de Promoção e Exportações de Moçambique. Mas, nem todas as visões sobre as relações da China com os países de luso-africanos contêm doses de otimismo tão acentuado como os de Rosa, Fontes e Homen.

“China-CPLP, ou, melhor dizendo, a globalização mais baixa impossível”, disse à IPS a pesquisadora italiana Marzia Grassi, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, especializada nos países de língua portuguesa da África. Grassi, economista diplomada na Universidade de Florença, na Itália, fez um detalhado trabalho de pesquisa sobre os “rabidantes” (comércio feirante), em Cabo Verde, que valeu seu título de doutora na Universidade de Lisboa. “Minha pesquisa (para a tese de doutorado), relacionada com o comércio informal varejista em Cabo Verde, mostra que os chineses chegaram ao arquipélago em grande número entre 1996 e 1997 e depois começaram a competir com os comerciantes locais, os “rabidantes”, afirmou.

Atualmente, nos países de língua portuguesa, “os negócios chineses crescem como fungos, oferecendo produtos que ali não são fabricados, de qualidade ínfima, tanto que em Cabo Verde já correm piadas sobre os calçados chineses, que duram apenas o tempo de uma cerimônia”. A presença comercial da China na África “é um bom exemplo da globalização para baixo, UE revoluciona o comércio transnacional e deixa vulnerável de maneira decisiva as atividades informais, das quais conseguem apenas sobreviver, com imensas dificuldades, milhões de habitantes desse castigado continente”, disse a pesquisadora italiana.

Embora seja certo que a China atenua a influência da Europa na África, este continente já livre do estigma colonial continua despertando apetites de cobiça, ao ser atualmente um dos mais sedutores espaços de negócios do mundo. Fernando Jorge Cardoso, do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais de Lisboa, afirma que existe uma tendência a exagerar a presença chinesa na África, que não ameaça interesses europeus, mas concorda com Grassi que, na realidade, sua crescente atividade será no futuro um problema para os próprios africanos. “Está completamente superestimada a ameaça chinesa na África’, assegura o pesquisador, recordando que o gigante asiático é competidor da Europa e com vantagens no setor da construção, mas não é assim em outros campos”.

Entretanto, poderá condicionar o progresso industrial africano, já que a China “não desenvolve uma política externa para a África, limitando-se a entrar onde existe a possibilidade de fazer negócios e seus cidadãos seguirem os caminhos que os levaram a todo o mundo”. A Europa continua em vantagem porque é uma região de grande desenvolvimento, que transfere tecnologia, ao contrário dos chineses, que não o fazem, disse Cardoso. Mas, alerta que os europeus não têm toda vantagem garantira na África, que agora conta com um cenário diversificado de relações, com Brasil, Estados Unidos, Índia e China.

Quanto aos países africanos de língua portuguesa, e apesar de sua postura crítica, Grassi admite que o crescimento da presença chinesa registrada nos últimos anos parece reforçar a premissa de que “o realismo obriga” à CPLP. A pesquisadora italiana admite o avanço “do trator chinês” e conclui, com evidente bom humor, citando o escritor boêmio Franz Kafgka (1883-1924): “Em sua luta contra o mundo, aconselho a unir-se ao resto do mundo”.


Mario de Queiroz, da IPS
Envolverde, 28/05/08
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Lixo vira jóia na economia solidária

Combinando meio ambiente com geração de renda, a Cooperativa de Coleta Seletiva, Processamento de Plástico e Proteção Ambiental (CamaPet), situada em Salvador (BA), buscou inspiração na beleza da mulher negra e criou uma coleção de bijuterias a partir de embalagens PET.

A ação é resultado de parceria com a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que ofereceu capacitação a membros da CamaPet. “Nossas aulas duraram um semestre e criamos as peças em conjunto”, conta Jovane Bispo, um dos cooperados a participar do Curso de Desenho Industrial da Uneb.

