terça-feira, 14 de outubro de 2008

Estranhos na Noite

Nos últimos dois anos eu tenho colaborado com o Fundo Global para as Fundações Comunitárias para avaliar se elas deveriam ou não estabelecerem-se como entidades independentes. Um dos pontos mais interessantes deste envolvimento tem sido o diálogo entre o Fundo Global e o empreendimento Desenvolvimento Comunitário do Banco Mundial, o maior mantenedor do Fundo Global. O Banco Mundial, por méritos próprios, tem considerado se vale a pena testar a utilidade das fundações comunitárias como um meio para o desenvolvimento comunitário, ou seja, uma ação nada comum.

Sempre me surpreendeu como algo inusitado os profissionais de desenvolvimento, seja em agências governamentais de desenvolvimento, instituições multilaterais, ONGs e praticantes de fundações comunitárias viverem, ao que parece, em universos paralelos. Em qualquer reunião de peritos em desenvolvimento aparece muita discussão sobre quais instituições podem levar adiante e manter o processo de desenvolvimento; no entanto as fundações comunitárias são raramente mencionadas. Aqui defino desenvolvimento como o progresso de um conjunto de variações que, como um todo, mede a qualidade de vida. Poderíamos discutir sobre a inclusão de quais variáveis específicas, mas o objetivo é determinar o que torna a vida das pessoas mais gratificante.

Enquanto os profissionais do desenvolvimento raras vezes mencionam as fundações comunitárias, os profissionais das fundações comunitárias dificilmente batem nas portas das reuniões de desenvolvimento. Ao contrário, parecem envolvidos em disputas internas. Nos Estados Unidos, onde está a metade das fundações comunitárias do mundo, os profissionais estão finalmente aparecendo após uma longa, demorada e basicamente inútil discussão a respeito se os detentores são os da comunidade onde trabalham, ou os doadores que fornecem os recursos para servir essas comunidades. Por que é tão difícil concordar que ambos são detentores e seguir em diante?

No exterior, onde o número de fundações comunitárias em alguns países está estourando, o foco na comunidade tem permanecido mais centralizado. O debate, então, tem sido se as áreas locais pobres têm os recursos para dar início e, sobretudo, sustentar as fundações comunitárias. Este debate tem polemizado as discussões sobre ajuda estrangeira na sustentabilidade das fundações comunitárias. A resposta, da forma como estamos aprendendo, parece ser a de que existem recursos não descobertos nas mais miseráveis comunidades e que os recursos estrangeiros podem ter um papel legítimo como catalisadores e sustentadores. Isto é, caso a liderança da fundação for vista “como parte da comunidade”.

Se as fundações comunitárias e a comunidade em desenvolvimento são como “estranhos na noite”, então está na hora de juntarem-se, saírem e juntas darem um passeio. Qualquer casamenteiro que se preze poderá ver que elas têm muitas coisas em comum. Em primeiro lugar, as fundações comunitárias geralmente abrangem uma área geográfica gerenciável. Junto com o conhecimento profundo delas é imprescindível entendê-las a fim de se ter condições de desenvolvê-las de forma a fincar raízes sólidas. Somando-se à estes três atributos das fundações comunitárias a combinação adequada ao desenvolvimento parece ser boa demais para ser verdadeira. As fundações comunitárias de certa forma são propriedades das comunidades: a liderança delas vem da comunidade e suas prioridades são definidas pela própria comunidade e não impostas por pessoas de fora.

No entanto, há um quinto atributo irrefutável. Hoje em dia somos bombardeados por filantropos de risco alegando que a grande diferença entre eles e o velho estilo de filantropia tradicional é que eles entram nas suas iniciativas com uma estratégia de saída embutida. Isto ajuda a reduzir a dependência e ficar atolado na rotina de colocar recursos e fazer esforços contínuos não sustentáveis. Este não é o lugar para debater os méritos da filantropia de risco direta, mas vale a pena assinalar que as fundações comunitárias podem ser as intermediárias no processo de desenvolvimento com este precioso atributo: uma estratégia de saída embutida no processo de filantropia.

Todos nós, na filantropia tradicional, filantropia de risco e desenvolvimento, temos medo de criar dependência e ficarmos presos ao assistencialismo com esforços insustentáveis. As fundações comunitárias quase que por definição têm como objetivo atingir níveis de auto-suficiência gerados por meio de recursos vindos da comunidade. Eles fazem isto para se assegurar que a fundação será orientada por líderes comunitários, propriedade da comunidade e terá as próprias prioridades definidas pela comunidade. Quanto mais e melhor os profissionais de desenvolvimento entenderem a comunidade, um maior fluxo de recursos poderá ser canalizado para elas. Isso é o que eu chamo de um encontro de grandes resultados!


Barry D Gaberman
Ex-vice Presidente da Fundação Ford. Pode ser contatado no bgaberman@gmail.com.
redeGIFE Online, 06/10/08


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