terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Grupo americano beneficia 6 milhões de pessoas no Brasil

Estudo inédito sobre o Investimento Social Privado de organizações americanas no Brasil mostra que 59 organizações, entre 46 empresas e 13 fundações, beneficiam diretamente 6 milhões de brasileiros. Ao todo, elas são responsáveis por 765 programas sociais no país, nos quais coordenam mais de 87 mil voluntários.

A pesquisa foi elaborada a partir de um levantamento junto a 59, das 104 companhias integrantes do Grupo +Unidos. O Grupo é uma parceria entre a Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), apoiados pela Câmara de Comércio Americana (AmCham).

“O +Unidos tem o propósito de desenvolver e divulgar iniciativas de responsabilidade social corporativa no Brasil. O estudo é uma forma de incentivo para que elas trabalhem de forma conjunta”, afirma o embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel.

Produzido pelo GIFE, o levantamento faz um mapeamento das ações sociais realizadas por essas organizações, presentes em todo o território nacional. Assim, foram analisadas as estratégias de investimento das companhias, tal como os repasses de recursos pela matriz americana, bem como sua efetiva participação na aplicação das verbas. Também foram mensuradas as instâncias envolvidas na administração do ISP e os processos de seleção e criação de projetos.

A partir da discussão desse relatório, o +Unidos busca criar o que chama de marco zero do Grupo. Com ele, será possível visualizar as oportunidades, os desafios e as tendências que irão nortear as ações do Grupo. Além disso, haverá organização de workshops, em que as empresas poderão trocar experiências. “Nós queremos ser exemplo para empresas trabalharem em parceria”, garante o presidente da Microsoft Brasil e co-chairman do grupo, Michael Levy

Principais resultados
O balanço consolidado do estudo refere-se às ações realizadas no ano de 2006 por essas 59 organizações. Nesse período, 765 ações foram apoiadas ou realizadas, em todos os Estados. Destas, 564 programas e projetos sociais desenvolvidos assistiram, prioritariamente, as áreas de educação, saúde, meio ambiente e formação para o trabalho. Já 201 ações de voluntariado foram aplicadas em áreas diversas.

Juntas, todas as ações beneficiaram diretamente, de “forma constante, regular e consistente” – veja publicação --, 6 milhões de brasileiros. O estudo mostra também que mais de 32 milhões de pessoas foram beneficiadas indiretamente por esse conjunto de ações, por meio de participações pontuais em projetos culturais, educacionais ou de saúde, por exemplo, ou ainda por intermédio da transmissão de conhecimentos por uma pessoa capacitada.

Entre as 46 empresas analisadas nesse trabalho, a maioria (63%) afirmou ter baseado sua estratégia de 2006 no financiamento de projetos de terceiros concomitantemente com a operação de projetos próprios. Mais da metade das empresas – 55% – declarou não se valer de orçamentos em investimento social para leis de incentivo fiscal.

Questionados sobre a influência da matriz para definir financiamentos de projetos, 52% dos respondentes afirmaram receber pouca ou quase nenhuma, tal como 41% deles disserem não utilizar auxílio de consultores na concepção dos programas.

Com relação aos principais impactos observados pelas organizações, a maioria, ou 59%, acredita que suas ações de ISP resultam na criação da chamada tecnologia social, isto é, desenvolvem métodos, técnicas ou processos que podem contribuir para solucionar problemas sociais aplicados em outras comunidades. Essa conclusão se dá a partir de monitoramentos técnico e financeiro realizados por 80% das empresas.

“Empresas americanas começam a visitar o Brasil para fazer parte desse Grupo e aprender com essas ações. O próprio (presidente eleito dos EUA) Barack Obama disse, para meu espanto, conhecer essas iniciativas”, conta Clifford Sobel

Objetivos do Milênio
As organizações pertencentes ao +Unidos obedecem como regra pétrea a missão do Grupo: “Fortalecer alianças entre os setores público e privado para otimizar e intensificar os investimentos de responsabilidade corporativa dos EUA no Brasil de forma sustentável, a fim de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.”

Assim, “Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento” é o líder das ações de ODMs desenvolvidas pelo +Unidos, com 27% dos programas realizados em 2006. Em segundo lugar recebeu atenção a meta “Combater HIV/AIDS, malária e outras doenças”, com 19% das ações.

O terceiro lugar em prevalência (18%) foi atribuído a ações diversas, que não se enquadram diretamente em nenhum dos oito objetivos. Em sua maioria, pertencem às áreas de cultura e assistência social, como: patrocínio a espetáculos, apoio à publicação de livros, doações para fundos municipais da infância e da adolescência são exemplos dessa categoria.

