terça-feira, 26 de junho de 2007

Países em desenvolvimento racham após fracasso do G-4

Assis Moreira
Publicado pelo
Valor Online em 26/06/07

Jorge Taiana, ministro argentino: apoio formal ao Brasil e pedido de reuniões
(Foto: Nelson Perez/Valor)

Movimentos contra e a favor da posição do Brasil e da Índia na negociação de produtos industriais confirmam o racha entre países em desenvolvimento, no rastro do fiasco de Potsdam. México, Chile e Costa Rica, que têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos; Peru e Colômbia, que negociam esses acordos com Washington, além de Hong Kong, Cingapura e Tailândia apresentaram ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC) uma proposta defendendo concessões no corte de alíquotas industriais.

O grupo alega que as perdas com o fiasco ou congelamento da Rodada Doha superam em muito um "acordo menos que perfeito" e que "no contexto específico de Nama (produtos industriais), uma mostra concreta de flexibilidade tem sido rara mesmo nesse estágio da negociação". O grupo sugere um corte que pode variar entre 58% e 64% nas alíquotas de nações em desenvolvimento, com flexibilidade para proteger entre 5% a 10% de linhas tarifárias. Os países ricos deveriam cortar acima de 70% nas suas alíquotas.

A proposta está próxima do que a União Européia (UE) defendeu em Potsdam e foi recusada pelo Brasil, por ter potencial para "desinvestimento e desindustrialização" nos países em desenvolvimento.

Houve reações mistas em Genebra. Alguns negociadores, que só falam sem serem citados, diante do clima de tensão, notam que esses países defendem seus interesses específicos e não se sentem representados pela "posição mais rígida do Brasil". Outros chamam a atenção para a composição curiosa do grupo: os que têm maiores vínculos comerciais com os EUA e os que já têm tarifas baixas e vão cortar pouco na Rodada, mas que pedem para os outros aceitarem amplas reduções tarifárias.

Outras nações participaram do grupo coordenado pelo Chile, mas não se comprometeram formalmente com o texto. Um deles é o Paraguai, membro do Mercosul e portanto com Tarifa Externa Comum (TEC) com o Brasil, Argentina e Uruguai. A missão paraguaia em Genebra, em todo caso, despachou uma funcionária para Assunção com a proposta para ser examinada pelo governo e possivelmente para discussão com os parceiros do bloco do Cone Sul, esta semana.

"Temos posição mais ofensiva, mas estamos atados ao Mercosul e não podemos fazer nada", disse um diplomata paraguaio. O Uruguai foi sondado a participar. Mas o embaixador Guillermo Vallez negou qualquer participação ou apoio. "Somos independentes", afirmou esse membro do G-20. Já a Argentina pediu ontem a convocação de reuniões do G-20 e do Nama-11, duas alianças de países em desenvolvimento (a primeira para agricultura, a segunda para bens industriais), para expressar publicamente seu respaldo à posição de Brasil e Índia. Chile, México e Tailândia, que assinaram a proposta que diverge do Brasil, são do G-20.

Buenos Aires procura corrigir o mal-estar causado pelo seu silêncio constrangedor durante a reunião dos 150 países membros da OMC que se seguiu ao fiasco de Potsdam, ainda mais que a Argentina era menos flexível que o Brasil na área industrial, e Brasília acabou refletindo a posição argentina. Para reparar o erro, o ministro das Relações Exteriores, Jorge Taiana, telefonou na sexta-feira à noite para o ministro Celso Amorim, que já dormia. Deixou o recado de que a Argentina apoiava o Brasil, mas recebeu a resposta de que o melhor seria tornar esse apoio público. Foi o que Taiana fez, em comunicado no qual expressou "reconhecimento e solidariedade" com as posições de Brasil e Índia.

A nota destacou que os dois países "defenderam com dignidade os interesses dos países em desenvolvimento na busca de um acordo equilibrado" para "fortalecer" a OMC e acusou os EUA e a UE de serem os responsáveis pelo fiasco. Com a Rodada em crise, o Mercosul discutirá a lista de produtos sensíveis para Doha, esta semana.


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