quarta-feira, 23 de julho de 2008

A nova geração dos bilionários

Quando Fabio Calderaro era um cadete de 23 anos da academia militar em 2000, ele investiu pouco mais de 3.000 reais no mercado acionário. No início, o valor de seu investimento caiu. Mas à medida que ganhou mais conhecimento sobre o mercado, sua sorte mudou -- de tal forma que poucos anos depois deixou o Exército e começou a viver de seus ganhos.

Quando tinha 29 anos, Calderaro tinha muito mais que um milhão de reais graças às apostas em ações de metalúrgicas, mineradoras e bancos no momento em que a economia brasileira decolava após décadas de baixo crescimento. Desde então, sua fortuna aumentou, confirmando seu status de membro do clube brasileiro de novos ricos. "Eu estava no lugar certo na hora certa", disse Calderaro, que hoje tem 31 anos e apresenta seminários sobre o mercado acionário quando não está gerenciando sua própria carteira. "Tudo isso foi possível por causa da economia."

Graças ao rápido avanço das commodities e do crédito, o Brasil está crescendo e tirando milhões da condição de pobreza em um país mundialmente conhecido por sua desigualdade. No topo dessa onda, surfando em um mercado acionário que triplicou em quatro anos, existe uma porção de milionários como Calderaro sendo criados a um ritmo alucinante -- pelo menos 23.000 no último ano.

Apenas Índia e China criaram milionários num ritmo mais rápido que o Brasil em 2007, segundo relatório do Merrill Lynch e Capgemini sobre a riqueza mundial. O número de brasileiros com mais de um milhão de dólares saltou 19,1% no último ano, para mais de 143.000, ante crescimento de 10% em 2006. O clube brasileiro dos bilionários também está crescendo em ritmo inédito. Segundo pesquisa da revista Exame, pelo menos 14 brasileiros se tornaram bilionários no último ano, quase cinco vezes mais que o crescimento de 2006.

Mercado do luxo
Como Calderaro, muitos ganharam com a bolsa de valores, entrando na onda de ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês). Um recorde de 62 empresas abriram capital no último ano no Brasil. A moda do IPO perdeu força este ano devido à turbulência nos mercados globais, mas agora parece dar sinais de recuperação. No mês passado, a OGX Petróleo e Gás Participações levantou 4,1 bilhões de dólares no maior IPO da história do mercado brasileiro, com investidores fazendo fila para conseguir parte da riqueza do petróleo recém encontrado na costa do país.

Não existe lugar onde o salto de renda é mais aparente do que em São Paulo, a capital financeira e maior cidade do país. Num sábado recente, as lojas da Rua Oscar Freire estavam tão cheias que os compradores quase se debatiam pelas peças de roupas da última moda. Shoppings especializados para ricos estão sendo inaugurados por todo o país, com butiques exclusivas como Giorgio Armani e Hermes. As vendas de novos carros estão batendo recordes mês após mês, e apartamentos de luxo brotam em massa.

Segundo um estudo recente da firma de consultoria MCF, o mercado de bens de luxo no Brasil cresceu 17% no último ano, gerando 5 bilhões de dólares em vendas. A economia como um todo, em contraste, cresceu 5,4%. "Não está lá ainda, mas o Brasil está a caminho de se tornar um mercado prioritário para as marcas de luxo", disse Carlos Ferreirinha, fundador da MCF e ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil.

Aviões e helicópteros

O crescimento do número de indivíduos de alta renda também deu impulso para fabricantes de helicópteros e aviões privados. A Embraer está vendendo tanto seu pequeno avião empresarial Phenom no Brasil que a empresa espera que ele se torne em breve maioria na frota nacional de aviões privados. A venda de helicópteros está crescendo quase 13% ao ano. O mercado mais aquecido é a cidade do tráfego travado de São Paulo, onde já existem mais de 500 helicópteros, uma das maiores frotas urbanas do mundo.

A TAM Taxi Aéreo Marília, companhia de taxi aéreo e representante de vendas do Cessna e do Bell Helicopter, costumava atender os pedidos em menos de um ano. Agora clientes precisam esperar até quatro anos por um helicóptero novo. "Em todos os meus anos no negócio, nunca vi demanda tão forte", disse Rui Aquino, presidente-executivo da empresa.

Mas nem todos os novos membros do clube brasileiro de milionários são grandes gastadores. Calderaro, o "cadete-investidor", ainda vive em um apartamento alugado e prefere investir seu dinheiro na bolsa de valores a gastá-lo em carros exuberantes e casas na praia. "Minha mãe gosta de dizer que sou econômico, e não um pão-duro", disse. "Eu acho que eu tenho mais prazer em ganhar dinheiro no mercado do que em gastá-lo."


Veja.com, 23/07/08


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