quinta-feira, 17 de julho de 2008

Iluminando o caminho do Investimento Social Privado

Está ficando cada vez mais popular e lucrativo para as empresas pular na carruagem do “comércio justo”, “ecológico”, mesmo que por pouco tempo. Uma vez que o jargão genérico para estimular lucros parece estar cada vez mais generalizado, é difícil identificar quem está adotando novos comportamentos para o bem geral e quem está andando na cauda dos caprichos do mercado. É crucial para uma organização sem fins lucrativos poder distinguir o que é fato do que é fachada.

O Fundo Global Greengrants, já em 1999, recebeu os primeiros fundos da Aveda, uma empresa especializada em produtos de saúde e beleza ecologicamente corretos. Com o objetivo de reconhecer o Dia do Planeta, a Aveda lista toda sua rede de salões de beleza, spas, profissionais, empregados e convidados para angariar fundos das organizações tradicionais e incrementar a divulgação dos temas-chave que incluem florestas, biodiversidade, povos indígenas e, mais recentemente, água limpa.

Um novo relacionamento
Em 15 anos de financiamento de projetos comunitários do meio-ambiente no Global South, a Greengrants nunca fez uma parceria formal com doadores corporativos. Porém, no ano passado, fomos designados parceiros do Mês do Planeta da Aveda e começou a surgir uma nova colaboração.

Para começar, a Aveda desenvolveu a Light in the Way, uma vela de edição limitada, fabricada para angariar fundos durante o Mês do Planeta para a Greengrants. O logotipo da Greengrants aparecia na parte externa da embalagem. Além do mais, a Aveda Europa escolheu Greengrants como seu parceiro local para receber o dinheiro arrecadado nas campanhas dos salões de beleza e spas.

Ao longo dos últimos dois anos, a Greengrants tem dado apoio à Aveda Europa enviando pessoal e um “conselheiro” com o objetivo de educar e incentivar as equipes sobre a origem internacional da Fundação. Como diz o Diretor e Fundador Chet Tchozewski, “treiná-los mediante busca de pequenas doações pode fazer uma significativa diferença no Sul Global”. Por sua vez eles treinam seus clientes e os motivam a participar dos eventos para angariar fundos e fazer doações. Os conselheiros participam ativamente nas áreas em que se dispõem a colaborar com a Greengrants, identificando os grupos mais promissores merecedores de fundos. Neste ano, Christ Allan, o Diretor de programas planeja visitar a Sede Corporativa da Aveda em Minnesota para conduzir um seminário sobre como angariar fundos em comunidades locais.

Greengrants e Aveda além de demonstrar publicamente responsabilidade social e trabalhar em conjunto no posicionamento da marca, também trabalham juntas internacionalmente na outorga de fundos relacionados à água. O dinheiro arrecadado é utilizado em lugares remotos do planeta onde a Aveda providencia muitos dos componentes e onde a Greengrants possui uma rede de conselheiros.

A Greengrants nunca antes teve um parceiro global e, para reforçar os laços com a Aveda, precisamos saber se isto é aceitável para a nossa rede de ativistas dedicados a pressionar as empresas que ignoram o meio-ambiente e as comunidades. Em outras palavras, a Aveda é uma dessas empresas?

Malha fina
Antes deste acontecimento a arrecadação corporativa foi tema do retiro global bianual da Greengrants em 2005. Uma força-tarefa de conselheiros voluntários e funcionários foi criada para desenvolver o tema e o grupo elaborou nossas “diretrizes para arrecadação de fundos”. O documento foi enviado para a nossa rede de conselheiros analisá-lo e depois para o pessoal e o comitê. Todo o processo levou dezoito meses e teve seu primeiro teste quando a Aveda propôs parceria global com a Greengrants no Mês da Terra em 2007.

