quinta-feira, 26 de junho de 2008

Países emergentes têm o que ensinar, diz especialista

Senge, que nesta semana participou de congresso no Rio: empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu dos tempos da Revolução Industrial
"Presença: Propósito Humano e o Campo do Futuro", Peter Senge, Joseph Jaworski e Otto Scharmer, Cultrix, 256 págs., R$ 37
Foto de divulgação


A sobrevivência no mundo corporativo no século XXI exige modelos administrativos diferentes daquele consagrado pelos americanos, que privilegia a centralização das decisões e sistemas hierárquicos sem estimular a abordagem integral dos negócios, ignorando a vida fora do ambiente profissional. Há mais de 30 anos analisando o comportamento das principais empresas do mundo, Peter Senge, um dos mais respeitados especialistas em administração, acredita que os novos modelos de gestão virão de países emergentes, como Brasil ou Índia.

"A padronização é uma característica ultrapassada, que remonta à Revolução Industrial. Muitas empresas já encontraram maneiras de equilibrar a produção com projetos socioambientais que lhes conferem um patrimônio muito mais significativo do que o lucro financeiro. É bom que surjam diversos modelos ao mesmo tempo", afirmou Senge ao Valor, no Rio, onde participou do 34º Congresso RH-Rio, realizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos.

Em "A Quinta Disciplina" (Best-Seller, 1990), Senge já advertia as empresas para a necessidade de se adaptar aos novos tempos, criando bom ambiente de trabalho e incentivando a confiança e a ampliação dos conhecimentos entre os funcionários. O livro, que esmiuçava o conceito de "learning organization" (empresa que aprende), vendeu mais de um milhão de cópias no mundo e enfatiza a importância do pensamento sistêmico, em que qualquer assunto deve ser visto sob vários ângulos. O conceito não é de Senge - nasceu de debates no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Foi no instituto que ele, já formado em engenharia e filosofia, se especializou em sistemas sociais e gestão e fundou o Centro de Aprendizagem Organizacional da Escola de Administração Sloan. Ao longo de 18 anos, Senge comprovou que as empresas sem preocupação com o que as cercam tendem a encerrar as atividades antes que as comprometidas com o desenvolvimento sustentável.

"Muitos já estão familiarizados com o conceito, mas poucos o aplicam. A empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu da era industrial. É importante definir em qual organização se vai trabalhar, se uma que leve ao crescimento pessoal ou outra em que apenas se ganhe dinheiro", afirma. Ele condena os workaholics: "Em razão da cultura de algumas empresas, muita gente pensa que deve trabalhar incessantemente. Isso tolhe a a criatividade dessas pessoas, que não conseguem lidar com imprevistos ou abrir-se para novos conhecimentos."

Senge acredita que essas limitações também estão ligadas à crise na educação, agravada pelo fato de que a maioria dos países mantém um sistema educacional arcaico. Para ele, as deficiências de concentração e abstração hoje observadas entre crianças, adolescentes e jovens se deve não só ao "bombardeio" tecnológico, mas à falta de convivência entre as gerações.

"Os escritores de ficção científica estavam certos: as máquinas vão nos dominar. O ritmo de nossa vida é ditado pela tecnologia. As crianças agora vivem sem a supervisão dos adultos, passando mais tempo diante de telas do que interagindo com pais e parentes. Elas recebem uma extraordinária carga de informações que não conseguem processar. Os adultos também. Um estudo na Grã-Bretanha constatou que, ao fim de um dia usando blackberries, um adulto sofre queda superior a 20% no QI. O organismo humano não foi programado para isso", alerta Senge.

Depois de várias visitas ao Brasil, ele aponta a vitalidade como uma das peculiaridades da população. "Essa energia que os brasileiros demonstram é que leva à liderança em um setor importante, o musical. A diversidade da música brasileira conquistou respeito internacional. Esse é um exemplo de que há riquezas culturais que podem contribuir para a criação de um modelo diferente e único em negócios. Cada país deve seguir o seu modelo, com um sistema educacional que ensine o jovem a pensar de acordo com sua cultura."


Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
Valor Online, 26/06/08


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