quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Empreendedorismo e geração de renda própria

Empreendedor competente é aquele que sabe não ser personalista e faz o nome da entidade maior que o seu próprio

A Terra gira, as empresas mudam, as entidades e as pessoas se transformam. Nada mais natural. Assim vem acontecendo no Terceiro Setor já há algum tempo. As instituições se deram conta de que não basta apenas ter espaço físico e colaboradores, mas é necessário estar presente no mundo virtual.

A construção de um site eficiente focado em ser um importante canal de comunicação com seus stakeholders torna-se necessária, dado, ainda, aos escassos espaços destinados ao Terceiro Setor na mídia.

Diversas entidades se deram conta desta nova realidade, como o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis no Estado de São Paulo (Sescon-SP), que recentemente colocou no ar uma nova página virtual. A Gota de Leite, sediada em Santos (SP), também estreou seu novo site há alguns meses e ainda trabalha continuamente para reforçar essa ferramenta.

Há organizações como a SOS Mata Atlântica, que alavancam campanhas de preservação usando o site com habilidade, e o Clickarvore, que é um programa de fomento e restauração florestal em que usuários da internet podem clicar gratuitamente e doar uma árvore por dia. Desde agosto de 2000, ano de sua criação, até outubro de 2007, foram doadas 10.968.471 mudas de espécies nativas.

O site registra picos de 12 mil cliques por dia. Além de colaborar para um mundo melhor, a ferramenta é um ótimo meio de consolidação da imagem institucional e de conquista de novos adeptos da causa.

As possibilidades são infinitas, porém, há alguns aspectos que essa janela virtual para o mundo real deve possuir para ser eficiente. Vejam a seguir.

Conteúdo objetivo, mas atraente
A abrangência e o poder da internet como meio de comunicação, ligação e conjunção com o mundo real podem passar despercebidos ou vistos superficialmente. É comum que as idéias para a montagem de um site parem de fluir após os primeiros rabiscos, situação também encontrada no ambiente empresarial.

Parece uma missão difícil, mas torna-se fácil quando se entende o processo de construção de um site e a maneira como levá-lo adiante. Uma simples analogia do problema é suficiente para ajudar no primeiro passo.

Imagine um evento realizado por uma ONG, sem importar o motivo. Pense na quantidade de pessoas que estão em contato com a organização. Perceba a quantidade de informação que entra e sai daquele ambiente por meio de conversas, fotografias, vídeos, opiniões.

Esse é o resultado do contato físico no mundo real que jamais será substituído. No meio virtual, entretanto, essa experiência pode ser repetida inúmeras vezes por dia, por hora ou milésimos de segundo. E o melhor é que tudo isso pode ser registrado, mensurado e melhorado.

O visitante virtual quer ter uma experiência tão rica quanto a presencial. Ele pode se interessar por diversos aspectos da entidade, como ideais, objetivos, infra-estrutura, histórico, necessidades etc. A clareza, a coesão e a profundidade das informações são fundamentais, mas elas devem vir acompanhadas de recursos atrativos como fotos, vídeos e gráficos. Além, é claro, de abrir um caminho para a difusão de notícias, pesquisas e meios de contato.

O importante é imaginar que, assim como o evento presencial, o leque de possibilidades que enriquecem o contato virtual pode ser até mais abrangente. É ir além dos portões da ONG, ligando-se a outras organizações e profissionais que defendem os mesmos ideais, foco ou campo de atuação.

Parodiando Drummond: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava...”. Os estudiosos afirmam que estamos a apenas cinco pessoas de contato de qualquer outra na face da Terra. O público-alvo da entidade pode estar perto ou longe, mas ele só vai encontrá-la se houver um elo de ligação entre as pessoas e os assuntos pelos quais elas se interessam, ou seja, o conteúdo da organização.

Por isso, é importante que o site também contenha notícias, que podem ser copiadas de portais jornalísticos ou da página de outras entidades. Muitos dispõem de termos de direitos autorais que permitem a cópia, desde que citada a fonte.

Design: bom, bonito e para todos
A disposição do conteúdo de um site é sempre uma questão delicada, pois é preciso entender o funcionamento da web e como pensam as pessoas que por ali passam, a fim de prender a atenção das mesmas. Esse mandamento está ligado com design e diagramação.

Sem essas duas ferramentas organizacionais, de nada adianta ter um bom conteúdo. As páginas do site não podem ser cansativas visualmente, mas devem despertar interesse. Trata-se de padronizar o site, dando a ele uma identidade facilmente identificável pelo internauta nas próximas visitas.

Diferentemente do que muitos pensam, vale a pena seguir padrões e convenções na montagem de um site, pois essas características são pré-definidas com base em experiências reais. Muitos acessos são apenas para obter informações básicas, como endereço, telefone e e-mail da entidade.

Prefira um layout leve e que tenha uniformidade (uso dos mesmos símbolos – ícones, traços, cores, fontes, gráficos), imagens de qualidade, identidade visual e hierarquia. Outra dica é que espaço em branco não é falta de informação, mas descanso para os olhos. O importante nesse complexo mundo chamado internet é ser objetivo a tal ponto que o visitante não gaste tempo tentando entender o site, mas vá direto ao assunto que procura, sem dispersar sua atenção.

Um mecanismo inteligente é manter o conteúdo mais importante (logo, menu e matéria principal) no canto superior esquerdo em uma área limitada a 750 x 420 pixels (unidade de medida digital). Por dois motivos: porque é a área preservada em qualquer resolução de tela e é onde os olhos mais se apóiam durante uma navegação. Usar desse critério não significa ser igual aos outros, mas ser acessível e de fácil compreensão.