Utilizando as diretrizes, investigamos a Aveda e a sua parceira Estee Lauder com o intuito de conhecer melhor como opera cada uma das empresas e o relacionamento entre elas. Quando Lauder comprou a Aveda em 1997, temia-se que as políticas corporativas da nova parceira da Aveda poderiam dominar sua visão filosófica, social e ambientalmente responsável.

Enquanto se fazia o levantamento, muitos de nós participamos de uma reunião de três dias na sede da Aveda com outros parceiros do Mês da Terra. Os executivos da Aveda apresentaram seus resultados e planos a respeito das ações quanto à responsabilidade ambiental e social. Estas incluíam o aumento de percentual orgânico em seus produtos na ordem de 20 a 93 % e a proporção de dejetos pós-consumo das embalagens de 25 a 85% em comparação aos oito anos anteriores. A melhoria geral na distribuição, energia alternativa e expedição foram enfatizadas, demonstrando o compromisso da Aveda para minimizar sua presença no efeito estufa.

Ficamos impressionados com as impecáveis práticas ecológicas da Aveda e o seu compromisso para estabelecer um exemplo de liderança e responsabilidade ambiental. Observamos também o cuidado deles com as práticas trabalhistas corretas e o trato adequado para com os indígenas. Concluímos que a Aveda não está só focada na fabricação de produtos e serviços, mas também tem dado passos conscientes para ser considerada uma empresa com responsabilidade social e ambiental.

Eles não estão jogando dinheiro para compensar um mau comportamento. Eles não estão simulando ou viajando no trem da onda “tudo natural, por enquanto”. Estamos convencidos de que a Aveda, baseados na nossa devida diligência desde a sua fundação, procura integrar na sua cadeia de valores práticas de responsabilidade social e ambiental.

E os parceiros corporativos?
Nós não temos uma previsível rede de Corporações batendo na nossa porta, porém repetimos este processo em 2007. Neste caso, nós concordamos por causa dos temas relacionados aos direitos humanos, que não podíamos deixar de nos comprometer e as diretrizes são irrelevantes quando se trata de algumas indústrias que desconsideramos totalmente: extrativismo, agronegócios, madeira, etc.

Um bom casamento
O elo com a Aveda permitiu à Greengrants atrair novos entusiastas e receitas para o movimento na Europa abrindo caminhos inexplorados: os salões de beleza e spas da Aveda. Por sermos conselheiros de arrecadação e intermediários da Aveda, queremos acreditar que os ajudamos a melhorar a qualidade da sua arrecadação com menos projetos em andamento, maior mobilização de recursos com mais autonomia nas comunidades patrocinadas por eles.

Aparentemente, Greengrants e Aveda não parecem ser colaboradores: uma empresa de beleza e outra angariadora de doações para o meio-ambiente. À medida que conhecemos a Aveda, achamos que eram duas organizações empenhadas com a mesma finalidade: um mundo mais justo. Vemos-las como um exemplo para outras porque demonstram que as empresas podem adotar práticas legítimas e justas e manterem-se lucrativas.

Ter ou não ter um parceiro
O mercado de angariar fundos transformou-se num mercado ferozmente competitivo. Isso se deve às quedas na economia, ao aumento de empresas sem fins lucrativos e à distribuição desigual da riqueza. É tentador para qualquer organização ser seduzida pelo dinheiro corporativo para alcançar as metas anuais de arrecadação de doações.

Ter a capacidade de fazer uma avaliação objetiva é fundamental. Estamos satisfeitos com a decisão de sermos parceiros da Aveda. Eles não estão comprando uma reputação verde ao fazer-nos doações. De certa forma, a empresa desde seu começo permanece com suas práticas de negócios politicamente corretas e, como parte disso, eles apóiam a Greengrants.

Para mais informações: www.greengrants.org


Kelly Purdy e Marie Smith
Kelly Purdy é Diretora do Desenvolvimento de Fundações do fundo Global Greengrants e Marcie Smith é Diretora de Comunicações. E-mails: kelly@greengrants.org e marcie@greengrats.org.

Boletim Alliance Brasil, 17/07/08


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