A coleção, intitulada Pérola Negra, inclui brincos, pulseiras, colares e outros acessórios.“A CamaPet também produz peças como porta-retratos, luminárias e poltronas”, acrescenta Alessandro Campos, agente de Desenvolvimento do Brasil Local (Projeto da Secretaria Nacional de Economia Solidária) que acompanha o empreendimento. Segundo ele, os artigos são vendidos na loja da Cooperativa, em feiras e eventos.

"Esses produtos possibilitam agregar valor ao material reciclável, minimizar os impactos ambientais e gerar renda", avalia Joílson Santana, presidente da CamaPet. De acordo com ele, os recursos obtidos com a comercialização dos produtos são somados ao valor pago por horas trabalhadas aos 26 cooperados da instituição. São, na maioria, jovens entre 16 e 25 anos que recebem em média um salário mínimo por mês.

Conhecimento levado adiante
Criada em 1999 a CamaPet surgiu a partir de uma ação do Centro de Artes e Meio Ambiente (Cama), que atua no território da Península de Itapagipe, agregando 14 bairros de baixa renda na capital baiana. "Nós participamos de oficinas para multiplicadores na área de meio ambiente e resolvemos colocar em prática o que aprendemos em aula”, relembra Santana.

Quase uma década depois, instalada num armazém inativo da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, no bairro Calçada, a CamaPet quer se fortalecer para continuar crescendo. Atualmente, além de transformar os resíduos em artigos de arte, a Cooperativa trabalha com manejo de metais, plásticos, papéis e vidro. O grupo coleta os resíduos nas pelas ruas da cidade ou diretamente em condomínios parceiros.

Depois, o material é separado e prensado na sede da entidade. "Nossa cadeia produtiva está estagnada nesse ponto", ressalta Santana. Mas o objetivo, segundo ele, é somar esforços com outros grupos de catadores para atender às exigências do mercado e minimizar os intermediários até chegar à indústria. “Se não atuarmos em rede fica difícil sair das mãos dos atravessadores", avalia.


Fernanda Barreto, para a revista Fórum
Envolverde, 28/05/08
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País regride em meta educacional para ODM

Proporção de alunos que permanecem na escola até concluir o ensino fundamental recua no Brasil, na contramão dos Objetivos do Milênio

O Brasil tem regredido na tarefa de garantir que todas as crianças completem um ciclo básico de ensino — uma das metas previstas nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM, um conjunto de avanços socioeconômicos que os países da ONU se comprometeram a alcançar até 2015). Os dados mais recentes do Ministério da Educação mostram que, se a situação não se alterar, apenas 53,8% dos alunos que em 2005 ingressaram na primeira série do ensino fundamental concluirão a oitava série.

O indicador, chamado de taxa esperada de conclusão — que estima a porcentagem de alunos que devem completar um ciclo de ensino —, é um dos usados no segundo Objetivo do Milênio, que prevê universalizar o ensino básico. A ONU sugere que o indicador se refira aos cinco primeiros anos de ensino (que seria equivalente no Brasil à primeira fase do ensino fundamental), mas não há informações sobre esse período no banco de dados do MEC, o Edudatabrasil, desenvolvido com apoio do PNUD. No entanto, o próprio governo brasileiro se auto-impôs uma meta mais ambiciosa: a de garantir que até 2015 100% das crianças concluam o ensino fundamental.

A taxa de conclusão do ensino fundamental estava em 51,9% em 1995, melhorou nos anos seguintes e chegou a 65,8% em 1997, mas desde então tem predominado uma tendência de queda. A proporção de alunos da primeira série que concluiriam a oitava era de 62,3% em 2001, caiu nos três anos seguintes (57,1% em 2002, 54,0% em 2003 e 53,5% em 2004) e subiu um pouco em 2005, para os 53,8%.

Todas as regiões brasileiras já estiveram melhores do que estavam em 2005. O Nordeste é o que tem a pior taxa (a cada dez estudantes que ingressam no fundamental, menos de quatro o concluem) e é o único em que o indicador de 2005 é inferior ao de 1995 (38,7% e 41,0%, respectivamente). No Sudeste, a taxa cai ininterruptamente desde 2002, de modo que a região, que tradicionalmente tinha os melhores números do Brasil, foi superada pelo Sul em 2005 (69,1%, contra 66,6% no Sudeste). A porcentagem é de 40,5% no Norte e 54,2% no Centro-Oeste.

