domingo, 22 de julho de 2007

Terceiro setor ganha certificado mundial de boas práticas

Publicado pelo Mapa do 3º Setor

O NGO Benchmarking foi desenvolvido pela SGS, multinacional líder em certificações, testes e inspeções, em sua matriz na Suíça, exclusivamente para suprir as necessidades de organizações do terceiro setor em ter uma norma que alinhe às práticas mundiais de confiabilidade, transparência e boa governança frente a órgãos financiadores e mantenedores internacionais, sociedade e poder público.

Com 33 organizações certificadas em todo mundo e mais de 50 que já passaram pelo processo, a certificação busca validar transparência, desempenhos éticos, operacionais e financeiros com base em Boas Práticas e Padrões Internacionais. “O NGO Benchmarking é também uma garantia de que objetivos e atividades são implementados de modo eficiente, sustentável e eficaz”, explica Sarah Duarte, analista da SGS do Brasil. Com validade mundial, o NGO Benchmarking fornece às organizações, além da certificação, um mapeamento de seus pontos fortes e fracos e um plano de ação para melhoria contínua.

O processo de avaliação do NGO Benchmarking engloba nove dimensões: conselho de administração; estrutura estratégica; administração de integridade; comunicação e imagem; recursos humanos; levantamento de fundos; alocação de recursos e controle financeiro; operações; e resultados e melhoria contínua. Os técnicos da SGS analisam também as expectativas do investidor, componentes gerenciais das organizações e melhorias contínuas.

“A certificação é fundamental porque sabemos como é difícil para as organizações construir uma imagem, conquistar espaço e ganhar confiança da sociedade e dos investidores. Dessa forma, o NGO Benchmarking serve como aliado, pois permite às organizações solidificar pontos fortes e ajustar pontos fracos para assim prevenir e reduzir fatores de risco que podem macular uma reputação conquistada em anos de trabalho idôneo”, explica Sarah.

Case Futurong
Em dezembro passado, a Futurong, entidade sem fins lucrativos que oferece assistência a jovens e crianças em situação de risco social da região sul da cidade de São Paulo, foi a primeira ONG do Brasil e da América Latina a conquistar a certificação NGO Benchmarking. “O certificado melhorou muito a organização do nosso trabalho. Contribuiu para o cumprimento de metas que nos ajudarão a alcançar a re-certificação” diz o diretor executivo da Futurong, Lucas Duarte.

A procura por informações sobre o NGO Benchmarking, no Brasil, tem crescido. No último mês, mais de 20 ONGs procuraram a SGS para obter mais informações. “Muitas organizações estão compreendendo que precisam avançar e aprofundar no processo de conhecimento, transparência e eficácia. Essas entidades perceberam que a certificação não é apenas uma ferramenta dos processos internos, mas também um instrumento de crescimento e boa gestão, o que as levará à ratificação de sua excelência, pioneirismo e da capacidade de gerar mais resultados de grande impacto e eficácia”, explica Sarah.

Para ler depoimentos de organizações certificadas e ter a possibilidade de fazer uma breve simulação do NGO Benchmarking acesse o link: http://www.ngobenchmarking.sgs.com/.

Mais...

Usuários publicam cada vez mais na Web e começam a mudar padrões informativos

Carlos Castilho
Publicado pelo
Observatório da Imprensa em 14/7/2007

O que antes era um exercício de imaginação de gurus e futurólogos da Web começa agora ganhar uma base real em números. Os últimos dados sobre o fenômeno UGC (User Generated Content – Conteúdo Produzido por Usuários) revelam que 136,5 milhões de pessoas em todo o mundo devem publicar, em 2007, textos, gravações, filmes ou fotos na Web.

No ano passado, a participação total de usuários era de 118 milhões e as projeções indicam que se este ritmo de crescimento for mantido, em 2011, já serão mais de 238 milhões de pessoas usando a Web como ferramenta para divulgação de conteúdos informativos produzidos por elas mesmas.

O número dos criadores online é 10% menor do que os usuários que só consomem conteúdos produzidos por amadores ou pessoas comuns. O total de internautas que apenas visitam sites de criadores online foi estimado em 147,5 milhões em 2007, com uma projeção de 253,6 milhões dentro de quatro anos.

Os números consolidam a tendência de aumento da participação dos usuários em todos os segmentos da Web, o que assinala um fenômeno capaz de mudar significativamente vários conceitos, rotinas e valores da comunicação contemporânea.

