segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Jogo cooperativo reúne contadores de histórias em prol de entidade

Era uma vez... uma história que não existe em nenhum livro. Ou melhor, uma não, inúmeras histórias, com infinitas possibilidades de início, meio e fim, existentes apenas na imaginação das crianças que vão contá-las. É essa a proposta do jogo "Eu Conto", criado pela Associação Viva e Deixe Viver, entidade sem fins lucrativos que reúne voluntários que contam histórias para crianças e adolescentes hospitalizados.

O jogo traz um baralho com 104 cartas, divididas em cinco temas: personagens, objetos, ações, qualidades e lugares. A idéia é que os participantes contem uma história em conjunto a partir das palavras escritas nas cartas que forem sendo desviradas (por exemplo: "montanha", "príncipe", "anel", "triste", "escorregar").

O final não poderia ser mais feliz: não há um vencedor. Todos os participantes ganham. "No início, pensamos em criar duas regras: uma competitiva e outra cooperativa. Mas, na hora dos testes com as crianças, a parte competitiva não teve vez. Elas foram nos dizendo como o jogo teria que ser na prática", conta Valdir Cimino, fundador da Viva e Deixe Viver. Em quase 11 anos de atividades, a associação reúne 1.144 contadores, que atuam em 70 hospitais de 20 cidades brasileiras.

Cimino conta que a idéia de produzir um jogo para ajudar na dinâmica de contar histórias vem de muito tempo e envolveu vários colaboradores do grupo. Por cerca de dez anos, os protótipos iniciais, complexos e cheios de peças, foram sendo refinados até chegar ao modelo atual, mais simplificado.

O jogo é inédito. "Dois especialistas na área nos disseram que não há outro com esse caráter", diz Cimino.

Com a parceria da Bovespa Social, foram produzidas 15 mil unidades, das quais 9.000 serão utilizadas nos projetos da associação e 6.000, vendidas ao preço de R$ 22 (vendas e informações no site www.vivaedeixeviver.org.br). Toda a verba será revertida para a entidade.

Após testes com os filhos de seus contadores, a entidade levou o jogo para ser usado com crianças com transtornos psiquiátricos, atendidas no Hospital Dia Infanto-Juvenil do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Segundo a pediatra Marisol Sendin, do IPQ, foi possível observar uma nítida mudança nos pacientes que passaram por atividades lúdicas em geral e pela contação de histórias em particular. "Há uma intensa melhora no relacionamento com as pessoas, na escola, nos sintomas. E isso porque atendemos casos bastante graves."

Ela diz que o jogo ajuda os pequenos a se expressarem. "Ao contar as histórias, eles acabam falando de questões que mexem com a cabeça deles." O grupo desenvolve um estudo para avaliar cientificamente o impacto da contação de histórias e do brincar no quadro clínico dos pacientes.

Valdir Cimino afirma que, apesar de o trabalho da associação Viva e Deixe Viver focar em crianças hospitalizadas, o jogo foi feito para ser utilizado também fora do ambiente hospitalar. "É indicado para qualquer criança ou adolescente e pode ser usado por toda a família. É interessante para ser levado à sala de aula também. Ele aumenta o repertório de palavras, estimula a criatividade e a atenção e ajuda a introduzir o hábito da leitura."


Flávia Manotvani
Folha Online, 01/08/08


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