quarta-feira, 23 de julho de 2008

Leão de Cannes X Tigre Asiático

O festival publicitário de Cannes todo ano tem uma surpresa depois que acaba. Já teve campanha que foi criada para ganhar prêmios e o cliente não sabia; teve ano que criaram para um produto inventado; outro ano fizeram uma peça para o cliente de outra agência….

Mas nada se compara a repercurssão do caso desse ano. A TBWA de Paris criou uma campanha para a Anistia Internacional e faturou em Cannes esse ano, um Leão de Bronze. Até aí tudo bem, mas o escritório da ONG, em Londres, afirmou ter decidido não usar os anúncios por preferir adotar um foco mais positivo em sua campanha relativa aos Jogos Olímpicos.

Mesmo assim, a Anistia International permitiu à agência veicular a campanha uma vez para que ela pudesse ser inscrita no festival (prática muito utilizada no mundo todo para “esquentar” a peça).

O que a ONG não contava é com a repercurssão do prêmio. As peças ganharam a rede e rodaram fortemente por vários sites. E foi aí que os problemas começaram.

A campanha bate forte na questão do desrespeito aos direitos humanos na China, onde rolam as olímpiadas desse ano: “After the Olympic Games, the fight for human rights must go on” (Depois dos Jogos Olímpicos, a luta pelos direitos humanos deve continuar).

Na matéria do Wall Street Journal, Tom Carroll, presidente e CEO da TBWA Worldwide, pede desculpas pela inscrição da campanha em Cannes sem prévia aprovação ou conhecimento da cúpula da agência.

Enquanto isso na China, onde a agência possui uma filial a situação ficou mais complicada. A rede TBWA tem agência na China, o que torna a situação ainda mais delicada. Sem contar que a conta local da Adidas (patrocinadora dos jogos) é da agência.

Os blogs chineses começaram a sugerir o boicote a todos os trabalhos criados pela TBWA. Um blog foi mais longe: sugeriu que todos os chineses que trabalhassem para a agência pedissem demissão: “I suggest that all Chinese employees in TBWA resign from this company“.

Segundo o CCSP: “os consumidores na China levam a sério o boicote a marcas, personalidades ou seja o que for que tenha ‘ofendido sentimentos patrióticos’. Depois das manifestações contrárias à China em Paris, quando a Tocha Olímpica passou pela França, em abril, consumidores lançaram um boicote ao Carrefour, uma das maiores redes de supermercados presente na China.

Louis Vuitton e Christian Dior também receberam o mesmo tratamento depois que a atriz Sharon Stone sugeriu que o terremoto que atingiu a China era por causa do ”karma” criado em função da forma como o governo trata a população tibetana (relembre aqui)”.

Tirando a parte questionável de “esquentar” as peças para festival, me parece que os chineses deveriam boicotar o governo ao invés da agência. Afinal quem esta errado? O governo que faz essas atrocidades ou a agência que faz uma campanha para criticar tal? Aliás, a TBWA Paris não foi a única que fez essa crítica, a Saatchi&Saatchi da Slovakia tem anúncios bem parecidos. Outros esportes, outro layout, mas a mesma idéia.

Não foi mera coincidência, as torturas chinesas existem e parece que os chineses vão ter que boicotar muuuita gente se não quiserem ver a própria sujeira.


Veja os outros anúncios da confusão: aqui e aqui.

E aproveite pra ver os criados pela Saatchi&Saatchi: aqui, aqui e aqui.


Daniel Chagas Martins
Área 3 do Up Date or Die, 23/07/08


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