Os números recolhidos pela eMarketer, uma empresa norte-americana de pesquisas de mercado com muitos negócios na área de marketing, podem estar muito influenciados pelo chamado “wishfull thinking” (desejo de que algo aconteça). Também não se sabe até que ponto a pesquisa foi sugerida por algum cliente.

Mas mesmo que tudo isto seja verdadeiro, os dados mostram uma tendência irreversível à consolidação da Web 2.0 , cuja principal característica é a participação dos internautas na produção de conteúdos.

Metade, tanto dos que vêem como dos que produzem material produzido por pessoas comuns, vive nos Estados Unidos e a esmagadora maioria dos textos, fotos, desenhos, áudios e vídeos publicados na Web por pessoas comuns é formada por confidências, fofocas, fotos e vídeos de animais de estimação e de amigos.

Não há dados confiáveis sobre qual o percentual de usuários que publicam informações de interesse público na Web. O site Technorati, que monitora os weblogs na Internet chegou a estimar, há dois anos, em mais ou menos 15 milhões o total de páginas pessoais no mundo inteiro que publicam conteúdos que podem ser considerados informativos.

Os sites mais famosos e mais visitados no universo da Web 2.0 são o YouTube (publicação de vídeos amadores), o Flickr (fotos), MySpace e FaceBook (comunidades), usam conteúdos produzidos por amadores para atrair milhões de visitantes e com isto chegar a um faturamento global previsto para um bilhão de dólares até dezembro. A mesma eMarketer antecipa uma receita publicitária de US$ 4,3 bilhões em 2011.

É muito dinheiro com o trabalho dos outros. Mas não deixa de ser uma vitrine importantíssima, e além de tudo grátis, para quem deseja visibilidade por motivos profissionais ou simplesmente por egolatria.

O certo é que não dá mais para ocultar o fato de que a participação do público no processo da comunicação está ganhando dimensões inéditas na história da humanidade.

Estamos assistindo o início do fim de um sistema e a emergência de outro, o que vai implicar um período confusão e incerteza, como acontece em toda grande transição econômica e social.

Aos jornalistas e comunicadores caberá um papel crucial neste processo. Em vez de defender a velha ordem, eles podem usar seus conhecimentos e experiência para atuar como orientadores, treinadores ou consultores dos novos atores na arena informativa. O primeiro desafio seria desarmar os preconceitos mútuos entre profissionais e amadores em matéria de publicação de conteúdos online.

Mais...

Conquistas do Terceiro Setor

Luiz Carlos Merege*
Editorial da Revista IntegrAção de julho/07


Decorridos treze anos desde a publicação do já clássico “O Setor Emergente” (1994) de Lester Salamon as conquistas do terceiro setor podem ser consideradas admiráveis, considerando este curto espaço de tempo.

Vejamos algumas dessas conquistas:

Identidade: A grande batalha travada nos anos noventa foi à criação da identidade do setor. Assim como uma pessoa necessita de um documento que indique a sua nacionalidade e suas principais características, não tínhamos até o inicio dos anos 90 um conceito que distinguia o setor dos demais setores. Foi necessário um grande esforço conceitual para demonstrar que as organizações da sociedade civil possuíam características distintas das organizações estatais e das privadas. Substituir o paradigma de uma sociedade bi-setorial por um novo modelo tri-setorial foi uma tarefa executada principalmente por uma rede de pesquisadores da Europa, Estados Unidos e América Latina. Essa nova estruturação da sociedade passou a ser o referencial que orientou as pesquisas posteriores que passaram a estudar os problemas da sociedade contemporânea e as suas soluções partindo da possibilidade de uma sinergia inter-setorial. Desde então não se fala em política pública como uma atribuição exclusivamente do Estado, assim como não se concebe o setor privado tendo como único objetivo à geração de lucro.

