quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cresce a busca de permuta para garantir economia

Bertagnon, da Village, já reservou 500 caixas de panetone como moeda de troca nesse Natal: "Quero espaço de mídia"
Foto Ed Viggiani/Valor


Os móveis do departamento comercial do carioca Studio Alfa - fornecedor de peças para mobiliário urbano - acabam de ser trocados. Depois de passar dez anos com a mesma mobília, os 20 funcionários da área agora vão trabalhar em mesas e cadeiras de primeira linha, fornecidas pela fabricante ML Magalhães, também do Rio de Janeiro. Esta, por sua vez, vai distribuir no próximo Natal aos seus clientes e parceiros brindes da mineira Cia. do Acrílico. Antes disso, em novembro, o Studio Alfa deve entregar as peças da nova campanha publicitária da rádio Oi FM.

Cada uma dessas operações será devidamente tributada (ver reportagem abaixo), mas nenhuma envolve dinheiro. Todas são fruto de permuta multilateral, permeadas pela ProRede, com sede no Rio e unidades em Minas Gerais, Paraná e Santa Cataria. Em São Paulo, a Permute e a Tradaq também são especializadas nessa atividade, que cresce no Brasil como forma de diminuir custos e manter livre o fluxo de caixa.

A ProRede deve movimentar o equivalente a R$ 9 milhões em permutas este ano, valor 40% superior ao de 2007. Entre as 400 empresas atendidas, estão a vinícola Miolo, a editora Record e escola de idiomas Wizard. Já a Permute tem cerca de 600 clientes, que encerrarão o ano trocando entre si produtos e serviços que somam R$ 7 milhões, 27% a mais do que o ano passado. A Permute cobra 5% sobre o valor da operação, de cada uma das empresas envolvidas. A comissão da ProRede, por sua vez varia de 4% a 9%, de acordo com o volume de trocas feitas pelo cliente.

"O sistema funciona como uma 'câmara de compensação', em que cada empresa acumula créditos, conforme o que cede para outras, que podem ser debitados com qualquer tipo de produto ou serviço das demais clientes cadastradas", explica Nádia Nunes, diretora da Permute. A permuta também pode ser "repassada", quando uma empresa oferece como pagamento bens ou serviços que recebeu de terceiros. "O melhor do sistema é que ele mantém livre o fluxo de caixa das companhias", diz Nádia.

Para Francisco Barone, professor Fundação Getúlio Vargas (FGV), trata-se de uma prática atraente, em especial em tempos de pouco crédito na praça. "Nessa época, como a que se avizinha para as empresas brasileiras, tudo o que permitir postergar o desembolso é interessante", diz o professor, que coordena o programa Small Business na Ebap-FGV. Para ele, as empresas economizam com operações de permuta cerca de 5% do seu orçamento anual. "Esse percentual só não é maior porque é preciso uma pessoa - ou, no caso, uma empresa, como essas intermediadoras - apenas para costurar as permutas", diz Barone.

É o que acontece na HSM, empresa de educação e eventos corporativos. Cliente da Permute, a HSM tem uma executiva apenas para tratar de parcerias e permutas. "Vamos economizar 10% a mais este ano em relação a 2007, atingindo uma economia de R$ 3,3 milhões com essas atividades ", diz Vera Costa, gerente de relacionamento da HSM. Em troca de cursos e participação em eventos, a HSM busca brindes e presentes para parceiros e clientes. "A tendência é que essas operações continuem crescendo no próximo ano", diz Vera, considerando a economia de tempo um dos principais atributos das permutas costuradas pela Permute. "Não precisamos ir pessoalmente fechar uma negociação e tudo corre mais rápido".

Para Leandro Bach, sócio Studio Alfa, cliente da ProRede, o melhor é alocar parte da sua capacidade ociosa como moeda para aquisição de produtos ou serviços que dificilmente teriam espaço no orçamento. "Nenhuma empresa trabalha com 100% da sua capacidade produtiva e é plenamente possível encaixar a permuta em períodos ociosos, mesmo em momentos de maior demanda, como o atual", diz ele, que vai economizar o equivalente a 2,3% do seu faturamento deste ano, previsto em R$ 22 milhões, com permutas.

A fabricante de produtos alimentícios Village, de São Paulo, também está a todo vapor com a produção de panetones. Mas já reservou 500 caixas, de 12 unidades cada uma, para as trocas negociadas por meio da Permute. "Temos interesse por mídia, como anúncios em revistas e ações de merchandising", diz Reinaldo Bertagnon, gerente comercial e de exportação da Village, que vê outra vantagem na operação. "Muita gente que não conhecia o meu panetone tem a chance de saboreá-lo agora, o que pode aumentar as minhas vendas futuras", afirma.

Não se sabe ao certo quanto as operações de permuta movimentam no Brasil mas, segundo a International Reciprocal Trade Association (IRTA), entidade sem fins lucrativos que promove esse tipo de atividade no mundo, só nos Estados Unidos essas atividades permitem trocas de R$ US$ 10 bilhões ao ano. No Brasil, o mercado ainda é incipiente: Permute e ProRede começaram há cerca de cinco anos. A Tradaq, do grupo americano Intagio, começou no Brasil em 2000.

Márcio Lerner, diretor da ProRede, acredita que o mercado pode crescer mais agora com a crise. Na sua mira estão empresas com mais de R$ 20 milhões de faturamento. "Já atendemos desde profissionais liberais à locação de DVD, mas o esforço na permuta desses serviços é quase o mesmo destinado a uma grande operação e não compensa", diz ele.


Notícias Relacionadas
- Operação é tributada como uma venda


Daniele Madureira, de São Paulo
Valor Online, 09/10/08


Nenhum comentário:



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br