Analistas apontam que esse fenômeno é parcialmente explicado pelo fato de que, nos últimos anos, as séries iniciais receberam um número maior de crianças, sobretudo de famílias mais pobres. Como enfrentam dificuldades de diversos tipos (transporte, saúde, necessidade de trabalhar para complementar a renda da família), elas freqüentemente abandonam os estudos antes de completarem a oitava série, o que reduz a taxa de conclusão.

"Em que pesem os limites desse indicador, o que vem à mente como primeira explicação é que nesse período de dez anos houve uma inclusão muito grande no acesso ao ensino fundamental, que significou incluir crianças que estavam nas piores condições sociais no país", afirma Paulo Corbucci, doutor em educação e técnico em planejamento e pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).

Parte do problema também está dentro da escola, avalia Tatiana Filgueiras, especialista em administração do terceiro setor e coordenadora de avaliação e desenvolvimento do Instituto Ayrton Senna. "A família dessas crianças não tem como custear a permanência em um lugar em que não estão aprendendo nada, e elas acabam deixando a escola. Quando você analisa os números de abandono por faixa econômica, os que estão mais prejudicados são os 20% mais pobres da população. A escola pública não está funcionando para eles, justamente para quem deveria funcionar." Tatiana destaca que "o aspecto da desigualdade na educação é imenso e um obstáculo para atingir quaisquer metas de qualidade e de fluxo que se estipule para o Brasil".

A taxa esperada de conclusão é baseada num cálculo matemático, conhecido como modelo de fluxo, que considera entrada e saída de estudantes no sistema de ensino, permeado por índices de aprovação, reprovação e abandono. "A partir do ano que vem, vamos ter o censo por aluno, e esse modelo vai ficar obsoleto. Assim, vamos saber, exatamente, quando o aluno entrou na primeira série, quando entrou na oitava ou quando abandonou a escola", afirma a especialista do Instituto Ayrton Senna.

Soluções
Para o Brasil cumprir essa meta dos Objetivos do Milênio, será necessária uma “intervenção muito séria” nos processos de dentro e de fora da escola, defende Corbucci, do IPEA. "O que o Ministério da Educação está defendendo agora, o aumento do percentual do PIB investido em educação, de 4% para 6%, é fundamental, principalmente para corrigir as desigualdades regionais. Essas desigualdades regionais estão fundamentalmente vinculadas à questão da renda. Não só, mas principalmente", afirma.

O aumento da verba para educação possibilitaria melhorar instalações, infra-estrutura, currículo, livro didático, alimentação escolar e a informatização das escolas. "Mas se tivesse de eleger uma entre as principais ações seria a questão do professor. Valorização, formação continuada e aquilo que está incluído no compromisso de metas Todos Pela Educação, a responsabilização. Não só do professor, mas de todos aqueles vinculados ao processo educacional", afirma.

A questão da responsabilização também é apontada como essencial por Tatiana Filgueiras. "Os profissionais têm de ser apoiados, em primeiro lugar, e responsabilizados por resultados. É preciso trazer um pouquinho do que se aprende com empresa para o universo de administração pública", propõe. "A escola pública perdeu o foco gerencial, que é o que os Objetivos do Milênio fizeram. Tem de estabelecer meta para o Brasil, para cada rede, para cada escola, para cada sala de aula e para cada aluno. As pessoas que trabalham nesse sistema integrado de educação têm de se responsabilizar pelo seu pedacinho. O professor na sala de aula tem de alcançar a meta dele, para que a sala alcance a meta dela, e depois a escola, para esse sistema subir novamente em conjunto", argumenta.