Conhecimento: No Brasil não tínhamos praticamente nenhuma publicação específica sobre o terceiro setor até meados da década passada. Além da importantíssima publicação de Rubem César Fernandes, “Público porém privado: o terceiro setor na América Latina” de 1994 registrava-se as publicações do Instituto de Estudos da Religião – ISER em que apareciam o nome deste pesquisador e o de Leilah Landim. A partir da criação de centros de estudos do terceiro setor nas universidades os artigos acadêmicos assim como as dissertações e teses versando sobre o tema cresceram acentuadamente. Pesquisa recente na base de currículos Lattes indicava a existência de pelo menos dois mil pesquisadores trabalhando a temática do terceiro setor. Atualmente a bibliografia referente ao tema apresenta uma grande diversidade de assuntos abordados que cobrem os mais distintos campos do conhecimento. Pode-se facilmente listar cerca de 100 livros de autores nacionais que se constituem como principal referência bibliográfica existente hoje.

Reconhecimento: Apesar do grande volume de publicações que se acumulou em todo o mundo faltava ainda o reconhecimento oficial do setor por parte de autoridades internacionais que desse legitimidade ao novo modelo de estruturação da sociedade. Este reconhecimento finalmente chegou em março de 2002 quando o Departamento de Estatística da ONU publicou o “Handbook on Nonprofit Institutions in the System of National Accounts”. Este manual convoca as agências nacionais de estatística para que modifiquem o sistema de levantamento de informações econômicas e sociais que são realizadas tendo como referência a metodologia de Contas Nacionais que foi instituída pela ONU em 1948. Para nossa alegria o IBGE adotou o manual como uma referência para publicar as primeiras estatísticas oficiais sobre o setor no Brasil, o que foi feito por meio do documento intitulado “As fundações Privadas e as Associações sem Fins Lucrativos no Brasil.” Com essa publicação o nosso País se insere no grupo de outros 12 países que adotaram a nova metodologia e que seguem uma definição comum no que diz respeito ao conjunto de organizações que compõem o terceiro setor, assim como adotam uma mesma classificação das suas áreas de atuação. É claro que o manual da ONU deixa em aberto a discussão sobre a precisão do conceito de terceiro setor, instigando o debate sobre a natureza e papel do setor nas distintas realidades sociais. Entretanto, o referencial metodológico comum que se estabeleceu permitirá que os países, estados e municípios possam, brevemente, realizar estudos comparativos identificando similaridades e características peculiares do setor em cada realidade.

Neste editorial chamo a atenção para estas três conquistas fundamentais que contribuíram para o reconhecimento da existência e importância do setor. Voltarei ao tema para realçar outras importantes conquistas assim como comentar sobre a necessidade de construção de uma agenda que transforme o setor em um ativo protagonista estratégico para a solução dos graves problemas sociais em nosso País.


* Luiz Carlos Merege é professor titular, doutor pela Maxwell School of Citizenship and Public Affairs da Universidade de Syracuse, coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor - CETS da FGV-EAESP, do curso de Administração para Organizações do Terceiro Setor e do Projeto Censo do Terceiro Setor do Pará . E-mail: merege@fgvsp.br

Mais...

Venezuela compra submarinos russos

Humberto Márquez
Publicado pela
IPS em 19/07/07

O anúncio de que a Venezuela comprará da Rússia cinco submarinos fez disparar alarmes de armamentismo convencional em um país que adota como doutrina de defesa a guerra assimétrica, ou de “todo o povo”.

Os submarinos custarão mais de US$ 1 bilhão, aos quais se somam os US$ 3 bilhões que o governo de Hugo Chávez destinou nos últimos dois anos para a compra também de armas russas. Além disso, adquiriu três radares da China e nesta semana foi informada a importação de aviões militares de transporte.

Os sistemas de armas incluem 24 caça-bombardeios Sukhoi-30, 55 helicópteros Mi-17 e Mi-35, 100 mil fuzis AK-103 e uma fábrica desses Kalashnikov e suas munições. Várias das aeronaves já sobrevoam território venezuelano. “Os Estados Unidos nos ameaçam constantemente. Temos de defender nossa revolução”, disse no final de junho durante visita a Moscou o presidehte Hugo Chávez, que mantém um aberto enfrentamento político com Washington. Chávez acusa os norte-americanos de negarem reposição de armamento e peças de reposição para os caças F-16 que a Venezuela comprou há um quarto de século, bem com para os aviões de transporte Hércules C-130, também fabricados nos Estados Unidos.

A agência russa Interfax informou sobre a venda dos submarinos movidos a diesel da classe Varshvyanka, conhecidos no Ocidente como Kilo 636, para operações anti-naves e equipados com seis tubos torpedeiros, 18 torpedos, 24 minas e oito mísseis superfície-ar. Uma versão melhorada, o submarino Amur 677, é mais silencioso e possui sistemas de lançamento vertical, para atingir alvos localizados a centenas de quilômetros.