A animação é o sucesso ou a ruína de um site, sendo bastante discutida sua inclusão por conta de sua proliferação nos últimos anos. Incomodam muito quando obrigam o internauta a esperar o seu fim para acessar o conteúdo. Ou quando ficam piscando ao lado de um texto que tentamos ler. Em contrapartida, a animação é indicada em infográficos, sites de e-learning (ensino pela internet) e apresentações.

Na internet, que é um organismo “vivo”, temos diversas nuanças de visualização, desde a configuração do computador, passando pelos dispositivos móveis até o acesso aos deficientes. A visualização do site deve ser democrática, atendendo a todos, levando em conta a acessibilidade e a usabilidade.

O Consortiun (órgão internacional que busca uma internet democrática) abriu recentemente um escritório no Brasil e colocou à disposição diversos textos em português com o objetivo de difundir o conhecimento a um maior número de pessoas. Fica aqui a indicação.

Links
www.clickarvore.com.br
www.gotadeleite.org.br
www.sescon.org.br
www.w3c.br
www.youtube.com


10 dicas fundamentais

Hospedagem – Utilize provedores de confiança, que tenham renome no mercado e lhe dêem segurança e estabilidade tanto na hospedagem como no serviço de e-mail. Atualmente, uma hospedagem profissional varia entre R$ 18 e R$ 30 mensais. Cuidado com provedores muito baratos, que podem estar no exterior, pois causam lentidão no acesso ao site ou utilizam máquinas caseiras que não oferecem segurança aos dados. O custo no desenvolvimento é proporcional à hospedagem, porque é ela quem vai guardar o investimento inicial.

Registro de domínio – No Brasil, o NIC.br é a entidade responsável pelo registro de domínios. Para registrar e administrar um domínio é necessário obter gratuitamente um ID (identificador) com senha no site Registro.br. Prefira que o ID esteja ligado à entidade. É comum sites ficarem amarradas a desenvolvedores ou provedores por causa do registro do domínio.
Utilize sempre o DPN (domínios de primeiro nível) “.ORG.BR” e tenha como segunda opção o “.COM.BR”. Hoje em dia, os internautas já sabem distinguir bem o que é empresa e o que é uma organização do Terceiro Setor. Para obter o registro, é necessário enviar o estatuto da entidade para o NIC.br.

Ferramentas para doações – O uso do e-commerce pode ser uma maneira de captação de recursos, seja por meio de doações, adoção de assistidos ou venda de produtos da ONG em uma loja virtual. Existem diversas soluções no mercado, algumas mais caras e outras nem tanto. O meio de pagamento PagSeguro do UOL é uma ferramenta interessante, pois simplifica a instalação do sistema e conta com a credibilidade de um provedor de renome. Muitos ainda têm medo de fazer pagamentos eletrônicos; os que o fazem, preferem usar os grandes sites comerciais ou instituições bancárias.

Contato direcionado – É um meio de mostrar como a organização é estruturada. Importante direcionar o contato para a pessoa correta, incluindo um campo de assunto na área de contato (financeiro, administrativos, captação de recursos, voluntariado etc.).

Sala de imprensa – Press releases (textos que falam das ações e atividades da entidade) são ótimas ferramentas de informação à mídia, mas é bom pedir o cadastramento prévio do jornalista para liberar seu acesso. Uma boa decisão, caso haja recursos existentes, é contratar uma agência especializada em assessoria de imprensa, que fará o relacionamento com a mídia na divulgação das ações da ONG. Um banco de imagens também é ferramenta importante, mas precisa ter fotos de todas as pessoas destacadas para conceder entrevistas.

Multimídia/vídeos – Colocar um vídeo em um site exige um conhecimento que nem sempre está às mãos. O Youtube é o melhor e mais fácil meio de publicação, além de ser uma ferramenta de divulgação. Ele gera um script (código) para ser inserido em qualquer site. A dica para despertar a atenção dos internautas é colocar vídeos institucionais e didáticos sobre ações, campanhas, festas e eventos. Fundamental: não utilize vídeos muito extensos; eles devem ter no máximo dois ou três minutos, ou menos, se possível.

Google Maps – Essa ferramenta disponibiliza um script que pode ser inserido em qualquer site, de preferência na área de contato. Além de ser muito simples de operar, oferece um mapa virtual que detalha como chegar à ONG.

Ambiente administrador (back office) – Ter um ambiente administrador dá maior autonomia à organização para gerenciar o conteúdo de seu site, evitando a necessidade de contatar o desenvolvedor sempre que precisar fazer uma atualização. Várias soluções estão disponíveis no mercado que permitem controlar texto, imagens, links, agenda, downloads e contatos de qualquer máquina ligada à internet.

Prestação de contas e relatórios de atividades/gerenciais – Nenhum lugar é melhor do que a internet para inserir esses documentos públicos, que atestam a transparência e a seriedade da entidade. Pode-se criar um espaço dedicado a isso no site, com os relatórios disponíveis para download em formato PDF.

Divulgação – Todos querem estar no topo do Google. Mas, em se tratando de assuntos de interesse comum, o Terceiro Setor acaba competitivo como o meio empresarial. O mais correto é a contratação de uma empresa especializada em Marketing de Otimização em Buscadores (MOB). A prática de MOB está sempre se modificando, devido às próprias regras dos buscadores, que tentam evitar a entrega de resultados indesejados ou perigosos aos seus usuários.

Uma solução mais barata consiste em otimizar o código de navegação do site para facilitar a indexação nos buscadores. Evite redirecionamentos, uso de palavras-chave nos títulos, nomes de imagens, deixando o máximo possível das informações em forma de texto, e não em animações ou banco de dados.


Marcio Zeppelini
Revista Filantropia - OnLine - nº166


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