quinta-feira, 4 de março de 2010

FarmVille retém dinheiro de doação humanitária

Logomarca do fundo de arrecadação de donativos para o Haiti no FarmVille; empresa pegou parte das doações

A empresa Zynga, responsável pelo game virtual "FarmVille", sucesso no Brasil e no mundo, é suspeita de ludibriar jogadores internautas e reter parte nas doações feitas por eles a campanhas humanitárias, como a das vítimas do terremoto no Haiti, em janeiro. Por meio de uma porta-voz, a empresa nega a suspeita e diz que a contribuição de 100% do que é doado é uma "exceção".


A empresa afirma que arrecadou US$ 2,4 milhões em doações em 2009, mas doou apenas a metade deste valor. Procurada pela Folha Online, a porta-voz disse que a fatia de doação retirada é uma "prática comum" da companhia. Ela disse ainda que informou aos usuários do game acerca da divisão dos valores doados.

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A empresa também é suspeita de usar de "truques" para induzir os jogadores a fazer doações quando, na verdade, estão apenas comprando dinheiro virtual para ser usado em FarmVille.

Por e-mail, a empresa informou que doou 50% de valores arrecadados antes do terremoto para as instituições haitianas Fonkoze (de microcrédito), e Fatem, voltada à tecnologia da informação. A companhia, entretanto, se recusou a mencionar o valor arrecadado, porque a Zynga é "uma empresa privada e esta é uma informação ligada à competitividade'.

Entretanto, a Folha Online apurou que uma das organizações citadas, a Fatem, recebeu somente US$ 292 mil da Zynga. No dia seguinte à publicação da reportagem, a Fatem informou que refez os cálculos de doação, e que eles ultrapassavam US$ 700 mil.

Até o fechamento da edição, ninguém da Fonkoze comentou o assunto.

Revelada pela revista "Superinteressante" deste mês, a retenção de doações em 2009 ocorreu em meio a 25 processos relativos a plágios de jogos.

Antes da publicação da reportagem, a empresa se recusava a dizer quanto foi arrecadado até hoje em doações de jogadores a campanhas humanitárias. Segundo a porta-voz, esta informação é "estratégica". Depois da publicação, a Zynga apenas corrigiu os US$ 2,7 milhões de 2009 relatados pela revista para US$ 2,4 milhões --dos quais admite que ficou com metade.

A Zynga declara que contribuiu, nos primeiros cinco dias de campanha para o Haiti, logo após o terremoto em janeiro, com 100% do que era doado, e que esse montante chegou a mais de US$ 1,5 milhão. No entanto, a campanha arrecadatória durou 16 dias.

Dois representantes da agência Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU --Pierre Guillaume Wielezynski, chefe da área de Internet; e Greg Barrow, coordenador de mídia global--, confirmaram o valor declarado da doação.

Doação ou truque
Em janeiro último, dias após o terremoto do Haiti, surgiu um ícone no "FarmVille" que, ao ser clicado, convidava os jogadores a doar US$ 10, US$ 20, US$ 30 ou US$ 40 para as vítimas. Após efetuar o pagamento com cartão de crédito, o jogador descobria que não estava contribuindo diretamente com o Haiti, e sim comprando o dinheiro virtual do jogo.

Se quisesse contribuir com as vítimas, aí sim teria de iniciar plantações e colheitas de milho branco virtual (a popular canjica), e somente o que fosse plantado e colhido é que seria enviado ao Haiti.

Mas, quem comprou US$ 40, por exemplo, jamais conseguiria gastar o total, porque a campanha tinha duração preestabelecida, e não haveria tempo para contribuir com os FV$ 240 adquiridos.

A sobra de FV$, após dez dias de colheita, só poderia ser usada novamente no jogo --comprando bens, animais e ou decorações virtuais para as fazendinhas. A porta-voz da empresa nega esta informação, mas a Folha Online a confirmou, efetuando a doação (compra) máxima.

O game Farmville roda com o programa Flash, e tem quase 80 milhões de usuários no mundo --por volta de 20% do total de usuários do Facebook.

No Brasil, o aplicativo é o mais popular entre usuários do site de relacionamento: 1,125 milhão de pessoas estiveram no jogo em janeiro (por volta de 15% dos usuários brasileiros do site), de acordo com dados do Ibope.


Marina Lang, Maurício Kanno e Ricardo Feltrin
Folha Online, 02/03/10


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