quarta-feira, 28 de maio de 2008

RSE na Mídia: os jornalistas e o desenvolvimento sustentável

Primeira atividade da Conferência Internacional 2008, do Instituto Ethos, o debate RSE na Mídia levou mais de 250 pessoas ao Grande Auditório do Anhembi. Todos os anos, este é um dos momentos mais importantes para que profissionais de comunicação participem de uma reflexão sobre os rumos do movimento da Responsabilidade Social e como os meios de comunicação estão cobrindo o tema. Houve um crescimento dos espaços dedicados a RSE e sustentabilidade, com a criação de editorias e cadernos especiais, além de haver mais profissionais interessados e capacitados nesta cobertura. Contudo, apesar dos avanços, a compreensão da transversalidade da responsabilidade social ainda é limitada. Também é pouco compreendido como esta pauta agrega valor ao negócio da comunicação.

No debate realizado no Anhembi estiveram presentes representantes de meios de comunicação e da academia, moderados pelo diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Empresarial, Paulo Nassar. Uma das vertentes abordadas pelos palestrantes foi a responsabilidade social das empresas de comunicação com seus públicos internos e não apenas em relação aos leitores. O diretor do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, apontou as políticas de recursos humanos das grandes empresas de comunicação como um fator importante para a compreensão da RSE pelas empresas. Para ele, as empresas de comunicação não estão implementando políticas internas de responsabilidade social, o que torna difícil fazer com que as redações se aventurem nesta pauta. Esta opinião é compartilhada por Paulo Nassar, para quem as empresas de comunicação atuais ainda vivem em um modelo de gestão do século passado.

O grupo de debatedores era formado por Ramonet, Julio Moreno, ex executivo do Grupo Estado e atualmente coordenador de jornalismo da TV Cultura, Ingrid Bejerman, professora de jornalismo internacional da Universidade de Concórdia, no Canadá e Pollyana Ferrari, professora de jornalismo digital da PUC/SP. Para este grupo, moderado por Paulo Nassar, a cobertura da mídia sobre RSE ainda enfrenta obstáculos de compreensão do tema. Repórteres e editores ainda buscam a pauta fácil, baseada na tragédia e no espetáculo, sem uma reflexão dos impactos das ações em outras áreas do conhecimento. “O jornalista que escreve em economia não faz a ligação de suas pauta com os temas que estão na página de geral”, disse Pollyana Ferrari. Um exemplo é a cobertura da indústria automobilística, que mostra o sucesso das vendas, mas não constrói o vínculo com o modelo de transporte urbano e o trânsito das metrópoles.

Para a professora Ingrid Bejerman existe a necessidade de preparar os profissionais de imprensa para uma abordagem transversal das pautas. Ela acredita que parte do esforço para levar os temas da sustentabilidade para a mídia é do jornalista, que deve fazer um movimento pessoal nesta direção. “A qualificação do jornalista não é papel apenas das empresas, isto é um patrimônio pessoal que agrega valor e credibilidade ao seu trabalho”, disse. Ingrid também fez uma reflexão sobre as condicionantes de pautas supostamente impostas por empresas ou anunciantes. “O jornalista é um intelectual e deve ter a capacidade de fazer suas próprias opções. Se um profissional está seguro do conteúdo e da ética de seu trabalho, deve fazer valer sua opinião”, afirma.

Esta linha também foi apoiada pelo coordenador de jornalismo da TV Cultura, Julio Moreno, para quem o jornalismo vive de boas histórias e de bons profissionais. “O trabalho jornalístico de qualidade é a matéria prima das empresas de comunicação”, diz Julio. Ele também mostrou que algumas mídias estão criando espaços para a cobertura de RSE, que na TV Cultura tem programas como o Repórter Eco e o Balanço Social, além de incorporar as pautas da sustentabilidade em seus telejornais diários. “Tv e as novas tecnologias, como a Internet, são espaços privilegiados da pauta especializada”, disse Julio Moreno. Estas novas tecnologias também são apontadas por Pollyana Ferrari como um espaço privilegiado, com muita interatividade, onde o leitor não é apenas um “sujeito passivo”, mas um interlocutor da notícia. “A notícia hoje é quase como as músicas em MP3, todo mundo baixa, lê e ouve o que quer, em uma valorizaçãodo assunto e do autor”, diz Pollyana. Por esta facilidade em obter informação por fontes múltiplas é que o papel do jornalista se torna mais relevante, explica Ingrid Bejerman, para quem as mídias alternativas cumprem um papel central no debate quando se trata de pautas inovadoras. “Os jornalistas devem estimular o pensamento, o raciocínio crítico e a manter viva a veia da investigação”, explica.

O debate RSE na Mídia, já tradicional nas Conferências do Instituto Ethos, reuniu na platéia alguns dos mais importantes nomes da cobertura de RSE na imprensa brasileira. Amélia Gonzalez, que edita o caderno Razão Social, de O Globo, disse que a mídia ainda precisa avançar muito em relação ao estímulo ao leitor e à reflexão em relação à sustentabilidade. Para ela este espaço proporcionado pelo Ethos é um momento importante e que deve ser aproveitado para construir uma ponte entre a mídia e as empresas que estão na vanguarda do movimento.

A gaúcha Silvia Marcuzzo, que escreve para diversos veículos como free lancer, e é repórter da EcoAgência, de Porto Alegre, acredita que a pauta da responsabilidade social somente vai ganhar mais espaço na imprensa a partir de um convencimento dos editores e dos donos das empresa. “São poucas famílias”, disse. Esta é também a opinião de diversos jornalistas presentes ao debate. Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos, que fez o encerramento do debate, destacou a importância da mídia como aliada na transformação dos paradigmas de produção e consumo necessários para a construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico e social. “A informação é a chave para a transformação”, concluiu.

Adalberto Wodianer Marcondes
Agência Envolverde, 28/05/08
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