quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Para construir uma escola, salve um hipopótamo

Como descobriu a comunidade Wechiau, que vive na ribeira do rio Volta Negro, em Gana, cuidar dos hipopótamos pode ajudar a construir escolas e obter eletricidade. Em 1998, as 17 comunidades agrícolas e de caça dos Wechiau não tinham onde estudar, nem água potável e nem eletricidade. Agora, seus aproximadamente 10 mil membros contam com tudo isso, graças a um plano para preservar a população de hipopótamos. Os Wechiau simplesmente acordaram criar uma reserva para esses animais. “Logo começamos a colher algum lucro com o projeto, especialmente através do turismo”, disse à IPS o líder da comunidade, Chielinah Bandanaa, que participa em Barcelona do Congresso Mundial da Natureza, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“Com o dinheiro ganho, e o apoio para o desenvolvimento de nossos sócios do mundo industrializado, especialmente do Canadá, pudemos construir escolas, cavar poços de água e instalar painéis solares para gerar eletricidade”, explicou Bandanaa. A reserva é o lar de mais de 500 espécies animais e de numerosas plantas medicinais. É administrada por uma junta que representa todas as comunidades Wechiau. As crianças da comunidade agora têm bolsas de estudo graças ao dinheiro obtido com o projeto. Bandanaa recebeu o prêmio Equator, que reconhece internacionalmente os esforços destacados em países abaixo da linha do Equador em sua luta contra a pobreza, pela conservação ambiental e pelo uso sustentável da biodiversidade.

O prêmio é entregue pela Equator Initiative, uma coalizão de organizações da sociedade civil, empresários, governos e comunidades, sob patrocínio da Organização das Nações Unidas. A diretora-executiva para desenvolvimento sustentável da Fundação das Nações Unidas, Érika Harms, afirmou que estes tipos de projetos são “simples e inspiradores exemplos do que as comunidades de base fazem ao longo do Equador para preservar a biodiversidade e, ao mesmo tampo, aliviar a pobreza”. Harms disse que o trabalho da Equator Initiative se baseia no simples fato de que “as grandes concentrações de riqueza biológica do mundo estão nos trópicos, em nações que também têm alguns dos mais altos níveis de pobreza”.

A comunidade Wechiau foi um dos 25 grupos que receberam o prêmio este ano. Os demais foram comunidades indígenas de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, pela América Latina; das Ilhas Salomão, Filipinas, Sri Lanka, Micronésia, Indonésia, Vanuatu e Camboja, pela Ásia-Pacífico; e República Democrática do Congo, Zâmbia, Quênia, Senegal, Namíbia, Tanzânia e Gana, pela África. O centro para o Desenvolvimento Comunitário (CDC) em Sri Lanka ganhou o prêmio graças a um plano para preservar vegetais tradicionais, especialmente tubérculos. O projeto foi lançado em Aranayaka, no distrito de Kegalle, em1996.

“Desde então, redescobrimos 58 variedades de batata-doce muito nutritivos e saborosos, bem como raízes que nossos ancestrais usavam e que quase desapareceram da dieta diária de nossas comunidades”, disse à IPS Achala Adikari, do CDC. Nos últimos 12 anos – acrescentou – mais de 800 agricultores se uniram ao grupo para cultivar tubérculos tradicionais. “Não usamos aditivos químicos em nossa agricultura”, ressaltou. Mas estes vegetais não só enriquecem a dieta das comunidades Aranayaka como também trouxeram segurança alimentar. “A batata-doce e os tubérculos estão disponíveis o ano todo”, disse Adikari. Além disso, as vendas trouxeram uma nova fonte de renda para as comunidades. “Agora queremos criar um centro de pesquisa e capacitação para permitir a expansão do projeto, bem como o mercado para as sementes tradicionais”, afirmou Adikari.

Outro ganhador foi um projeto de tecido de algodão no Peru. Em 2004, 25 artesãos de Mórrope, na província de Lambayeque, lançaram um programa para preservar uma variedade nativa e tradicional do algodão. “Também quisemos resgatar do desaparecimento nossa indústria artesanal do tecido”, disse à IPS Magbdalena Puican Chinguel, representante do projeto. As mulheres da região tecem com ferramentas locais que carregam na cintura. “No início, nossos maridos nos olhavam como se estivéssemos lucas. Mas logo, quando o dinheiro começou a chegar, viram que tínhamos razão”, contou Chinguel à IPS.

Agências do governo se integraram ao projeto fornecendo cursos de capacitação e apoio financeiro a planos suplementares destinados, por exemplo às fontes de água, tanto para consumo quanto para uso agrícola. “Agora, as mulheres de Mórrope geram sua própria renda e contribuem para o desenvolvimento da província”, disse Puican Chinguel.


Por Julio Godoy, da IPS
Envolverde, 08/10/08
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