quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Após polêmica do diesel, Petrobras sai do Ethos

A Petrobras anunciou ontem à noite, em nota, seu desligamento do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. No comunicado, a empresa afirma que "vem sendo alvo de uma campanha articulada com o objetivo de atingir a imagem da Companhia e questionar a seriedade e eficiência de sua administração" e acusa as organizações não-governamentais e as Secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e Minas Gerais de engendrarem uma "campanha difamatória" contra a empresa.

"O grupo de pessoas que atua de forma deliberada e difamatória contra a Petrobras é composto por integrantes das Secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Cidade de São Paulo, e de algumas organizações não-governamentais que se intitulam representantes da sociedade civil de São Paulo", diz o comunicado.

O centro da polêmica é a questão da redução do teor de enxofre no diesel produzido pela Petrobras. Segundo a resolução 315/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o teor do enxofre no óleo diesel comercializado no Brasil deveria ser reduzido, a partir de janeiro de 2009, para 50 partes por milhão (ppm). Atualmente, o diesel fornecido chega a 2.000 ppm. Às vésperas da data estipulada pela norma, a Petrobras não se adaptou para produzir o diesel com 50 ppm e comercializá-lo em todo o território brasileiro - a partir de janeiro, o diesel mais limpo será fornecido somente em ônibus novos que circulam em São Paulo e Rio de Janeiro. Em maio, chega aos ônibus de Fortaleza, Recife e Belém e, em agosto, a Curitiba. O restante do diesel vendido no interior e demais capitais conterá 1.800 ppm - arranjo que foi considerado insatisfatório pelas ONGs e Secretarias do Verde.

Na semana passada, a Petrobras foi excluída do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), carteira de ações que reúne empresas com bom desempenho em questões socioambientais. Antes, já havia sido proibida, pelo Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar), de fazer campanhas enaltecendo suas ações de responsabilidade ambiental.

"Ao se desligar do Instituto Ethos, a Petrobras rompe com o compromisso de ser uma empresa socialmente responsável", afirma Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. A entidade, que foi responsável por disseminar o conceito da gestão com sustentabilidade entre as companhias brasileiras, lamentou a posição da Petrobras. "Parece que é uma tentativa de confundir o mercado. Quer desviar a questão principal e se colocar como vítima, mas a empresa precisa prestar contas."

Em nota, o Ethos diz que "crê que a decisão da Petrobras de desligar-se do seu quadro de associados tem como intenção interromper o diálogo, pelo fato de o instituto estar cumprindo sua função. O Ethos, porém, jamais se prestará a ser um instrumento de marketing socioambiental das empresas. (...)O Ethos gostaria de ver a Petrobras, com toda a importância que tem em seu setor, liderando as discussões sobre energias limpas, na busca pela urgente descarbonização da economia. No entanto, a decisão da empresa parece confirmar que ela escolheu o caminho oposto. Lamentamos sua postura, pois ela reitera uma grande perda para o movimento de desenvolvimento sustentável no Brasil. Uma empresa pública, que, portanto, pertence a todos nós, deveria estar alinhada às necessidades da população".


Portal Exame, 03/11/08


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