“Por que submarinos?”, perguntou Chávez, dirigindo-se aos seus críticos. “Porque temos mar, para ajudar a proteger os campos de produção energética em mar aberto e porque o império norte-americano tem planos de agressão e fez tentativas desse tipo há anos, quando um porta-aviões entrou em águas territoriais da Venezuela”. Por sua vez, Rocio San Miguel, presidente da organização não-governamental Controle Cidadão para a Segurança e Defesa, entende que os submarinos “não atendem às necessidades de vigilância marítima da Venezuela, que são de superfície e de natureza aduaneira, ambiental, fiscal, sanitária e de luta contra o narcotráfico”.

A compra dos submarinos “é ruim para os vizinhos e pode alterar a geopolítica no Caribe”, começando pela vizinha Colômbia, que tem pendente com Caracas a delimitação de suas áreas marinhas e submarinas junto à fronteira norte, envolvendo águas do mar do Caribe e do Golfo da Venezuela, disse San Miguel à IPS. Durante décadas, as academias militares destes dois países incluíram em seus jogos de guerra hipóteses de conflito entre ambos.

O general da reserva Fernando Ochoa, ministro da defesa quando em 1992 Chávez liderou um cruento e falido golpe, disse que, “devido à deterioração de seu prestígio e ao fato de ninguém acreditar na invasão gringa, Chávez precisa recuperar popularidade à la Galtieri, criando tensão com um país vizinho”. Em 1982, o então ditador argentino Leopoldo Galtieri ordenou a ocupação militar das ilhas Malvinas, para deter a acelerada deterioração do regime imposto em 1976, com o resultado de uma guerra com a Grã-Bretanha e a conseqüente derrota diante da segunda maior força marítima do mundo.

Segundo Ochoa, isso explica o fato de “ter comprado material bélico pesado, embora seja contraditório com a teoria da guerra assimétrica, que demanda material leve em lugar de submarinos ou aviões de alta tecnologia para uma guerra regular na região”. A preparação “de todo o povo” para tarefas de defesa levou Chávez, há dois anos, a criar a Reserva, com dezenas de milhares de civis como quinto componente das Forças Armadas, junto com Exército, Marinha, Aeronáutica e Guarda Nacional, que é uma força militar com atribuições de polícia.

O até agora comandante dessa Reserva, general Gustavo Rangel, assumiu ontem como ministro da Defesa, “o que impulsionará a nova doutrina de segurança, de união cívico-militar e guerra de resistência”, afirmou o coronel da reserva Héctor Herrera, do grupo pró-oficialista Frente Cívico-Militar Bolivariano. Rangel substitui o general Isaías Baduel, artífice da devolução do governo a Chávez em abril de 2002, quando um golpe de Estado cívico-militar o tirou do poder por dois dias, e que passa à reserva com outros generais, como Alberto Muller, coordenador do Estado Maior Presidencial.

A imprensa informou que Baduel liderou dentro dos altos comandos a corrente “profissional” dos quadros militares com compra de armamento convencional, enquanto Muller, seguindo o discurso de Chávez, defendeu a “guerra de todo o povo”. Há “pressões nos comandos militares a respeito da mudança que possa significar o novo modelo de defesa, porque isso acaba com uma série de privilégios. Minha posição é contrária a profissionalizar a Força Armada’, disse o esquerdista Muller, que em 2005 foi chamado novamente às fileiras pelo mandatário, apesar de já ter 70 anos de idade e 20 na reserva. A Força Armada venezuelana “deve apontar para a defesa de todo o povo, para a guerra de resistência que faz o povo diante do invasor estrangeiro”, ressaltou Muller.

O especialista político Alberto Garrido disse à IPS que, “embora Chávez compartilha com Muller o julgamento de que o choque final com os Estados Unidos é assimétrico, a imprescindível situação geopolítica regional e a realidade militar racional o obrigam a ser cuidadoso”. O esquema do presidente seria “preparação para uma guerra combinada, convencional e assimétrica. A convencional não pode funcionar eficazmente contra os Estados Unidos, mas, tem validade diante de vizinhos, algo esboçado por Baduel quando formulou (há um ano) a hipótese de guerra em razão de conflitos em países fronteiriços”, segundo Garrido.