“Garantir a sustentabilidade ambiental” apresenta 17% das ações e ocupa a quarta colocação. Com 9% de ações, a meta de “Atingir o ensino básico universal” ocupou a quinta posição de programas realizados pelo +Unidos. 4% das ações foram destinadas à meta de “Erradicar a pobreza e a fome”.

“Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia entre as mulheres” ficou em sétimo lugar, com 3% das ações. E nas oitava e nona colocações, respectivamente, estão elencadas ações dedicadas às metas de “Redução da mortalidade infantil” (3%) e de “Melhorar a saúde materna” (menos de 1%).

Entre os programas menos desenvolvidos pelo Governo brasileiro, dois estão inclusos nos quatro principais programas do +Unidos. São eles o 8 e o 7. A Saúde Materna, considerada uma meta deficitária no País, é também um assunto pouco abordado pelas ações do +Unidos, o que indica uma importante oportunidade para a atuação futura das companhias.

“Esse estudo torna-se um compêndio da atuação deles. Assim, eles podem identificar as áreas com menores investimentos e criar projetos focados”, considera Michael Levy.

Áreas de atuação
Entre as 564 ações realizadas pelas organizações, 44% tem como prioridade a educação. Para essa área foram realizados projetos de abrangência para todos os níveis de ensino e ampla faixa etária (da primeira infância à educação continuada para adultos). Adoção de escolas próximas às fábricas, capacitação de professores, apoio financeiro a entidades que promovem educação, envolvimento da comunidade, oferta de livros, computadores e softwares, reforço escolar, premiações exemplificam essas iniciativas.

Em seguida, foram promovidas ações para a saúde, com 153 iniciativas (27%); meio ambiente, totalizando 109 programas (19%), e formação para o trabalho, compondo 89 ações (16%).

Na seqüência, registraram-se 69 iniciativas (13%) de apoio e assistência a pessoas em situação de exclusão social. Cabe salientar que assistência social também foi alvo da maior parte das iniciativas de voluntariado. Abaixo de 10% ficaram ações para geração de trabalho e renda, e cultura e artes, cada uma com 8%. Comunicações e defesa de direitos, com 4%; desenvolvimento comunitário e esportes, cada uma com 3%, e, fechando com 2%, apoio à gestão de organizações do Terceiro Setor. Outros 2% não se encaixaram em nenhuma das classificações.

Voluntariado
As organizações estudadas realizaram mais de 200 ações de voluntariado em todo o País no ano de 2006. O contingente declarado de funcionários que participaram dessas ações totaliza 87 mil pessoas. Considerando um universo de 320 mil empregados, a média de adesão do grupo de empresas que representa o +Unidos, tem representatividade de 27%.

Isso demonstra um índice de mobilização acima de média nacional, que é calculada em 20%, de acordo com a pesquisa do Riovoluntário, publicada em 2007. Além disso, 80% das companhias afirmaram ter investido em voluntariado em 2006.

Em 2007, esse número foi ampliado para 85%. É importante salientar que 63% dos voluntários participaram da escolha das ações, opinando nos temas a realizar. Além disso, quase a metade do total de voluntários (46%) contava com planos delineados para a aplicação da força disponível e eram liberados do serviço para atuar (48%).

As ações de voluntariado do Grupo +Unidos envolveram cerca de 860 mil pessoas, beneficiadas direta e indiretamente, em várias cidades do Brasil, no período analisado Além disso, mais de 1.200 instituições receberam benefícios. Embora não se saiba a quantidade de pessoas que elas atingiram, sabe-se que compõem um universo variado de ONGs, lares de crianças, casas de idosos, creches, cooperativas, escolas, hospitais e postos de saúde. Assistência social representa a área de maior atuação. Ela é seguida por educação, saúde e outras, como meio ambiente, cultura/artes e defesa de direitos, entre outros.

“Em meio a um cenário de crise e possível redução de investimentos sociais por parte das empresas, aumenta a necessidade de atuar em rede para ampliar o impacto de suas ações. A pesquisa do Grupo é oportuna porque facilita a articulação entre essas organizações”, argumenta o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.


Rodrigo Zavala, da Rede Gife
Envolverde, 16/12/08
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Festa de Zico terá atletas do pentacampeonato brasileiro

O atual técnico do Bunyodkor, do Uzbequistão, Zico, divulgou que o meia Rivaldo e os laterais Cafu e Roberto Carlos também participarão da partida beneficente, no dia 23, no Maracanã. Os três foram importantes na campanha vitoriosa da seleção brasileira na Copa do Mundo-2002.

