sábado, 6 de dezembro de 2008

Quanto você paga/cobra por um abraço?

A Cruz Vermelha sueca está leiloando abraços a fim de angariar recursos para a erradicação da solidão involuntária, do isolamento e da exclusão social na Suécia.

Na verdade, os abraços têm sido tema constante em certos jornais, nos últimos dias, certamente devido ao comunicado da Cruz Vermelha à imprensa sobre o leilão e a sua campanha de Natal. Alguns jornais se associaram à instituição para ajudá-la a angariar fundos para seu trabalho social.

O fato é que seis suecos famosos estão leiloando um abraço. São eles: o lutador Ara Abrahamian, que recusou sua medalha nos jogos olímpicos; Jill Johnson, cantora e vencedora do festival da canção sueco; Rafael Edholm, modelo e ator famoso; Carolina Klüft, atleta medalha de ouro, adorada pelos suecos; Lill-Babs, artista respeitada por mais de meio século; e Henrik Strömberg, cantor do grupo Scotts. Já tem lance de mais de mil reais por um abraço de Jill Johnson!

Só para esclarecer: sueco não dá beijinho no rosto quando se encontra com um amigo. O que vale como cumprimento é o abraço. Mas só entre amigos. Quando você é apresentado a uma pessoa, a forma de cumprimentar é o aperto de mão. Sem firulas.

Em todos esses anos tenho tido problemas com os apertos de mão, que considero muito frios e formais quando são dados fora do âmbito do trabalho. Mas, como fiz em relação a outros costumes locais, também a esse me adaptei.

Nunca tive, porém, problema com os abraços. Afinal, eu havia descoberto «o livro do abraço», de Kathleen Keating, já no Chile. E sempre disse que aquele era «o fundamento teórico para uma forma de vida» muito minha.

Em sueco, abraço é «kram», uma palavra, aliás, que, para mim, quando pronunciada da forma correta e com vontade, sugere mesmo o aconchego gostoso de um abraço amigo. Experimente dizer «kram», assim, com vontade, e você verá!

Acontece que, apesar de adotar o abraço como cumprimento entre amigos, o sueco não é exatamente um povo de muito contato corporal. A distância normal entre duas pessoas que conversam, aqui, deve ser no mínimo o dobro da que a gente adota aí no Brasil. Da mesma forma, numa fila, as pessoas jamais ficam tão próximas umas das outras como aí. Todo mundo aqui requer «um metro quadrado» de privacidade ao seu redor. Pelo menos, esta é a minha impressão.

Mas, nessas coisas, eu adoro ser diferente! E abraçar é comigo mesmo!

Uma vez, combinei com meus filhos encontrá-los num shopping center. Ao vê-los, corri para o abraço costumeiro. De repente, vejo um senhor que saía da loja do Systembolaget e que me perguntou: eu também posso ganhar um abraço? É claro que eu abracei o cavalheiro. Só que quase desmaiei devido ao teor de álcool do ar ao redor dele, o que explicava sua «ousadia».

Outra vez, abraçava uma amiga no metrô quando um jovem passou ao nosso lado e perguntou, jocosamente, se eu vendia um abraço. Minha resposta, para surpresa dos dois, foi dar-lhe um abraço apertado e dizer que abraços não se vendem, se dão.

Mas, em se tratando da campanha da Cruz Vermelha, aceito o «comércio». E não posso esperar pelo fim de semana de 5 a 7 de dezembro. Aí vai ser um festival de abraços!

Pelos mesmos seis reais, a gente compra o button da campanha «kram», ajuda a Cruz Vermelha a nos ajudar cuidando de quem precisa, e ainda ganha um abraço dos engajados voluntários.

Pode não ser fim de semana de abraços no Brasil, mas já pensou em aproveitar a deixa e... distribuir abraços você também?

E, já que você está lendo este texto, considere-se abraçado.


Sandra Paulsen
Casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há quase uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.
Blg do Noblat, 05/12/08


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