A guerra assimetria ou sem restrições, segundo os teóricos chineses Qiao Lyang e Wang Xiangsui, pressupõe a utilização de qualquer tipo de luta diante de uma potência esmagadoramente superior em força, tecnologia ou influência diplomática, combinando ações políticas e militares e envolvendo a população civil.San Miguel recordou que a Venezuela é signatária dos Convênios de Genebra de 1949 e seus protocolos adicionais de 1977, que protegem a população civil e vedam seu emprego em ações bélicas, “pois se assumem o papel de combatentes pode-se usar a força letal contra eles”.

A anunciada compra de submarinos não despertou maiores repercussões no resto da América. Washington se absteve de incluir o assunto quando, ainda com Chávez na Rússia, o presidente desse país, Vladimir Putin, visitou seu colega George W. Bush em sua residência de verão. Até deixar seu cargo há duas semanas, o embaixador de Washington em Caracas, William Brownfield, repetiu com freqüência em suas declarações públicas que “os Estados Unidos não invadiram nunca a Venezuela, não a está invadindo e jamais a invadirá”.

A Colômbia não fez nenhuma declaração sobre o assunto. Um pacto entre os presidentes Chávez e seu colega Álvaro Uribe mantém longe dos microfones diversos temas sensíveis. Diplomatas europeus e latino-americanos em Caracas reconhecem em particular que um crescimento do armamento venezuelano deve levar a Colômbia a fórmulas de equilíbrio. Segundo Ochoa, a hipótese de um conflito com a Colômbia exige a neutralidade dos Estados Unidos, “sem a qual uma aventura seria irresponsabilidade inaceitável”.

No Brasil, o almirante Julio Soares de Moura, comandante da Marinha, descartou qualquer preocupação. “Não diria que há uma corrida armamentista na Venezuela, creio que é um reequipamento ou renovação de arsenal. Não me parece que representam algum risco. Brasil e Venezuela mantêm relações cordiais”, disse Moura. San Miguel insistiu em que a Venezuela carece de um “livro branco” que defina as ameaças à sua segurança e a construção de políticas de defesa nacional. “Parece que o presidente se expressa e os demais atuam. Não há quem lhe diga não”.

Mais...

Grandes empresas dos EUA querem ação urgente

Jim Lobe
Publicado pela
IPS em 19/07/07

Representantes de 160 das principais empresas dos Estados Unidos reclamaram das autoridades ações urgentes para enfrentar a mudança climática. Os líderes empresariais alertaram que “as conseqüências do aquecimento global para a sociedade e o meio ambiente são potencialmente sérias e de longo alcance”, e acrescentaram que “o tempo para agir é agora”. A declaração, divulgada esta semana pela Mesa Redonda de Negócios (BRT), não promove a redução obrigatória da emissão de gases causadores do efeito estufa – apontados pela maioria dos cientistas como responsáveis pelo aquecimento -, mas pede “uma ação coletiva que a reduza em nível mundial”.

A intenção é “reduzir o aumento da concentração de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera para, em última instância, estabilizá-los em um nível que permita evitar os riscos da mudança climática. É a primeira vez que líderes empresariais de todos os setores da economia norte-americana alcançam um consenso sobre as ameaças do aquecimento da Terra e a necessidade de tomar medidas a respeito”, disse o presidente da BRT, John J. Castellani. “Os membros da BRT estão prontos para trabalharem junto com os líderes políticos em soluções ativas para enfrentar o problema, ao mesmo tempo em que se mantém o crescimento econômico”, acrescentou. Castellani informou que a declaração foi aprovada pelo consenso de toda a Mesa Redonda.

Organizações ambientalistas destacaram o pronunciamento que, afirmaram, deveria estimular o Congresso dos Estados Unidos a tomar medidas. Com maioria do Partido Democrata nas duas Casas legislativas, os legisladores começaram a analisar projetos para limitar as emissões, ao que se opõe o presidente George W. Bush. “Basicamente, os líderes empresariais estão reconhecendo que haverá algum tipo de legislação de caráter obrigatório, o que não é pouco”, disse o diretor da área de mercados e negócios do Centro Pew sobre Mudança Climática, Truman Semans.