Corbucci ainda considera possível que o Brasil consiga atingir a meta dos Objetivos do Milênio, embora seja difícil. "Acho que o que importa não é a gente chegar aos 100% em 2015. O que importa é a gente estar caminhando em direção a isso. Mas estamos regredindo. Isso não pode."

O segundo ODM
Com o segundo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, sobre a universalização do ensino básico, os países da ONU se comprometem a garantir que "todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico", que seria o equivalente aos cinco primeiros anos. O Brasil assumiu para si metas mais rígidas: todas as crianças devem concluir o ensino fundamental (1ª a 8ª série; com a incorporação do antigo pré-primário ao ensino fundamental, será da 1ª à 9ª série).

Na prática, isso significa que o número de 53,8%, de 2005, terá de ser de algo próximo de 100% em 2015.



Osmar Soares de Campos, do Pnud

Envolverde, 28/05/08
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Brasileiros estão na lista dos 100 mais influentes

Alfredo Assumpção, CEO da Fesa Global Recruiters, descobriu a vocação para "hunting" no RH do Chase Manhattan
Foto Sergio Zacchi / Valor

Dois brasileiros foram incluídos na lista dos 100 headhunters mais influentes do mundo da revista "BusinessWeek". São eles: Alfredo Assumpção, CEO da Fesa Global Recruiters e Jacques Sarfatti, "managing director" da Russell Reynolds Associates.

A seleta lista reúne profissionais das mais diversas nacionalidades. A escolha, segundo a revista, levou em conta a reputação individual, os anos de experiência na área, o olhar global de suas práticas de recrutamento, sua visibilidade entre os clientes do mercado no qual atuam e o reconhecimento que possuem entre as firmas e a comunidade de "executive search" mundial.

O mercado de "executive search" movimenta atualmente U$ 10 bilhões no mundo. Nele, atuam hoje headhunters com perfis diversificados. São consultores, executivos de recursos humanos, autores, conselheiros, graduados em escolas de negócios de primeira linha, empreendedores ou conselheiros de confiança dos líderes mais poderosos do planeta.

Os brasileiros escolhidos pela revista têm backgrounds bem diferentes entre si. Assumpção, 57 anos, é economista. Sarfatti, 46 anos, é engenheiro. Mas ambos tornaram-se hedhunters depois de uma longa experiência profissional na indústria.

Assumpção, CEO da Fesa Global Recruiters, começou a carreira na Kibon como apontador de cartões de ponto, na área de recursos humanos. Aos poucos, foi galgando postos em outras companhias até chegar à direção de RH do banco Chase Manhattan. "O banco estava mudando seu perfil, de comercial para investimentos, e eu precisei buscar as pessoas certas para essa transição", conta. Foi nessa busca, que ele descobriu uma brecha no mercado e sua vocação para o "hunting".

Ele conta que era muito difícil encontrar profissionais com o perfil certo para os bancos de investimento. Decidiu então montar uma empresa que atendesse essa demanda por especialidades na área financeira, a Fesa. O negócio que começou pequeno há 12 anos, firmou uma parceria internacional com a IIC Partners em 2005. Hoje, atende os diversos setores da economia. "Só no primeiro trimestre deste ano nossa demanda aumentou 88% em relação ao mesmo período do ano passado", comemora. Em quatro anos, ele contabiliza um crescimento de 641%. Com a boa performance, o CEO da Fesa ganhou assento no "board" da IIC Partners como representante da região das Américas.

O "managing director" da Russell Reynolds Associates no Brasil, Jacques Sarfatti, começou a atuar na seleção de executivos em 1999. Ele havia iniciado a carreira como consultor na extinta Arthur Andersen (atual Accenture). Depois, ingressou no setor industrial. Seu primeiro grande desafio foi assumir a diretoria operacional da Rheem, fabricante de latas. "Comandei 1,2 mil pessoas, de quatro fábricas, durante três anos", lembra. Depois disso, foi diretor operacional da Alcoa.

