terça-feira, 26 de junho de 2007

Conselho aprova construção de Angra 3

Daniel Rittner

Publicado pelo Valor Online em 26/06/07

Simulação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto com Angra 3 concluída (do site da Eletronuclear)

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou ontem, por oito votos favoráveis e apenas um contra, a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3. Paralisada há 21 anos, a nova usina deverá entrar em operação em 2013 e precisa de investimentos adicionais estimados em R$ 7 bilhões, segundo o governo.

Junto com o anúncio de que a usina será concluída, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, disse que o Brasil passará a enriquecer internamente todo o urânio para abastecer as centrais nucleares. Adiantou que o governo vai preparar nova forma de comercialização da energia proveniente de fonte atômica, parecida com a praticada atualmente pela binacional de Itaipu, com o rateio, por todas as concessionárias de distribuição, das despesas com a compra de eletricidade.

Com o fantasma de um novo apagão assustando o país, o único voto contrário à retomada de Angra 3 partiu do Ministério do Meio Ambiente, que pediu mais tempo para aprofundar as discussões sobre o tema com a sociedade civil. Isolada dentro do governo, a ministra Marina Silva não participou da reunião e enviou seu secretário-executivo, João Paulo Capobianco. Votaram a favor oito ministérios - Minas e Energia, Casa Civil, Ciência e Tecnologia, Fazenda, Planejamento, Agricultura, Integração Nacional e Desenvolvimento.

Para os integrantes do CNPE, segundo Hubner, ficou clara a necessidade de expandir a geração de energia térmica para dar suporte à matriz predominantemente hidrelétrica do país. "A nuclear é a alternativa de menor custo e melhores condições, inclusive ambientais, principalmente no momento em que o mundo inteiro está discutindo a questão das mudanças climáticas, porque ela não tem emissões de gás carbônico."

Hubner explicou o roteiro que será seguido, a partir de agora, para dar continuidade às obras de Angra 3. De imediato, o ministério atualizará as simulações feitas em 2006 para projetar o valor da tarifa da energia proveniente da central nuclear. No ano passado, o valor estimado era de R$ 138,14 por megawatt-hora (MWh) - preço que se tornou competitivo na comparação com outras fontes, como as térmicas movidas a gás natural.

O estudo será retomado e passará por auditoria externa. Ele é importante porque baseará contratos de longo prazo entre a Eletronuclear ou a Eletrobrás e as distribuidoras. Hubner deixou claro que não espera revisão para cima dos valores calculados em 2006. "Por um lado, pode-se ter tido o aumento de preços de alguns equipamentos no exterior. Por outro lado, melhoraram as condições econômicas do país", referindo-se às formas de financiamento do projeto - incluindo BNDES -, às desonerações previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e à exigência de menor taxa de retorno dos investidores.

Também será preciso avançar no licenciamento ambiental da usina, que está em andamento no Ibama. Um ponto polêmico - e, na verdade, essência das contestações explicitadas pelo Meio Ambiente - diz respeito ao tratamento dos rejeitos de longa duração. Sem entrar em detalhes, Hubner informou que serão usados depósitos intermediários em que os resíduos são colocados em cápsulas, dentro de vasilhames, onde ficam armazenados por centenas de anos. "O mundo inteiro discute hoje o reaproveitamento dos resíduos para a própria geração de energia e a transformação em outros elementos que podem ser usados pela indústria", completou Hubner.

Com potência de 1.350 MW, a nova usina terá tecnologia semelhante à de Angra 2 e levará cinco anos e meio para ser concluída. O ministro destacou que o Brasil tem a sexta maior reserva mundial de urânio, suficiente para fornecer combustível às suas usinas por mais de 500 anos. A conclusão de Angra 3 viabilizará o enriquecimento de urânio, em escala industrial, dentro do país, afirmou.

Hoje, apesar de dominar a tecnologia, o Brasil manda urânio para enriquecimento no Canadá e na Europa. "Não temos isso implantado de forma industrial, porque não havia demanda para tanto. Com Angra 3, o Brasil será um dos únicos três países do mundo com reservas, capacidade de produção e domínio de todo o ciclo de enriquecimento", ressaltou Hubner.

A organização Greenpeace condenou a decisão do governo e prometeu continuar lutando contra a retomada da usina. "Com o passar do tempo, fica cada vez mais claro que Angra 3 não é uma questão energética nem econômica. É ligada às origens do programa nuclear, que tem finalidades militares, e não pacíficas", criticou o coordenador da campanha do Greenpeace, Guilherme Leonardi.

O CNPE também autorizou a realização da 9ª rodada de licitação de áreas para exploração de petróleo e gás, mas a decisão foi ofuscada pelo anúncio de Angra.


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