sexta-feira, 20 de julho de 2007

Usinas de SP buscam uma melhor gestão socioambiental

Mônica Scaramuzzo e Bettina Barros
Publicado pelo
Valor Online 20/07/2007

As usinas paulistas estão se estruturando para criar uma gestão socioambiental para o setor sucroalcooleiro. Coincidência ou não, o movimento ocorre num momento em que o mercado internacional amplia exigências e privilegia a aquisição de matérias-primas de empresas que adotam políticas de sustentabilidade.

O Valor ouviu quatro grandes grupos de alimentos e bebidas - Nestlé, Unilever, Coca Cola e Ambev - que estão entre os principais consumidores de açúcar do país. Consultadas, todos informaram que possuem políticas de sustentabilidade e que excluem fornecedores que não estão de acordo com o compromisso ético de suas matrizes. Juntas, essas quatro companhias consomem aproximadamente 2 milhões de toneladas de açúcar anualmente, cerca de 20% do volume total do consumo do país (em torno de 10 milhões).

Exceções no mercado, essas empresas fazem parte de um movimento que deverá crescer no país. E as usinas paulistas começam a se estruturar. Em 2001, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) contratou a consultora Iza Barbosa para uma "mudança de gestão" para o setor inteiro, na qual a responsabilidade social e ambiental das usinas - que por décadas estiveram associadas a desrespeitos humanos e ambientais - ganhasse a mesma prioridade de outros assuntos das empresas. "Praticamente todas as usinas tinham projetos neste sentido, mas não havia como mensurá-los", diz. Até 2003, quase nenhuma das 102 empresas associadas à entidade fazia balanço social de suas empresas. "Hoje praticamente todas fazem [97 das 102]", afirma a consultora.

"Procuramos ter o retorno dessas ações. Não adianta dizer que a gente faz só porque é bonito", afirma Silvio Nicoletti, superintendente do centro de serviços administrativos da Usina São Manoel, instalada na cidade paulista de São Manoel e considerada referência em modelo socioambiental no setor. O grupo investe há quatro anos cerca de 400 mil em projetos nessa área. "Tomamos essa decisão imaginando que no futuro o mercado exigiria da gente um selo verde".

Na prática, já está acontecendo. Segundo Nicoletti, grandes clientes da empresa já vinculam contratos a essas normas. "A Coca-Cola, por exemplo, só compra com essa condição". Mas é uma condicionalidade restrita ainda às multinacionais, que seguem diretrizes impostas pela matriz no exterior . "Nenhuma empresa nacional já nos fez esse pedido".

"Ainda não há movimento nacional neste sentido. Há conversas", confirma Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, especializada em açúcar e álcool.

É o sinal amarelo vindo de países importadores que já preocupa o setor. Aproximadamente dois terços da produção de açúcar do Brasil é exportada.

Após o primeiro passo de mapear a cadeia produtiva e realizar balanço social das empresas, a Unica, em parceria com o Banco Mundial e o Instituto Ethos, trabalha em um projeto que deverá abranger todos os quase 5 mil fornecedores das usinas, desde os de cana até os de insumos e equipamentos. "Precisamos conscientizar toda a cadeia", diz Iza. "Não adianta a usina seguir o programa e um dos seus fornecedores não se adequar. A usina responde por toda a cadeia".

No caso mais recente em São Paulo, o Ministério Público do Trabalho autuou a Usina Renascença, em Ibirarema, por manter trabalhadores em condições degradantes. Os cortadores de cana trabalhavam para um fornecedor terceirizado. A exemplo da Renascença, outras usinas paulistas e de outros Estados foram autuadas pelo mesmo motivo.

As ações da Unica, no entanto, deverão extrapolar os limites do Estado, na medida em que novas unidades de companhias paulistas são abertas sobretudo na região central do país. "Não temos interesse em transformar São Paulo em um nicho diferenciado de usinas. O comprador pensa em açúcar do Brasil, não em açúcar de São Paulo. Por isso, é importante que as demais regiões sigam o nosso exemplo", diz ela. Já iniciativas avançadas neste mesmo sentido no Nordeste.


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