quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Internet muda a cara do antigo "faça-você-mesmo"

Heather Green, BusinessWeek
Publicado pelo
Valor Online em 08/01/08

É uma tarde nublada de dezembro, mas o Pop Up Community Center no centro de Manhattan está fervendo. Espalhados ao longo de uma mesa branca de madeira, meia dúzia de pessoas, com ferro de passar, unem sacos plásticos para criar um tecido de material reciclável. Outros se debruçam sobre máquinas de costura, transformando o plástico em grandes bolsas coloridas, carteiras e até travesseiros. Ocasionalmente, recorrem a conselhos de Anda Lewis Corrie, que lidera uma oficina na qual se ensina a transformar velhos sacos plásticos em objetos que tenham alguma utilidade.

Mais um projeto de serviço comunitário? Não exatamente. Corrie trabalha na área de marketing da Etsy, um mercado virtual, na internet, no qual as pessoas vendem artesanatos de produção própria. O workshop de Corrie trata de compartilhar a experiência do "faça-você-mesmo", uma iniciativa que a Etsy e várias outras empresas, grandes e pequenas, tornaram um negócio considerável.

A Etsy não revela a receita, mas prevê tornar-se rentável no início do próximo ano com o que recebe: US$ 0,20 por item listado e mais uma comissão de 3,5% por mercadoria vendida pelo site. Em 2007, esses comerciantes venderam 1,92 milhão de itens, por US$ 26,5 milhões, de acordo com a Etsy. A empresa iniciante, criada há dois anos e meio, produz vídeos on-line e organiza oficinas com o objetivo de persuadir mais pessoas a aprender umas com as outras a criar artesanato e vendê-los na Etsy. Como a empresa é uma espécie de eBay para artigos de produção manual, quanto mais pessoas se inscreverem para vender seus artesanatos no site, melhor a empresa se sai. "Queremos ajudar as pessoas a ganhar a vida criando coisas", diz Corrie

Embora a mania por artesanato esteja bem consolidada, com vendas de US$ 31 bilhões em 2007, a internet ainda oferece espaço para crescer a passos rápidos. A Hubert Burda Media, uma revista de costura alemã criada há 58 anos, relançou seu site em inglês, BurdaStyle Web, em julho, para compartilhar modelos de roupas que podem ser modificados pelos visitantes para criar novos desenhos. A editora O´Reilly Media, de Sebastopol, Califórnia, lançou a Make and Craft há três anos. São revistas on-line e impressas que mostram como fazer a partir de vídeos e modelos enviados pelos leitores via internet. No site britânico StyleShake, recém-lançado, os usuários desenham e trabalham em conjunto pela internet em seus próprios vestidos de festa, que podem enviar para que a empresa os produza para eles.

Muitas dessas empresas dizem que seguem a linhagem da tecnologia de código aberto dos programas de computador, movimento iniciado nos anos 90 por programadores que queriam criar softwares que qualquer um pudesse usar. Em vez de ter um especialista ensinando as pessoas como fazer algo, o movimento do código aberto ressalta como grupos de pessoas podem compartilhar experiências e aproveitar esse conhecimento. Agora, essa idéia dissemina-se rapidamente.

"Há um ressurgimento do interesse no 'faça-você-mesmo' e surge o desejo de unir pedaços de informação e compartilhá-los como se fosse um código aberto", diz Elizabeth Osder, professora visitante da Annenberg School for Communications, da University of Southern California.

O artesanato, que movimentou US$ 31 bilhões em 2007, pode crescer ainda mais com ajuda da web

Para a Burda, o momento não poderia ser melhor. A empresa quer criar uma comunidade do faça-você-mesmo além da Europa. É a maior vendedora de modelos de costura no continente, mas diz ter apenas 2% do mercado nos Estados Unidos. Embora a Burda não tenha lucro com os modelos que são extraídos de seu site, espera que o boca-a-boca eleve as vendas desses padrões nos EUA. A cada semana, a Burda divulga um padrão diferente na internet, como calças de pernas largas ou as peças conhecidas como saia lápis com pregas. Os modelos são exibidos em formato PDF, que os visitantes podem copiar para seus computadores ou imprimir. Os costureiros podem alterar os modelos a seu gosto e não há restrições a que vendam a roupa finalizada.