O Centro é uma organização não-governamental que trabalha em estreito contato com as maiores empresas norte-americanas em matéria de regulamentações e legislação para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. “Uma declaração desse tipo reflete o mínimo denominador comum”, disse Semans. “Indica a vontade de alguns dos membros em apoiar reduções obrigatórias, o que sugere que a visão média do grupo é mais progressista do que denota o texto da declaração”, acrescentou.

“É realmente notável que o establishment empresarial dos Estados Unidos tenha avançado, ainda que alguns passos, para assumir o problema e a necessidade de iniciar ações”, disse Christopher Flavin, presidente do centro de estudos sobre meio ambiente e desenvolvimento World Watch Institute. “É uma declaração tímida, mas mesmo assim é um sinal, entre outros, de que a comunidade empresarial se move bastante rápido em matéria de mudança climática, e que inclusive empresas com a petrolífera Exxon Móbil, uma das mais reticentes, pouco a pouco tira a cabeça da areia”, afirmou Flavin à IPS.

A BRT agrupa companhias que somam ganhos anuais no valor de US$ 4,5 bilhões e representam cerca de um terço do mercado de ações dos Estados Unidos. Entre seus membros estão presidentes de gigantes do setor energético com Exxon e Peabody Energy Company, o maior produtor de carvão do país. Até agora, combatiam energicamente todo projeto de lei ou iniciativa que implicasse reduzir o consumo de combustíveis fósseis ou as emissões de gases que causam o efeito estufa.

“É estimulante que empresas como Exxon e Peabody assinem a declaração”, disse Tony Kreindler, do Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (NRDC). “E é muito significativo que alguns membros da BRT, que sentem que a ciência ainda evolui, aceitem que é preciso tomar medidas já”, acrescentou. A campanha para que a BRT adotasse uma nova política sobre aquecimento global foi liderada por membros da instituição que participaram este ano do lançamento da Coalizão Norte-americana para a Ação sobre o Clima (Uscap). Esta associação incluiu em sua origem 10 empresas de primeira linha e várias organizações não-governamentais, como Centro Pew e o NRDC.

A Uscap reclamou do Congresso a aprovação de leis que estabeleçam reduções obrigatórias das emissões de gases que provocam o efeito estufa. As companhias, entre elas Caterpillar, DuPont e General Electric, reclamaram uma lei para reduzir as emissões em 70% de seu nível atual no prazo de 15 anos, e em 80% até 2050. Desde então, o número de empresas que aderiram à Uscap cresceu para mais de 20. As reduções deveriam ser alcançadas por meio de maior eficiência no uso de combustíveis e melhorias nas tecnologias de poupança de energia nos setores de transporte, construção e produção de eletricidade.

Um projeto de lei em que trabalham os senadores Joseph Lieberman (democrata) e John Warner (republicano) incorpora muitos dos objetivos e o contexto conceitual adotado pela Uscap. Semans, do Centro Pew, disse que a declaração da BRT está longe das metas da Uscap, mas propõe recomendações especificas semelhantes às propostas por essa coalizão, como a criação de um registro nacional para levar conta das emissões e a adoção de políticas governamentais que estimulem investimentos para reduzi-las.

A declaração da BRT não apóia nenhuma medida especifica entre as recomendadas pela Uscap para reduzir as emissões, mas, pede aos legisladores e funcionários que avaliem o valor potencial de cada uma delas em função de determinados critérios. Entre eles, se as medidas forem efetivas para reduzi-las, flexíveis e maximizarem a utilização dos mercados, fomentarem as soluções tecnológicas, minimizarem os custos de transação, oferecerem certeza e previsibilidade às empresas e promoverem a inovação.

O documento também reclama a realização de importantes investimentos, tanto públicos quanto privados, nas ciências do estudo do clima, para “entender melhor e prever a magnitude e velocidade do aquecimento global. Apesar da falta de certezas nesta área, “é prudente tomar medidas para enfrentar os riscos da mudança climática agora”, diz a declaração.

Os membro da BRT também afirmaram que o desafio apresentado pelo aquecimento global não pode ser enfrentado apenas pelos Estados Unidos e exige “uma resposta global. Uma resposta eqüitativa e efetiva deveria ser posta em prática, e os maiores emissores de gases causadores do efeito estufa, incluídos Brasil, China e Índia, teriam de se comprometer com as metas de redução estabelecidas”, afirmaram os empresários. “A liderança norte-americana para estabelecer este contexto global de referencia é essencial”, concluíram os empresários.

Mais...



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br