domingo, 19 de outubro de 2008

Desenvolvimento: Crise reduz assistência ao desenvolvimento

Consultado sobre o futuro da desfinanciada agenda de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas diante da crise econômica, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon , recordou os US$ 16 bilhões para combater a fome prometidos no mês passado por chefes de Estado e de governo. Ban evitou uma resposta direta quando foi perguntado se algum doador já havia entregue sua parte. Limitou-se a expressar confiança de que, mesmo em tempos difíceis, os líderes mundiais estão comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os jornalistas recordaram que um funcionário da União Européia alertou – isso em setembro – que os doadores que reafirmam seus compromissos simplesmente estão mentindo.

Devido à gravidade da situação e seu possível impacto sobre as atividades de desenvolvimento dão ONU, sua Assembléia-Geral convocou uma sessão especial para examinar a crise financeira, no próximo dia 24. Anwarul Karim Chowdhury, ex-subsecretário-geral das Nações Unidas encarregado dos países menos adiantados, disse que a atual crise financeira mundial causará “uma importante redução” da campanha para cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio antes de 2015, prazo estabelecido pela comunidade internacional. “Será quase impossível para qualquer dos governos dos países industrializados – os tradicionais doadores – sequer manter o atual nível de assistência oficial ao desenvolvimento, para não falar em aumento”, acrescentou, ressaltando que isso também debilitará a capacidade de ação das organizações dedicadas ao financiamento do desenvolvimento.

Consultado se a atual crise afetará as atividades de desenvolvimento da ONU, Chowdhury disse à IPS: “Sim. Acredito que muito brevemente”. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, definidos em 2000 pela Assembléia Geral, incluem reduzir à metade a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome em relação aos índices de 1990; garantir a educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade materna e infantil; combater a Aids, a malária e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento.

A iminente conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento, no final deste mês no Qatar, enfrentará “um sério desafio na obtenção de um resultado que valha a pena” para os países do Sul. As piores vítimas serão os 49 países menos adiantados, os mais pobres do mundo pobre, porque, ao contrário de outras nações em desenvolvimento, são os menos atraentes para investimentos estrangeiros diretos, lembrou Chowdhury.

Anuradha Mittal, diretora-executiva do Instituto Oackland, que fez vários estudos sobre comércio internacional e desenvolvimento, disse à IPS que a capacidade da ONU para realizar essas atividades já estava afetada porque os países ricos não cumpriram suas promessas. Inclusive antes da crise financeira a credibilidade do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) caiu, pois ainda não cumpriram seu compromisso de duplicar a ajuda à África feito em 2005. de fato, entre 2005 e 2006, a assistência geral à África aumentou apenas 2%, excluindo as operações de cancelamento da dívida, disse Mittal.

Mas, excluindo estas operações financeiras da assistência a todos os países que a recebem, a quantia, na realidade, caiu 2%, acrescentou Mittal. “Devido à evidente falta de vontade e compromisso político, não será surpresa para ninguém que as nações ricas usem a crise financeira, causada por seus próprios erros e pela falta de mecanismos reguladores efetivos para Wall Street, para não cumprirem seus compromissos”, afirmou esta especialista. “Entretanto, os respingos de sua crise financeira fora de suas fronteiras terão impacto em comunidades e na qualidade de vida dos trabalhadores pobres de todo o mundo”, alertou Mittal.

As cotas dos países para o funcionamento da ONU são de caráter obrigatório. Mas, as contribuições para agências como os fundos das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e para a População (UNFPA) e para o Programa para o Desenvolvimento (Pnud) são voluntários. A grande parte do orçamento desses organismos procede dos Estados Unidos, do Japão e de países da Europa ocidental. Se a crise financeira persistir, como todos os sinais indicam, na conferência do Qatar a maioria dos doadores reduzirá suas contribuições argumentando que seus países sofre uma recessão.

A crise financeira é, “sem dúvida alguma” extremamente séria, disse à IPS James Paul, diretor-executivo do centro de estudos sobre desenvolvimento Global Policy Fórum. Paul prevê que alguns países irão à bancarrota, como já aconteceu com grandes companhias. “Poderemos ver no futuro uma enorme desordem social, econômica e política”, alertou.


Thalif Deen, da IPS
Envolverde, 18/10/08
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