sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

É preciso inserir a sustentabilidade na equação das empresas para se chegar ao lucro

Naná Prado, do Mercado Ético

O processo de mudança que as empresas vêm passando há alguns anos fez com que surgissem dúvidas sobre a possibilidade de colocar num mesmo patamar lucro e sustentabilidade. Pensando nisso, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) dá início ao "Sustentável 2008 – Ciclo de Encontros sobre Sustentabilidade e Gestão Responsável", no dia 26 de março, no Rio de Janeiro, com o tema: "Lucro X Sustentabilidade".

A aparente dicotomia entre os dois conceitos tem sido motivo de discussão no meio empresarial no processo de mudança que as empresas têm protagonizado, direcionando suas estratégias para um novo modelo de negócios.

Fernando Almeida, presidente executivo do CEBDS, acredita que o evento será um bom momento para aprofundar, de forma produtiva, este grande dilema contido na relação lucro e sustentabilidade. “Precisamos inserir o ‘S’ de sustentabilidade na equação para se chegar ao lucro”, afirma Almeida. O conceito de lucro deve continuar existindo, “mas dentro de um novo paradigma. A correta implantação dos conceitos de sustentabilidade tem efeito multiplicador na valorização dos ativos intangíveis das empresas. E hoje sabemos que marca, reputação, capacidade de relacionamento com stakeholders respondem por pelo menos 75% dos ativos de uma empresa”, complementa o presidente do CEBDS.

Participarão do debate José Armando Campos, diretor-presidente da Arcelor Mittal; Milton Seligman, diretor-geral de Relações Corporativas da Ambev; João Carlos Ferraz, diretor do BNDES; Jodie Thorpe, gerente da área de economias emergentes do SustainAbility; Aerton Paiva, da Apel Consultoria Empresarial; e Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace.

No decorrer deste ano, outros quatro encontros serão realizados dentro da programação do Sustentável 2008: "Governança e Sustentabilidade", em junho, em Brasília; "Biodiversidade e Pesca - Serviços Ambientais Ameaçados?", em julho, no Recife; "Papel da Comunicação na Sustentabilidade", em agosto, em Vitória; e "Mudança do Clima, Desmatamento e Agronegócio", em setembro, em Belém.

A distribuição dos cinco encontros em diferentes capitais do país teve por objetivo ampliar ao máximo a diversificação de interlocutores de acordo com cada realidade do país. “A sustentabilidade é um conceito que exige transversalidade e por isso não pode ficar restrito a uma elite de especialistas no eixo São Paulo-Rio-Brasília”, afirma Fernando Almeida.

É possível aliar sustentabilidade e lucro?
Para Fernando Almeida, não só é possível, como é necessário. “A lucratividade faz parte da dimensão econômica de uma empresa, seja ela de que atividade for. Mas não pode estar desconectada das dimensões social e ambiental”. Almeida afirma ainda que caso esta desconexão ocorra, a empresa não sobreviverá, mesmo que seja altamente lucrativa no curto prazo.

O desempenho das empresas que conseguem estar no grupo seleto do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, de Nova York é um exemplo significativo. “Os balanços indicam que a rentabilidade dessas empresas é pelo menos 20% superior em relação as que permanecem mais presas ao modelo tradicional. Essa performance está se repetindo também no Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa”, avalia Almeida.

Sustentabilidade em ações lucrativas ou lucratividade em ações sustentáveis
A saída, para Fernando Almeida, é uma ruptura estruturada e articulada para criação de um novo modelo de negócios e um novo padrão de desenvolvimento. E, “nesse processo, os conceitos de sustentabilidade e lucratividade (este segundo, dentro de novos parâmetros) se completam e se harmonizam. Prego, por exemplo, que as empresas procurem a ‘zona chave’, na qual ficam à frente das exigências da legislação socioambiental e se mantenham no patamar de lucratividade”, explica ele.

Almeida argumenta que a história recente, principalmente a partir do pós-guerra, vem mostrando que o modelo concentrador de renda tem acelerado a perda dos serviços ambientais e o esgarçamento do tecido social. “Os riscos socioambientais confirmam esta constatação. É inadmissível e insustentável a desproporcional repartição de riqueza, seja ela no âmbito global, seja no âmbito regional. A sustentabilidade, como conceito integrador, não pode admitir altos lucros e salários astronômicos descolados do restante da sociedade”, afirma.

Para o presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o conceito de sustentabilidade é revolucionário e exige mudanças radicais. Ele defende a posição de que as empresas devem sair da área de conforto e passar a fazer negócios com a base da pirâmide social. “Nas regiões mais pobres, os investimentos chegam apenas aos “bolsões” de riqueza, muitas vezes de forma ambientalmente irresponsável e, sempre, de forma socialmente excludente”, avalia Almeida. Essa prática histórica explica o cenário de desigualdade. Mas, ao mesmo tempo, empresas têm demonstrado que é possível fazer negócios com as camadas marginalizadas, com benefícios para todos. “Contudo, os dramáticos desafios sociais e ambientais que temos pela frente exigem mais do que exemplos pontuais”, conclui Fernando Almeida.


CICLO DE ENCONTROS SUSTENTÁVEL 2008
1º Encontro – Tema: LUCRO X SUSTENTABILIDADE
Dia 26 de março - 8h30m às 12h30m
Centro de Convenções RB1 – Salão Mauá
Av. Rio Branco 1, Centro, Rio de Janeiro
Informações e inscrições:
http://www.cebds.org.br / (21) 2483 2260

* Com informações do CEBDS

Publicado pela Envolverde em 29/02/08
(Envolverde/Mercado Ético)
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