A comunidade da BurdaStyle entra em regime de completo código aberto após cada padrão ser colocado na rede. Os membros trocam dicas e colocam fotos no fórum digital sobre como alterar o desenho. Até criam exibições de slides, passo a passo, para demonstrar como mudar o colarinho de um terno ou tornar um pijama em uma roupa para grávidas. Relançado há cinco meses, o BurdaStyle possui cerca de 29 mil membros e recebe 1,5 milhão de visitas por mês.

Uma de suas usuárias mais fiéis é Mirela Popovici, 28 anos, que passa horas no site. Baixa modelos, recebe conselhos nos fóruns virtuais e cria slides mostrando "como fazer". Programadora de computadores durante o dia, a moradora de Hollywood, Flórida, passa as tardes e fins de semana fazendo saias, vestidos e "tops". Em janeiro ela criou uma loja na Etsy. Popovici inscreveu-se para registrar seu site, de graça, sob o nome mirela.etsy.com. Paga à Etsy apenas as tarifas de listagem dos produtos e as comissões sobre as vendas. Agora, além de lingerie e jóias, ela vende algumas das roupas que faz usando os modelos da Burda.

A Etsy foi uma das pioneiras em fazer do compartilhamento de informações um bom negócio. No início de 2007, criou a Etsy Labs, uma comunidade em sua sede, instalada no decadente centro do Brooklyn. A cada dois ou três dias, os vendedores que usam o site da Etsy e outros artesãos promovem aulas noturnas nas quais ensinam uns aos outros suas habilidades, desde como empalhar animais e fabricar instrumentos musicais até a encadernar livros. A empresa, fundada por três amigos com vinte e poucos anos, que se conheceram quando estudavam na New York University, agora ostentam 50 mil vendedores ativos e 600 mil membros registrados.

O movimento virtual do faça-você-mesmo é forte entre as pessoas com menos de 30. O uso de internet é hábito e eles já compartilham quase todos os aspectos de suas vidas na internet. Para compartilhar esse conhecimento no mundo real falta apenas um passo. No ano passado, 45 mil pessoas lotaram a feira Fairgrounds, de San Mateo, Califórnia, onde a Make realizava sua segunda Maker Faire anual. Juntou 300 adeptos inovadores do faça-você-mesmo e apresentou corridas de ferramentas elétricas (lixadoras e cortadores de grama podem atingir quase 100 quilômetros por hora, se tiverem rodas) e uma girafa mecânica em tamanho comparável ao de uma verdadeira.

A experiência de Eric Wilhelm reflete o desejo de colocar a mão na massa. Enquanto se doutorava em engenharia mecânica no Massachusetts Institute of Technology (MIT), então com 23 anos, tornou-se adepto do kitesurfe, esporte em que se surfa na água puxado por um pequeno parapente. Como não tinha o dinheiro suficiente para comprar o equipamento, Wilhelm construiu suas próprias pranchas e mostrou detalhes dos projetos em seu site. Os leitores passaram a pedir mais informações e ajudaram a construir outros projetos. Há dois anos, ele lançou o Instructables.com, site no qual qualquer um pode contribuir com dicas de "como fazer" e ter o retorno dos leitores.

Agora, o site tem 7,5 mil diretivas de como fazer quase tudo, desde uma câmera fotográfica sem lentes, até esculpir uma cadeira de madeira. "Meu avô tinha um monte de vidros de comida de bebê vazios com parafusos e pregos no porão. As pessoas agora começam a ver como isso é valioso", diz Wilhelm. " É por isso que tricotar agora é moderno e está na moda."

Tradução de Sabino Ahumada


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