Na Russell Reynolds, Safartti é responsável pelo recrutamento de executivos na área industrial. Há três anos, responde mundialmente pelo setor de commodities, que inclui metalurgia, siderurgia, papel e celulose e agribusiness. O headhunter acredita que o perfil de quem segue carreira como "caça-talentos" mudou radicalmente nos últimos anos. "Muitos vêm da indústria e não mais da área de recursos humanos", diz. O processo de seleção hoje é muito mais complexo, segundo ele. "É preciso entender do negócio e não apenas preencher uma vaga", diz.

As empresas estão mais exigentes em suas demandas por executivos e cobram resultados mais precisos dos headhunters. "Antes um executivo com inglês fluente era suficiente, hoje não é mais. Um MBA era o bastante, hoje não é mais. Conhecer a Europa e os Estados Unidos era importante, hoje eles precisam conhecer a Ásia", explica.

Safartti diz que a habilidade para encontrar bons técnicos é vital, mas agora existem outras exigências. As empresas querem executivos que se adaptem rapidamente a novas culturas e cabe aos recrutadores encontrar quem reúna as duas competências. "Nossa procura também é muito mais global", diz. Há nove anos, ele conta que costumava viajar esporadicamente para os Estados Unidos e Europa. "Hoje de 10 viagens por ano, duas pelo menos são para a Ásia".


Stela Campos, de São Paulo
Valor Online, 26/05/08

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Sindicatos negociam acordos para evitar multas


As dificuldades das empresas em cumprir as exigências da Lei nº 8.213, de 1991, a Lei de Cotas, têm levado a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo a fechar acordos com sindicatos de empregadores paulistas, que prorrogam por dois anos o período para a contratação de portadores de deficiências. Ao negociar estes prazos, as empresas conseguem ainda evitar multas por descumprimento da legislação, mas ficam obrigadas a cumprir determinadas metas. Ao todo, o órgão já firmou pactos com 14 sindicatos de diversos setores.

A Lei de Cotas estipula que o quadro de funcionários das empresas deve ser preenchido, num percentual de 2% a 5%, com a contratação de portadores de deficiência, sob o risco de pesadas multas - fator que nos últimos anos tem sido observado com rigor pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No Estado de São Paulo, por exemplo, entre 2001 e 2008, a superintendência aplicou 400 multas anuais, em média. Neste mesmo período, 85 mil deficientes foram contratados em função da fiscalização no Estado.

Segundo José Carlos do Carmo, fiscal da superintendência, os pactos objetivam garantir que as inclusões sejam realizadas com qualidade. Isto representa o cumprimento por parte das empresas de uma série de requisitos: programas de capacitação dos profissionais portadores de deficiência, adaptações arquitetônicas no ambiente de trabalho, criação de um banco de dados e a ampla divulgação das vagas existentes.

O primeiro acordo desta natureza foi fechado em 2006 com o Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo (Sindusfarma), representando 45 indústrias. Deste então, as empresas contrataram 906 deficientes, número inferior aos 1.300 a que se dispuseram a empregar no período. Do total de empresas participantes, apenas 5% conseguiu cumprir a cota integralmente.

Uma das dificuldades apontadas pelo setor é o fato de a maioria dos funcionários ser representante de vendas, o que exige dispendiosas adaptações nos veículos utilizados. Segundo Gabriela Tierno, diretora de recursos humanos da farmacêutica Astrazeneca, apesar das dificuldades, a companhia conseguiu cumprir a sua cota de 4% em 2007, o que significou a contratação de 40 portadores - todos para a área administrativa. Este ano, a empresa contratou mais 150 funcionários. "Tivemos que reduzir a exigência de conhecimentos dos contratados", diz Gabriela, referindo-se a outro problema enfrentado: a baixa escolaridade dos candidatos.

Na Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), que congrega cerca de dez empresas, o programa de capacitação para deficientes teve de incluir matérias escolares como matemática e português. Até agora, nenhuma das empresas da CCR - que juntas têm 4,5 mil funcionários - conseguiu cumprir a cota. Foram contratados apenas 55 portadores de deficiências. Por isso, a CCR está prestes a firmar um pacto com a Superintendência Regional do Trabalho.