"Sempre buscamos novos atrativos para o público. Já trouxemos craques consagrados como o Maradona, Seedorf, Deco, Adriano, e este ano já confirmamos com Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos. São três ídolos brasileiros, campeões do mundo e que não jogam no Brasil há muito tempo", disse Zico, que organiza o evento.

O ingresso de arquibancada custa R$ 10 e das cadeiras comuns, R$ 6. As entradas podem ser compradas na bilheteria 8 do Maracanã, na Gávea, no CFZ e no Parque Terra Encantada (Barra).

"Será uma boa oportunidade dos torcedores matarem as saudades dos jogadores que não têm a chance de ver sempre, e ainda ajudar a quem precisa", falou Zico.


Folha Online, 16/12/08

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Oposição consegue adiar votação de projeto que substitui MP da Filantropia

A oposição conseguiu adiar nesta terça-feira na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado a votação do projeto de lei do governo que substituiu a MP (medida provisória) das Filantrópicas. Os governistas se articularam para acelerar a votação do texto com o objetivo de concluí-la antes do recesso legislativo, mas o senador Raimundo Colombo (DEM-SC) pediu vista à matéria --o que adiou sua votação para quinta-feira.

O presidente da comissão, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), concedeu vistas de 48 horas à matéria para tentar agilizar sua votação. Com o adiamento, o projeto tem que ser votado na CAE na quinta, mas ainda precisa passar pela CAS (Comissão de Assuntos Sociais), onde tramita de forma terminativa. Somente depois de aprovado pela CAS, o texto segue para votação na Câmara.

A expectativa é que o projeto das filantrópicas entre na pauta da CAS também na quinta-feira --embora alguns senadores da oposição já trabalhem para deixar sua votação para 2009.

O projeto, apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), substitui a MP que foi devolvida ao Executivo pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Como presidente do Congresso, Garibaldi tem a prerrogativa prevista pelo regimento do Senado de devolver MPs ao Executivo --caso não atendam aos critérios de urgência e relevância, necessários para a edição de medidas provisórias.

O senador argumentou que a MP das Filantrópicas não atende a esses requisitos, por isso decidiu devolvê-la ao Executivo.

O texto da MP tornava automática a aprovação dos pedidos de renovação de certificados de filantropia pendentes no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), com a autorização para a concessão de renovações inclusive às entidades com processos na Justiça.

A oposição batizou a matéria de "MP da Pilantropia" ao afirmar que a concessão automática dos pedidos de renovação poderá beneficiar entidades com pendências judiciais.

O projeto solucionou o principal impasse em torno da MP ao estabelecer que todos os pedidos devem ser analisados por três ministérios relacionados ao setor de atuação da entidade. A autorização dos certificados passa a ser prerrogativa dos ministérios, e não mais do CNAS.

As instituições que não tiverem pendências judiciais terão os certificados renovados pelos ministérios. Já aquelas que respondem a processos na Justiça, o governo vai determinar o recolhimento de contribuição à Receita Federal --mas o pagamento ficará suspenso até os ministérios emitirem o seu parecer sobre a renovação, ou não, do certificado para aquela entidade.

O texto também criou um sistema intermediário para as entidades filantrópicas que tiveram seus certificados renovados no período de vigência da medida provisória --antes da aprovação do projeto de lei. As renovações automáticas, autorizadas ou canceladas nesse período de 'vácuo' legal, serão reavaliadas pelos respectivos ministérios até o dia 31 de dezembro de 2009 --prazo fixado pelo governo no texto.


Gabriela Guerreiro
Folha Online, 16/12/08

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Uol deixará de usar pop-up

Maior portal brasileiro, o UOL vai banir o pop-up de sua home-page a partir de janeiro de 2009. Um dos formatos publicitários mais tradicionais da internet, o banner que é aberto repentinamente na página é considerado intrusivo pela maioria dos usuários. As pessoas também se sentem incomodadas com o fato de terem de fechar o anúncio.

Desde 2003, o UOL oferece um programa antipop-ups, sendo que no último ano aproximadamente 65% dos visitantes do portal passaram a utilizar a ferramenta - o crescimento da rejeição à peça foi um sinal de que estava na hora de abandonar o formato. No lugar dos pop-ups, o UOL passará a oferecer ao mercado o formato 'dhtml', que permanece por cerca de 12 segundos na tela e desaparece automaticamente. "A vantagem é que o usuário não precisa clicar no banner caso não queira interagir com a peça", destaca Enor Paiano, diretor de publicidade do UOL.

