sexta-feira, 11 de abril de 2008

IBGE ampliará pesquisas socioeconômicas

Plano prevê que a PNAD, balanço social divulgado anualmente, seja mesclada a pesquisa sobre emprego e investigue mais áreas no Brasil

Algumas importantes pesquisas socioeconômicas feitas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) se tornarão mais amplas e precisas. A principal instituição produtora de indicadores no país planeja divulgar, a partir da próxima década, dados mais abrangentes sobre trabalho e renda e detalhamento maior das condições das regiões urbana e rural, a partir de amostragens colhidas o ano todo.

O plano é mesclar a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, uma espécie de balanço social feito no Brasil todo e divulgado anualmente) e a PME (Pesquisa Mensal de Empregos, feita em seis regiões metropolitanas e divulgada todo mês). Elas serão extintas e darão origem a uma pesquisa que deve ser batizada de PNAD Contínua, trimestral. Além disso, o maior levantamento sobre hábitos de consumo e gastos dos brasileiros, a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares)), divulgada uma vez por década, vai ter uma versão menos complexa todos os anos.

A fusão da PNAD e da pesquisa sobre empregos vai possibilitar, de acordo com o IBGE, a investigação de um número maior de locais do país e fornecer dados mais precisos sobre emprego.

A PNAD segue um questionário básico fixo, repetido todos os anos. Assim, permite o acompanhamento anual de questões como trabalho, educação, habitação, renda, migração e fecundidade. A pesquisa também aborda a cada ano temas variados — os “suplementos”, como trabalho infantil e programas sociais. "A proposta da PNAD para a próxima década é que se transforme em uma pesquisa trimestral, de modo a produzir informações sobre emprego e trabalho para todo o país num formato conjuntural", afirma a coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, Márcia Quintslr.

Assim, os dados sobre trabalho e rendimento serão mais precisos do que os da Pesquisa Mensal de Emprego, mas passarão a ser divulgados trimestralmente. Já os dados da PNAD atual continuarão a ser publicados anualmente, mas poderão indicar evolução ao longo de 12 meses.

Isso será possível porque o IBGE aplicará cinco questionários menores e temáticos a cada trimestre — atualmente, os pesquisadores vão a campo apenas no último trimestre do ano, em setembro, com um longo questionário. Conseqüentemente, a PNAD fará um número maior de visitas ao longo do ano e chegará a mais lugares: de 145.547 visitas a domicílios em 7.818 setores (abaixo, em vermelho, os municípios escolhidos para esta década), passará a 716.800 visitas em 13.760 setores, com 179.200 domicílios visitados a cada trimestre (abaixo, em azul, a amostra da PNAD Contínua, a ser aplicada na década seguinte). Depois que uma família responder aos cinco questionários da PNAD Contínua, uma nova família da região passará a ser ouvida.



"Atualmente, a PNAD só vai a campo em um trimestre no ano e investiga todos aqueles temas num ponto fixo do tempo. Se você falar em educação, é educação em setembro. Agora, quando você falar em educação, será educação acumulada ao longo do ano", compara Elizabeth Hypólito, gerente do Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares do IBGE. "A apuração também será mais rápida — a PNAD é sempre divulgada com atraso, o que vai mudar com a tabulação ocorrendo durante todo o ano. Nós teremos, ainda, uma amostra muito maior, com uma estratificação de urbano e de rural que hoje não existe."

Essa distinção se tornará possível porque a amostra terá duas etapas que não existem hoje: depois de feitas divisões administrativas (unidade da Federação, capital e região metropolitana), vai haver uma divisão por setores urbanos e rurais, inclusive de acordo com a renda.

Essa mudança de metodologia fará o IBGE iniciar uma nova série histórica em suas medições — o que implica que a série de indicadores coletados ao longo das últimas décadas não poderá ser diretamente comparada com a que começará a ser feita nos próximos anos. "Como poderíamos comparar um resultado que tinha como referência um período estanque, com outro que é baseado em informações colhidas ao longo do ano?", questiona Elizabeth. "No caso da PME, você tem como base pesquisas em apenas algumas regiões metropolitanas. Essa pesquisa será extinta e vamos levá-la para todo país."

No caso da Pesquisa de Orçamentos Familiares, o IBGE passará a apresentar dados conjunturais anualmente, sob o título de POF Simplificada.

Ambos modelos serão testados no último trimestre deste ano, em pilotos que têm apoio do Projeto de Assistência Técnica ao Programa de Reformas para o Setor de Desenvolvimento Humano, co-financiado pelo Banco Mundial e supervisionado no Brasil pelo PNUD.

Para Márcia Quintslr, essas alterações são urgentes e devem ser aplicadas já no início da próxima década — a PNAD Contínua para 2009/2010 e a POF simplificada para 2010/2011. "As pesquisas domiciliares hoje são maravilhosas e muito importantes. Mas o requisito para informação socioeconômica cresce cada dia mais, com temas mais múltiplos, requerendo mais agilidade. Então, essa reformulação das pesquisas vai nos colocar atendendo melhor essa demanda por informação", afirma a matemática, mestre em Estatística. "É urgente você ter uma informação contínua sobre consumo e também sobre mercado de trabalho em nível nacional, que é algo de que o Brasil não dispõe. Essa é a necessidade premente do projeto."

Os modelos metodológico para a POF Simplificada e a PNAD Contínua estão praticamente prontos, de acordo com Márcia. O projeto vai requerer investimentos muito grandes para a pesquisa de campo e para recursos humanos. "Aí, começamos a entrar na esfera da negociação política sobre a importância do projeto e da liberação de orçamento para ele. Esse é o caminho mais forte que nós vamos ter que percorrer agora. Toda a direção do IBGE está empenhada, porque temos a clareza sobre a importância técnica da necessidade de esse programa ser implementando para construirmos o retrato do Brasil de uma forma mais precisa", completa.

Osmar Soares de Campos, da PrimaPagina
Publicado pelo Pnud, Boletim nº 488, 08/04/08


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