Segundo a advogada Kátia Bicudo, coordenadora do programa de inclusão na CCR, a companhia não foi multada porque a superintendência percebeu o alto risco de portadores de deficiência cruzarem as rodovias. Cerca de 80% dos funcionários da CCR estão nos pedágios. "Queremos portadores não só na parte operacional, mas em áreas como direito e engenharia", diz Kátia.

Este mês, o setor de construção pesada, representado pelo Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo (Sinicesp), firmou um pacto para estender o cumprimento da Lei de Cotas por dois anos. Segundo César Augusto Del Sasso, supervisor jurídico do Sinicesp, que possui 800 empresas associadas, nenhuma delas atingiu o percentual exigido e algumas já foram autuadas. De acordo com Sasso, a dificuldade em incluir portadores no setor é que o trabalho da maioria dos funcionários é de risco. Há uma empresa do setor petrolífero, por exemplo, que precisa contratar 200 deficientes e, até agora, só conseguiu inserir oito, pois há 40 funcionários na área administrativa e dois mil nos dutos de escavação.

Até agora, o único pacto renovado foi o da indústria farmacêutica, mas, em setembro, há outro com chance de ser revalidado: o do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros de São Paulo (Sindeprestem), que reúne cerca de mil empresas fornecedoras de mão-de-obra em setores variados. De acordo com Joelma de Matos Dantas, supervisora jurídica do Sindeprestem, a maioria das empresas não aderiu ao pacto por receio de não cumpri-lo. Apesar disto, 60% das que aderiram conseguiram atingir a cota.

Apesar de não ter fechado nenhum acordo oficialmente, o setor bancário tem conseguido evitar as multas. Um exemplo é o HSBC, que possui 27 mil funcionários no país. O banco conseguiu contratar 560 deficientes desde 2005 - cerca de metade da cota. O banco possui um curso remunerado de capacitação, com duração de oito meses e, ao fim do mesmo, os portadores podem ser contratados. "Estamos cumprindo tudo o que prometemos à fiscalização, desde 2005", diz Luis Moura, gerente de recursos humanos do HSBC.


Luiza Carvalho, de São Paulo
Valor Online, 26/05/08

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Inclusão social no PNPB

Em janeiro de 2005, por meio da Lei 11.097, foi criado o Programa Brasileiro de Produção e Uso de Biodiesel - PNPB. O programa prevê, entre outras vantagens, a redução de tributos federais sobre a produção de biodiesel, desde que as empresas produtoras incluam, em seus projetos, a agricultura familiar, obtendo, assim, o Selo Combustível Social, um instrumento de incentivo ao setor produtivo e que tem contribuído para o desenvolvimento do programa. O resultado, após três anos, é que, praticamente inexistem no mercado projetos que não tenham a participação dos agricultores familiares.

Para analisar o alcance do programa na geração de ocupação e renda entre os agricultores familiares, realizamos recentemente uma pesquisa, pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações da FEA-RP/USP, junto aos produtores de Goiás, estado em que o PNPB tem avançado em função das condições oferecidas pelo programa para a região Centro-Oeste como um todo. Buscou-se medir qual o nível de variação na renda e na ocupação dos produtores inseridos no PNPB. O critério adotado foi a renda informada pelos produtores, com suas atividades no contrato que firmaram para o fornecimento de matéria-prima para o biodiesel, além da renda das demais atividades que continuaram a desenvolver.

Constatamos, na pesquisa, que a composição da renda familiar era constituída, principalmente, da produção de soja, algodão, milho, feijão e leite. Observamos também que os produtores utilizavam em média 68 hectares para o desenvolvimento de suas atividades e diminuíram para 39 hectares, após a entrada no programa, uma redução, portanto, de 77,11% em relação ao tamanho anterior. A área média encontrada nos contratos para a produção de biodiesel foi de 42 ha, uma área considerada grande para agricultores familiares. Não é difícil entender que a cultura da soja exige áreas maiores, para ser economicamente viável, do que culturas como a mamona.