O executivo observa que apesar da relação de ódio do usuário com o pop-up, o formato sempre trouxe resultados excelentes para os anunciantes. "Fizemos vários estudos para encontrar um tempo adequado de exposição do 'dhtml' na tela, para alcançar uma performance semelhante à do pop-up", diz.


Propaganda & Marketing, 15/12/2008

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Como desatar o "nó" dos processos

Os processos representam o conjunto de atividades e tarefas realizadas por toda a organização, visando o cumprimento de seus objetivos e podem estar estruturados e ordenados de várias formas.

O que se busca atualmente é assegurar que estes sejam realizados dentro de parâmetros aceitáveis de desempenho e risco, garantindo também a gestão de conhecimento e busca por melhorias consistentes. Uma das maiores dificuldades reside no fato de que os processos não estão necessariamente restritos a uma única função da organização. Assim surgiu o BPMO (Business Process Management Office), ou também chamado de "Escritório de Processos".

O escritório de processos é, portanto, a unidade organizacional que tem como objetivo assegurar a "lógica de processos", considerando: integração, desempenho, balanceamento, restrições e riscos da organização. Esta lógica representa exatamente como esses processos foram sendo estruturados e ordenados, ou seja, fazemos "X" primeiro, depois o "Y" e assim por diante, por determinados motivos. Tal seqüência foi sendo construída ao longo do tempo de vida da organização e pode ser influenciada por fatores próprios da atividade, como equipamentos ou sistemas de controle e de gerenciamento de recursos.

Mas nem sempre a lógica de processos obedece a melhor e mais adequada "lógica", seja por uma restrição técnica, seja por uma situação alheia ao próprio processo. Assim, surgem os "Nós" e às vezes são bem difíceis de desatar, por que nem sempre tal situação é perceptível à organização, muitas vezes gerando impacto negativo de desempenho, de custos ou ambos. O escritório de processos tem como uma de suas principais atribuições justamente identificar tais situações.

A pergunta quase imediata que surge é: afinal, o gestor do processo não é o responsável por isso? Isso seria verdade se todos os processos tivessem "donos", mas existem processos que não o possuem por estar espalhados pela organização, impedindo a percepção do problema de forma abrangente.

Assim, o escritório de processos assume a responsabilidade pela análise desses casos, além de desenvolver padrões, técnicas e ferramentas para gestão de processos organizacionais: treinar e desenvolver a equipe nos conceitos e técnicas de gestão de processos; apoiar o gestor no acompanhamento e avaliação dos processos; acompanhar e monitorar o desempenho de processos críticos, avaliando melhores práticas e difundindo o conhecimento e integrar os múltiplos processos aos gestores, consolidando informações.

O escritório de processos pode atuar como "consultor" ou como "interventor", ou ainda em variações destas duas formas, mas sempre voltado a esforços de estabilização e melhoria de desempenho de processos. A diferença entre os modelos está na postura de seus membros e na resposta esperada pela organização. No modelo "consultor", os profissionais do escritório de processos atuam como consultores internos, numa postura mais reativa, aguardando solicitações da empresa.

Na outra ponta, ou seja, no modelo "interventor", o escritório identifica processos que merecem atenção e intervém em três diferentes níveis: suporte a melhoria; responsabilidade pela melhoria e responsabilidade pelo processo até sua elevação de desempenho. Cada nível merece um tipo diferente de envolvimento e de postura dos profissionais, sendo que nos três casos deve-se sempre imaginar que o líder do processo deverá assumir o comando após a melhoria. É também importante observar que aspectos políticos e culturais podem dificultar e até bloquear a ação do escritório e, portanto, deve-se ficar atento a este detalhe na hora de definir o modelo de operação.

O escritório de processos não deve ser uma ação de impulso, pois não está relacionada com a busca por ganhos rápidos e imediatos. Entretanto, para aqueles que buscam melhorias consistentes e perenes ele é, com certeza, a melhor opção. Isto porque representa uma nova orientação organizacional, que pode alterar inclusive decisões de investimento em processos, como aquisição de equipamentos, aumento ou redução de efetivos de mão-de-obra.


Marcelo Raducziner
Diretor da Compass International www.compassbr.com.br, empresa de consultoria especializada nas áreas de gestão e negócios e-mail: marceloraducziner@compassbr.com.br
Newsletter HSM Online, 15/12/08

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Para bairro pobre, político usa Bolsa Família

Em São Paulo e Salvador, 60% dos participantes crê que político desvia dinheiro e usa programa em campanha, diz estudo premiado
Foto Unicef/ Mila Petrillo


Em dois bairros pobres de São Paulo e Salvador, 58% dos beneficiários do Bolsa Família acreditam que governos utilizem o programa em proveito próprio, sendo que 37% crêem que os políticos desviam dinheiro da iniciativa e 23% que a usam pra pedir votos em campanha. Os números são de uma pesquisa realizada por um centro de estudos mexicano e premiada em um concurso do governo federal para destacar artigos sobre o programa.

