segunda-feira, 2 de julho de 2007

Europa vive “boom” de fundações

Fernando Rossetti*
Publicado pelo
RedeGife Online em 02/07/07

Embora representem um fenômeno que remonta à idade média, as fundações na Europa vivem um momento de expansão acelerada – semelhante ao que vem acontecendo no Brasil desde a década de 90. Na Itália, por exemplo, pesquisa com 3.300 fundações privadas mostra que cerca da metade foi criada desde 1999; na Alemanha, mais de 40% surgiram na última década; entre 1999 e 2000 houve uma expansão de 28% no número de fundações na Bélgica, Finlândia e França.

Como no Brasil – e ao contrário dos EUA – as estatísticas européias sobre fundações e organizações da sociedade civil ainda são poucas e frágeis. Mas alguns movimentos são bastante significativos desse “boom” de fundações. A 18ª Conferência do Centro Europeu de Fundações, realizada em Madri, Espanha, no início de junho, abrigou pela primeira vez uma reunião da recém-criada Dafne (sigla em inglês para Redes de Fundações e Associações de Doadores da Europa). É uma articulação que abriga organizações criadas para apoiar as fundações – papel desempenhado pelo GIFE no Brasil.

“A velocidade com que as fundações estão sendo criadas na Europa é estonteante”, disse palestrante principal da Conferência, Barry Gaberman, norte-americano que dirigiu a Fundação Ford e é um dos principais especialistas em sociedade civil do mundo. Para os brasileiros, essa expansão é uma boa notícia, tendo em vista que muitas das novas instituições têm perspectiva de financiamento internacional. O nome da Conferência do Centro de Fundações Européias também sugere isso: “Novos Desafios para a Filantropia Global”.

Para Gaberman, o fenômeno da expansão global das fundações se deve, em termos gerais, à insuficiência dos três poderes clássicos dos Estados (Executivo, Legislativo e Judiciário) em garantirem o controle do poder em uma sociedade. “A imprensa também tem tido um papel importante; mas o que percebemos é que a sociedade civil está aumentando seu papel de 5° poder no controle contra o abuso de poder”, afirmou.

O que caracteriza esse conjunto de novas instituições, além da diversidade de temas, é uma tendência maior à colaboração, ao trabalho conjunto e troca de experiências – que se reflete no crescimento também do número de participantes em eventos como a Conferência de Madri.

O momento nos EUA é bastante diverso – embora o número de fundações também esteja crescendo. Pioneiros no desenvolvimento de novos papéis para fundações e promotores da expansão deste campo no mundo todo (tanto o Centro Europeu de Fundações como o GIFE tiveram apoio financeiro importante de organizações norte-americanas para sua criação), os EUA agora enfrentam uma “fadiga na infra-estrutura de apoio a doadores”, aponta Gaberman. Isto é, começa a haver excesso de organizações de apoio a fundações, o que leva a uma competição acirrada por recursos para essa área.

O resultado desta “saturação” na infra-estrutura e no próprio número de organizações da sociedade civil nos EUA é um movimento que estaria levando a quatro fenômenos principais: 1) o fechamento de algumas instituições; 2) a diminuição de tamanho de outras; 3) a fusão de organizações; e 4) um crescimento no número de atividades desenvolvidas em parceria por essas organizações.

É um alerta importante. Considerando que boa parte do mundo segue o modelo americano – Brasil e Europa, incluídos – e que no momento a situação é de crescimento acelerado no número de fundações, os quatro caminhos alternativos adotados nos EUA podem, em curto espaço de tempo, virem a ser necessários também em outros países e regiões.

* Fernando Rossetti é secretário-geral do GIFE.


Nenhum comentário:



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br