A área média da cultura voltada para o biodiesel, 42 ha, somada com a área destinada a outras atividades, 39 ha, totaliza uma área de 81,21 hectares em uso. Isto significa que os produtores que entraram no PNPB aumentaram, em média, de 68 para 81 hectares, o que representa uma variação de 19,44%. Podemos perceber, assim, que existe uma divisão, ao meio, da área contratada para produzir matéria-prima destinada ao biodiesel e aquela das demais culturas. Essa decisão indica uma opção dos produtores familiares pela diversificação.

No gráfico a seguir, podemos visualizar a presença dos produtores em cada atividade e a renda média que cada uma delas proporciona.

Percebemos, pelo gráfico, que a soja, o milho, o leite e o arroz são as atividades mais importantes, tanto do ponto de vista da renda quanto da presença dos produtores familiares. Observamos, também, que os contratos pelo PNPB, por enquanto, têm provocado pequena mudança, pois a soja já era uma cultura que compunha parte das atividades desses produtores, e a mamona ainda é insignificante. Por outro lado, entende-se que isso pode ser considerado bom para os produtores, pois continuam produzindo a cultura com a qual já têm experiência, ou seja, a soja.

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O PNPB têm provocado pouca mudança de cultura, pois a soja já era utilizada e a mamona ainda é insignificante
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Isso pode significar também que grande parte dos produtores não está mudando de negócio, a não ser aqueles que estão produzindo mamona, mesmo que em pequenas áreas. A mudança total das culturas com as quais estão acostumados poderia representar um grande risco para esses produtores e para as empresas contratantes - daí, talvez a decisão de produzir soja e, no máximo, mamona em pequenas áreas. Essa é uma constatação de que os produtores familiares que estão sendo contratados, dentro do PNPB são produtores familiares tradicionais.

Em uma análise da renda dos produtores, o resultado encontrado foi de R$ 35.350,00, ou R$ 2.945, 33 mensais. Numa comparação por área, encontramos o valor de R$ 435,29/ha, uma variação positiva de 20,16% em relação ao valor anterior de R$ 362,26/ha.

Realizou-se, ainda, uma análise separada da renda total dos produtores, relacionada aos dois grupos pesquisados: soja e mamona. Encontrou-se uma diferença significativa entre esses dois grupos de produtores. Os produtores de mamona já apresentavam baixo nível de renda antes, situação que permaneceu depois de assinarem contratos com as empresas de biodiesel. Esse grupo representou na pesquisa cerca de 30% dos participantes.

Na tabela ao lado, podemos observar a renda dos produtores familiares com a produção de matéria-prima para a indústria do biodiesel.

Observa-se que, para 15,6% dos produtores, a renda líquida foi quase nula, enquanto para 6,2% foi de R$ 58.715,00, o que demonstra a distância entre os que ganharam mais e aqueles que ganharam menos. Em todas as análises constatamos, portanto, que existem dois grupos distintos de produtores familiares no PNPB: um bem estruturado do ponto de vista econômico, produzindo soja e, outro, mais fragilizado economicamente, produzindo mamona.

Essa grande distinção entre os produtores familiares que estão ingressando no PNPB pode contribuir para distorcer um dos principais objetivos do programa, que é produzir biodiesel de forma sustentável técnica e economicamente, promovendo a inclusão social, através da geração de ocupação e renda para grande parte da agricultura familiar. O desafio do governo e dos demais atores envolvidos com o programa, portanto, é estabelecer novas medidas que possam favorecer a participação desses produtores familiares que mais necessitam dos incentivos do programa, para que possam produzir e gerar sua própria renda.


Vicente da Rocha Soares Ferreira e Cláudia Souza Passador

Professor, mestre em administração pela FEA-RP/USP e membro do Instituto Volta ao Campo e do GPublic.
Socióloga, jornalista, professora do Departamento de Administração da FEA-RP/USP e Coordenadora do GPublic.

Valor Online, 26/05/08

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