“Trata-se de um uso político indireto, que tenta ajustar políticas públicas para ter retorno nas eleições e não da compra votos e coação dos beneficiários, como acontece em várias regiões da América Latina”, afirma Felipe Hevia, autor do estudo Relações Diretas ou Mediadas? Participação cidadã e controle social no programa Bolsa Família.

O artigo — do Centro de Pesquisas e Estudos Superiores em Antropologia Social, do México — foi o primeiro colocado em um concurso do governo que selecionou pesquisas sobre o programa e ações municipais e estaduais que aprimorem a iniciativa. Os estudos participantes estão disponíveis na Biblioteca Virtual do Bolsa Família, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome e do Centro Internacional de Pobreza, uma instituição de pesquisa do PNUD, resultado de uma parceria com o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).

Entre junho de 2007 e fevereiro de 2008, a pesquisa analisou 71 questionários respondidos por beneficiários do Bolsa Família, sendo 37 de Cidade Tiradentes, em São Paulo, e 41 da favela Bairro da Paz, em Salvador, primeiro e terceiro municípios com maior número de beneficiários do Bolsa Família.

Entre os entrevistados, 57,9% avaliam que os políticos “tiram proveito do programa”. Deles, 37,2% acreditam que os governantes desviam dinheiro; 23,3% que usam o Bolsa Família para pedir votos e 14% que usam para fazer propaganda política; 9,3% crêem que os políticos se apossam da autoria do programa para atrair eleitores; 7% que enganam pessoas pouco esclarecidas e 4,7% que ameaçam de extinguir a iniciativa se não forem eleitos.

“Estes mecanismos indiretos não implicam necessariamente em práticas tradicionais de compra e coação de votos, mas representam uso político no sentido que as decisões são tomadas com fins mais eleitorais do que técnicos”, afirma o estudo. Uma das maneiras de angariar votos com o programa, segundo a pesquisa, é aumentar o número de beneficiários em períodos próximos às eleições.

“Uma das ações mais comuns de uso político indireto é a ampliação do padrão com fins eleitorais, como a ampliação do programa em localidades, Estados ou municípios, usando critérios partidaristas com o objetivo de, aumentando o corpo de beneficiários, aumentar a votação do partido de governo em uma zona determinada”, afirma o estudo.

É o que aconteceu em São Paulo e Salvador: Entre 2003 e 2007 os picos de crescimento no número de participantes do programa foram durante as eleições municipais de 2004 e as presidenciais de 2006, segundo a pesquisa. “Apesar de haver uma intencionalidade política, não há pesquisas que comprovem que essas estratégias diretamente virem votos”, avalia Hevia.

Participação Social
A percepção dos beneficiários sobre compra de votos e outros usos políticos do programa pode ser reduzida pela pouca participação que têm no controle e gestão do Bolsa Família, segundo o estudo. O desenho da iniciativa estabelece que determinadas instituições públicas realizem ações como cadastro das famílias e repasse do beneficio, e impede que organizações da sociedade civil participem desses processos, com fim de impedir a corrupção.

O estudo considera o modelo eficiente em evitar irregularidades como desvio de dinheiro e cadastro de pessoas sem o perfil do programa. Porém, diminui a participação social. “Assim se estabelecem instâncias de controle social de acordo com o sistema descentralizado e participativo de assistência social, onde se reconhece a ação coletiva, mas, ao mesmo tempo, o desenho de operação faz com que a intermediação seja mínima, altamente institucional, que as organizações civis tenham pouco espaço para atuar e menos espaço ainda para representar os beneficiários do Bolsa Família nas instâncias institucionalizadas de participação”, afirma o estudo.

Com a distância os beneficiários podem ter mais dificuldade de se defender de abusos de poder, como compra e coação de votos e podem ter mais trabalho para corrigir eventuais erros administrativos, como uma eventual troca de nome no cadastro, por exemplo, aponta a pesquisa. “As organizações sociais deveriam participar como pontos de informação sobre o programa. Mas não devem ficar responsáveis nem pelo repasse do dinheiro nem pelo cadastro, para evitar irregularidades”, avalia o autor.


Sarah Fernandes, da PrimaPagina
Pnud, Boletim nº 519, 15/12/08

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